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DOENÇAS & CONDIÇÕES

Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo: a doença autoimune que aumenta o risco de trombose

Condição autoimune é tratável, mas exige acompanhamento contínuo

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 23 de nov. de 2025

Médica experiente explica para outra médica jovem caso de síndrome do anticorpo antifosfolipídeo

A doença é uma das causas mais comuns de trombofilia adquirida e também está associada a abortos repetidos e complicações obstétricas | Foto: Freepik

A formação de coágulos dentro das veias ou artérias geralmente é vista como um evento agudo e imprevisível, mas, para algumas pessoas, esse risco está ligado a uma condição autoimune chamada Síndrome do Anticorpo Antifosfolipídeo (SAF).

Também conhecida como Síndrome de Hughes, ela faz com que o próprio sistema imunológico produza anticorpos que atrapalham a coagulação sanguínea, facilitando o surgimento de tromboses.

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo pode afetar homens e mulheres de qualquer idade, é uma das causas mais importantes de trombofilia adquirida e está associada a perdas gestacionais e complicações na gravidez.

O que é a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo?

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo é uma doença autoimune crônica em que o corpo produz anticorpos antifosfolipídeos, capazes de interferir no sistema de coagulação. Isso aumenta o risco de formação de trombos que podem:

  • Dificultar a passagem do sangue;
  • Bloquear veias ou artérias;
  • Causar complicações graves, como AVC, embolia pulmonar ou trombose venosa profunda.

A doença é uma das causas mais comuns de trombofilia adquirida e também está associada a abortos repetidos e complicações obstétricas.

Por que isso acontece?

A causa exata ainda não é totalmente conhecida, mas sabe-se que alguns fatores desencadeantes podem funcionar como gatilho em pessoas que já têm anticorpos circulantes.

Entre os principais gatilhos estão:

  • Cirurgias ou procedimentos invasivos;
  • Infecções graves;
  • Gravidez;
  • Interrupção de anticoagulantes em quem já faz tratamento.

Nem todos que têm os anticorpos desenvolvem tromboses; é a combinação entre predisposição e gatilho que costuma precipitar as manifestações.

Sintomas da síndrome do anticorpo antifosfolipídeo

Os sintomas dependem da região em que o trombo se forma. Algumas pessoas têm sinais leves; outras apresentam manifestações graves.

Quando a trombose ocorre em veias (Trombose Venosa Profunda)

  • Dor;
  • Inchaço;
  • Vermelhidão;
  • Calor no local.

Quando ocorre em artérias

  • AVC (pode surgir em pessoas jovens sem fatores de risco);
  • Dor súbita e intensa em membros.

Outras manifestações

  • Manchas arroxeadas na pele que pioram com frio (livedo);
  • Trombocitopenia (baixa contagem de plaquetas);
  • Problemas cardíacos;
  • Microtromboses difusas.

Relação com gravidez

  • Abortos repetidos;
  • Pré-eclâmpsia;
  • Restrição de crescimento fetal.

Forma rara e grave

A Síndrome Antifosfolipídica Catastrófica afeta vários órgãos ao mesmo tempo e é uma emergência médica.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico depende de critérios clínicos e laboratoriais.

É necessário ter:

1. Critérios clínicos

  • Histórico de trombose ou
  • Complicações obstétricas, como:
    • três ou mais abortos consecutivos;
    • parto prematuro por pré-eclâmpsia grave ou restrição de crescimento;
    • outras complicações típicas da doença.

2. Critérios laboratoriais

Exames positivos para anticorpos antifosfolipídeos, confirmados em duas coletas com intervalo mínimo de 12 semanas:

  • Anticardiolipina (IgG ou IgM);
  • Anti-beta-2 glicoproteína I (IgG ou IgM);
  • Anticoagulante lúpico.

Ter esses anticorpos não significa lúpus, mas algumas pessoas têm síndrome do anticorpo antifosfolipídeo associada ao lúpus eritematoso sistêmico.

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo pode ser evitada?

Não é possível evitar a doença em si, mas é possível prevenir complicações, especialmente tromboses.

Principais recomendações:

  • Não fumar;
  • Manter peso saudável;
  • Praticar atividade física regularmente;
  • Controlar colesterol e triglicerídeos;
  • Evitar uso de estrogênio (pílulas combinadas), salvo orientação médica;
  • Evitar medicamentos que alteram a coagulação por conta própria.

Esses cuidados são ainda mais importantes em quem já tem anticorpos circulantes.

Tratamento

A SAF não tem cura, mas é totalmente controlável com tratamento adequado. O objetivo é evitar a formação de novos trombos.

Tratamento principal: anticoagulantes

Medicamentos anticoagulantes reduzem a tendência de formação de coágulos. Geralmente, o uso é contínuo e monitorado com exames como o INR, que verifica se o sangue está na faixa terapêutica ideal.

Durante a gravidez

O tratamento é diferenciado, para garantir segurança para mãe e bebê. Com acompanhamento adequado, o risco de aborto e complicações é significativamente reduzido.

Cuidados com medicamentos

Vários remédios interferem nos anticoagulantes, entre eles anti-inflamatórios e analgésicos comuns.

Por isso, é essencial:

  • Avisar o médico sobre qualquer novo medicamento;
  • Evitar automedicação;
  • Monitorar regularmente o exame de INR.

Alimentação: atenção à vitamina K

A vitamina K (presente em folhas verdes escuras como couve, brócolis e espinafre) interfere na ação dos anticoagulantes.

Não é necessário cortar esses alimentos. O ideal é manter um consumo regular e estável, sem grandes variações.

Por que o tratamento é tão importante?

Sem controle, a síndrome do anticorpo antifosfolipídeo pode levar a complicações graves, como:

  • Trombose venosa profunda;
  • AVC;
  • Embolia pulmonar;
  • Perda gestacional recorrente.

Com acompanhamento regular, a maioria das pessoas leva uma vida saudável e normal.

Veja também: 7 cuidados que você deve ter antes de engravidar

Perguntas frequentes sobre síndrome do anticorpo antifosfolipídeo

1. A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo é a mesma coisa que trombofilia?

A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo é um tipo de trombofilia adquirida, ou seja, provoca maior risco de trombose ao longo da vida.

2. SAF está ligada ao lúpus?

Pode estar, mas não necessariamente. Muitas pessoas têm síndrome do anticorpo antifosfolipídeo isolada.

3. A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo tem cura?

Não, mas é totalmente controlável com acompanhamento médico.

4. Vou precisar tomar anticoagulante para sempre?

Na maioria dos casos, sim. A decisão depende da história de trombose e do risco individual.

5. Posso engravidar com síndrome do anticorpo antifosfolipídeo?

Sim. Com tratamento adequado durante a gestação, muitas mulheres têm gravidez saudável.

6. A alimentação interfere no tratamento?

Sim. Alimentos ricos em vitamina K devem ser consumidos de forma estável.

7. A síndrome do anticorpo antifosfolipídeo aumenta risco de AVC?

Sim, especialmente quando há trombose arterial. O tratamento reduz muito esse risco.

Veja também: Trombose do viajante: o que é, sintomas, causas e como evitar

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Escrito por Dra. Juliana Soares

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