Logo Propor

DOENÇAS & CONDIÇÕES

Recidiva do câncer: por que ele pode voltar após o tratamento?

A recidiva pode acontecer meses ou até anos após o término do tratamento, o que explica por que o acompanhamento deve ser contínuo

Dr. Thiago Chadid

Dr. Thiago Chadid

5min • 14 de out. de 2025

Médico conversando com paciente em consultório sobre recidiva do câncer, explicando possibilidades de retorno da doença após o tratamento

Após meses de tratamento, seja por cirurgia, quimioterapia ou radioterapia, a remissão do câncer costuma ser acompanhada de sentimentos de alívio e vitória. Apesar disso, é comum (e totalmente compreensível) ficar apreensivo com a possibilidade de o câncer retornar.

O fenômeno, conhecido como recidiva, ocorre quando a doença retorna meses ou até anos depois do término do tratamento. Não é algo raro de acontecer, e por isso é importante que pacientes e familiares compreendam por que ocorre, quais fatores estão envolvidos e quais são as melhores formas de lidar com a possibilidade. Entenda mais, a seguir.

O que é a recidiva do câncer?

A recidiva do câncer é o termo médico usado para descrever o retorno da doença após o fim do tratamento inicial. Ela pode aparecer no mesmo local onde o tumor surgiu, em tecidos próximos ou em órgãos distantes. Quando a doença retorna, ela mantém o nome do câncer original, mesmo que apareça em outro órgão.

Por exemplo, se uma pessoa tratou câncer de mama e, anos depois, células cancerígenas aparecem nos pulmões, ainda será considerado câncer de mama com metástase pulmonar, e não um câncer de pulmão primário. Esse detalhe é particularmente importante porque o comportamento biológico e o tratamento dependem da origem inicial do tumor.

Vale ressaltar que a recidiva não significa necessariamente que o tratamento anterior não deu certo. Ela é, na verdade, consequência de um processo natural do câncer, uma vez que células microscópicas podem permanecer no corpo mesmo depois de terapias agressivas.

Por esse motivo é tão importante manter o acompanhamento mesmo após a remissão, pois a recidiva pode acontecer meses ou até anos após o término do tratamento.

Como e por que a recidiva acontece?

De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica, o corpo humano é formado por trilhões de células, e um tumor de apenas 1 cm³ já pode conter cerca de 1 bilhão de células cancerígenas. Mesmo com exames avançados, é praticamente impossível detectar células isoladas ou pequenos grupos de células que sobrevivem após o tratamento.

Segundo o oncologista Thiago Chadid, as células residuais são chamadas de micrometástases, e podem permanecer “congeladas” por meses ou até anos. Mas, por algum gatilho, como baixa imunidade, estresse, infecção, covid-19, cigarro ou radiação, podem voltar a se multiplicar de forma descontrolada, originando um novo tumor.

Quais os tipos de recidiva do câncer?

A recidiva pode se manifestar de diferentes formas, sendo elas:

  • Recidiva local: acontece quando o tumor aparece novamente exatamente no mesmo local onde surgiu o câncer inicial. Por exemplo, um câncer de pele tratado volta no mesmo ponto da cicatriz;
  • Recidiva regional: nesses casos, o câncer retorna em linfonodos próximos ao local original. Um exemplo é um câncer de mama que se manifesta novamente nos linfonodos da axila;
  • Recidiva metastática distante (metástase): o câncer se instala em órgãos ou tecidos distantes do local inicial. É o tipo mais grave, pois pode atingir pulmões, fígado, ossos ou cérebro.

É possível saber se o câncer vai voltar?

Atualmente, não existe uma maneira de saber se, depois da remissão, o câncer vai retornar. Segundo a SBCO, em alguns tipos de tumores, existem algoritmos que estimam a chance de recidiva, mas ainda se tratam de cálculos imprecisos, incapazes de determinar com certeza o risco individual de cada paciente.

O que se sabe é que, quando o câncer é mais agressivo, de crescimento rápido ou que já se espalhou para outras regiões do corpo, a probabilidade de recidiva é maior. O acompanhamento contínuo aumenta a chance de detectar precocemente qualquer sinal de retorno da doença, o que faz diferença no tratamento.

De acordo com Thiago, adota-se o período de cinco anos como referência para acompanhar o risco de retorno do câncer. No entanto, há exceções, sobretudo em tumores indolentes, que apresentam crescimento mais lento e podem recidivar após esse intervalo.

Como é feito o diagnóstico e tratamento da recidiva do câncer?

O diagnóstico da recidiva normalmente acontece durante as consultas de retorno ao oncologista. Os exames de imagem (como tomografia, ressonância magnética e PET-CT) e exames laboratoriais continuam sendo as principais medidas de detecção do câncer.

Em alguns casos, dependendo do tipo de tumor, o paciente pode notar alguns sinais de alerta, como:

  • Dor persistente;
  • Fadiga extrema;
  • Perda de peso sem causa aparente;
  • Novos nódulos ou alterações na pele.

O tratamento depende do tipo e localização da recidiva, além do histórico do paciente. Algumas células tumorais podem se tornar resistentes aos medicamentos utilizados anteriormente, exigindo mudanças de estratégia.

Mas, segundo Thiago, quando o câncer retorna no mesmo local, normalmente se trata de um resíduo tumoral que não foi completamente eliminado. Nesses casos, a cirurgia ou a radioterapia costumam ser as opções mais indicadas, pois ainda existe uma chance significativa de cura.

