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Tratamento de diabetes gestacional: como é feito?

A condição traz riscos tanto para a mãe quanto para o bebê se não for bem controlado; conheça os principais cuidados

Dra. Denise Orlandi

Dra. Denise Orlandi

5min • 1 de out. de 2025

Tratamento de diabetes gestacional: como é feito?

O diabetes gestacional é uma alteração que acontece durante a gravidez, quando o corpo da mulher não consegue produzir insulina suficiente para controlar os níveis de açúcar no sangue. Ele normalmente aparece no segundo ou terceiro trimestre e, apesar do diagnóstico assustar, a endocrinologista Denise Orlandi aponta que ele é um sinal de alerta para cuidar da saúde da mãe e do bebê e, claro, fazer o tratamento de diabetes gestacional.

“Após o diagnóstico, a gestante passa a ter um acompanhamento mais próximo com a equipe médica (obstetra e endocrinologista), além de orientações com nutricionista e até educador físico”, aponta a especialista. Isso inclui monitorar os níveis de glicose no sangue, fazer ajustes na alimentação e adotar um estilo de vida mais saudável.

Com isso, é possível manter a glicemia sob controle e ter uma gestação saudável. Na maioria dos casos, a condição desaparece após o parto, mas exige cuidados durante toda a gravidez para proteger tanto a mãe quanto o bebê. Entenda mais, a seguir.

O que é o diabetes gestacional e por que precisa de tratamento?

O diabetes gestacional é definido como uma condição temporária em que a gestante, que não tinha diabetes antes, desenvolve níveis elevados de glicose (açúcar) no sangue durante a gravidez.

Ela acontece porque os hormônios produzidos pela placenta podem bloquear a ação da insulina, o hormônio que ajuda a glicose a entrar nas células para ser usada como energia. O corpo tenta compensar produzindo mais insulina, mas, se não consegue, o açúcar se acumula no sangue.

Se não for tratado, a condição pode causar complicações sérias, como:

  • Para o bebê: macrossomia (bebê grande demais), hipoglicemia neonatal, desconforto respiratório e maior risco de obesidade e diabetes no futuro;
  • Para a mãe: risco de pré-eclâmpsia, cesárea, desenvolvimento de diabetes tipo 2 e complicações cardiovasculares a longo prazo.

O diabetes gestacional pode surgir em qualquer mulher grávida, mas é mais comum em quem já tem fatores de risco como: sobrepeso, obesidade, histórico familiar de diabetes, idade materna acima de 30 anos ou gestações anteriores com complicações.

Como é feito o tratamento de diabetes gestacional?

O tratamento para o diabetes gestacional se baseia em quatro abordagens: mudanças no estilo de vida, que incluem alimentação equilibrada, a prática de exercícios, o monitoramento da glicemia e, quando necessário, o uso de medicamentos. O objetivo é manter a glicemia dentro dos níveis considerados seguros, reduzindo complicações para a mãe e o bebê.

Alimentação saudável

Manter uma alimentação equilibrada é o primeiro passo no tratamento do diabetes gestacional. Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e a Sociedade Brasileira de Diabetes, a rotina alimentar deve ser individualizada, respeitando o peso da gestante, o trimestre da gestação e suas necessidades calóricas.

Por isso, não é necessário realizar uma dieta restritiva, mas priorizar o consumo de alimentos in natura e ricos em fibras, como:

  • Frutas frescas: banana, laranja, pera, maçã, kiwi, morango;
  • Carnes magras: peixes, frango, ovo;
  • Vegetais: alface, tomate, rúcula, brócolis, abobrinha;
  • Leguminosas: feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha;
  • Laticínios: leite semi ou desnatado, iogurte natural, queijo branco;
  • Oleaginosas: castanha de caju, amendoim, avelãs, nozes e amêndoas;
  • Cereais integrais: arroz integral, pão integral, quinoa, aveia.

Também é importante reduzir ao máximo o consumo de açúcares, doces, refrigerantes e alimentos ultraprocessados, já que eles provocam picos rápidos de glicose no sangue, favorecem o ganho de peso excessivo e não oferecem nutrientes de qualidade para a mãe nem para o bebê.

