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Uso nocivo de álcool: 10 sinais de alerta e como a família pode ajudar

O uso nocivo de álcool aparece quando o consumo começa a gerar prejuízos na saúde e na rotina, mesmo sem dependência.

Dra. Gabriela Barreto

Dra. Gabriela Barreto

5min • 4 de dez. de 2025

pessoa jovem bebe álcool em casa, imagem ilustrando consumo frequente e possíveis riscos do uso excessivo de bebidas alcoólicas.

O consumo de álcool deixa de ser social e passa a ser um padrão de risco quando a bebida começa a ocupar espaço maior do que deveria na rotina | Foto: Freepik

Quando o consumo de bebidas alcoólicas se torna frequente e excessivo no dia a dia, o organismo passa a conviver com alterações que, normalmente, passam despercebidas no início.

Em casos de uso nocivo de álcool, também chamado de binge drinking, o contato constante com a substância pode desencadear desgaste físico, piora do sono, irritação gástrica e queda de energia — além de mudanças no humor e concentração que afetam as tarefas simples, relações pessoais e até o rendimento no trabalho.

Com o tempo, quando o uso de álcool continua por muito tempo, o cérebro se adapta à presença constante da bebida e cria uma tolerância, fazendo a pessoa precisar de doses maiores para sentir o mesmo efeito. Isso pode evoluir para uma dependência alcóolica, uma doença crônica e multifatorial, e um dos transtornos mentais mais comuns relacionados ao consumo de bebidas alcoólicas.

Uso nocivo de álcool e dependência de álcool são a mesma coisa?

O uso nocivo de álcool e a dependência alcoólica não são a mesma coisa, mas fazem parte do mesmo conjunto de problemas relacionados ao consumo.

Quando uma pessoa apresenta uso nocivo, ela já bebe de um jeito que causa prejuízos na saúde, na rotina, no humor e nos relacionamentos, mas ainda mantém algum grau de controle sobre quando e quanto consome.

O binge drinking, também chamado de Beber Pesado Episódico (BPE), é definido pela Organização Mundial da Saúde como ingestão de 60 g ou mais de álcool puro, o equivalente a cerca de 4 doses, em pelo menos uma ocasião no último mês.

Já a dependência alcoólica é um quadro mais grave, em que o consumo passa a ser guiado por necessidade, não apenas por vontade. A pessoa sente forte desejo de beber, precisa de doses maiores para ter o mesmo efeito e pode apresentar tremores, suor frio, irritabilidade e ansiedade quando tenta parar. O álcool vira prioridade no dia a dia e interfere em diversas áreas da vida.

A OMS define dependência como um conjunto de mudanças comportamentais, cognitivas e físicas que surgem após uso repetido de álcool e tornam o consumo cada vez mais difícil de controlar. No Brasil, estima-se que 1,4% da população conviva com algum grau de dependência alcoólica, segundo dados de 2018.

Quando saber que o uso de álcool não é mais social?

O consumo de álcool deixa de ser social e passa a ser um padrão de risco quando a bebida começa a ocupar espaço maior do que deveria na rotina. De acordo com a médica de família e comunidade, Gabriela Barreto, isso pode ser observado nas seguintes situações:

  • Quando a pessoa usa a bebida como forma de escape ou para lidar com emoções;
  • Quando precisa beber para relaxar ou “desligar” após o dia;
  • Quando há dificuldade de parar ou controlar a quantidade ingerida;
  • Quando o álcool começa a interferir nas relações pessoais, no trabalho ou na saúde.

Também é possível notar mudanças no comportamento, como ressacas intensas, apagões, faltas no trabalho, conflitos familiares ou piora da saúde física e mental. A partir do momento em que a bebida deixa de ser eventual e passa a interferir no bem-estar, no desempenho diário e nas relações, o consumo já não é considerado social e merece atenção profissional.

“Não existe um nível totalmente seguro de álcool para o organismo, pois mesmo pequenas quantidades diárias podem ser prejudiciais se o consumo for constante”, explica a especialista.

Quais são os principais sinais de alerta do uso nocivo de álcool?

Os sinais do uso nocivo de álcool podem ser discretos no início, mas costumam se tornar evidentes com o passar do tempo. Gabriela aponta os principais sinais comportamentais:

  • Afastamento social ou troca de círculos de amizade;
  • Mudanças de humor (irritabilidade, impulsividade, ansiedade ou depressão);
  • Beber sozinho ou em horários inadequados;
  • Negligência com responsabilidades no trabalho, nos estudos ou em casa;
  • Mentiras ou tentativas de esconder o consumo.

Já os sinais físicos incluem:

  • Alterações no sono e no apetite;
  • Alterações de memória e lapsos após beber;
  • Cansaço frequente e queda no desempenho diário;
  • Tremores nas mãos, sudorese excessiva ou palpitações;
  • Em casos mais avançados, sinais de lesão hepática, como pele e olhos amarelados.

