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Remédios na gravidez: o que pode e o que não pode tomar?
Durante a gestação, qualquer medicamento ou substância pode chegar ao bebê através da placenta, o que exige alguns cuidados.

Dra. Andreia Sapienza
5min • 9 de dez. de 2025

Em termos de medicamentos, existe uma classificação de risco usada em todas as bulas, definida pela Anvisa | Foto: Freepik
A expectativa pela chegada do bebê convive, nas primeiras semanas de gravidez, com sintomas que podem afetar (e muito) o bem-estar materno, como náuseas, vômitos e dor de cabeça persistente. Eles variam de intensidade ao longo do dia e, muitas vezes, levantam dúvidas sobre quais remédios são realmente seguros durante a gestação e podem ser usados sem problemas.
Antes de tudo, vale ressaltar que a orientação médica é indispensável, porque cada gestante possui necessidades específicas. Isso se aplica tanto aos medicamentos usados de forma ocasional quanto aos tratamentos contínuos de condições pré-existentes, como hipertensão, diabetes, epilepsia, transtornos de ansiedade ou depressão.
Por que é preciso tanto cuidado ao tomar remédios na gravidez?
Durante a gravidez, qualquer remédio ou substância usada pela gestante pode chegar ao bebê, porque compartilha o mesmo caminho que leva oxigênio e nutrientes pela placenta. Mesmo produtos que não atravessam diretamente a barreira podem causar efeito indesejado ao interferir no funcionamento do útero ou da própria placenta, podendo causar:
- Malformações, atraso no desenvolvimento ou perda gestacional;
- Alterar o funcionamento da placenta, reduzindo o fluxo de oxigênio e nutrientes e favorecendo baixo peso ao nascer;
- Estimular contrações fortes do útero, diminuindo o suprimento de sangue para o bebê ou desencadeando parto prematuro;
- Afetar o bebê de forma indireta, como quando a queda da pressão arterial materna reduz o fluxo de sangue para a placenta.
Por tudo isso, cada medicamento precisa ser avaliado com cuidado, sempre levando em conta a saúde da mãe e a segurança do bebê.
Como saber se o remédio é seguro na gravidez?
Em termos de medicamentos, existe uma classificação de risco usada em todas as bulas, definida pela Anvisa, como explica a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza. O objetivo é orientar médicos e gestantes sobre o que pode ou não ser usado durante a gestação, já que cada substância pode agir de maneira diferente no organismo da mãe e do bebê.
A classificação funciona assim:
- Categoria A: medicamentos com estudos em gestantes que não mostraram risco para o bebê. São considerados seguros durante a gravidez;
- Categoria B: remédios testados em animais sem risco identificado, mas sem estudos completos em humanos; ou medicamentos que causaram algum efeito em animais, mas isso não se confirmou em estudos com gestantes;
- Categoria C: medicamentos sem estudos suficientes em humanos e animais, ou com efeitos negativos observados em animais. Só devem ser usados quando o benefício para a mãe for maior que o risco potencial para o bebê;
- Categoria D: medicamentos com risco fetal comprovado em humanos, mas que podem ser necessários em situações específicas, quando não existe alternativa mais segura e o tratamento é fundamental;
- Categoria X: medicamentos que causam danos graves ao feto em estudos com animais ou humanos. São proibidos na gestação e também para mulheres que planejam engravidar.
A classificação ajuda a orientar, mas não substitui a avaliação médica. De acordo com Andreia, se houver uma opção mais segura ou a possibilidade de aliviar os sintomas com métodos não medicamentosos, deve ser a prioridade durante a gravidez.
Por exemplo, no caso de dor lombar, é possível utilizar um analgésico para aliviar o sintoma, mas antes vale considerar alternativas como fisioterapia, bolsa de água quente e outras medidas que não envolvem medicamentos.
E as gestantes com condições preexistentes de saúde?
No caso das gestantes que convivem com alguma condição de saúde, como hipertensão, diabetes ou transtornos de ansiedade e depressão, o uso de medicamentos muitas vezes é necessário para manter tudo sob controle. Parar o tratamento pode ser mais arriscado do que continuar com um remédio seguro, o que torna fundamental o acompanhamento médico.
No caso de hipertensão, por exemplo, Andreia explica que já existem medicamentos considerados seguros na gravidez, como alfametildopa, propranolol e nifedipino. Se a gestante estiver usando outro tipo de remédio quando engravida, o médico faz a troca para uma opção mais adequada.
O mesmo acontece em quadros de diabetes. A maioria dos remédios orais não é recomendada na gestação, com exceção da metformina. Quando a dieta não é suficiente para controlar a glicose, a insulina é usada porque não atravessa a placenta e não afeta o bebê.
O ideal é sempre escolher medicamentos que já tenham estudos mostrando segurança na gravidez. Porém, em algumas situações, controlar a doença da mãe é tão importante que o médico pode precisar usar um remédio com menos dados disponíveis. Isso acontece porque deixar a condição sem tratamento pode trazer riscos ainda maiores.
