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BEM-ESTAR & ESTILO DE VIDA

Por que o corpo pede mais doce quando estamos cansados ou ansiosos? 

O desejo por açúcar em dias difíceis é real, mas o “consolo” que ele traz é menor e mais curto do que parece

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 20 de dez. de 2025

Mulher cansada e triste está sentada na cama comendo donuts coloridos depois de ter vontade de doce

O aumento da vontade de doce em momentos de cansaço e ansiedade envolve hormônios, sono e mecanismos de recompensa do cérebro, e não apenas falta de força de vontade | Foto: Freepik

Quem nunca viveu a cena de chegar em casa depois de um dia exaustivo, abrir o armário e ir direto no chocolate, no biscoito recheado ou naquele doce guardado para uma ocasião especial? Em fases de muito trabalho, noites maldormidas ou períodos de ansiedade, a vontade de doce parece ganhar voz própria.

Isso não acontece por acaso. O corpo e o cérebro interpretam o cansaço e o estresse como sinais de alerta e passam a buscar fontes rápidas de energia e conforto. Os doces entram justamente aí. Entender esses mecanismos ajuda a tirar o peso da culpa e permite pensar em estratégias mais inteligentes para lidar com a vontade de açúcar.

Cansaço, cérebro e busca por energia rápida

Quando estamos muito cansados, o organismo entende que está em déficit de energia. O cérebro, que consome boa parte dessa energia, tende a preferir fontes rápidas, como carboidratos simples. Doces, refrigerantes e produtos açucarados entram nessa categoria.

Além disso, noites ruins de sono alteram hormônios que regulam fome e saciedade, como grelina e leptina. A grelina, ligada ao aumento do apetite, tende a subir, enquanto a leptina, associada à saciedade, cai. O resultado é mais fome, menos sensação de satisfação e uma preferência maior por alimentos calóricos.

O que a falta de sono faz com a vontade de doce

Estudos mostram que dormir pouco não só aumenta o interesse por comida, como muda o tipo de alimento escolhido. Pesquisas com ressonância magnética indicam que a privação de sono altera regiões do cérebro que processam cheiro e recompensa.

Em um estudo publicado na revista Science, pessoas que dormiram apenas quatro horas passaram a preferir alimentos mais calóricos, mesmo consumindo, em média, a mesma quantidade total de energia que o grupo bem descansado.

Os pesquisadores observaram que, após a restrição de sono, o sistema endocanabinoide — o mesmo ativado pela cannabis — ficava mais ativo. Ao mesmo tempo, havia mudanças na comunicação entre áreas do cérebro ligadas ao olfato e à regulação do apetite.

Ansiedade, recompensa e o “conforto” do açúcar

Em momentos de ansiedade, o corpo libera mais cortisol, hormônio ligado à resposta ao estresse. Esse aumento pode estimular a ingestão de alimentos mais palatáveis, especialmente ricos em açúcar e gordura.

O doce ativa circuitos de recompensa no cérebro, liberando dopamina, substância associada à sensação de prazer. Por alguns minutos, isso cria a impressão de alívio, como se o açúcar “acalmasse os nervos”. O problema é que esse efeito é curto e muitas vezes vem acompanhado de culpa ou desconforto depois.

Com o tempo, o cérebro pode aprender que comer doce é uma forma rápida de amortecer emoções difíceis. Assim, ansiedade e açúcar criam um ciclo em que o doce deixa de ser apenas alimento e passa a ser uma estratégia emocional — ainda que pouco eficaz.

O mito do “sugar rush”

A ideia de que um alimento açucarado melhora o humor e dá “pique” imediato é muito popular, mas não é o que a ciência mostra. Uma grande revisão de estudos analisou o efeito do consumo agudo de carboidratos no humor e não encontrou melhora consistente de bem-estar.

Pelo contrário, os autores observaram mais fadiga e menos estado de alerta dentro da primeira hora após a ingestão. Em outras palavras, o “sugar rush” é mais mito do que realidade: há uma sensação rápida de recompensa, seguida por queda de energia.

Principais mecanismos que aumentam a vontade de doce

Antes de tentar “domar” o desejo por açúcar, vale entender o que está por trás dele. Em geral, alguns fatores se somam:

  • Poucas horas de sono e cansaço acumulado;
  • Estresse crônico e ansiedade elevados;
  • Longos períodos em jejum ou refeições pobres em proteínas e fibras;
  • Hábito de usar doces como recompensa ou consolo emocional.

Reconhecer esses pontos ajuda a ver o desejo por doce não como falta de força de vontade, mas como um sinal de que algo na rotina precisa ser ajustado.

Como lidar com a vontade de doce sem radicalizar

A melhor forma de lidar com a vontade de doce não é cortar o açúcar totalmente, mas reduzir frequência e quantidade, cuidando das causas de fundo, como sono e estresse.

Refeições equilibradas, com proteínas, fibras e boas gorduras, ajudam a estabilizar a glicose e evitar picos de fome. Dormir bem também faz diferença: horários regulares, menos telas à noite e rituais de desaceleração melhoram o descanso e reduzem o desejo por açúcar.

Buscar outras formas de aliviar a ansiedade — como atividade física leve, pausas no dia e acompanhamento psicológico — ajuda a romper o ciclo entre estresse e doce. Quando a vontade surgir, prefira frutas, chocolates com maior teor de cacau ou doces caseiros com menos açúcar.

Equilíbrio, plano alimentar e autoconhecimento

Entender por que o corpo pede mais doce quando estamos cansados ou ansiosos é um passo importante para sair da lógica da culpa. O desejo por açúcar é um sinal de que o organismo está tentando compensar algo.

Mais do que brigar com o doce, vale olhar para a rotina como um todo. Um plano alimentar adequado, aliado ao cuidado com sono e saúde mental, é o caminho mais eficiente para reduzir esses impulsos.

Quando o açúcar deixa de ser resposta automática para o cansaço e a ansiedade, ele pode voltar ao lugar que faz sentido: um prazer pontual, inserido em uma vida equilibrada.

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Perguntas e respostas

1. Por que sentimos tanta vontade de doce quando estamos cansados?

O cansaço sinaliza ao corpo que a energia está baixa. O cérebro busca fontes rápidas de energia, como o açúcar. Além disso, dormir pouco altera hormônios que aumentam o apetite e reduzem a saciedade.

2. A ansiedade também aumenta o desejo por açúcar?

Sim. O aumento do cortisol estimula o consumo de alimentos ricos em açúcar e gordura, que ativam o sistema de recompensa do cérebro e geram alívio temporário.

3. O famoso “sugar rush” realmente existe?

Não exatamente. O açúcar provoca apenas um pico breve de recompensa, seguido por queda de energia e maior fadiga.

4. O que o sono tem a ver com a vontade de doce?

A falta de sono altera áreas cerebrais ligadas à recompensa e ao apetite, tornando alimentos calóricos mais atraentes.

5. Como reduzir o desejo por doces sem cortar totalmente o açúcar?

Equilibrando refeições, cuidando do sono e do estresse e escolhendo versões mais nutritivas quando a vontade surgir.

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Escrito por Dra. Juliana Soares

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