PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Obesidade: como o médico pode ajudar na prevenção?
O excesso de gordura corporal, especialmente no abdômen, pode comprometer o funcionamento de diversos órgãos e sistemas

Dra. Lilian Ramaldes Vera
5min • 19 de dez. de 2025

A prevenção da obesidade envolve uma série de ações e mudanças no estilo de vida | Foto: Freepik
Uma das condições de saúde que mais cresce no Brasil, a obesidade acontece quando há um acúmulo excessivo de gordura no corpo, ligado a fatores como genética, metabolismo, comportamento, alimentação e até o ambiente em que a pessoa vive.
Ela se desenvolve de forma silenciosa, muitas vezes antes mesmo do ganho de peso se tornar visível — e representa um risco significativo para o desenvolvimento de diabetes tipo 2, pressão alta e outras doenças cardiovasculares.
“Muitas pessoas só buscam ajuda médica quando o excesso de peso já está instalado ou começa a causar outros problemas de saúde. Mas o momento ideal para agir é antes disso”, aponta Lilian Ramaldes Vera, médica de família e comunidade e homeopata.
Com o acompanhamento médico adequado, é possível identificar precocemente alterações metabólicas, orientar mudanças de estilo de vida e prevenir a progressão do quadro. Vamos entender mais, a seguir.
Como o médico pode ajudar desde o primeiro contato?
O médico é frequentemente o primeiro profissional de saúde a detectar alterações no peso corporal. Desde o primeiro contato, ele já consegue identificar riscos para obesidade ao avaliar hábitos alimentares, atividade física, sono, histórico familiar e exames básicos como IMC e circunferência abdominal. Isso permite orientar mudanças logo na fase inicial, evitando complicações no futuro, de acordo com Lilian.
Também é nesse primeiro contato que o médico educa o paciente sobre alimentação inadequada, sedentarismo e fatores emocionais associados ao ganho de peso, oferecendo estratégias viáveis para a realidade de cada pessoa. Assim, o especialista atua de forma preventiva, ajudando a interromper o ciclo de progressão da obesidade desde o início.
Como o médico reconhece os primeiros sinais de risco para obesidade?
Durante exames de rotina, o médico avalia o peso, o índice de massa corporal (IMC), a relação cintura-quadril e exames como glicemia, hemoglobina glicada e colesterol — identificando sinais que mostram risco aumentado, mesmo quando o paciente ainda não apresenta obesidade estabelecida. Alguns deles incluem:
- Ganho de peso progressivo ao longo dos últimos meses;
- Aumento de gordura abdominal;
- Resistência à insulina detectada por exames laboratoriais;
- Queixas de fadiga, sono desregulado e compulsão alimentar;
- Relato de episódios de ansiedade ou depressão;
- Histórico familiar de obesidade ou doenças metabólicas;
- Presença de hábitos alimentares prejudiciais, como consumo frequente de ultraprocessados;
- Uso contínuo de corticosteroides, antidepressivos ou estabilizadores de humor que podem induzir aumento de peso.
“Além dos números, observa também os hábitos de vida, o sono, o estresse e o histórico familiar. O médico de família, por acompanhar a pessoa ao longo dos anos, consegue perceber pequenas mudanças no corpo e no comportamento que indicam o início de um desequilíbrio metabólico”, explica Lilian.
A atenção deve ser multidisciplinar
A obesidade é uma doença multifatorial, o que significa que é provocada por uma combinação de fatores que interagem entre si e afetam o funcionamento do organismo. Por isso, a atenção ao paciente com risco de obesidade (ou já diagnosticado com a condição) deve ser multidisciplinar, envolvendo diferentes áreas da saúde que atuam de forma integrada.
“O médico sabe quando é hora de envolver outros profissionais, como nutricionista, educador físico e psicólogo, para apoiar o paciente em diferentes dimensões. Essa abordagem multiprofissional aumenta a adesão ao tratamento e melhora os resultados a longo prazo”, esclarece Lilian.
O nutricionista, por exemplo, ajuda a organizar a alimentação de forma equilibrada e possível de manter, enquanto o psicólogo trabalha a parte emocional, como ansiedade e compulsão alimentar. Já o educador físico orienta atividades adequadas ao ritmo de cada pessoa, ajudando a gastar energia e fortalecer o corpo com segurança.
Quando o cuidado funciona assim, o paciente entende melhor o que precisa fazer, desenvolve maior autonomia e consegue manter os hábitos saudáveis por mais tempo. A ideia da atenção multidisciplinar não é só fazer a pessoa perder peso, mas evitar que o peso volte e garantir uma vida mais equilibrada no dia a dia.
Como prevenir a obesidade?
A prevenção da obesidade envolve uma série de ações e mudanças no estilo de vida, incluindo alimentação saudável, atividade física, saúde mental, sono adequado, equilíbrio metabólico e, quando necessário, uso de medicamentos ou encaminhamento para outros especialistas.
Alimentação equilibrada
A alimentação é o fator mais importante na prevenção da obesidade, porque ela determina a quantidade de energia (calorias) e a qualidade dos nutrientes que o corpo recebe. Em quadros de obesidade, existe um consumo de calorias maior do que o corpo gasta, de modo que uma dieta saudável contribui para controlar a ingestão calórica total e manter o peso corporal dentro de uma faixa saudável.
A recomendação é dar prioridade a alimentos in natura e minimamente processados, como frutas, verduras, legumes e grãos integrais. Eles ajudam a controlar a glicemia, equilibrar hormônios e evitar a resistência à insulina, o que contribui diretamente para a redução do ganho de peso.