Nesses casos, a gestação é classificada como de alto risco e exige um acompanhamento mais próximo.
Pode tomar remédios na amamentação?
Mesmo que o remédio seja seguro na gravidez, ele pode se comportar de outra forma depois do parto, porque muitos medicamentos passam para o leite materno em maior ou menor quantidade.
Como o bebê ainda tem um fígado e rins imaturos, ele pode ter dificuldade para eliminar certas substâncias. Por isso, cada situação precisa ser avaliada individualmente.
Grávidas podem usar plantas medicinais?
Mesmo produtos naturais podem apresentar riscos durante a gestação, e plantas medicinais, chás, óleos essenciais e suplementos de origem vegetal têm substâncias ativas que podem atravessar a placenta, estimular o útero, alterar a pressão arterial ou interferir no funcionamento da placenta. O fato de serem “naturais” não significa que são seguros.
Algumas plantas podem causar náuseas, queda de pressão, aumento das contrações ou até risco de sangramento. Outras podem interagir com medicamentos que a gestante já usa. Como muitos desses produtos não têm estudos suficientes em gestantes, é difícil prever seus efeitos no bebê. A orientação é nunca usar qualquer produto sem orientação de um médico.
Andreia ainda complementa que o mesmo vale para cosméticos, como tinturas de cabelo e outros produtos químicos. Como o couro cabeludo é muito vascularizado, a pele funciona como uma via de absorção e pode permitir a entrada desses compostos no organismo.
Como aliviar os sintomas de gravidez?
A gravidez pode trazer sintomas desconfortáveis, como náuseas, enjoos, dores de cabeça e azia. Quando eles se tornam mais intensos, o primeiro passo é avisar o médico, que vai avaliar a situação e orientar as melhores formas de alívio.
Antes mesmo de considerar o uso de medicamentos, há medidas simples que podem ajudar, como:
- Fazer refeições menores ao longo do dia;
- Evitar longos períodos em jejum;
- Priorizar alimentos leves, de fácil digestão;
- Beber água em pequenas quantidades várias vezes ao dia;
- Evitar cheiros fortes que pioram o enjoo;
- Descansar em ambientes ventilados;
- Elevar a cabeceira da cama para reduzir a azia;
- Fisioterapia para aliviar as dores nas costas;
- Bolsa de água quente para cólicas leves.
As orientações costumam ajudar bastante, mas o médico pode indicar medicamentos seguros caso os sintomas persistam ou prejudiquem a rotina da gestante.
Leia também: Exames no pré-natal: entenda quais são e quando fazer
Perguntas frequentes
Grávidas podem usar Ozempic ou outros análogos de GLP-1?
A orientação é evitar totalmente o uso de Ozempic, Wegovy, Mounjaro e outros medicamentos da família dos análogos de GLP-1 durante a gravidez. Ainda não existem dados suficientes sobre segurança em gestantes, e estudos feitos apenas em animais mostram alterações no desenvolvimento fetal, o que levanta dúvidas importantes.
A gestante também não deve usar os medicamentos para controle de peso, já que a perda ponderal não é recomendada durante a gestação. Quando a mulher engravida usando GLP-1 sem saber, o medicamento deve ser suspenso e o obstetra informado para acompanhamento.
Grávida pode tomar anti-inflamatório?
O uso de anti-inflamatórios deve ser evitado, especialmente no fim da gestação, porque pode prejudicar a circulação fetal ao fechar precocemente o ducto arterioso, estrutura vital para o bebê antes do nascimento. Além disso, pode aumentar o risco de sangramento e afetar os rins do feto.
Os analgésicos mais seguros, como paracetamol ou dipirona, são preferidos quando bem indicados pelo médico.
Grávida pode usar ansiolítico ou antidepressivo?
O tratamento de transtornos emocionais continua importante durante a gravidez, e interromper remédios abruptamente pode causar recaídas e prejuízo significativo à mãe e ao bebê. Existem medicações hoje consideradas seguras, como sertralina e fluoxetina, mas a escolha depende da avaliação psiquiátrica e obstétrica, sempre considerando risco e benefício.
Grávida pode usar pomadas e cremes dermatológicos?
As pomadas com corticoides leves normalmente são seguras quando usadas por períodos curtos. Já substâncias como retinoides são contraindicadas, inclusive na forma tópica. A pele pode absorver medicamentos, e a passagem para o bebê varia conforme o produto. O dermatologista e o obstetra costumam orientar cada caso.
Grávida pode usar remédios para prisão de ventre?
A constipação é muito comum na gestação, mas laxantes estimulantes devem ser evitados, porque podem aumentar o movimento do intestino de forma intensa e, teoricamente, estimular o útero. As opções mais seguras são os laxantes formadores de bolo fecal ou osmóticos, e tudo deve ser orientado pelo obstetra.
A base do tratamento é aumentar o consumo de água e fibras, além de manter a prática de atividade física regular.
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