“Uma nutricionista pode ajudar a montar um plano alimentar equilibrado, com foco em alimentos que mantenham a glicose estável. Pequenas mudanças já fazem uma grande diferença — como reduzir o açúcar simples, preferir alimentos integrais e fracionar melhor as refeições ao longo do dia”, esclarece Denise.

Atividades físicas

O movimento ajuda o corpo a usar a glicose como fonte de energia, reduzindo os níveis de açúcar no sangue e aumentando a sensibilidade à insulina. Além disso, praticar atividades físicas contribui para reduzir o estresse, melhorar a circulação e manter um ganho de peso saudável durante a gestação.

Entre as atividades mais indicadas para gestantes com diabetes gestacional, é possível destacar:

  • Caminhadas leves;
  • Hidroginástica;
  • Bicicleta ergométrica;
  • Yoga ou pilates adaptado para gestantes;
  • Alongamentos.

A indicação é realizar as atividades entre 20 a 30 minutos por dia, pelo menos 5 vezes por semana. Também deve-se evitar exercícios de alto impacto, atividades que exigem muito equilíbrio ou posição deitada de barriga para cima.

A prática deve ser acompanhada por profissionais de saúde e interrompida se houver sinais de alerta, como sangramento vaginal, dor abdominal ou tontura.

Monitoramento da glicemia

Acompanhar os níveis de glicose no sangue pode ser feito em casa com o uso de aparelhos portáteis, como os glicosímetros. É recomendado que a gestante meça a glicemia em jejum e após as principais refeições, o que ajuda a identificar como o corpo reage à alimentação e se o tratamento está funcionando.

Os valores de referência para o acompanhamento do diabetes gestacional são, em geral:

  • Glicemia de jejum abaixo de 95 mg/dL;
  • 1 hora após a refeição: abaixo de 140 mg/dL;
  • 2 horas após a refeição: abaixo de 120 mg/dL.

Uso de medicamentos

Quando as mudanças no estilo de vida não são suficientes para controlar a glicemia, pode ser necessário recorrer a medicamentos, que são indicados pelo médico de forma individualizada.

O mais utilizado é a insulina, aplicada por meio de injeções. As doses são calculadas conforme o peso da gestante, e as aplicações normalmente são feitas 2 a 3 vezes ao dia, antes das refeições e à noite.

“O uso de insulina é seguro na gestação e não traz riscos para o bebê — pelo contrário, ela ajuda a garantir que o desenvolvimento dele ocorra da melhor forma possível”, explica Denise.

Em algumas situações específicas, como dificuldade de acesso ou recusa ao uso de insulina, o médico pode avaliar o uso de metformina. Ele é administrado por via oral e tem como vantagem o fato de não causar ganho de peso significativo. No entanto, como atravessa a placenta, os efeitos a longo prazo sobre a criança ainda estão sendo estudados.

Por isso, de acordo com a Sociedade Brasileira de Diabetes, a metformina não deve ser a primeira escolha quando há disponibilidade de insulina.

Leia também: Bronquiolite em bebês: sintomas e quando procurar o médico

Cuidados após o parto

Após o nascimento, na maioria dos casos, os níveis de glicose da mulher voltam ao normal. Porém, ela apresenta risco aumentado de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro, o que torna importante alguns cuidados:

  • Reavaliação da glicemia: semanas após o parto, é importante realizar exames para verificar se os níveis de glicose voltaram ao normal;
  • Prevenção do diabetes tipo 2: mulheres que tiveram diabetes gestacional têm maior risco de desenvolver diabetes no futuro. Por isso, manter hábitos saudáveis de alimentação e atividade física continua sendo importante;
  • Atenção ao bebê: crianças de mães com diabetes gestacional podem nascer com peso maior que o esperado ou apresentar hipoglicemia nos primeiros dias de vida. Por isso, é recomendado manter o acompanhamento pediátrico;
  • Amamentação: além de todos os benefícios já conhecidos para o bebê, o aleitamento materno exclusivo nos primeiros meses ajuda a mãe a reduzir o risco de desenvolver diabetes tipo 2 e contribui para a perda de peso após a gestação;
  • Sono e descanso: sempre que possível, aproveitar os momentos de sono do bebê para descansar ajuda na regulação hormonal, na cicatrização do corpo e também no equilíbrio emocional da mãe.