Quando o uso de álcool continua por muito tempo e vai ficando mais intenso, o cérebro começa a se adaptar à presença constante da bebida. Com isso, surge a tolerância, que é a necessidade de beber quantidades maiores para sentir o mesmo efeito de antes.

Depois, pode aparecer a dependência fisiológica, que faz o corpo reagir mal quando a pessoa tenta parar, causando sintomas de abstinência. A partir daí, beber deixa de ser uma escolha e vira uma compulsão, com perda de controle, marcando a passagem do uso nocivo para a dependência alcoólica.

Como o consumo frequente afeta a saúde do corpo?

Mesmo quando a pessoa ainda acredita ter controle, o consumo frequente do álcool afeta o corpo e a saúde mental de diversas formas. A curto prazo, Gabriela explica que a bebida afeta a coordenação, o raciocínio e o autocontrole — aumentando o risco de acidentes, episódios de violência e intoxicações.

No organismo, o álcool sobrecarrega o fígado, altera o funcionamento do estômago e do intestino, prejudica o sono, enfraquece o sistema imunológico e aumenta o risco de problemas como:

  • Doenças hepáticas (como hepatite alcoólica e cirrose);
  • Alterações neurológicas e cognitivas, com perda de memória e atenção;
  • Maior risco de depressão e ansiedade;
  • Hipertensão arterial e problemas cardíacos;
  • Maior propensão a cânceres, especialmente de fígado, boca, esôfago e mama.

Com o tempo, o corpo passa a tolerar doses maiores, o que facilita o aumento do consumo e amplia ainda mais os danos físicos.

Impacto do álcool na saúde mental

Além dos problemas que o álcool pode causar ao organismo, a saúde mental também é afetada gradualmente — e os efeitos podem aparecer mesmo quando o consumo parece controlado, o que torna o processo ainda mais difícil de reconhecer no dia a dia.

O uso frequente de bebidas alcoólicas altera os neurotransmissores ligados ao humor, reduzindo a estabilidade emocional e deixando o corpo mais sensível à sintomas como irritabilidade, ansiedade e mudanças bruscas de humor. A rotina passa a oscilar mais, e situações simples podem causar reações intensas, como choro fácil, perda de paciência e sensação constante de sobrecarga.

Ao mesmo tempo, o álcool também dificulta a capacidade de lidar com emoções de forma natural, de modo que a pessoa começa a usar a bebida como válvula de escape para relaxar, dormir ou aliviar a tensão depois de situações estressantes. Isso cria um ciclo de consumo ainda mais difícil de quebrar e, com o tempo, qualquer mudança ou emoção mais forte pode se tornar um gatilho para beber.

Também vale destacar que o álcool prejudica os processos cognitivos, tornando a memória mais falha, diminuindo a concentração e deixando a tomada de decisões mais impulsivas. Como consequência, isso pode comprometer o desempenho no trabalho, interferir em relações afetivas e mexer diretamente com a autoestima da pessoa.

Como a família pode ajudar uma pessoa com dependência alcoólica?

Quando uma pessoa querida está passando por uma situação difícil com o álcool, a postura da família precisa ser acolhedora, aberta ao diálogo e livre de julgamentos, para que ela não se sinta criticada ou envergonhada. A ideia é mostrar preocupação genuína, deixando claro que a intenção não é apontar erros, e sim entender o que está acontecendo e oferecer apoio.

Gabriela dá algumas sugestões para abordar alguém com empatia e cuidado:

  • Evitar discutir ou ameaçar, o objetivo é abrir espaço para o diálogo;
  • Escolher um momento calmo, quando a pessoa não estiver sob efeito do álcool;
  • Oferecer ajuda concreta, como marcar uma consulta ou acompanhar em um serviço de saúde;
  • Falar com empatia, usando frases como “estou preocupado com você” em vez de acusações;
  • E não tentar resolver sozinho, o suporte profissional é essencial.

A partir daí, a família pode sugerir ajuda profissional e se oferecer para acompanhar consultas, sempre reforçando que ninguém precisa enfrentar esse processo sozinho. “Na verdade, o apoio da família pode ser o fator decisivo para que a pessoa aceite buscar tratamento”, complementa a médica.

Quais tratamentos estão disponíveis para quem deseja parar o álcool?

No Brasil, existem diversas formas de tratamento para o uso nocivo e dependência de álcool e a maioria pode ser feita de forma ambulatorial, sem a necessidade de internação. São cuidados estruturados e contínuos, pensados para ajudar a pessoa a recuperar estabilidade, entender seus gatilhos e construir uma relação mais saudável com o próprio corpo e com as emoções.

