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SINAIS & SINTOMAS

Tosse persistente: quando pode ser problema no coração

Tosse persistente pode ser sinal de problema no coração. Veja causas, sintomas e quando procurar ajuda médica

Dr. Giovanni Henrique Pinto

Dr. Giovanni Henrique Pinto

5min • 27 de ago. de 2025

Homem idoso doente tossindo e com dor no peito, sentado em um sofá em uma casa de repouso, com possível tosse causada por problema cardíaco

Você sabia que a tosse é um mecanismo de defesa do organismo? Sempre que algo ameaça irritar ou bloquear as vias respiratórias, o organismo reage para proteger os pulmões e manter o ar limpo. É assim que secreções como muco, partículas de poeira, fumaça, mofo, alérgenos e até micro-organismos acabam sendo eliminados.

Ela pode surgir em quadros simples de gripe ou resfriado, crises de rinite e alergia, bronquite, asma e até refluxo gastroesofágico. Na maior parte das vezes, não representa perigo e desaparece sozinha em poucos dias.

O alerta surge quando o sintoma não passa. Uma tosse persistente, que continua por semanas ou até meses, precisa ser investigada para descartar condições de saúde mais sérias. Embora as causas respiratórias sejam as mais comuns, em alguns casos, ela pode estar relacionada ao funcionamento do coração, especialmente quando acompanhada de outros sintomas.

Quando a tosse persistente pode ser cardíaca?

Apesar de normalmente associada a doenças respiratórias, a tosse também pode ser consequência de problemas cardíacos. O cardiologista e cardio-oncologista Giovanni Henrique Pinto, do Hospital Albert Einstein, explica que o sintoma pode surgir em diferentes condições cardiovasculares, como:

Insuficiência cardíaca

Em quadros de insuficiência cardíaca, o coração perde a capacidade de bombear o sangue adequadamente, o que causa acúmulo de líquido nos pulmões. Isso provoca uma tosse persistente, que normalmente piora à noite ou quando a pessoa se deita.

Em alguns casos, a manifestação é conhecida como “asma cardíaca”, justamente pela semelhança com as crises de falta de ar típicas da asma respiratória. É a causa mais frequente quando se fala em tosse de origem cardíaca.

Valvopatias

Doenças que afetam as válvulas do coração, como a estenose mitral, dificultam a passagem do sangue dentro do coração e podem causar tosse persistente, acompanhada de escarro rosado, em situações mais graves. É um quadro mais raro, mas que não deve ser descartado.

Arritmias

As alterações do ritmo cardíaco, principalmente as taquicardias, podem favorecer episódios de tosse persistente. Isso acontece porque o coração, batendo de forma acelerada ou irregular, sobrecarrega a circulação e acaba afetando também o funcionamento dos pulmões.

Pressão alta descompensada

Quando a pressão arterial está mal controlada, o coração precisa trabalhar mais, aumentando a pressão nos pulmões. Isso pode resultar em tosse contínua, muitas vezes acompanhada de falta de ar.

Uso de remédios

Além das doenças, alguns remédios usados no tratamento de condições cardiovasculares podem provocar tosse persistente como efeito colateral. É o caso dos inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA), como captopril, enalapril e lisinopril.

Eles podem causar tosse seca em até 20% dos pacientes. Quando isso acontece, o médico geralmente substitui o remédio por um antagonista dos receptores de angiotensina II (BRA), como losartana ou valsartana, que raramente causam o mesmo sintoma.

Como diferenciar tosse cardíaca da respiratória?

Identificar a origem da tosse pode ser desafiador, mas existem sinais que ajudam na diferenciação:

  • Respiratória: normalmente surge após sintomas de infecção, como febre, dor de garganta e coriza. Pode vir acompanhada de chiado no peito e catarro amarelado ou esverdeado, como em casos de pneumonia. Costuma melhorar com antibióticos ou broncodilatadores, quando indicados;
  • Cardíaca: piora ao deitar, pode acordar o paciente durante a madrugada, vem associada a falta de ar, cansaço, inchaço nas pernas e palpitações. O escarro pode ser espumoso ou rosado.