O pós-parto também é um momento de adaptação emocional e física para a nova mamãe, então ter apoio familiar e acompanhamento médico contínuo ajuda a mulher a atravessar a fase com mais tranquilidade.

“Manter hábitos saudáveis após a gestação pode ser uma grande oportunidade de cuidar da saúde para a vida toda”, finaliza Denise.

Perguntas frequentes sobre tratamento de diabetes gestacional

1. Quais são os sintomas do diabetes gestacional?

Na maioria das vezes, o diabetes gestacional não causa sintomas visíveis, o que torna os exames de pré-natal tão necessários. Algumas mulheres podem sentir mais sede, urinar com frequência ou apresentar cansaço excessivo, mas são sinais comuns na gravidez e nem sempre estão ligados ao diabetes. Por isso, apenas os exames de sangue podem confirmar o diagnóstico.

2. Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico geralmente acontece entre a 24ª e a 28ª semana de gestação, por meio do teste oral de tolerância à glicose (TOTG). No exame, a gestante bebe uma solução açucarada e faz coletas de sangue em diferentes momentos para verificar como o corpo reage à glicose.

Se os valores estiverem acima do recomendado, o médico confirma o diabetes gestacional. Em alguns casos, a glicemia de jejum já pode indicar a condição.

3. O bebê pode nascer com diabetes?

Não, o bebê não nasce com diabetes por causa do diabetes gestacional da mãe. O que pode acontecer é o bebê apresentar hipoglicemia (níveis de açúcar baixos no sangue) logo após o parto, já que durante a gestação ele produziu mais insulina em resposta à glicemia elevada da mãe.

Mas com acompanhamento adequado, a alteração é temporária e costuma ser corrigida sem maiores complicações.

4. O diabetes gestacional desaparece depois do parto?

Na maioria das vezes, sim. Após o nascimento do bebê, os hormônios da gestação diminuem e os níveis de glicose tendem a voltar ao normal.

No entanto, é fundamental fazer exames algumas semanas depois do parto para confirmar. Mesmo que a glicemia normalize, ainda há um risco maior de diabetes tipo 2 no futuro.

5. É possível evitar o diabetes gestacional?

Não existe uma forma totalmente capaz de evitar o diabetes gestacional, já que ele está ligado também a fatores hormonais da gestação, mas adotar hábitos saudáveis antes e durante a gravidez reduz muito o risco, como:

  • Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras;
  • Evitar o consumo excessivo de açúcares, doces, refrigerantes e ultraprocessados;
  • Praticar atividade física regular antes e durante a gravidez, com exercícios leves e seguros;
  • Manter o peso adequado antes da gestação e controlar o ganho de peso durante os meses de gravidez;
  • Realizar o pré-natal corretamente, seguindo todas as orientações médicas e nutricionais;
  • Dormir bem e controlar o estresse, já que o excesso pode afetar o metabolismo;
  • Evitar o sedentarismo, procurando se movimentar ao longo do dia, mesmo que em pequenas caminhadas.

6. O que causa diabetes gestacional?

O diabetes gestacional é causado por uma combinação de fatores hormonais e predisposição individual. Durante a gravidez, a placenta produz hormônios que reduzem a ação da insulina no corpo, o que é chamado de resistência insulínica. Isso é natural e serve para garantir energia suficiente para o bebê em crescimento.

Porém, em algumas mulheres, o pâncreas não consegue produzir insulina extra suficiente para compensar essa resistência — e, como consequência, os níveis de glicose no sangue aumentam.

Além disso, fatores como excesso de peso, idade materna acima de 30 anos, histórico familiar de diabetes, síndrome dos ovários policísticos e gestações anteriores com complicações podem aumentar o risco de desenvolver a condição.

Leia também: Diabetes gestacional: o que é, sintomas, o que causa e como evitar

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Escrito por Dra. Denise Orlandi

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Endocrinologia - CRM/SP 133.812 | RQE 38.483

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