SAÚDE MENTAL & EMOCIONAL
Burnout pode causar infarto? Veja como o desgaste emocional afeta o coração
A longo prazo, o estresse crônico eleva a pressão, aumenta o risco de arritmias e acelera a formação de placas nas artérias.

Dra. Juliana Soares
5min • 8 de dez. de 2025

A síndrome de burnout, conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, é um quadro emocional marcado por exaustão intensa | Foto: Freepik
Dificuldades de concentração, dores de cabeça frequentes e cansaço excessivo são apenas alguns sinais que podem indicar um quadro de síndrome de burnout, comum em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes.
A condição, que surge quando o corpo permanece em estado de alerta por longos períodos, provoca um desgaste emocional e físico capaz de interferir em diversos aspectos da saúde — especialmente no sistema cardiovascular.
O organismo passa a liberar grandes quantidades de hormônios do estresse, como cortisol, adrenalina e noradrenalina, que, com o tempo, podem gerar uma sobrecarga contínua no coração e nos vasos sanguíneos.
Conversamos com a cardiologista Juliana Soares para entender como o estresse crônico afeta a saúde cardíaca, os principais sinais que indicam quando o organismo está sobrecarregado e como proteger o coração, mesmo com uma rotina corrida. Confira!
Afinal, o que é síndrome de burnout?
A síndrome de burnout, conhecida também como síndrome do esgotamento profissional, é um quadro emocional marcado por exaustão intensa, estresse persistente e desgaste físico significativo decorrente de rotinas profissionais extremamente exigentes, competitivas ou de grande responsabilidade.
O quadro aparece com maior frequência em pessoas que trabalham sob pressão contínua e que lidam diariamente com demandas elevadas, como profissionais da saúde, educação, segurança pública, comunicação e diversas outras áreas.
De acordo com o Ministério da Saúde, a condição também pode surgir quando o trabalhador é exposto a metas excessivamente complexas ou a demandas que despertam a sensação de incapacidade para cumpri-las. A pressão constante para alcançar resultados inalcançáveis favorece um desgaste emocional profundo, que pode evoluir para quadros de depressão.
Como o estresse crônico altera o funcionamento do coração?
Além de afetar a saúde mental, diminuir a imunidade e comprometer o equilíbrio hormonal, o estresse crônico também prejudica o funcionamento do sistema cardiovascular.
De acordo com a cardiologista Juliana Soares, durante uma situação de estresse constante, o corpo entra em um estado conhecido como luta e fuga. A resposta provoca alterações em uma série de hormônios associados ao estresse, em especial o cortisol, além de mudanças na liberação de catecolaminas, como adrenalina (epinefrina) e noradrenalina (norepinefrina).
Como preparação para a reação de luta ou fuga, ocorrem alterações metabólicas amplas, com picos glicêmicos, liberação acentuada de glicose, vasoconstrição das artérias e aceleração dos batimentos cardíacos. Isso pode levar a uma frequência cardíaca continuamente elevada, aumentando a probabilidade de arritmias e impondo maior esforço ao músculo do coração ao longo do tempo.
Além disso, alterações hormonais frequentemente se associam a comportamentos de enfrentamento pouco saudáveis, como compulsão alimentar, sedentarismo, aumento do consumo de álcool e tabagismo.
Para completar, a cardiologista aponta que o estresse prolongado desencadeia um estado inflamatório sistêmico crônico, considerado fator de risco para a formação de placas de gordura nas artérias (aterosclerose), aumentando a probabilidade de infarto e acidente vascular cerebral (AVC).
Riscos do estresse crônico para o coração
Sem tratamento adequado, o estresse prolongado no dia a dia pode desencadear:
- Aumento sustentado da pressão arterial;
- Frequência cardíaca constantemente elevada;
- Maior probabilidade de arritmias;
- Inflamação crônica que favorece aterosclerose;
- Formação acelerada de placas de gordura nas artérias;
- Redução da flexibilidade dos vasos sanguíneos;
- Maior risco de infarto do miocárdio;
- Aumento do risco de acidente vascular cerebral (AVC).
