DOENÇAS & CONDIÇÕES
Saúde do coração após a menopausa: conheça os cuidados nessa fase da vida
Mudanças hormonais podem afetar a saúde cardiovascular e aumentar o risco de infarto, AVC e insuficiência cardíaca

Dr. Giovanni Henrique Pinto
5min • 4 de set. de 2025

A menopausa é definida pela ausência de menstruação por 12 meses consecutivos e acontece, normalmente, entre os 45 e 55 anos de idade. Nesse período da vida, o corpo passa por alterações hormonais significativas (em especial, a queda do estrogênio), que afetam o metabolismo, os ossos, o humor e, principalmente, a saúde do coração.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, doenças cardiovasculares, como infarto e acidente vascular cerebral (AVC), são a principal causa de morte entre as mulheres após a menopausa. O risco aumenta justamente porque, com a queda hormonal, o organismo perde parte da proteção natural que tinha durante a fase reprodutiva.
Por isso, especialistas destacam a importância do acompanhamento médico regular, de exames preventivos e da adoção de hábitos saudáveis.
Por que a menopausa aumenta o risco de doenças do coração?
A menopausa provoca uma série de mudanças no corpo que impactam diretamente o coração. Primeiramente, o estrogênio, principal hormônio feminino, exerce um efeito protetor sobre o sistema cardiovascular. Ele ajuda a manter as artérias flexíveis, regula o colesterol e contribui para o equilíbrio da pressão arterial. Quando o hormônio diminui, o risco de desenvolver doenças do coração aumenta.
“Com a queda do estrogênio, há piora do perfil do colesterol (aumento do LDL e redução do HDL), aumentando a aterosclerose, assim como aumento da gordura visceral, ganho de peso, resistência à insulina e rigidez dos vasos. Com isso, o risco para doenças cardiovasculares sobe”, explica Giovanni Henrique Pinto, cardiologista e cardio-oncologista do Hospital Albert Einstein.
Vale lembrar que, muitas vezes, o impacto não acontece de imediato, mas ao longo de anos, o que torna a prevenção ainda mais importante.
Sintomas cardíacos que merecem atenção após a menopausa
Pode ser difícil identificar sinais de alerta para problemas cardiovasculares, uma vez que eles podem ser confundidos com os efeitos comuns da menopausa, como insônia e palpitações.
Segundo o Giovanni Henrique Pinto, é importante não ignorar manifestações como:
- Dor ou pressão no peito, podendo aparecer também como queimação ou dor nas costas, nos braços ou na mandíbula;
- Falta de ar em atividades simples;
- Palpitações frequentes;
- Tontura ou desmaios;
- Inchaço nas pernas;
- Cansaço desproporcional ao esforço.
Se os sintomas surgirem, é importante procurar atendimento médico para descartar a possibilidade de doenças cardíacas.
Quais hábitos podem ajudar a proteger o coração na menopausa?
O estilo de vida continua sendo a melhor forma de reduzir riscos, e mesmo em rotinas mais agitadas, incluir alguns hábitos é necessário para manter a saúde. Segundo orientações do Ministério da Saúde e do cardiologista Giovanni Henrique Pinto:
- Praticar atividade física regularmente (150 a 300 minutos por semana de exercícios aeróbicos + treinos de força duas vezes por semana);
- Adotar alimentação de padrão mediterrâneo ou DASH, priorizando frutas, verduras, grãos integrais, peixes e azeite, além de reduzir o consumo de sal;
- Dormir de 7 a 9 horas por noite;
- Controlar o estresse por meio de técnicas de relaxamento, meditação ou hobbies;
- Não fumar e moderar o consumo de álcool;
- Seguir corretamente o uso de medicamentos para pressão, colesterol e diabetes, quando indicados.
Acompanhamento na menopausa é importante para proteger o coração
Durante a menopausa, manter consultas regulares com o cardiologista permite identificar cedo alterações na pressão, no colesterol, na glicemia e até na rigidez dos vasos. Os exames cardíacos regulares nessa fase incluem:
- Eletrocardiograma (ECG);
- Holter (monitoramento do ritmo cardíaco por 24h);
- Ecocardiograma;
- MAPA (monitoramento da pressão arterial);
- Exames laboratoriais de glicemia, hemoglobina glicada e perfil lipídico;
- Teste ergométrico (de esforço);
- Escore de cálcio coronário em mulheres de risco intermediário;
- Cintilografia ou angiotomografia coronária quando há sintomas sugestivos ou risco elevado.
