PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Dormir mal prejudica a saúde do coração? Conheça os riscos
Boas noites de sono fazem bem para a saúde cardiovascular; entenda o motivo

Dra. Juliana Soares
5min • 10 de nov. de 2025

A maior parte da regulação metabólica do organismo acontece durante o sono, por isso a importância de dormir bem | Foto: Freepik
Você já deve saber que a qualidade do sono é um dos principais pilares para manter o corpo funcionando — e que uma noite mal dormida não provoca só olheiras e mau humor.
Na verdade, quando o sono é interrompido ou insuficiente com frequência, o corpo entra num modo de alerta constante, liberando hormônios como o cortisol e a adrenalina, que podem prejudicar o sistema cardiovascular e aumentar o risco de problemas cardíacos, como pressão alta e até infarto.
Mas afinal, quantas horas devemos dormir por dia? Conversamos com uma especialista para esclarecer as principais dúvidas.
Por que o sono é tão importante para a saúde do coração?
A maior parte da regulação metabólica do organismo acontece durante o sono. Nesse período, o corpo entra em um estado de recuperação que permite que o coração e os vasos sanguíneos descansem e se regenerem. A atividade do sistema nervoso simpático diminui e o parassimpático assume, sendo ele responsável por manter o corpo em estado de repouso e recuperação.
Como resultado, há uma redução natural da pressão arterial, os batimentos cardíacos ficam mais lentos e o sistema cardiovascular trabalha com menor esforço — o que é importante para evitar sobrecarga ao longo do tempo.
Quando o sono não é de qualidade, o corpo não completa os ciclos de recuperação e ocorre uma desregulação entre os sistemas simpático e parassimpático. Assim, acontece a liberação constante de hormônios relacionados ao estresse, como adrenalina e cortisol, que mantêm a pressão arterial elevada e aumentam a carga de trabalho do coração. Com o tempo, isso favorece o desenvolvimento de hipertensão, arritmias e outras complicações cardiovasculares.
Vale lembrar que o sono irregular não se limita apenas à redução de horas dormidas. De acordo com a cardiologista Juliana Soares, ele envolve um padrão inconsistente, que engloba tanto alterações na duração quanto nos horários de dormir e acordar — além das interrupções noturnas.
Riscos do sono irregular para a saúde do coração
Mesmo quando a quantidade total de sono parece suficiente, dormir em horários irregulares ou ter um sono fragmentado prejudica o sistema cardiovascular. O corpo depende de um ritmo constante de descanso para manter o equilíbrio hormonal e metabólico, e quando esse padrão é rompido, aumenta o risco de problemas como:
- Aterosclerose: a irregularidade do sono está ligada ao acúmulo de placas de gordura nas artérias, processo conhecido como aterosclerose, de acordo com Juliana. As placas dificultam a passagem do sangue e aumentam o risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC);
- Alteração dos hormônios do estresse: a privação crônica de sono, seja pela má qualidade ou pela quantidade insuficiente, eleva os níveis de cortisol e adrenalina, hormônios que aumentam a pressão arterial e forçam o coração a trabalhar com mais intensidade. O esforço constante provoca desgaste dos vasos sanguíneos e favorece a hipertensão;
- Inflamação e estresse contínuos: um sono ruim, curto, interrompido ou com horários desordenados impede que o corpo entre em seu estado de recuperação natural. Com isso, a pressão arterial não diminui durante a noite e há aumento de substâncias inflamatórias, como as citocinas, que danificam as artérias;
- Impacto metabólico e hormonal: a falta de sono interfere na regulação da insulina e dos hormônios ligados à saciedade, o que pode levar ao ganho de peso, à obesidade e ao desenvolvimento de diabetes tipo 2. Os fatores, em conjunto, ampliam significativamente o risco de doenças cardiovasculares.
Os riscos são ainda maiores para pessoas que trabalham em turnos, de acordo com Juliana. Isso porque o corpo humano é regulado por um relógio biológico natural, conhecido como ciclo circadiano, que controla funções como o sono e a liberação hormonal. A melatonina, hormônio do sono, é produzida à noite, enquanto o cortisol, hormônio do estresse, tem pico pela manhã.
Quando uma pessoa dorme em horários contrários ao ciclo biológico, ocorre um desequilíbrio nesses hormônios, comprometendo a pressão arterial, a glicemia e o metabolismo. A cardiologista complementa que o desequilíbrio favorece o surgimento de diabetes, obesidade, arritmias, hipertensão e aumenta o risco de infarto e AVC.
Quantas horas dormir por dia?
Cada pessoa possui um relógio biológico próprio e necessita de uma quantidade de sono específica. A liberação hormonal ocorre de acordo com o ritmo circadiano individual, que determina os períodos naturais de vigília e descanso do organismo.
