PREVENÇÃO & LONGEVIDADE
Por que a saúde bucal interfere no coração
A saúde da boca vai muito além dos dentes: inflamações gengivais e infecções crônicas podem influenciar a saúde cardiovascular e aumentar o risco de doenças do coração

Dra. Juliana Soares
5min • 27 de dez. de 2025
A relação entre a saúde bucal e o coração tem sido cada vez mais estudada. Pesquisas mostram que inflamações persistentes na gengiva podem afetar o funcionamento do sistema cardiovascular e aumentar o risco de doenças como hipertensão, infarto e aterosclerose.
Embora ainda não exista prova de causalidade absoluta, a conexão é forte o suficiente para que cardiologistas e dentistas considerem a boca um ponto crítico na prevenção das doenças cardíacas.
Qual é a relação entre saúde bucal e coração
Um exemplo da relação entre saúde bucal e coração é a gengiva inflamada. Ela permite a entrada de bactérias na circulação que podem ativar plaquetas, estimular a formação de pequenos coágulos e provocar reações inflamatórias que interferem nos vasos sanguíneos. Estudos já identificaram bactérias típicas da boca dentro de placas de aterosclerose, indicando que elas podem participar da formação ou agravamento dessas lesões.
Além disso, doenças como a periodontite (doença gengival bacteriana) elevam níveis de substâncias inflamatórias, como interleucinas e proteína C-reativa, que circulam pelo corpo e influenciam diretamente o risco cardiovascular. Quanto mais alta a inflamação sistêmica, maior a probabilidade de ocorrerem processos que favoreçam a obstrução das artérias.
Outro ponto relevante é o impacto sobre o endotélio, camada interna dos vasos sanguíneos responsável por regular o fluxo e a pressão. A inflamação bucal pode comprometer essa função, dificultando a dilatação dos vasos e contribuindo para um ambiente mais propenso à hipertensão e ao acúmulo de gordura nas paredes arteriais, o que pode contribuir para doenças cardiovasculares.
Endocardite: quando bactérias da boca alcançam o coração
A endocardite infecciosa é um dos exemplos mais claros de como a saúde bucal e coração estão relacionados. Essa é uma infecção grave que ocorre quando bactérias entram na corrente sanguínea e se fixam no revestimento interno do coração ou nas válvulas cardíacas. Muitas dessas bactérias têm origem na boca, especialmente quando há gengivite intensa ou periodontite não tratada.
Pessoas com válvulas cardíacas artificiais, cardiopatias estruturais ou histórico de endocardite têm risco maior e precisam de atenção redobrada. Nesses casos, a higiene bucal inadequada e até pequenas feridas na gengiva podem facilitar a entrada de bactérias no organismo. Por isso, sociedades médicas recomendam acompanhamento odontológico regular para quem tem maior risco cardíaco.
O papel da gengivite e da periodontite no desenvolvimento da hipertensão
Pesquisas recentes mostram que pessoas com periodontite têm maior probabilidade de desenvolver hipertensão arterial. Isso ocorre porque a inflamação gengival persistente afeta também o endotélio, prejudicando a capacidade dos vasos de relaxar. O resultado é um aumento na resistência vascular e um ambiente mais propenso à elevação da pressão.
A inflamação sistêmica decorrente de doenças bucais também atua sobre hormônios e substâncias que regulam o tônus dos vasos, contribuindo para o aumento da pressão arterial. Mesmo quando outros fatores de risco são controlados, a associação entre periodontite e pressão elevada continua sendo observada em diversos estudos.
A boa notícia é que o tratamento periodontal pode melhorar parâmetros cardiovasculares. Pesquisas mostram que, após intervenções odontológicas que controlam a inflamação, muitos pacientes apresentam redução discreta, mas significativa, nos níveis de pressão arterial.
Doenças bucais e aterosclerose: uma ligação possível
A aterosclerose, processo que leva ao infarto e ao AVC, também pode ser influenciada por doenças bucais. A presença de bactérias da periodontite em placas de gordura dentro das artérias indica que micro-organismos podem participar da formação dessas lesões ou intensificar sua progressão.
Além disso, a inflamação provocada pela periodontite aumenta a adesão de células de defesa às paredes dos vasos, favorecendo o acúmulo de gordura. Com o tempo, isso colabora para o espessamento da parede arterial e dificulta o fluxo sanguíneo.
Tratamentos odontológicos que reduzem inflamação parecem melhorar a função endotelial, sugerindo que cuidar da boca pode contribuir para retardar a evolução da aterosclerose. Embora não seja um tratamento cardiovascular direto, o impacto indireto é clinicamente relevante.
Fatores de risco que tornam a relação ainda mais forte
Condições como diabetes, obesidade e colesterol alto aumentam o risco tanto de periodontite quanto de doenças cardiovasculares. Isso faz com que a relação entre saúde bucal e coração seja ainda mais importante nesses grupos de pessoas. O diabetes, por exemplo, dificulta o controle da inflamação gengival, enquanto a periodontite, por sua vez, piora a glicemia, criando um ciclo negativo que afeta o sistema cardiovascular.
Fumantes também apresentam maior risco de desenvolver periodontite e doenças cardíacas, tornando o impacto da saúde bucal mais pronunciado. Da mesma forma, dietas ricas em açúcar e estilo de vida sedentário aumentam o risco de inflamações na boca e danos nos vasos.
Reconhecer esse conjunto de fatores permite que a prevenção cardiovascular seja mais completa. O cuidado com a boca se torna parte essencial da proteção do coração, especialmente para quem já apresenta condições crônicas.
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Perguntas e respostas sobre saúde bucal e coração
1. Qual é a relação entre saúde bucal e coração?
Infecções e inflamações na gengiva liberam substâncias inflamatórias e bactérias na corrente sanguínea que podem prejudicar os vasos, favorecer coágulos e aumentar o risco de doenças cardíacas.
2. Pessoas com doença gengival têm mais chance de desenvolver problemas cardiovasculares?
Sim. A periodontite está associada a maior probabilidade de hipertensão, aterosclerose e eventos como infarto e AVC, principalmente quando não tratada adequadamente.
3. Tratar a gengiva realmente melhora a saúde do coração?
O controle da inflamação bucal pode ajudar a reduzir marcadores inflamatórios no sangue e melhorar a função dos vasos, o que tem impacto positivo sobre o sistema cardiovascular.
4. O que é a endocardite e como ela se relaciona com a boca?
É uma infecção que atinge o revestimento interno do coração e pode ser causada por bactérias da boca que entram na circulação, especialmente em pessoas com gengivite ou periodontite severa.
5. Quem tem diabetes deve redobrar os cuidados com a boca?
Sim. O diabetes dificulta a cicatrização e favorece infecções gengivais, enquanto a inflamação bucal pode piorar o controle da glicemia, aumentando o risco cardiovascular.
6. Consultas regulares ao dentista ajudam na prevenção de doenças cardiovasculares?
Contribuem de forma importante, pois a limpeza profissional e o acompanhamento odontológico mantêm a inflamação sob controle e reduzem a presença de bactérias que afetam o coração.
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