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SAÚDE MENTAL & EMOCIONAL

Como o cérebro decide o que lembrar e o que esquecer 

Por que você se lembra da letra de uma música dos anos 90, mas esquece onde deixou as chaves? Entenda como o cérebro seleciona o que vale a pena guardar e o que precisa ser apagado

Dr. Luiz Dieckmann

Dr. Luiz Dieckmann

5min • 6 de nov. de 2025

Casal idoso revê fotos antigas em preto e branco e coisas boas vem à memória

O processo de esquecimento saudável ocorre especialmente durante o sono profundo, e a consolidação da memória também | Foto: Freepik

Você já se perguntou por que algumas lembranças parecem eternas, enquanto outras somem em minutos? Há uma explicação científica para isso e, ao contrário do que muitos imaginam, esquecer faz parte de um cérebro saudável.

De acordo com o psiquiatra Luiz Dieckmann, o esquecimento não é uma falha, e sim um processo ativo que ajuda a manter o equilíbrio mental.

“Durante o sono, principalmente na fase mais profunda, nós literalmente limpamos a nossa casinha”, explica o médico. Essa “faxina cerebral” é feita pelo sistema glinfático, uma descoberta recente da neurociência que ajudou os cientistas a entender melhor como o sono protege a memória.

Lembrar e esquecer são duas faces da mesma moeda

A memória humana não é uma biblioteca infinita, mas sim seletiva. O cérebro precisa decidir o que vale a pena guardar e o que deve ser apagado para evitar sobrecarga.

Essa filtragem ocorre principalmente no hipocampo, estrutura responsável pela formação e consolidação das memórias. Ele atua como um curador interno, escolhendo quais experiências serão enviadas ao córtex cerebral, onde ficam armazenadas as lembranças de longo prazo.

Segundo Dieckmann, as memórias com forte carga emocional têm prioridade. “Você precisa lembrar do seu primeiro beijo, mas não necessariamente do que almoçou na terça-feira passada”, comenta o psiquiatra.

Durante o sono, o cérebro faz uma verdadeira faxina

O esquecimento saudável acontece principalmente durante o sono profundo. É nesse momento que o sistema glinfático entra em ação — uma rede descoberta há pouco mais de 10 anos que funciona como o sistema linfático do cérebro.

Enquanto dormimos, o sistema glinfático remove toxinas e resíduos metabólicos, além de “descartar” informações desnecessárias acumuladas durante o dia. Por isso, dormir bem não apenas melhora a memória, como também previne esquecimentos e protege o cérebro a longo prazo.

Repetição e emoção: os segredos da lembrança duradoura

O cérebro interpreta a repetição como um sinal de importância. É por isso que você lembra da letra de uma música antiga ou da senha do Wi-Fi que digita todos os dias. Segundo Dieckmann, informações repetidas ganham prioridade, pois o cérebro entende que aquilo merece ser reforçado.

A emoção também é um fator determinante. Situações que envolvem alegria, medo ou surpresa fixam a lembrança com mais força no hipocampo. Isso explica por que recordamos eventos marcantes, mas esquecemos rotinas comuns.

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Esquecer também é importante para a saúde mental

Esquecer é tão importante quanto lembrar. O esquecimento ativo permite ao cérebro se adaptar a novas informações, evita o acúmulo de dados irrelevantes e reduz o estresse cognitivo.

Ou seja: quando você esquece onde deixou as chaves, o cérebro não está “falhando”, mas priorizando o que considera mais útil para a sobrevivência, o aprendizado e o equilíbrio emocional.

A memória é dinâmica: o hipocampo seleciona, o sistema glinfático limpa, o sono consolida e a emoção dá peso às recordações. Em resumo, esquecer é sinal de que o cérebro está funcionando bem — e que você está dormindo bem também.

Veja mais aqui:

 

Perguntas frequentes sobre memória

1. O que é o sistema glinfático?

É o sistema de drenagem do cérebro responsável por remover toxinas e resíduos durante o sono, ajudando na limpeza e manutenção da função cerebral.

2. O hipocampo é o centro da memória?

Ele é uma das principais estruturas envolvidas na formação e consolidação das memórias, mas o armazenamento de longo prazo ocorre no córtex cerebral.

3. Dormir pouco atrapalha a memória?

Sim. A privação de sono reduz a atividade do sistema glinfático e prejudica a consolidação da memória, aumentando o risco de esquecimentos.

4. Repetir algo muitas vezes ajuda a decorar?

Sim. A repetição indica ao cérebro que a informação é importante, fortalecendo as conexões neurais responsáveis pela memória de longo prazo.

5. É normal esquecer coisas simples no dia a dia?

Sim, especialmente quando estamos cansados, estressados ou distraídos. Esquecer pequenas coisas faz parte do funcionamento normal da memória.

6. Quando o esquecimento deixa de ser normal?

Quando se torna frequente, interfere na rotina e vem acompanhado de confusão mental. Nesses casos, é importante buscar avaliação médica.

Leia mais: Vitamina mágica para memória? O que dizem os especialistas

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Escrito por Dr. Luiz Dieckmann

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