Entre algumas das abordagens, é possível destacar:

  • Acompanhamento médico e psicológico, para avaliar a saúde, orientar cada etapa e oferecer apoio emocional;
  • Terapia individual ou em grupo, que ajuda a entender o que alimenta o consumo, a lidar com sentimentos difíceis e a criar novas estratégias para o dia a dia;
  • Medicamentos quando necessário, indicados por um médico, para diminuir sintomas de abstinência e reduzir a fissura por álcool;
  • Grupos de apoio, que oferecem acolhimento, troca de experiências e sensação de pertencimento, o que faz muita diferença no processo;
  • Participação da família, que fortalece o tratamento e ajuda a construir um ambiente mais seguro e compreensivo para a pessoa.

De acordo com Gabriela, a internação é indicada apenas em situações mais delicadas, como abstinência grave, risco de complicações clínicas ou falta de suporte social. Nesses casos, o ambiente hospitalar oferece proteção, cuidados intensivos e acompanhamento constante até que a pessoa esteja estável para continuar o tratamento fora do hospital.

Leia também: Trabalho noturno: conheça os riscos para a saúde do coração

Perguntas frequentes

Quando procurar ajuda profissional para parar de beber?

É importante buscar ajuda profissional quando a bebida começa a causar problemas na rotina e você não consegue parar ou diminuir por conta própria. Isso inclui se o álcool afeta o trabalho, os relacionamentos, a saúde física ou mental, ou se você sente uma necessidade forte (compulsão) de beber e apresenta sintomas de abstinência ao tentar parar.

Não espere a situação se agravar! Procurar ajuda cedo é um sinal de força e o primeiro passo para o tratamento.

O álcool pode piorar ansiedade e depressão?

Sim, o álcool pode piorar a ansiedade e a depressão a longo prazo, mesmo que inicialmente pareça aliviar os sintomas.

O álcool é um depressor do sistema nervoso central, então quando o efeito passa, ele pode levar a uma piora do humor e da ansiedade (o chamado “efeito rebote”), pois interfere no equilíbrio químico do cérebro. O uso regular e excessivo pode, inclusive, desencadear ou agravar quadros de ansiedade e depressão já existentes.

O que são apagões alcoólicos?

Os apagões alcoólicos, ou blackouts, são períodos de tempo em que uma pessoa estava acordada e ativa, mas não consegue se lembrar do que aconteceu, mesmo que outras pessoas digam que ela interagiu normalmente.

Eles são causados pelo rápido aumento da concentração de álcool no sangue, o que impede o cérebro de transferir memórias do curto prazo para o longo prazo (ou seja, de formar novas lembranças). Isso é um sinal de intoxicação grave e de que o álcool está afetando perigosamente o cérebro.

Bebidas “mais fracas”, como vinho ou cerveja, também podem causar problemas?

Sim, elas podem causar os mesmos problemas de saúde e dependência que bebidas com maior teor alcoólico (como destilados). O que importa é a quantidade total de álcool puro consumida ao longo do tempo.

Uma taça grande de vinho ou uma lata de cerveja podem conter a mesma quantidade de álcool que uma dose de destilado. O consumo excessivo e regular de qualquer tipo de bebida alcoólica sobrecarrega o corpo e o cérebro, levando a doenças e dependência.

Existe um limite seguro para beber?

Não existe um limite de consumo de álcool totalmente seguro, já que qualquer quantidade pode aumentar riscos à saúde, incluindo doenças crônicas e alguns tipos de câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) reforça que não há nível de consumo considerado livre de risco.

A recomendação mais saudável é manter ingestão mínima ou nenhuma ingestão de álcool, principalmente para pessoas com condições crônicas. Além disso, nunca é seguro dirigir após beber, mesmo em pequenas quantidades.

O que é considerado consumo excessivo de álcool?

O consumo excessivo de álcool é, em geral, definido como beber muitas doses em pouco tempo ou manter uma quantidade alta de bebida ao longo da semana. A OMS define o binge drinking como ingestão de 60 g ou mais de álcool puro, cerca de 4 doses, em pelo menos uma ocasião no último mês.

No Brasil, o Ministério da Saúde aponta limites diferentes para cada sexo: para mulheres, o consumo de 4 ou mais doses em uma ocasião já é considerado abusivo; para homens, o limite é a partir de 5 doses.

Leia mais: Metanol em bebidas: saiba o que fazer na suspeita de intoxicação

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Foto de Dra. Gabriela Barreto

Escrito por Dra. Gabriela Barreto

Sobre

A Dra. Gabriela Barretto é médica de família em seu consultório particular e na Clínica Novamed. Graduada em Medicina pela Universidade de Pernambuco (UPE), com residência em Clínica Médica pelo Real Hospital Português de Beneficência de Pernambuco. Título de especialista pela AMB em Clínica médica, Medicina de Família e Acupuntura Médica.

Especialidades/Área de atuação

Medicina de Família e Comunidade - CRM 15084/PE

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