PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Por que cuidar da mente também é cuidar do coração? Cardiologista explica
Tanto a depressão quanto a ansiedade estão associadas a um maior risco cardiovascular.

Dra. Juliana Soares
5min • 8 de dez. de 2025

Quando a ansiedade é constante, o coração fica sobrecarregado, favorecendo alterações metabólicas que aumentam o risco de doenças cardiovasculares. | Foto: Freepik
Não é preciso apenas uma alimentação saudável e a prática de exercícios para manter o coração saudável. Na verdade, sabia que o equilíbrio emocional também influencia diretamente na pressão arterial, frequência cardíaca, liberação de hormônios e processos inflamatórios?
Quando uma pessoa vive diariamente sob estresse, ansiedade ou tristeza, o organismo permanece em estado de alerta, aumentando os níveis de cortisol e adrenalina no corpo, sobrecarregando o sistema cardiovascular.
O resultado é um risco maior de pressão alta, aumento dos batimentos e desgaste dos vasos, deixando o coração mais vulnerável a problemas no futuro.
Como a saúde mental afeta a saúde do coração?
Segundo a cardiologista Juliana Soares, o organismo possui um eixo neuro-hormonal (hipotálamo-hipófise-adrenal), que orquestra a liberação de uma série de hormônios — incluindo os hormônios do estresse, como cortisol e adrenalina.
Quando ocorre alguma alteração emocional no dia a dia, como estresse ou nervosismo, os hormônios são liberados na corrente sanguínea, causando o aumento da pressão arterial, acelerando os batimentos cardíacos e preparando o corpo para situações de alerta. Eles também alteram a liberação de glicose, o que afeta diretamente a saúde cardiovascular.
Além disso, em situações de estresse intenso, o organismo permanece em estado de luta ou fuga, causada pela ativação do sistema nervoso simpático. Quando a situação é constante, pode acontecer uma sobrecarga do sistema cardiovascular.
Ansiedade e depressão podem aumentar o risco de doenças cardíacas?
Tanto a depressão quanto a ansiedade estão associadas a um maior risco cardiovascular. Quando uma pessoa vive em estado de alerta constante, como ocorre na ansiedade, o corpo libera mais adrenalina, noradrenalina e cortisol, hormônios que elevam a pressão arterial, aceleram os batimentos e aumentam a inflamação no organismo.
Quando o estado é constante, o coração fica sobrecarregado, favorecendo alterações metabólicas que aumentam o risco de doenças cardiovasculares.
No caso da depressão, Juliana explica que a doença é reconhecida como um fator de risco independente para o desenvolvimento de doença arterial coronariana, associada a infarto e AVC.
Nesses quadros, o organismo tende a permanecer em um padrão de inflamação contínua, que prejudica a saúde dos vasos sanguíneos e facilita a formação de placas de gordura nas artérias.
Além dos efeitos químicos diretos, a ansiedade e a depressão favorecem um estilo de vida não saudável:
- É comum que pessoas deprimidas ou muito ansiosas parem de se exercitar, o que é fundamental para um coração saudável;
- Muitas vezes, elas recorrem a comidas não saudáveis (ricas em açúcar e gordura) como conforto;
- O uso de cigarro e o álcool pode aumentar, hábitos que são terríveis inimigos do coração;
- O cansaço e a falta de energia fazem com que seja mais difícil seguir os tratamentos médicos (como tomar remédios para pressão ou diabetes) de forma correta.
Emoções intensas podem ser perigosas?
De acordo com Juliana, emoções intensas ativam rapidamente os eixos neuro-hormonais do cérebro e o sistema nervoso autônomo, provocando uma liberação maciça de cortisol, adrenalina e noradrenalina na corrente sanguínea.
Em pessoas com predisposição, especialmente aquelas que já apresentam placas nas artérias, o aumento súbito da pressão arterial e da frequência cardíaca pode servir como gatilho para um infarto.