Mas, de forma geral, a National Sleep Foundation (Fundação Nacional do Sono), dos Estados Unidos, elaborou uma tabela com os períodos médios de sono recomendados para cada faixa etária:
- Recém-nascidos: de 0 a 3 meses, 14 a 17 horas por dia (inclui cochilos). De 4 a 11 meses, 12 a 15 horas por dia;
- Crianças pequenas: entre 1 e 2 anos, 11 a 14 horas por dia (sono noturno + cochilos);
- Crianças: pré-escolar (3 a 5 anos): 10 a 13 horas/dia; escolar (6 a 13 anos): 9 a 11 horas/noite;
- Adolescentes: 14 a 17 anos: 8 a 10 horas/noite;
- Adultos: 18 a 64 anos: 7 a 9 horas/noite; a partir de 65 anos: 7 a 8 horas/noite.
Além da duração, Juliana ressalta que a regularidade dos horários de dormir e acordar também é importante, pois ajuda a manter o equilíbrio hormonal e o bom funcionamento do sistema cardíaco.
O sono, mesmo que não seja muito longo, precisa ser restaurador, isto é, deve permitir que o corpo complete seus ciclos naturais de descanso. Uma pessoa com sono de qualidade acorda sentindo-se disposta, com a mente alerta e o corpo relaxado, e não deve sentir sonolência excessiva durante o dia.
Como saber se dormir mal está prejudicando a saúde?
Diversos sinais podem indicar que o sono insuficiente ou irregular está impactando o organismo, e Juliana aponta os principais:
- Acordar com sensação de cansaço;
- Sonolência excessiva durante o dia;
- Dificuldade de concentração;
- Lapsos de memória;
- Irritabilidade;
- Ronco alto ou pausas na respiração durante o sono;
- Dores de cabeça ao despertar;
- Aumento da pressão arterial.
Se os sintomas persistirem, é recomendado procurar um médico, pois além de prejudicar a qualidade de vida, o sono de má qualidade pode comprometer seriamente a saúde do coração.
Confira: Higiene do sono: guia prático para dormir melhor e cuidar da saúde
Perguntas frequentes
1. Roncar é sempre sinal de problema cardíaco?
Nem sempre, mas o ronco pode indicar apneia do sono, especialmente quando é alto e acompanhado de pausas na respiração. A apneia interfere na oxigenação e mantém o corpo em alerta durante a noite, o que impede o descanso adequado do coração e dos vasos sanguíneos.
Quando o oxigênio no sangue cai repetidamente, o sistema nervoso reage liberando adrenalina e aumentando a pressão arterial. O processo se repete várias vezes ao longo da noite, sobrecarregando o coração e elevando o risco de hipertensão, arritmias, infarto e AVC.
Por isso, o ronco persistente, principalmente se vier acompanhado de sonolência diurna, cansaço excessivo, dores de cabeça ao acordar ou pausas observadas na respiração, deve ser avaliado por um médico.
2. O que é considerado um sono de qualidade?
Um sono de qualidade deve ser contínuo (sem interrupções), profundo e restaurador. A pessoa acorda com sensação de descanso, sem sonolência excessiva durante o dia.
No sono adequado, o corpo completa todas as fases, incluindo o sono profundo e o REM, que são fundamentais para o equilíbrio hormonal, a recuperação muscular e o funcionamento cardiovascular.
3. O que é o ciclo circadiano?
O ciclo circadiano é o relógio interno que regula o sono, a temperatura corporal, a liberação de hormônios e o metabolismo — e ele se ajusta à luz e à escuridão do ambiente. Quando existe um desajuste, como em quem trabalha à noite ou dorme em horários variados, o corpo perde o ritmo natural e os hormônios do sono e do estresse se desregulam, prejudicando o coração.
4. Como o sono ruim afeta o metabolismo?
A falta de sono reduz a sensibilidade à insulina e eleva a glicose no sangue, o que facilita o ganho de peso e aumenta o risco de diabetes. O metabolismo de gorduras também sofre alterações significativas, com aumento do colesterol ruim (LDL) e redução do colesterol bom (HDL). Esse desequilíbrio favorece o acúmulo de gordura nas artérias e eleva o risco de aterosclerose.
Com o tempo, o corpo passa a responder de forma menos eficiente aos processos metabólicos, o que impacta diretamente a saúde do coração e o controle da pressão arterial.
5. Praticar exercícios físicos ajuda a dormir melhor?
Com certeza! A prática regular de atividade física ajuda a regular o sono, melhora a circulação, reduz o estresse e controla o peso corporal. Exercícios aeróbicos, como caminhada, natação e ciclismo, por exemplo, estimulam a liberação de endorfina e serotonina, que ajudam o corpo a relaxar.
Porém, é importante evitar treinos intensos nas horas próximas de dormir, pois eles podem manter o corpo em estado de alerta e dificultar o sono.
6. Como tratar a insônia?
O tratamento da insônia depende da causa, mas normalmente envolve mudanças de comportamento e hábitos de sono. O primeiro passo é a higiene do sono, que consiste em manter horários regulares para dormir e acordar, evitar cafeína e bebidas alcoólicas à noite, desligar telas antes de deitar e criar um ambiente escuro e silencioso no quarto.
Quando as medidas não são suficientes, o médico pode indicar terapia cognitivo-comportamental, que ajuda a controlar pensamentos e comportamentos que atrapalham a pessoa de dormir bem.
Em casos específicos, podem ser usados medicamentos para indução do sono por um período curto, sempre com prescrição médica.
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