DOENÇAS & CONDIÇÕES
Adenomiose: o que é, sintomas, causas e tratamento
Na adenomiose, o endométrio se projeta para dentro da parede uterina, modificando a estrutura do órgão

Dra. Andreia Sapienza
5min • 7 de out. de 2025

Cólicas que não melhoram com analgésicos comuns, menstruações longas e volumosas e sensação de inchaço abdominal são alguns dos principais sintomas de adenomiose — uma condição ginecológica que afeta diretamente a qualidade de vida. Ela pode atingir entre 10% e 20% das mulheres em idade reprodutiva, sendo mais frequente entre os 30 e 50 anos.
Conversamos com a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza para esclarecer as principais dúvidas sobre a doença, desde os sintomas até as formas de tratamento disponíveis.
O que é adenomiose?
A adenomiose é uma alteração benigna que ocorre quando a camada que reveste o interior do útero, o endométrio, cresce para dentro da parede muscular do útero, chamada miométrio.
O tecido infiltrado continua respondendo aos hormônios do ciclo menstrual, como se estivesse na cavidade uterina — ele se espessa, depois se rompe e sangra. No entanto, como está preso dentro da parede muscular, o sangue não tem por onde sair.
Como resultado, ocorre um processo inflamatório dentro do músculo uterino, que pode desencadear os principais sintomas da condição, como cólicas menstruais intensas, sangramento aumentado e aumento do tamanho do útero.
O que causa a adenomiose?
A causa da adenomiose ainda não é totalmente conhecida, mas uma hipótese é que o endométrio penetre diretamente no miométrio, especialmente após situações que fragilizam a parede uterina — como gravidez, parto ou procedimentos cirúrgicos.
Também se acredita que a adenomiose esteja associada a alterações hormonais (principalmente do estrogênio) e a fatores imunológicos. A condição é mais comum em mulheres entre 35 e 50 anos que já tiveram filhos, mas pode afetar mulheres de qualquer idade.
Tipos de adenomiose
- Difusa: forma mais comum. O tecido endometrial se espalha de maneira irregular pela parede do útero, sem formar nódulo bem delimitado. Provoca espessamento difuso do miométrio, deixando o útero aumentado e globoso.
- Focal: a infiltração ocorre em um ponto específico do útero, formando uma lesão delimitada chamada adenomioma. Pode causar sintomas semelhantes à forma difusa, porém às vezes menos intensos por ser localizada.
Qual a diferença entre adenomiose e endometriose?
Segundo Andreia Sapienza, a adenomiose difere da endometriose em pontos importantes:
- Endometriose: relacionada à menstruação retrógrada. Parte do sangue menstrual reflui para a pelve e o tecido endometrial implanta-se fora do útero, somado a falhas do sistema imunológico.
- Adenomiose: há perda da integridade das camadas do próprio útero; o endométrio infiltra-se no miométrio, gerando alterações estruturais.
Nos sintomas, a endometriose costuma estar mais associada à dor em diversos locais e momentos do ciclo; a adenomiose também causa dor, mas mais ligada ao período menstrual e frequentemente acompanhada de sangramento intenso e prolongado.
Fatores de risco da adenomiose
Qualquer mulher pode ter adenomiose, mas alguns fatores aumentam o risco (segundo a Febrasgo):
- Idade entre 40 e 50 anos;
- Primeira menstruação muito cedo (antes dos 10 anos);
- Ciclos menstruais curtos (menos de 24 dias);
- Uso prévio de anticoncepcionais hormonais ou tamoxifeno;
- Sobrepeso ou obesidade (IMC elevado);
- Ter tido mais de duas gestações;
- Histórico de abortos;
- Cirurgias anteriores no útero.
Quais são os sintomas de adenomiose?
- Sangramento menstrual intenso ou prolongado;
- Cólica menstrual forte (dismenorreia);
- Dor pélvica crônica;
- Dor durante a relação sexual (dispareunia);
- Sensibilidade abdominal ao toque.
