DOENÇAS & CONDIÇÕES
Refluxo gastroesofágico: conheça as causas, sintomas e como tratar
Tosse persistente pode ser sinal oculto de refluxo, mesmo sem azia; conheça os principais sintomas da condição e quando buscar ajuda médica
Dra. Lívia Guimarães
5min • 8 de set. de 2025

Imagine sentir uma queimação que sobe do estômago até a garganta depois de uma refeição normal. A sensação pode parecer comum, mas a depender da frequência e de outros sinais associados, pode indicar um quadro de refluxo gastroesofágico.
A condição, que ocorre quando o ácido gástrico retorna para o esôfago, pode causar não apenas azia, mas tosse persistente, rouquidão, pigarro e até dor no peito. Saber identificar os sintomas é importante para prevenir complicações.
Afinal, o que é refluxo gastroesofágico e como ele acontece?
O refluxo gastroesofágico é uma condição em que o conteúdo do estômago, especialmente o ácido gástrico, retorna para o esôfago, o tubo que liga a boca ao estômago.
De acordo com a gastroenterologista Lívia Guimarães, isso acontece porque o esfíncter esofágico inferior — a válvula que separa as duas estruturas — não consegue se fechar de maneira eficiente, permitindo que o ácido, e às vezes até a bile, suba em direção à garganta.
Em alguns casos, a falha pode estar ligada também à motilidade do esôfago ou a um atraso no esvaziamento do estômago.
De forma simples, é como se a porta que deveria abrir para a passagem dos alimentos e fechar logo em seguida ficasse entreaberta. Assim, o suco gástrico, altamente ácido, retorna ao esôfago, cuja mucosa não tem defesa suficiente contra a agressão.
O contato repetido é o que provoca a sensação de queimação e, a longo prazo, pode levar a inflamações e até complicações de saúde.
Quais os sintomas mais comuns de refluxo?
A queimação no peito, também conhecida como azia, é o sintoma mais comum do refluxo. Ela começa na boca do estômago e pode se irradiar até a garganta, causando desconforto intenso, especialmente após refeições maiores ou ao se deitar.
No entanto, há outros sinais importantes que devem servir de alerta, como:
- Regurgitação de alimento ou líquido ácido, com gosto amargo na boca;
- Dor no peito;
- Tosse seca persistente, especialmente à noite ou ao se deitar;
- Rouquidão e pigarro, especialmente após refeições ou ao se deitar.
Quais os fatores de risco do refluxo?
De acordo com a gastroenterologista Lívia Guimarães, alguns hábitos e condições de saúde aumentam as chances de desenvolver refluxo. Entre eles estão:
- Sobrepeso e obesidade;
- Alimentação rica em gorduras e ultraprocessados, que dificultam a digestão;
- Refeições muito volumosas, que sobrecarregam o sistema digestivo;
- Tabagismo;
- Consumo excessivo de álcool, café e refrigerantes, que estimulam o ácido estomacal;
- Gravidez;
- Uso de certos medicamentos, como ansiolíticos.
Como é feito o diagnóstico de refluxo?
O diagnóstico inicial do refluxo geralmente é feito com base na história clínica e nos sintomas relatados pelo paciente. “Geralmente, conseguimos identificar o quadro pela avaliação clínica. Em casos persistentes ou com sinais de alerta, podem ser indicados exames como endoscopia digestiva alta e pHmetria esofágica”, aponta Lívia Guimarães.
Os exames ajudam a avaliar se há inflamações no esôfago, medir a acidez que retorna do estômago e verificar a função do esfíncter esofágico inferior.
Tratamento de refluxo
1. Mudanças no estilo de vida
Grande parte dos pacientes apresenta melhora significativa com alguns ajustes na rotina. Entre as orientações médicas mais eficazes estão:
- Comer porções menores e mais fracionadas ao longo do dia;
- Evitar se deitar logo após as refeições;
- Reduzir alimentos gordurosos, ultraprocessados, cafeína, álcool e refrigerantes;
- Manter um peso saudável;
- Elevar a cabeceira da cama em alguns centímetros;
- Identificar possíveis intolerâncias alimentares.
Além disso, como destaca a gastroenterologista, “exercícios respiratórios diafragmáticos podem ajudar no controle do refluxo, pois fortalecem o esfíncter esofágico inferior e reduzem os episódios, especialmente quando associados às medidas dietéticas e posturais.”