Também é necessário evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como fast food, salgadinhos e refrigerante, que normalmente são densos em calorias, pobres em nutrientes essenciais e ricos em açúcares, gorduras não saudáveis e sódio.
Atividade física
A prática regular de atividade física é a principal forma de aumentar o gasto calórico diário, criando ou mantendo o déficit calórico necessário para prevenir o ganho de peso. Logo, quanto mais ativa a pessoa for, mais calorias ela queima, o que equilibra a energia obtida através da alimentação.
A Organização Mundial da Saúde recomenda pelo menos 150 a 300 minutos por semana de atividade física moderada, ou 75 a 150 minutos de atividade física intensa para adultos. Ela também orienta incluir exercícios de fortalecimento muscular pelo menos duas vezes por semana, envolvendo os principais grupos musculares.
Vale lembrar que o acompanhamento médico garante que a atividade seja feita com segurança, respeitando os limites do corpo e prevenindo lesões, o que aumenta (e muito!) as chances do paciente manter a regularidade e transformar o movimento em hábito de vida.
Cuidado com a saúde mental e emocional
O ganho de peso e os hábitos alimentares, em muitos casos, estão diretamente ligados ao estado emocional. Muitas pessoas recorrem à comida como uma forma de lidar com sentimentos como estresse, tristeza, ansiedade ou tédio, por exemplo, o que pode interferir no equilíbrio metabólico, favorecer o acúmulo de gordura corporal e dificultar o controle do peso.
Nesse contexto, o cuidado com a saúde mental ajuda a desenvolver uma alimentação mais consciente, permitindo que a pessoa reconheça os sinais reais de fome e saciedade do corpo — em vez de comer por impulso ou por hábito automático. Quando as emoções estão equilibradas, fica mais fácil fazer escolhas saudáveis no dia a dia.
Acompanhamento médico
Com o acompanhamento médico constante, é possível acompanhar a evolução na perda de peso, ajustar estratégias conforme a resposta do organismo e descobrir condições preexistentes, como diabetes e disfunções hormonais — que podem dificultar o controle do peso.
Em situações específicas, o médico pode indicar o uso de medicamentos, especialmente quando a pessoa apresenta risco metabólico elevado ou dificuldade em controlar o peso apenas com mudanças comportamentais.
“A prevenção da obesidade não é apenas ‘fechar a boca’. Cuidar do peso é cuidar da energia, da disposição e da qualidade de vida. Quando o paciente compreende o próprio corpo e encontra equilíbrio entre alimentação, sono, movimento e bem-estar emocional, o peso se torna consequência natural de uma vida mais saudável”, diz Lilian.
Acompanhamento de obesidade a longo prazo
De acordo com Lilian, o papel do médico no acompanhamento a longo prazo é principalmente para prevenir o efeito sanfona. Basicamente, ele acontece quando a pessoa emagrece de forma rápida ou sem acompanhamento adequado e, depois, volta aos antigos hábitos, ganhando peso novamente — às vezes até mais do que tinha antes.
“O médico acompanha o paciente durante toda a jornada, ajustando o plano de cuidado conforme as mudanças de vida. Esse acompanhamento contínuo é o que garante resultados duradouros e mais saúde no futuro”, finaliza a especialista.
Leia mais: Comer na frente de telas faz mal? Conheça os riscos e como diminuir o hábito
Perguntas frequentes
Dietas restritivas ajudam a evitar a obesidade?
As dietas restritivas podem levar a um emagrecimento rápido, mas normalmente não são sustentáveis, pois a falta de nutrientes e o sentimento de privação aumentam a compulsão alimentar, favorecem o efeito sanfona e prejudicam a saúde mental. O ideal é adotar mudanças graduais e permanentes, com reeducação alimentar e acompanhamento médico e nutricional.
Crianças também podem ter obesidade?
Sim, e isso tem se tornado cada vez mais comum. Segundo um levantamento nacional com base nos dados do SUS, uma em cada três crianças e adolescentes de 10 a 19 anos está com excesso de peso no Brasil. O cenário é preocupante porque o ganho de peso precoce aumenta o risco de desenvolver doenças como diabetes, problemas cardíacos e AVC ao longo da vida.
O que é obesidade visceral e por que ela é perigosa?
A obesidade visceral ocorre quando há acúmulo de gordura em volta dos órgãos internos, como fígado e intestino. Ela é mais perigosa que a gordura subcutânea (que se pode sentir sob a pele), pois gera inflamação sistêmica e está diretamente ligada ao risco de infarto, diabetes, AVC e síndrome metabólica. Mesmo pessoas com peso aparentemente normal podem ter gordura visceral elevada, o que exige avaliação médica.
Obesidade tem cura?
A obesidade é uma condição crônica, o que significa que ela não tem cura definitiva, mas pode ser controlada a partir de um acompanhamento adequado. O tratamento permite a perda de peso, a estabilização do metabolismo e a redução dos riscos para a saúde. O acompanhamento contínuo é fundamental para evitar recaídas.
Quem está acima do peso precisa cortar carboidratos?
Não é necessário cortar completamente os carboidratos da rotina, mas sim escolher os tipos certos e consumir nas quantidades adequadas. Os carboidratos refinados favorecem o acúmulo de gordura, enquanto os complexos fornecem energia, regulam o intestino e aumentam a saciedade.
O que é obesidade mórbida?
A obesidade mórbida é o estágio mais grave da obesidade, caracterizada por IMC igual ou superior a 40, ou acima de 35 quando já existem doenças associadas. Ela compromete o funcionamento de diversos órgãos e, em muitos casos, exige acompanhamento médico rigoroso e até cirurgia bariátrica.
Confira: Obesidade: por que é considerada uma doença crônica?