O burnout também pode interferir no sono, já que o corpo permanece em estado de alerta e tem dificuldade para relaxar. A dificuldade para dormir e o descanso de má qualidade mudam o equilíbrio dos hormônios, aumentam o cortisol e fazem a fome oscilar ao longo do dia, favorecendo o consumo de alimentos mais calóricos.
O aumento de peso também pode surgir por causa do cansaço extremo, que reduz a disposição para se mover e manter uma rotina ativa. O sono de má qualidade e o ganho de peso são fatores de risco para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares.
Sinais cardiovasculares associados ao burnout
É fundamental observar como o corpo reage ao estresse, porque alguns sinais podem indicar que o coração já está sendo afetado, especialmente em períodos de grande pressão no trabalho ou burnout. Entre os sintomas, Juliana aponta:
Sintomas emocionais
- Exaustão profunda;
- Irritabilidade;
- Ansiedade;
- Dificuldade de concentração.
Sintomas físicos
- Taquicardia;
- Palpitações;
- Sensação de coração acelerado ou irregular;
- Dor no peito;
- Tontura;
- Sudorese intensa mesmo em repouso.
Como identificar a síndrome de burnout?
A síndrome de burnout costuma se manifestar por meio de um conjunto de sintomas emocionais, mentais e físicos que vão se acumulando ao longo do tempo. A pessoa pode perceber um aumento do nervosismo, sensação de esgotamento, mal-estares frequentes e dificuldade para realizar tarefas simples do dia a dia.
Entre alguns dos sintomas para identificar a condição, o Ministério da Saúde aponta:
- Cansaço muito grande, físico e mental;
- Dificuldade para se concentrar;
- Sensação de que não consegue fazer nada direito;
- Dor de cabeça frequente;
- Mudanças no apetite;
- Sentimentos de insegurança e fracasso;
- Alterações de humor ao longo do dia;
- Problemas para dormir;
- Pensamentos negativos constantes;
- Vontade de se isolar;
- Sensação de derrota ou desânimo profundo.
O diagnóstico da síndrome de burnout é feito por um profissional especialista após análise clínica do paciente. O psiquiatra ou o psicólogo são os especialistas que conseguem identificar o quadro, entender como ele afeta a rotina e indicar o tratamento mais adequado para cada pessoa.
Como é feito o tratamento de burnout?
O tratamento da síndrome de burnout começa, na maior parte das vezes, com sessões de psicoterapia, e em alguns casos pode incluir o uso de medicamentos, como antidepressivos ou ansiolíticos, quando indicado pelo médico.
A melhora costuma aparecer entre um e três meses, embora algumas pessoas precisem de um período maior, dependendo da gravidade do quadro e do ritmo de recuperação.
Segundo Juliana, o principal foco do tratamento é diminuir o que causa estresse no dia a dia, com ajustes nos horários, na rotina de trabalho e nos limites pessoais. A redução da pressão diária ajuda o corpo a voltar ao equilíbrio, porque os níveis de cortisol e de outras substâncias ligadas ao estresse começam a se normalizar.
A recuperação também envolve mudanças simples no estilo de vida, como fazer atividade física com regularidade, dormir bem e manter uma alimentação mais organizada.
Como proteger o coração mesmo tendo uma rotina estressante?
A proteção do coração pede cuidados em diferentes frentes, segundo Juliana. A rotina precisa ser ajustada, com sono de boa qualidade, prática regular de atividade física, exercícios de relaxamento, respiração mais consciente e organização do tempo ao longo do dia.
A imposição de limites no dia a dia, tanto no trabalho quanto nos estudos, também é importante, porque aceitar tarefas em excesso aumenta a sobrecarga e piora o estresse.
A busca por apoio profissional faz parte do cuidado: profissionais de saúde podem auxiliar na recuperação do burnout, enquanto um cardiologista deve ser procurado quando surgem sintomas relacionados ao coração.
Juliana finaliza ressaltando que a vulnerabilidade feminina merece uma atenção especial, pois mulheres apresentam maior chance de desenvolver problemas cardiovasculares quando vivem longos períodos de estresse intenso, o que torna o cuidado ainda mais necessário para esse grupo.
