DOENÇAS & CONDIÇÕES
Síndrome do coração partido: o que é, sintomas, riscos e como diferenciar do infarto
Cardiologista explica como fortes emoções podem desencadear a cardiomiopatia de Takotsubo, condição que enfraquece temporariamente o coração

Dr. Giovanni Henrique Pinto
5min • 7 de out. de 2025

A expressão “coração partido” sempre foi associada a tristezas profundas, mas a medicina transformou essa metáfora em uma realidade clínica. Descoberta no Japão nos anos 1990, a síndrome do coração partido — nome popular da cardiomiopatia de Takotsubo — é uma condição em que o coração enfraquece temporariamente após um evento de estresse físico ou emocional intenso.
O cardiologista Giovanni Henrique Pinto explica: “O nome ‘coração partido’ surgiu porque costuma aparecer após fortes emoções. O coração fica momentaneamente enfraquecido e assume, nos exames de imagem, um formato parecido ao vaso japonês takotsubo, usado para pescar polvos”.
Embora seja reversível na maioria dos casos, o quadro pode simular um infarto e gerar complicações graves, o que torna o diagnóstico rápido essencial.
O que pode causar a síndrome do coração partido?
O gatilho mais comum é uma descarga repentina de hormônios do estresse, como a adrenalina, que afetam o funcionamento do músculo cardíaco. Geralmente, surge após situações marcantes, como:
- Perda de um ente querido;
- Brigas ou separações;
- Acidentes ou cirurgias;
- Notícias impactantes;
- Estresse prolongado ou sustos intensos.
A síndrome do coração partido pode ocorrer mesmo em pessoas sem histórico prévio de doença cardíaca. No entanto, fatores como ser do sexo feminino (especialmente após a menopausa), ter idade mais avançada e histórico de estresse intenso aumentam a predisposição.
Sintomas da síndrome do coração partido
Os sinais clínicos são muito semelhantes aos de um infarto, o que explica a dificuldade no diagnóstico inicial.
- Dor no peito;
- Falta de ar;
- Mal-estar súbito;
- Palpitações;
- Em alguns casos, desmaio.
Esses sintomas devem sempre ser avaliados em pronto-socorro, pois não é possível diferenciar a síndrome do coração partido de um infarto apenas pela percepção do paciente.
Diferença entre síndrome do coração partido e infarto
O desafio dos médicos está justamente em distinguir a síndrome do coração partido do infarto agudo do miocárdio. Giovanni esclarece: “Os sintomas são muito parecidos com os do infarto”.
Segundo ele, a diferença é feita por exames: “Tanto o eletrocardiograma quanto os exames de sangue podem se alterar de forma semelhante, mas no cateterismo não há entupimento de artérias. E na ventriculografia e no ecocardiograma encontram-se as alterações características na contração do coração que formam a imagem do Takotsubo”.
Ou seja, enquanto o infarto ocorre pelo bloqueio súbito de uma artéria coronária, na cardiomiopatia de Takotsubo não há obstrução. O coração apresenta uma alteração transitória da contratilidade, assumindo um formato típico comparado ao vaso japonês que inspirou o nome.
Como é feito o diagnóstico da síndrome do coração partido?
O diagnóstico exige uma combinação de exames. O primeiro passo é descartar um infarto, já que os sintomas são praticamente idênticos. Entre os exames utilizados estão:
- Eletrocardiograma (ECG): pode mostrar alterações semelhantes às do infarto;
- Exames de sangue: podem apresentar elevação moderada da troponina, proteína liberada quando há lesão no músculo cardíaco;
- Ecocardiograma: mostra as alterações típicas na contração do coração;
- Cateterismo cardíaco: confirma a ausência de obstrução nas artérias coronárias.
Em geral, um exame isolado não é suficiente. O ECG e a troponina levantam a suspeita de infarto, o cateterismo mostra que as artérias estão livres e o ecocardiograma revela o padrão característico do Takotsubo. Essa integração é fundamental para garantir o diagnóstico correto e o tratamento adequado.
Tratamento da síndrome do coração partido: o coração pode voltar ao normal?
A boa notícia é que, na maioria dos pacientes, a síndrome do coração partido é reversível. “O tratamento costuma ser de suporte clínico, com medicações para ajudar na recuperação da função cardíaca. Na maioria dos casos, o coração volta ao normal em semanas ou meses”, explica Giovanni.
O manejo geralmente inclui medicamentos como betabloqueadores, diuréticos e, em alguns casos, anticoagulantes, sempre conforme avaliação médica. Repouso, controle dos fatores de risco e acompanhamento regular fazem parte da recuperação.
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Existe risco de complicações graves?
Mesmo que muitas vezes tenha evolução benigna, a síndrome do coração partido não deve ser subestimada. “Apesar de ser reversível na maioria dos casos, pode haver complicações como arritmias, insuficiência cardíaca e, em situações raras, risco de morte. Por isso, precisa de avaliação e acompanhamento médico”, alerta Giovanni.
As complicações decorrem do enfraquecimento súbito do músculo cardíaco, que pode comprometer a capacidade de bombeamento do sangue. Essa redução temporária pode causar acúmulo de líquido nos pulmões (edema agudo de pulmão), queda da pressão arterial ou choque cardiogênico. Além disso, arritmias graves aumentam o risco de eventos fatais.
A síndrome do coração partido pode acontecer mais de uma vez?
Embora rara, a recorrência é possível. “Por isso é importante acompanhamento médico regular, principalmente em pessoas que já tiveram o quadro ou têm familiares próximos que já tiveram”, destaca Giovanni.
Pacientes diagnosticados devem manter acompanhamento clínico contínuo, não apenas durante a fase aguda. O seguimento ajuda a monitorar a saúde do coração, prevenir novos episódios e oferecer suporte em situações de estresse.
Perguntas e respostas sobre a síndrome do coração partido
1. O que é a síndrome do coração partido?
É uma condição chamada cardiomiopatia de Takotsubo, em que o coração enfraquece temporariamente após um evento de estresse físico ou emocional intenso.
2. Quais situações podem desencadear o problema?
Ela pode surgir após perdas emocionais, separações, brigas, acidentes, cirurgias, notícias impactantes ou sustos intensos.
3. Quem pode ter a síndrome do coração partido?
Pode ocorrer em pessoas sem doença cardíaca prévia, mas é mais comum em mulheres após a menopausa e em pessoas acima dos 60 anos.
4. Quais são os sintomas mais comuns?
Dor no peito, falta de ar, palpitações, mal-estar súbito e, em alguns casos, desmaio.
5. Como diferenciar de um infarto?
Os sintomas são parecidos, mas o cateterismo mostra que não há entupimento nas artérias. O ecocardiograma revela alterações típicas na contração do coração que formam o padrão de Takotsubo.
6. Existe risco de complicações?
Sim. Apesar de reversível, pode causar arritmias, insuficiência cardíaca, edema agudo de pulmão e, raramente, risco de morte.
7. O coração pode voltar ao normal?
Na maioria dos casos, sim. O tratamento é de suporte clínico, com medicamentos e acompanhamento médico, e a função cardíaca tende a se recuperar em semanas ou meses.
8. A síndrome pode acontecer mais de uma vez?
Sim, embora rara. O acompanhamento médico contínuo e o controle do estresse são fundamentais para prevenir recorrências.
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