Além disso, o acompanhamento não serve só para detectar doenças, mas também para discutir formas de prevenção. O médico pode orientar sobre dieta, atividade física, controle de peso e, quando necessário, prescrever medicações para equilibrar colesterol, glicemia ou pressão.
Leia também: Por que cuidar do coração antes de uma cirurgia
Reposição hormonal na menopausa protege o coração?
O tratamento de reposição hormonal (TRH ou MHT) pode ser útil para aliviar sintomas moderados a graves da menopausa, como fogachos e suores noturnos. No entanto, Giovanni Henrique Pinto reforça que não deve ser usado com o objetivo de prevenir doenças cardiovasculares.
A terapia pode ter perfil de risco mais favorável quando iniciada antes dos 60 anos ou até 10 anos após a última menstruação, especialmente pela via transdérmica (adesivo ou gel), que apresenta menor risco de trombose do que os comprimidos orais.
Ainda assim, há contraindicações importantes: mulheres com histórico de infarto, AVC, trombose ativa, alguns tipos de câncer ou sangramentos uterinos não esclarecidos devem evitar o tratamento. A decisão deve sempre ser individualizada e tomada em conjunto com o médico.
Perguntas frequentes sobre saúde do coração na menopausa
1. A menopausa pode acelerar doenças já existentes?
Sim. Condições como pressão alta, colesterol alto, diabetes e doença coronária podem se agravar mais rápido depois da menopausa se não fizer um controle rigoroso.
2. A partir de que idade a menopausa costuma aparecer?
A menopausa ocorre, em média, aos 51 anos. Ela é confirmada quando a mulher fica 12 meses consecutivos sem menstruar. Porém, pode acontecer mais cedo: entre 40 e 45 anos é chamada de menopausa precoce, e antes dos 40 anos recebe o nome de insuficiência ovariana prematura.
3. Quais são os sintomas mais comuns da menopausa?
Os principais sintomas da menopausa são:
- Ondas de calor;
- Suores noturnos;
- Insônia;
- Irritabilidade;
- Diminuição da libido;
- Secura vaginal;
- Alterações do humor;
- Dificuldade de concentração e palpitações.
Os sinais podem começar anos antes da última menstruação e durar até 8 anos.
4. Quais doenças cardiovasculares são mais comuns após a menopausa?
Há um risco maior de doenças como:
- Doença arterial coronariana (angina e infarto);
- Pressão alta;
- Acidente vascular cerebral (AVC);
- Arritmias, como fibrilação atrial;
- Insuficiência cardíaca.
5. A menopausa causa aumento de peso? Isso afeta o coração?
Sim. Na menopausa o metabolismo fica mais lento e o corpo gasta menos energia. Isso facilita o ganho de peso, principalmente na barriga, onde a gordura tende a se acumular.
E é importante apontar: esse tipo de gordura libera substâncias inflamatórias que aumentam a resistência à insulina, aumentando o risco de desenvolver diabetes tipo 2. Além disso, está diretamente ligada à pressão alta e à aterosclerose — que aumentam o risco de doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
6. Quais sinais diferenciam sintomas da menopausa de problemas cardíacos?
Fogachos e palpitações podem ser sintomas da menopausa, mas quando há dor no peito, falta de ar, inchaço em pernas ou cansaço desproporcional, é preciso investigar problemas cardíacos.
O acompanhamento médico é fundamental porque apenas exames, como eletrocardiograma e ecocardiograma, conseguem diferenciar com clareza o que é efeito hormonal e o que é sinal de doença cardiovascular.
7. A menopausa pode causar palpitações?
Sim. Muitas mulheres sentem o coração acelerar ou bater mais forte durante a menopausa, por causa das mudanças hormonais e das ondas de calor. Mas, se as palpitações forem frequentes e vierem junto com tontura, dor no peito ou falta de ar, é importante procurar um médico para investigar.
8. Como diferenciar sintomas de ansiedade dos sintomas cardíacos na menopausa?
A ansiedade pode provocar palpitações, falta de ar, aperto no peito e até sensação de desmaio — sintomas muito semelhantes aos cardíacos. A diferença é que, muitas vezes, a ansiedade aparece em situações de estresse emocional ou crises de pânico, e tende a melhorar com técnicas de respiração e relaxamento.
Já os sintomas de origem cardíaca podem surgir de forma inesperada, durante esforços leves ou mesmo em repouso, e não desaparecem apenas com controle emocional. Destaca-se que a única forma segura de diferenciar é com avaliação médica e exames específicos.
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