Já a metástase indica que as células tumorais se disseminaram para outras partes do corpo, o que torna o tratamento mais complexo. As abordagens, dependendo do tipo e da localização do câncer, podem incluir quimioterapia, radioterapia, terapia-alvo, imunoterapia, terapia hormonal ou cirurgia.

Leia mais: Entenda a diferença entre tumor benigno e maligno

É possível prevenir o retorno do câncer?

Não é possível prevenir completamente a recidiva do câncer, mas existem medidas que reduzem os riscos, como:

  • Alimentação equilibrada: uma dieta rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras ajuda a manter o peso corporal saudável e fornece nutrientes essenciais para o bom funcionamento do organismo. O excesso de alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gorduras saturadas e aditivos químicos, deve ser evitado;
  • Atividade física regular: praticar exercícios de forma constante, mesmo que em intensidade moderada, como caminhadas, natação ou bicicleta, contribui para controlar a obesidade, aumentar a imunidade e reduzir inflamações;
  • Controle do estresse: o impacto emocional do câncer é enorme, e viver em constante estado de tensão enfraquece o sistema imunológico. Estratégias como meditação, ioga, respiração consciente ou acompanhamento psicológico ajudam a reduzir a ansiedade, melhorar o sono e trazer mais equilíbrio à rotina;
  • Acompanhamento multidisciplinar: contar com nutricionistas, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos garante uma atenção integral ao corpo e à mente, fortalecendo o paciente como um todo. Ter uma rede de apoio contribui para a adesão ao tratamento e para a melhora da qualidade de vida;
  • Evitar fatores de risco: abandonar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool são medidas fundamentais para prevenir a doença. Se proteger contra a radiação solar excessiva e manter as vacinas em dia, como as contra HPV e hepatite B, também faz toda diferença.

Apesar das medidas não garantirem que o câncer nunca volte, elas fortalecem o organismo, aumentam a resposta ao tratamento e promovem qualidade de vida — permitindo que o paciente se sinta mais confiante no processo de recuperação.

Confira: Exames de rotina para prevenir câncer: conheça os principais

Perguntas frequentes sobre recidiva do câncer

1. O câncer que volta é mais agressivo do que o primeiro?

Nem sempre. Na verdade, o comportamento da recidiva depende do tipo de câncer e da forma como ele evolui no organismo. Em alguns casos, o tumor pode se manifestar de maneira semelhante ao inicial; em outros, pode apresentar características mais resistentes aos medicamentos utilizados anteriormente, exigindo novas medidas de tratamento.

2. Quanto tempo depois do tratamento o câncer pode voltar?

Não existe um tempo fixo. A recidiva do câncer pode ocorrer em meses, anos ou até décadas depois do tratamento inicial. Há relatos de pacientes que tiveram o retorno da doença até 20 anos após entrarem em remissão.

Assim, o acompanhamento médico periódico deve ser contínuo, mesmo depois de muito tempo sem sinais de câncer. Exames de rotina e consultas de acompanhamento são fundamentais para detectar precocemente qualquer alteração.

3. O câncer que volta é considerado um novo câncer?

Não, a recidiva é o reaparecimento do mesmo câncer tratado anteriormente. Mesmo que ele surja em outra parte do corpo, continua sendo considerado do mesmo tipo do tumor original. Por exemplo, um câncer de mama que volta nos ossos ainda é classificado como câncer de mama metastático.

Já um segundo câncer primário é quando o paciente desenvolve outro tipo de tumor, independente do primeiro.

4. O paciente em remissão precisa fazer exames para o resto da vida?

Na maioria dos casos, sim. O acompanhamento médico deve ser constante, mesmo depois de anos sem sinais da doença. A frequência dos exames pode diminuir com o tempo, mas dificilmente o paciente deixa de ser monitorado completamente.

Isso é necessário porque a recidiva pode acontecer a qualquer momento — inclusive após longos períodos de silêncio da doença.

5. O que fazer para lidar emocionalmente com o medo da recidiva?

O medo de que o câncer retorne é muito comum entre pacientes oncológicos e pode comprometer o sono, a concentração e a qualidade de vida, então é muito importante falar abertamente sobre os sentimentos com o médico e procurar apoio psicológico.

Existem grupos de apoio e terapia individual que contribuem para transformar a ansiedade em algo mais manejável. Cuidar da saúde emocional é tão importante quanto cuidar do corpo, pois o equilíbrio mental fortalece a resiliência e aumenta a confiança no tratamento.

6. Por que algumas pessoas têm recidiva e outras não?

A diferença está ligada a diversos fatores, como o tipo de câncer, o estágio em que foi diagnosticado, a resposta individual ao tratamento e até a genética do paciente. Além disso, fatores externos, como estilo de vida e exposição a substâncias nocivas, também influenciam.

Em alguns casos, mesmo com todos os cuidados possíveis, pequenas células malignas podem permanecer no organismo e voltar a se multiplicar. Portanto, não há uma causa única, e sim vários fatores que influenciam se a doença vai voltar ou não.

Veja também: Metástase: o que é, sintomas, como surge e se tem cura

Inscreva-se em nossa newsletter

Receba semanalmente as últimas notícias da área da saúde, cuidado e bem estar.

Foto de Dr. Thiago Chadid

Escrito por Dr. Thiago Chadid

Sobre

Oncologista

Especialidades/Área de atuação

Oncologia - CRM/SP 115.872

Group Companies
Waves