DOENÇAS & CONDIÇÕES
Corrimento com cheiro forte? Pode ser vaginose bacteriana
Entenda por que esse desequilíbrio é tão comum e como prevenir novas crises

Dra. Juliana Soares
5min • 25 de nov. de 2025

É importante dizer que a vaginose não é uma IST, embora a atividade sexual possa favorecer o desequilíbrio do pH vaginal | Foto: Freepik
O corrimento vaginal com odor forte é uma das queixas mais frequentes nos consultórios ginecológicos. Embora muitas mulheres associem imediatamente esse sintoma a infecção sexualmente transmissível, na maioria dos casos, trata-se de vaginose bacteriana, uma condição comum causada por um desequilíbrio da flora vaginal.
Mesmo sendo um problema simples de tratar, a vaginose pode causar desconforto, afetar a vida sexual e, quando não tratada, trazer complicações importantes, especialmente durante a gravidez. Por isso, entender o que é, como surge e como se prevenir é essencial para manter a saúde íntima em dia.
O que é a vaginose bacteriana?
A vaginose bacteriana ocorre quando há um desequilíbrio na flora vaginal.
Em condições normais, a vagina é protegida por Lactobacillus, bactérias que:
- Mantêm o pH vaginal ácido;
- Produzem substâncias que impedem o crescimento de micro-organismos nocivos.
Quando esses lactobacilos diminuem, bactérias como Gardnerella vaginalis e outras anaeróbias passam a se multiplicar. O resultado é um corrimento alterado com odor característico.
É importante dizer que a vaginose não é uma IST, embora a atividade sexual possa favorecer o desequilíbrio do pH vaginal.
Causas e fatores de risco
A vaginose acontece quando o pH vaginal aumenta e os lactobacilos diminuem.
Os principais fatores de risco são:
- Duchas vaginais;
- Fumo;
- Uso recente de antibióticos;
- Uso de produtos de higiene íntima sem orientação;
- Alterações hormonais;
- Contato com sêmen (que aumenta o pH).
Essas situações tornam a flora vaginal mais vulnerável ao crescimento das bactérias que causam a vaginose.
Sintomas
O sintoma mais característico é o corrimento com odor forte, descrito como “cheiro de peixe”.
Outros sinais são:
- Corrimento branco, acinzentado ou amarelado;
- Odor mais intenso após a relação sexual;
- Aumento da secreção vaginal.
A vaginose não costuma causar coceira, ardor ou dor, o que ajuda a diferenciá-la de candidíase e tricomoníase.
Cerca de 50% das mulheres são assintomáticas, o que reforça a importância da avaliação ginecológica.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico é clínico, baseado nos critérios de Amsel, que são:
- Corrimento branco-acinzentado e homogêneo;
- pH vaginal > 4,5;
- Odor de peixe ao misturar o corrimento com substâncias alcalinas (teste das aminas);
- Presença de “células-guia” ao microscópio.
Quando necessário, o ginecologista pode solicitar o teste de Nugent, exame laboratorial que analisa a flora vaginal pela coloração de Gram.
Possíveis complicações
Quando não tratada, a vaginose pode aumentar o risco de outras infecções, incluindo:
- HIV e HPV;
- Clamídia e gonorreia;
- Doença inflamatória pélvica;
- Infertilidade tubária.
Complicações na gravidez
Em gestantes, a vaginose pode estar associada a:
- Parto prematuro;
- Ruptura precoce da bolsa;
- Infecção uterina após o parto;
- Baixo peso ao nascer.
Tratamento
O objetivo é restaurar o equilíbrio da flora vaginal.
Medicamentos
Os antibióticos mais usados são:
- Metronidazol (oral ou gel vaginal);
- Clindamicina (oral ou creme vaginal).
Durante o tratamento:
- Evite álcool (especialmente com Metronidazol, pelo risco de reação adversa);
- Evite relações sexuais desprotegidas;
- Siga a orientação médica até o fim.
Efeitos colaterais comuns
- Náuseas;
- Gosto metálico;
- Dor de cabeça;
- Tontura.
O tratamento é seguro na gestação, desde que prescrito pelo ginecologista.
E quando a vaginose volta?
A recorrência é comum: até 80% das mulheres podem ter novos episódios em um ano.
Nesses casos, pode ser necessário:
- Tratamento prolongado com gel vaginal;
- Restauração gradual da flora vaginal;
- Acompanhamento mais regular com o ginecologista.
Veja também: Candidíase vaginal: o que é, causas, sintomas e como tratar
Como prevenir a vaginose bacteriana
Alguns hábitos reduzem o risco de novos episódios:
- Evite duchas vaginais;
- Não use produtos íntimos perfumados;
- Use camisinha;
- Evite fumar;
- Prefira roupas íntimas de algodão;
- Faça higiene íntima suave, sem exageros;
- Visite o ginecologista regularmente.
Perguntas frequentes sobre vaginose bacteriana
1. Vaginose é a mesma coisa que candidíase?
Não. A vaginose tem odor forte e pH elevado; a candidíase causa coceira, vermelhidão e corrimento esbranquiçado.
2. Vaginose pega do parceiro?
Não é considerada uma IST, mas a atividade sexual pode modificar o pH vaginal.
3. Homens precisam tratar?
Não. O parceiro não precisa de tratamento, pois não há transmissão direta.
4. Posso ter vaginose mesmo sem ter vida sexual ativa?
Sim. Duchas vaginais, antibióticos e alterações hormonais também podem causar desequilíbrio.
5. Probióticos ajudam?
Podem ser úteis em alguns casos, mas devem ser usados sob orientação do ginecologista.
6. A vaginose interfere na fertilidade?
Pode interferir, pois aumenta o risco de doença inflamatória pélvica.
7. Posso prevenir apenas com higiene?
Higiene excessiva pode piorar. O ideal é limpar sem agredir a flora natural.
Veja mais: Odor vaginal: quando é normal, sinais de alerta e cuidados

