PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Como aferir a pressão arterial em casa? Cardiologista explica
Os aparelhos digitais automáticos de braço são os mais indicados para medir a pressão em casa, e oferecem medições seguras

Dr. Giovanni Henrique Pinto
5min • 30 de out. de 2025

Os aparelhos digitais automáticos de braço são os mais confiáveis para medir a pressão arterial em casa | Foto: Freepik
A hipertensão arterial, ou pressão alta, é uma das doenças crônicas mais comuns no Brasil. De acordo com a pesquisa Vigitel 2023, ela afeta cerca de 27,9% da população adulta brasileira — e muitas pessoas sequer percebem que têm o problema. Isso acontece porque, em muitos casos, a pressão alta não causa sintomas perceptíveis, evoluindo de forma silenciosa por anos até provocar complicações mais sérias.
Nesse contexto, aliado ao acompanhamento médico regular, aferir a pressão arterial em casa é uma das formas mais eficazes de monitorar a saúde, além de ajudar a compreender como o corpo reage em diferentes situações do dia a dia, como momentos de estresse, descanso, sono ou após o consumo de café e sal.
Conversamos com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto para esclarecer as principais dúvidas sobre o tema, desde a escolha do aparelho até a forma correta de aferir a pressão em casa.
Por que devemos medir a pressão arterial em casa?
A pressão arterial é a força que o sangue exerce contra as paredes das artérias enquanto o coração bombeia para todo o corpo.
Quando a pressão está muito alta, o coração precisa fazer mais força para bombear o sangue, o que, com o tempo, pode danificar os vasos sanguíneos e sobrecarregar o coração, os rins e o cérebro. Se a elevação é constante, caracteriza-se a hipertensão arterial, uma condição que aumenta o risco de infarto, AVC e insuficiência cardíaca — mesmo sem sintomas aparentes.
Portanto, medir a pressão arterial em casa ajuda a identificar alterações antes que causem problemas graves para a saúde e, segundo Giovanni, “permite acompanhar a pressão em diferentes momentos do dia, o que dá uma visão mais real da saúde cardiovascular e ajuda no ajuste do tratamento.”
Ela também ajuda a evitar o “efeito do jaleco branco”, de acordo com o cardiologista, um fenômeno em que a pressão arterial da pessoa sobe momentaneamente quando ela é medida no consultório médico ou em um ambiente hospitalar.
Normalmente, isso acontece porque algumas pessoas ficam ansiosas ou tensas na presença do profissional de saúde, do ambiente clínico ou do próprio ato de medir a pressão. A reação faz o corpo liberar adrenalina e outros hormônios do estresse, que aumentam temporariamente a frequência cardíaca e a pressão.
Qual o melhor aparelho para medir a pressão em casa?
Os aparelhos digitais automáticos de braço são os mais confiáveis para medir a pressão arterial em casa, orienta Giovanni. Eles oferecem resultados precisos, são fáceis de usar e não exigem nenhum treinamento técnico.
Existem também os modelos de pulso, que são mais portáteis e leves. No entanto, eles podem sofrer interferências, principalmente se o braço não estiver apoiado corretamente na altura do coração, e por isso devem ser utilizados apenas quando não for possível medir no braço — como em pessoas com circunferência de braço muito grande ou limitações de movimento.
Independentemente do tipo escolhido, é fundamental que o equipamento tenha certificação e seja validado por sociedades médicas, como a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) ou entidades internacionais equivalentes. Isso garante que o aparelho passou por testes de precisão e qualidade.
Também vale lembrar que o manguito (braçadeira) deve ser adequado ao tamanho do braço, cobrindo cerca de 80% da circunferência, pois tamanhos inadequados alteram o resultado da medição.
Como medir a pressão arterial em casa?
É bastante simples medir a pressão em casa, mas você deve ter alguns cuidados para que a leitura seja correta.
O cardiologista Giovanni Henrique Pinto orienta que, antes da medição, é importante descansar por pelo menos 5 minutos em ambiente tranquilo. Evite fazer o teste logo após esforço físico, café, cigarro, bebidas alcoólicas ou refeições — pois isso pode alterar os valores temporariamente.
