DOENÇAS & CONDIÇÕES
Demência por corpos de Lewy (DCL): o que é, como reconhecer e tratar
Saiba mais sobre a doença que pode ser confundida com Alzheimer ou com Parkinson

Dra. Juliana Soares
5min • 6 de out. de 2025

Nos últimos anos, a demência por corpos de Lewy (DCL) ganhou mais atenção entre médicos e pesquisadores. Apesar de ser a segunda causa mais comum de demência degenerativa depois do Alzheimer, ainda é pouco conhecida pelo público e muitas vezes confundida com outras doenças. Esse desconhecimento pode atrasar o diagnóstico e dificultar o início do tratamento adequado.
A condição chama a atenção por sua combinação de sintomas, que incluem flutuações cognitivas marcantes, alucinações visuais vívidas, alterações no sono REM e sinais motores semelhantes ao Parkinson.
A identificação desse padrão clínico faz toda a diferença para oferecer suporte ao paciente, proteger contra medicamentos que podem agravar os sintomas e garantir uma melhor qualidade de vida.
O que é demência por corpos de Lewy (DCL)?
A demência por corpos de Lewy é um tipo de demência progressiva marcada pelo acúmulo anormal da proteína alfa-sinucleína (os “corpos de Lewy”) no cérebro.
Esse depósito afeta áreas envolvidas em atenção, percepção, controle motor e regulação do sono — daí a combinação de sintomas cognitivos, parkinsonismo, alucinações e flutuações do estado mental.
Essas flutuações se manifestam como mudanças inesperadas no nível de atenção e lucidez ao longo do dia. Em alguns momentos, a pessoa pode estar bem lúcida e comunicativa; horas depois, parecer confusa ou desatenta, sem motivo aparente.
Essa oscilação é uma característica típica da DCL e ajuda a diferenciá-la de outras demências, como o Alzheimer, que apresenta progressão mais constante.
Sinais e sintomas característicos da demência por corpos de Lewy
Os critérios clínicos atuais destacam quatro características principais, cuja presença aumenta a probabilidade de DCL:
- Flutuações cognitivas: variações marcantes de atenção e alerta, com dias “bons” e “ruins” no desempenho;
- Alucinações visuais recorrentes: geralmente bem formadas, como pessoas ou animais;
- Parkinsonismo: rigidez, lentidão dos movimentos, marcha alterada;
- Distúrbio comportamental do sono REM: o paciente vive os sonhos, falando, chutando ou se agitando durante o sono (confirmado por polissonografia).
Outras manifestações comuns incluem hipersensibilidade a antipsicóticos, instabilidade postural com quedas, disautonomia (queda de pressão, constipação), depressão, ansiedade e sintomas visuais.
Como se diferencia de Alzheimer e Parkinson?
- Na DCL, as alucinações visuais e o distúrbio do sono REM surgem precocemente; no Alzheimer, aparecem em fases mais avançadas.
- Em relação à demência associada ao Parkinson, vale a “regra de 1 ano”: se os sintomas cognitivos surgirem até um ano do início do parkinsonismo, a hipótese é DCL; se surgirem anos depois, é mais provável que seja demência por Parkinson.
Diagnóstico de demência por corpos de Lewy
O diagnóstico é um desafio, pois os sintomas se confundem com os do Alzheimer e do Parkinson. A confirmação depende da combinação de sinais clínicos e exames complementares.
A avaliação começa com consulta detalhada, testes cognitivos e exame neurológico para investigar memória, atenção, presença de alucinações e sintomas motores. A polissonografia também pode ser solicitada para confirmar o distúrbio do sono REM, característico da DCL.
Tratamento: o que funciona e o que evitar
O tratamento combina medidas médicas e não medicamentosas, personalizadas conforme o quadro de cada paciente.
Alguns medicamentos podem ajudar a melhorar atenção, comportamento e reduzir alucinações em parte dos casos. Outros aliviam a rigidez e a lentidão dos movimentos, embora com resposta variável.
Além dos remédios, mudanças no dia a dia fazem diferença: manter rotinas bem definidas, ambientes iluminados e seguros, praticar fisioterapia e terapia ocupacional e garantir uma boa higiene do sono.
O apoio e a orientação dos cuidadores são fundamentais, já que o manejo da doença exige adaptação constante.
Atenção: pacientes com DCL são extremamente sensíveis a antipsicóticos. Quando o uso é indispensável, deve ser feito com cautela, em doses mínimas e sob vigilância médica rigorosa.
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Evolução da doença: o que esperar ao longo do tempo
A DCL é progressiva. As flutuações e sintomas psicóticos podem variar com o tempo, mas os sintomas cognitivos e motores tendem a se agravar gradualmente.
O diagnóstico precoce permite planejar melhor o cuidado, ajustar medicações com segurança e oferecer suporte adequado ao cuidador e à família.
Quando procurar avaliação médica?
- Alucinações visuais recorrentes, especialmente em idosos;
- Quedas e sinais de parkinsonismo sem diagnóstico confirmado de Parkinson;
- Sonolência diurna com movimentos bruscos durante o sono;
- Desempenho cognitivo que oscila muito ao longo do dia.
Uma avaliação neurológica especializada é essencial para definir o diagnóstico e o tratamento adequados.
Perguntas frequentes sobre demência por corpos de Lewy
1. DCL é a mesma coisa que Alzheimer?
Não. A DCL tem perfil clínico distinto, com alucinações visuais precoces, flutuações cognitivas e distúrbios do sono. Já o Alzheimer costuma começar com perda de memória mais típica e progressão linear.
2. Quais exames confirmam a demência por corpos de Lewy?
Não há um exame único definitivo. O diagnóstico é clínico, apoiado por exames como testes cognitivos, polissonografia e avaliações neurológicas especializadas.
3. Existem remédios que melhoram os sintomas?
Sim. Alguns medicamentos podem melhorar atenção, cognição e sintomas motores, conforme a avaliação médica e a resposta individual de cada paciente.
4. Por que se fala em hipersensibilidade a antipsicóticos?
Pessoas com DCL podem reagir de forma grave a esses medicamentos, com rigidez acentuada, sonolência e piora da cognição. Se forem indispensáveis, devem ser usados por curto período, na menor dose possível e com acompanhamento rigoroso.
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