Em alguns casos mais raros, pode acontecer o enfraquecimento súbito do músculo cardíaco, conhecido como síndrome do coração partido, ou cardiomiopatia de Takotsubo. Os sintomas são quase iguais aos de um infarto, com dor súbita e intensa no peito, falta de ar e arritmias.
Mas, na maioria das vezes, a síndrome é transitória e o músculo cardíaco costuma voltar à sua forma e função normal dentro de algumas semanas (normalmente de 7 a 30 dias).
Como é possível reduzir o risco cardíaco?
Além da prática regular de atividades físicas e uma alimentação equilibrada, uma das principais medidas para reduzir o risco de problemas cardíacos é cuidar da saúde mental e emocional. Isso pode ser feito de diversas formas, como:
- Praticar técnicas de relaxamento, como meditação ou respiração profunda;
- Manter uma rotina de sono adequada e de boa qualidade;
- Reservar momentos de lazer e descanso ao longo da semana;
- Buscar apoio psicológico, seja por terapia ou acompanhamento especializado;
- Uso de medicamentos, quando indicado pelo médico;
- Manter um sono adequado, dormindo horas suficientes e garantindo um ambiente tranquilo;
- Cultivar vínculos sociais positivos, com familiares, amigos ou grupos de convivência;
- Reduzir o excesso de estímulos e sobrecarga no dia a dia, organizando melhor as demandas.
Pequenos ajustes na rotina, acompanhados de atenção aos próprios limites, já podem fazer grande diferença ao longo do tempo. Mas é importante reconhecer que, em alguns momentos, lidar sozinho com a ansiedade, a tristeza profunda ou a sensação de esgotamento pode ser difícil.
Se você começar a sentir que perdeu a capacidade de enfrentar o dia a dia, procure um serviço de emergência de saúde mental imediatamente ou ligue para o CVV no número 188.
Confira: 7 sinais de que seu cansaço não é apenas falta de sono
Perguntas frequentes
Como o sono ruim prejudica o coração?
O sono é o momento em que o corpo regula hormônios, controla a pressão e estabiliza batimentos. Quando a pessoa dorme mal por vários dias, o organismo entra em desequilíbrio, aumentando inflamação, resistência à insulina e tensão muscular. A longo prazo, isso eleva o risco de hipertensão, obesidade, diabetes e doenças coronárias.
Existe ligação entre burnout e problemas cardíacos?
A síndrome de burnout mantém o organismo em estado de exaustão emocional e física, o que sobrecarrega o coração de forma contínua. O corpo passa semanas ou meses liberando hormônios de estresse, alterando o sono e prejudicando o metabolismo, fatores que elevam o risco de hipertensão, arritmias e eventos cardíacos importantes.
Como diferenciar crises de ansiedade de problemas cardíacos?
A crise de ansiedade costuma surgir de forma abrupta, acompanhada de medo intenso, mãos suadas, tremores e sensação de perda de controle, melhorando após alguns minutos.
Já os problemas cardíacos tendem a causar dor mais contínua e profunda, que pode irradiar para braço, mandíbula ou costas, além de não melhorar com respiração lenta.
Como as sensações podem confundir, a avaliação médica é fundamental quando os episódios são repetidos, intensos ou acompanhados de fatores de risco.
O coração pode sofrer com sobrecarga emocional sem que exista doença cardíaca?
O coração pode reagir intensamente a períodos de estresse, susto, luto ou ansiedade prolongada, mesmo quando está estruturalmente saudável. Os batimentos acelerados, dor no peito e sensação de desmaio podem surgir sem lesão física, porque o corpo interpreta emoções fortes como ameaças reais.
O mecanismo natural de defesa causa sintomas cardíacos que desaparecem quando o equilíbrio emocional retorna.
Como o ambiente de trabalho influencia a mente e o coração?
Os ambientes de trabalho muito exigentes, com prazos constantes e pouco tempo de descanso, mantêm o corpo em alerta contínuo. Isso aumenta o estresse, altera o sono e favorece comportamentos como comer rápido ou pular refeições. Com o passar dos meses, o coração sente o impacto da sobrecarga, que eleva pressão e desgaste cardiovascular.
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