Depois, siga o seguinte passo a passo:
- Sente-se corretamente: fique sentado, com as costas apoiadas, pés no chão (sem cruzar as pernas) e o braço apoiado na altura do coração. O manguito deve estar ajustado cerca de 2 a 3 cm acima do cotovelo, com o tubo voltado para baixo;
- Fique em silêncio e imóvel: durante a medição, não fale, não se mova e não mexa o braço, pois pequenas distrações podem alterar a pressão momentaneamente e comprometer a leitura;
- Repita a aferição: faça duas ou três medições, com intervalo de 1 minuto entre elas. Depois, calcule a média das leituras — ela representa o valor mais fiel da sua pressão;
- Anote os resultados: registre as medições em um caderno, planilha ou aplicativo e leve o histórico às consultas médicas. Assim, o profissional poderá avaliar as variações e ajustar o tratamento, se necessário.
Existe um horário do dia melhor para medir a pressão?
O ideal é medir a pressão arterial sempre nos mesmos horários, para garantir comparações confiáveis entre as medições. Os momentos mais indicados são pela manhã, antes do café da manhã e antes de tomar qualquer medicamento, e à noite, antes de dormir e após alguns minutos de descanso.
Medir nesses períodos ajuda a observar como a pressão se comporta ao longo do dia e a identificar variações que possam indicar hipertensão ou hipotensão.
Valores de referência
Veja abaixo os valores médios recomendados conforme as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2023):
| Classificação | Pressão arterial sistólica (mmHg) | Pressão arterial diastólica (mmHg) |
|---|---|---|
| Normal | Menor que 120 | Menor que 80 |
| Pré-hipertensão | 120 – 139 | 80 – 89 |
| Hipertensão arterial estágio 1 | 140 – 159 | 90 – 99 |
| Hipertensão arterial estágio 2 | 160 – 179 | 100 – 109 |
| Hipertensão arterial estágio 3 | 180 ou mais | 110 ou mais |
De acordo com a nova diretriz brasileira de hipertensão arterial, os valores de 12 por 8 (120/80 mmHg) até 13,9 por 8,9 (139/89 mmHg) passam a ser classificados como pré-hipertensão, uma condição que exige atenção e acompanhamento médico, embora o tratamento medicamentoso normalmente não seja o primeiro passo.
A meta de tratamento para pessoas hipertensas também foi endurecida, passando a ser abaixo de 13 por 8 (<130/80 mmHg).
É importante lembrar que uma medida isolada alta não confirma o diagnóstico de hipertensão. O ideal é observar os valores ao longo de dias diferentes, em condições semelhantes, e discutir os resultados com o médico.
Quando procurar um médico?
A aferição em casa não substitui o acompanhamento médico, mas ajuda a identificar quando algo está fora do esperado. Giovanni orienta procurar atendimento de urgência se a pressão estiver persistentemente acima de 180/110 mmHg ou se vier acompanhada de sintomas como:
- Dor no peito;
- Falta de ar;
- Visão turva;
- Fraqueza em um lado do corpo;
- Dor de cabeça súbita e intensa.
Esses sinais podem indicar crise hipertensiva, uma emergência que exige avaliação médica rápida.
É possível usar smartwatch ou aplicativo para medir a pressão?
Os relógios inteligentes e aplicativos de celular podem ser bastante úteis no acompanhamento do estilo de vida, mas Giovanni aponta que eles não substituem os aparelhos validados de braço.
Esses dispositivos estimam a pressão por sensores ópticos e algoritmos, o que pode gerar variações consideráveis. Até o momento, nenhum smartwatch é considerado confiável para diagnóstico ou controle médico da hipertensão.
“Para diagnóstico e acompanhamento confiável, apenas aparelhos aprovados por órgãos de saúde devem ser usados”, orienta o cardiologista.