2. Uso de remédios para refluxo
Quando as mudanças de hábitos não são suficientes, pode ser necessário o uso de remédios que reduzem a acidez, segundo Lívia Guimarães. Alguns deles incluem:
- Inibidores da bomba de prótons (IBPs), conhecidos como prazóis;
- Bloqueadores do receptor H2, como a famotidina;
- Bloqueadores ácidos competitivos de potássio, como a vonoprazana.
Segundo o Ministério da Saúde, além de controlar a acidez, alguns medicamentos também ajudam a melhorar a motilidade do esôfago, facilitando o esvaziamento do estômago.
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Quando a cirurgia para refluxo é necessária?
A cirurgia é indicada quando os remédios e as mudanças de hábitos não conseguem controlar o refluxo ou quando a pessoa depende de medicação contínua sem melhora significativa.
Ela também pode ser indicada em casos de hérnia de hiato ou complicações mais graves, como o esôfago de Barrett, que aumenta o risco de câncer, de acordo com a gastroenterologista.
O Ministério da Saúde aponta que a cirurgia pode ser feita por técnica convencional ou laparoscópica e, normalmente, envolve a confecção de uma válvula antirrefluxo.
O procedimento é especialmente recomendado em pacientes com hérnia de hiato ou com esofagite grave — quando a acidez constante do suco gástrico começa a alterar as células do esôfago, aumentando o risco de tumores malignos.
Quais complicações podem surgir se o refluxo não for tratado?
Se o refluxo não for tratado corretamente, pode trazer consequências mais sérias ao longo do tempo. A gastroenterologista Lívia Guimarães alerta que a irritação constante causada pelo ácido pode provocar esofagite grave, inflamação que machuca a parede do esôfago.
Em alguns casos, surgem úlceras ou até o estreitamento do esôfago, que dificulta a passagem dos alimentos e causa dor ao engolir. Quando o quadro se torna crônico, pode aparecer o chamado esôfago de Barrett, uma alteração nas células do esôfago que aumenta o risco de câncer.
Perguntas frequentes sobre refluxo
1. O refluxo pode causar dor no peito parecida com a de um problema cardíaco?
Sim, a dor torácica intensa causada pelo refluxo pode imitar a angina ou até um infarto. De acordo com estudos, a doença do refluxo gastroesofágico (DRGE) corresponde a cerca de 30% dos casos de dor torácica não cardíaca. Por isso, toda dor no peito deve ser investigada com atenção.
2. Existe relação entre refluxo e ansiedade ou estresse emocional?
Sim, o refluxo pode estar ligado à ansiedade e ao estresse. Quando a pessoa está ansiosa, o corpo produz mais ácido no estômago e os sintomas do refluxo podem piorar. Além disso, o estresse aumenta a sensibilidade: a queimação ou dor acabam sendo sentidas de forma mais intensa.
Um estudo clínico mostrou que pacientes com refluxo e ansiedade apresentaram melhora quando o tratamento juntou remédio para reduzir o ácido e um medicamento para ansiedade. Isso significa que, em alguns casos, tratar a saúde emocional ajuda também a controlar quadros de refluxo.
3. O refluxo pode causar mau hálito ou prejudicar os dentes?
Sim. Estudos mostram que pessoas com refluxo gastroesofágico têm mais chances de sofrer erosão dentária. Isso acontece porque o ácido do estômago, em contato frequente com a boca, desgasta o esmalte e pode levar à perda da estrutura do dente.
4. Dormir de lado realmente ajuda a reduzir os episódios de refluxo?
Dormir de lado, especialmente no lado esquerdo, pode ajudar a reduzir os episódios de refluxo. Isso acontece porque, nessa posição, o estômago fica abaixo do esôfago, dificultando o retorno do ácido gástrico. Já deitar do lado direito ou de barriga para cima pode facilitar a subida do conteúdo do estômago, aumentando o desconforto.
5. Crianças e bebês também podem ter refluxo?
O refluxo fisiológico é comum em bebês, especialmente até os 12 meses de vida, porque o esfíncter esofágico ainda está imaturo. A maioria melhora espontaneamente após o primeiro ano. Casos persistentes ou acompanhados de perda de peso exigem avaliação médica.
6. Quem tem refluxo precisa cortar totalmente café, chocolate e álcool?
Não necessariamente. Quem tem refluxo não precisa cortar totalmente café, chocolate e álcool, mas é importante observar como o corpo reage a esses alimentos. Em alguns casos, eles podem relaxar o esfíncter esofágico inferior e estimular a produção de ácido, favorecendo os episódios de azia e queimação.
Uma vez que cada organismo responde de formas diferentes, a recomendação é reduzir o consumo, evitar exageros e fazer testes individuais, sempre acompanhado de orientação médica.
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