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SAÚDE MENTAL & EMOCIONAL

Testes genéticos para remédios contra depressão: saiba o que são e como funcionam 

Entenda como a farmacogenética pode ajudar a escolher o antidepressivo certo e quais são os limites dessa tecnologia

Dr. Luiz Dieckmann

Dr. Luiz Dieckmann

5min • 17 de set. de 2025

Testes genéticos para remédios contra depressão: saiba o que são e como funcionam 

Encontrar o antidepressivo adequado costuma ser um caminho de tentativas e erros. Para muitos pacientes, o processo exige semanas até que a resposta clínica seja avaliada — período em que podem surgir efeitos colaterais, ajustes de dose e, às vezes, troca do medicamento. Com o avanço da medicina de precisão, surgiram os testes genéticos para antidepressivos, que prometem encurtar esse percurso.

Segundo o psiquiatra Luiz Dieckmann, a ideia é analisar previamente como o organismo do paciente metaboliza e responde a diferentes remédios. “Esses testes funcionam como um mapa: mostram não só como o corpo processa o medicamento, mas também dão pistas de como o cérebro pode reagir”.

Testes genéticos para antidepressivos: farmacocinéticos e farmacodinâmicos

A farmacogenética estuda a relação entre genes e resposta a medicamentos. Na psiquiatria, o foco recai especialmente sobre os antidepressivos, usados em depressão, transtornos de ansiedade e outros quadros.

Nesse contexto, avaliam-se dois conjuntos de genes:

  • Genes farmacocinéticos (metabolismo do fármaco);
  • Genes farmacodinâmicos (alvos e efeito do fármaco no sistema nervoso).

A maior parte dos testes disponíveis hoje enfatiza os farmacocinéticos, pois analisam como o fígado “quebra” e elimina as substâncias. Os mais estudados são:

  • CYP2D6 e CYP2C19: codificam enzimas hepáticas que metabolizam muitos antidepressivos.

Pessoas com variantes que aceleram o metabolismo podem eliminar o remédio rápido demais, reduzindo o efeito. Já variantes que lentificam o metabolismo elevam o risco de acúmulo e efeitos colaterais.

Há também os farmacodinâmicos, que não tratam da metabolização, mas da ação no sistema nervoso, por exemplo:

  • SLC6A4 (transportador de serotonina);
  • HTR2A (receptor de serotonina).

Esses marcadores ajudam a explicar por que algumas pessoas respondem melhor a certos fármacos ou têm maior propensão a determinados efeitos.

Diretrizes internacionais e evidências de testes genéticos para antidepressivos

De acordo com diretrizes do Clinical Pharmacogenetics Implementation Consortium (CPIC), já há recomendações claras para o uso clínico de resultados relacionados a genes de metabolismo (farmacocinéticos). Já os farmacodinâmicos exigem cautela porque:

  • O metabolismo se relaciona diretamente às concentrações do fármaco no sangue (mensuráveis);
  • O efeito cerebral envolve múltiplos mecanismos, ambiente e interação de vários genes simultaneamente.

Assim, os achados farmacodinâmicos devem ser interpretados de forma complementar e sempre no contexto clínico.

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Como funcionam os testes na prática

Os testes genéticos para antidepressivos basicamente funcionam da seguinte forma:

  • Coleta: geralmente por saliva com swab bucal (ou sangue, quando indicado);
  • Análise: o laboratório pesquisa variantes nos genes de interesse;
  • Laudo: classifica fármacos e orienta ajustes que o médico irá interpretar.

Relatórios comerciais costumam agrupar medicamentos em categorias:

  • Uso normal: sem variantes relevantes;
  • Uso com cautela: possível baixa eficácia ou maior risco de efeitos, exigindo ajuste de dose/monitorização;
  • Uso não recomendado: alta chance de ineficácia ou toxicidade.

Exemplo: se um paciente é metabolizador ultrarrápido para um antidepressivo, a probabilidade de benefício é baixa — o que permite ajustar a escolha logo no início e evitar tentativas infrutíferas.

Conclusão do especialista: “Os testes não dão uma resposta definitiva, mas encurtam o caminho até um tratamento mais eficaz, com menos tentativas frustradas e menos efeitos indesejados”.

Perguntas e respostas sobre testes genéticos para antidepressivos

1. O que são testes genéticos para antidepressivos?

Exames que avaliam variações no DNA para entender como o corpo metaboliza e responde aos medicamentos. Ajudam a personalizar o tratamento e podem acelerar a escolha do antidepressivo mais eficaz.

2. Quais genes costumam ser avaliados?

Principalmente CYP2D6 e CYP2C19 (metabolismo) e marcadores como SLC6A4 e HTR2A (ação no sistema nervoso).

3. Qual a diferença entre farmacocinéticos e farmacodinâmicos?

Farmacocinéticos: mostram como e quão rápido o organismo metaboliza o fármaco.
Farmacodinâmicos: indicam como o cérebro e os neurotransmissores reagem ao medicamento.

4. Esses testes já são recomendados em diretrizes?

orientações consolidadas para genes de metabolismo. Para os farmacodinâmicos, o uso é mais cauteloso e complementar.

5. Como é feito o exame?

Coleta simples e pouco invasiva, geralmente por saliva com cotonete estéril (ou por sangue, quando necessário).

6. Qual o principal benefício para o paciente?

Reduzir tentativas e erros, evitar longos períodos sem resposta, minimizar efeitos colaterais e chegar mais rápido ao tratamento adequado.

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Escrito por Dr. Luiz Dieckmann

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