Enquanto a tosse respiratória está mais ligada a infecções e inflamações, a de origem cardíaca reflete a sobrecarga do coração e dos pulmões.

Quando a tosse deve preocupar?

A tosse que ultrapassa oito semanas já é considerada crônica e precisa ser investigada. No entanto, segundo Giovanni Pinto, não é necessário esperar tanto tempo: se a tosse dura mais de duas semanas ou aparece acompanhada de falta de ar, dor no peito, perda de peso, febre prolongada, chiado intenso, sangue no escarro ou histórico de doenças cardíacas, é muito importante procurar atendimento médico.

Diagnóstico da tosse persistente relacionada ao coração

O primeiro passo do diagnóstico é a consulta clínica detalhada, em que o médico avalia o histórico do paciente e faz o exame físico. A partir daí, outros exames podem ser solicitados, de acordo com Giovanni Henrique Pinto. São eles:

  • Eletrocardiograma;
  • Raio-X de tórax;
  • Exames laboratoriais (BNP/NT-proBNP);
  • Ecocardiograma;
  • Testes de esforço ou Holter;
  • Espirometria (avaliação pulmonar).

Existe tratamento para a tosse de origem cardíaca?

Quando a tosse persistente tem origem cardíaca, o foco do tratamento deve ser a condição que está sobrecarregando o coração e os pulmões.

Segundo o cardiologista Giovanni Henrique Pinto, o tratamento pode envolver o uso de diuréticos para reduzir o acúmulo de líquidos, medicamentos específicos para insuficiência cardíaca, controle do ritmo em casos de arritmia e ajustes na pressão arterial. Em situações mais complexas, pode ser necessário tratar diretamente problemas nas válvulas cardíacas.

À medida que o coração volta a funcionar de forma mais eficiente e a pressão nos pulmões diminui, a tosse tende a regredir de forma natural.

Perguntas frequentes sobre tosse persistente

1. A tosse persistente cardíaca é sempre seca ou pode ter catarro?

Inicialmente, a tosse causada por problemas no coração costuma ser seca e persistente. Isso acontece porque o acúmulo de líquido nos pulmões (uma consequência da ineficiência do coração em bombear sangue) irrita as vias aéreas, mas ainda não é suficiente para gerar muco.

No entanto, em casos mais graves, quando a congestão pulmonar aumenta, a tosse pode se tornar produtiva, isto é, com catarro.

2. Existe algum horário do dia em que a tosse cardíaca piora?

Sim, a tosse de origem cardíaca normalmente piora à noite ou quando a pessoa se deita. A posição deitada, também chamada de decúbito, facilita o retorno de fluidos dos membros inferiores para a circulação, aumentando a congestão nos pulmões e, consequentemente, a tosse.

3. Quando devo procurar um médico se minha tosse persistir?

A tosse comum costuma ser inofensiva, mas ela não deve ser ignorada quando se torna persistente. Procure atendimento médico se:

  • O sintoma durar mais de duas semanas;
  • Estiver acompanhado de falta de ar, dor no peito ou palpitações;
  • Houver perda de peso sem explicação;
  • Aparecer sangue no escarro;
  • Tiver histórico de problemas cardíacos.

4. A tosse de origem cardíaca pode piorar com o exercício?

Sim, porque o exercício físico aumenta a demanda de bombeamento do coração. Em uma pessoa com insuficiência cardíaca, por exemplo, o esforço sobrecarrega o coração, eleva a pressão nas veias pulmonares e, consequentemente, promove acúmulo de líquido nos pulmões. Isso intensifica a tosse e a sensação de falta de ar.

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Escrito por Dr. Giovanni Henrique Pinto

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