Leia também: 7 dicas de um médico para ser mais produtivo e ter menos estresse
Perguntas frequentes
O burnout pode desencadear infarto?
A inflamação crônica, a pressão arterial elevada e a formação acelerada de placas nas artérias criam um cenário altamente favorável ao infarto, porque o coração passa longos períodos funcionando acima do limite.
Com o tempo, a sobrecarga constante reduz a capacidade do músculo cardíaco de se recuperar, agrava o desgaste natural dos vasos e facilita a ruptura de placas, que podem bloquear totalmente a passagem do sangue, causando o infarto.
O burnout aumenta o risco de AVC?
A pressão arterial constantemente elevada e o acúmulo de placas que estreitam os vasos sanguíneos elevam de maneira significativa a probabilidade de obstruções capazes de interromper o fluxo de sangue para o cérebro. A resposta inflamatória do organismo, mantida por longos períodos, também facilita a formação de coágulos que podem migrar e causar um bloqueio súbito.
A combinação de inflamação, alteração hormonal e sobrecarga cardíaca transforma o burnout em um fator importante para o aumento do risco de AVC.
Quando procurar ajuda médica?
A presença de dor no peito, falta de ar súbita, palpitações intensas, tontura forte ou desmaio exige atendimento imediato. A busca por acompanhamento psicológico ou psiquiátrico também deve acontecer assim que surgirem sinais de exaustão persistente, dificuldade para dormir ou perda significativa de motivação, pois tratar o burnout cedo protege o coração e o bem-estar geral.
Como o cortisol afeta o coração?
O cortisol funciona como um sinal de alerta para o corpo, mas quando permanece elevado por muito tempo passa a causar danos. O hormônio estimula a liberação de glicose no sangue, aumenta a pressão arterial e interfere no metabolismo, criando um ambiente de inflamação contínua.
Tudo isso exige esforço constante do coração e favorece o surgimento de hipertensão, arritmias e até eventos mais graves, como infarto.
Burnout pode afetar a memória?
Sim, pois o excesso de cortisol prejudica áreas do cérebro responsáveis por atenção, memória e tomada de decisões. A pessoa pode esquecer tarefas simples, perder o fio da conversa com facilidade e ter dificuldade para organizar pensamentos.
A perda de clareza mental é resultado direto do desgaste prolongado, que afeta tanto o raciocínio quanto a capacidade de foco e aprendizado.
Pessoas jovens também podem ter burnout?
Sim, porque a síndrome não está ligada apenas à idade, mas à intensidade do estresse e da pressão vivida no dia a dia. Pessoas mais jovens, especialmente estudantes universitários, trabalhadores em início de carreira e profissionais que acumulam várias funções, podem desenvolver burnout devido à cobrança interna, jornadas longas e dificuldade para estabelecer limites.
Como prevenir a síndrome de burnout?
Uma forma prática e eficaz de evitar a síndrome de burnout é adotar hábitos que reduzam o estresse diário e tornem a rotina mais leve. Quando o corpo e a mente contam com períodos reais de descanso e atividades que trazem bem-estar, o risco de esgotamento diminui de forma importante.
Entre as estratégias mais recomendadas estão:
- Criar metas pequenas e possíveis, tanto na vida profissional quanto na pessoal;
- Reservar momentos para estar com amigos e familiares, fortalecendo vínculos positivos;
- Inserir atividades prazerosas na semana, como passeios, refeições fora de casa ou cinema;
- Diminuir a convivência com pessoas muito negativas ou que alimentam reclamações constantes;
- Dividir preocupações e sentimentos com alguém de confiança;
- Praticar exercícios com regularidade, seja caminhada, corrida, bicicleta, academia, natação ou qualquer atividade que mova o corpo;
- Evitar álcool, cigarro e outras substâncias que aumentam a confusão mental e pioram o cansaço;
- Nunca usar remédios sem orientação médica, para não mascarar sintomas e atrasar o cuidado correto.
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