Aproximadamente um terço das mulheres com adenomiose é assintomático; o diagnóstico pode ocorrer em exames de imagem ou após cirurgia.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico é clínico e por imagem. Na avaliação, o útero pode estar aumentado, arredondado e mais macio. Para confirmação, utilizam-se:
- Ultrassom transvaginal: exame de primeira escolha; identifica alterações na textura do miométrio e perda da definição da zona que separa endométrio do músculo uterino.
- Ressonância magnética: indicada quando há dúvida diagnóstica ou associação com miomas; avalia com precisão a zona juncional.
Em casos complexos, a confirmação definitiva pode ocorrer após cirurgia (análise histopatológica), mas, na prática, a imagem costuma ser suficiente para guiar o tratamento.
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Como é o tratamento de adenomiose?
Depende dos sintomas e do perfil da paciente. De acordo com Andreia, uma abordagem frequente é o DIU hormonal (levonorgestrel), que reduz sangramento e dor e costuma trazer boa resposta.
Se não houver melhora com tratamento clínico, persistirem dor e sangramento intenso ou houver desejo de solução definitiva, pode-se indicar histerectomia (retirada do útero). Essa decisão é preferida para mulheres que já tiveram filhos ou que têm certeza de que não desejam engravidar, pois é irreversível e geralmente não indicada para mulheres muito jovens.
Para alívio das cólicas, analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos para melhorar a qualidade de vida durante o tratamento.
Quem tem adenomiose pode engravidar?
É possível, mas pode ser mais desafiador. A infiltração do endométrio no miométrio pode tornar a parede uterina mais espessa e irregular, deixando o ambiente menos favorável à implantação do embrião. Para quem deseja engravidar, é essencial acompanhamento médico, hábitos saudáveis e, quando necessário, estratégias específicas de reprodução assistida.
Quando procurar ajuda médica?
A identificação pode ser difícil, pois os sintomas variam de intensidade. Procure avaliação se houver:
- Sangramentos menstruais muito intensos;
- Cólicas fortes que não melhoram com analgésicos comuns;
- Dor pélvica frequente.
Quanto antes investigar, maiores as chances de aliviar sintomas e iniciar o tratamento adequado.
Perguntas frequentes sobre adenomiose
1. A adenomiose pode virar câncer?
Não. A adenomiose é benigna e não tem relação direta com câncer. Porém, como os sintomas podem se confundir com os de outras doenças uterinas, o acompanhamento médico é fundamental.
2. Por que a adenomiose causa tanta dor?
O tecido infiltrado no músculo uterino responde aos hormônios do ciclo, cresce e sangra “preso” no miométrio, gerando inflamação local e contrações mais intensas — resultando em cólicas fortes.
3. A adenomiose pode causar infertilidade?
Pode, mas não é regra. O útero pode ficar aumentado e o endométrio menos receptivo, dificultando a fixação do embrião. Ainda assim, muitas mulheres com adenomiose engravidam naturalmente. Em geral, o impacto sobre a fertilidade é menor do que o da endometriose em outros órgãos.
4. O útero aumenta de tamanho por causa da adenomiose?
Sim. A infiltração endometrial no miométrio pode aumentar e endurecer o útero, causando sensação de peso pélvico e inchaço abdominal.
5. A adenomiose desaparece na menopausa?
Na maioria dos casos, sim. Como é doença hormônio-dependente, tende a regredir após a menopausa. Em mulheres próximas dessa fase, pode-se focar no controle dos sintomas até a regressão natural.
6. A pílula anticoncepcional oral ajuda na adenomiose?
Em alguns casos, sim. Pílulas combinadas ou apenas com progesterona podem reduzir dor e sangramento ao modular os hormônios que estimulam o endométrio. Entretanto, para muitas mulheres, o DIU hormonal é mais eficaz a longo prazo.
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