Cuidados contínuos para controlar a pressão arterial
No dia a dia, tanto para pessoas com diagnóstico de hipertensão quanto para aquelas que não têm a condição, alguns hábitos simples ajudam a fortalecer o sistema cardiovascular e manter o equilíbrio entre corpo e mente — contribuindo para o controle da pressão arterial. Entre os principais, podemos destacar:
- Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes e grãos integrais — alimentos in natura fornecem potássio, magnésio e fibras, nutrientes que ajudam a regular a pressão;
- Reduzir o consumo de sal, embutidos, molhos prontos e ultraprocessados — o excesso de sódio retém líquidos e aumenta o volume de sangue circulante, elevando a pressão;
- Praticar atividade física regularmente, como caminhada, ciclismo, natação ou musculação leve — o exercício melhora a circulação e fortalece o coração;
- Evitar o tabaco e o consumo excessivo de álcool, que prejudicam os vasos sanguíneos e elevam a pressão arterial com o tempo;
- Dormir bem e controlar o estresse, pois noites mal dormidas e tensão emocional constante aumentam a liberação de hormônios como adrenalina e cortisol, que podem elevar a pressão.
Confira: 12×8 já não é normal: nova diretriz muda o que entendemos por pressão alta
Perguntas frequentes
1. O que é hipertensão arterial?
A hipertensão arterial, também conhecida como pressão alta, é uma condição em que o sangue exerce uma força maior do que o normal contra as paredes das artérias. A pressão elevada faz o coração trabalhar mais intensamente para bombear o sangue e, com o tempo, pode causar danos aos vasos sanguíneos, coração, cérebro, rins e olhos.
O problema é que a hipertensão costuma evoluir de forma silenciosa, sem sintomas, o que faz com que muitas pessoas só descubram o diagnóstico após anos de alterações. Por isso, o controle e a medição regular são fundamentais para a prevenção de complicações.
2. Quais são os sintomas da pressão alta?
A pressão alta normalmente não causa sintomas aparentes, mas algumas pessoas podem apresentar sinais quando a pressão sobe demais, como:
- Dores no peito;
- Dor de cabeça;
- Tonturas;
- Zumbido no ouvido;
- Fraqueza;
- Visão embaçada;
- Sangramento nasal.
O ideal é não esperar sentir nada para medir a pressão, já que o corpo pode se adaptar aos valores altos e mascarar os sintomas.
3. O que é a pré-hipertensão?
A pré-hipertensão é uma fase intermediária entre a pressão normal e a pressão alta. De acordo com a nova diretriz brasileira, valores entre 120–139 mmHg (sistólica) e/ou 80–89 mmHg (diastólica) indicam atenção e risco aumentado de evolução para hipertensão.
Nessa fase, normalmente não há necessidade de medicamentos, mas o médico orienta mudanças de hábitos, como reduzir o sal, praticar exercícios e controlar o estresse, para evitar que o quadro evolua. É o momento ideal para agir e prevenir complicações futuras.
4. A alimentação pode influenciar a pressão arterial?
Sim, e muito! O consumo excessivo de sal é um dos principais fatores que favorecem a pressão alta, pois o sódio retém líquidos e aumenta o volume de sangue circulante. O ideal é reduzir o sal do preparo dos alimentos e evitar produtos ultraprocessados — que costumam ter alto teor de sódio escondido.
Por outro lado, frutas, verduras, legumes e grãos integrais ajudam a controlar a pressão por serem ricos em potássio, magnésio e fibras. Beber bastante água, evitar álcool em excesso e manter o peso corporal adequado também são atitudes que fazem a diferença.
5. Quais são os riscos de não tratar a hipertensão?
Com o tempo, a pressão elevada danifica as artérias e reduz o fluxo de sangue para órgãos vitais, o que aumenta o risco de infarto, AVC, insuficiência cardíaca, doença renal crônica e perda de visão. Além disso, a hipertensão acelera o envelhecimento dos vasos e prejudica a memória e a concentração. Mesmo sem sintomas, o corpo está sendo afetado lentamente.
6. O que fazer em caso de crise hipertensiva?
Uma crise hipertensiva ocorre quando a pressão atinge valores muito altos, geralmente acima de 180/110 mmHg, e pode vir acompanhada de dor no peito, falta de ar, visão turva, dor de cabeça intensa ou fraqueza em um lado do corpo.
Nesses casos, é fundamental procurar atendimento médico imediato. Tentar resolver o problema em casa, tomando remédios por conta própria, pode agravar a situação. Após o controle da crise, o médico investigará as causas e ajustará o tratamento.
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