DOENÇAS & CONDIÇÕES
Prolapso da válvula mitral: sinais de alerta, exames e tratamento
Apesar de geralmente benigno, a condição pode levar a complicações; veja quando investigar

Dr. Giovanni Henrique Pinto
5min • 8 de out. de 2025

O prolapso da válvula mitral (PVM) é uma alteração cardíaca relativamente comum, mas ainda cercada de dúvidas. O diagnóstico passou por mudanças ao longo dos anos — e muitas pessoas que antes eram consideradas portadoras não se enquadram mais nos critérios atuais.
Isso levanta questionamentos: quando a condição exige atenção, quais sinais merecem acompanhamento e em que momento ela pode representar risco? Conversamos com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto para esclarecer o quadro e tirar as principais dúvidas sobre o prolapso da válvula mitral.
O que é prolapso da válvula mitral?
A válvula mitral é uma das quatro válvulas do coração e atua como uma “porta” que impede o sangue de retornar do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo durante a contração cardíaca.
No prolapso da válvula mitral, essa válvula não se fecha completamente: suas cúspides (abas que controlam o fluxo sanguíneo) tornam-se frouxas e podem se projetar para dentro do átrio, permitindo refluxo de sangue.
Nem todo prolapso causa sintomas, o que pode dificultar o diagnóstico. “Na maioria das pessoas, o prolapso é assintomático e descoberto por acaso em exames de rotina. Em alguns casos, pode causar palpitações, dor no peito ou sensação de ansiedade”, explica Giovanni.
O que mudou no diagnóstico de prolapso mitral
Nas últimas décadas, pesquisas mostraram que os critérios antigos para diagnóstico eram pouco específicos, o que levou a muitos diagnósticos em pessoas com válvulas consideradas normais pelos parâmetros atuais.
Com critérios mais precisos, estima-se que apenas 2 a 3% da população tenha prolapso mitral significativo — antes, o número chegava a 10% ou mais. Os avanços incluem:
- Uso de ecocardiograma em 3D, que fornece imagens detalhadas e reduz diagnósticos exagerados;
- Definição mais rigorosa do limite de deslocamento da válvula para considerar o diagnóstico;
- Medição da quantidade de sangue que reflui, determinando se há comprometimento funcional;
- Revisão de diagnósticos antigos, pois muitos casos antes considerados prolapsos não se confirmam em exames modernos.
Sintomas de prolapso da válvula mitral
O prolapso mitral costuma ser silencioso e muitas vezes descoberto por acaso. Quando causa sintomas, os mais comuns são:
- Palpitações: sensação de batimento cardíaco acelerado ou irregular;
- Dor no peito: geralmente leve ou inespecífica;
- Ansiedade ou sensação de “coração acelerado”;
- Falta de ar ao esforço ou cansaço fácil.
“Em casos mais avançados, sinais de insuficiência cardíaca, como inchaço nas pernas, podem aparecer”, alerta Giovanni. Nesses casos, o coração perde eficiência no bombeamento do sangue, tornando o quadro mais grave.
Como identificar: exames clínicos e de imagem
O diagnóstico costuma começar com o exame físico. O médico pode ouvir um “click” mesossistólico — som curto característico do prolapso — e, se houver refluxo, um sopro cardíaco.
“O primeiro indício pode ser o sopro ouvido no estetoscópio. O exame que confirma é o ecocardiograma, que mostra a movimentação da válvula”, detalha Giovanni.
Exames que ajudam no diagnóstico incluem:
- Ausculta cardíaca: identificação de click e sopro característicos;
- Ecocardiograma transtorácico: principal exame para visualizar a válvula e o refluxo;
- Ecocardiograma transesofágico: usado quando são necessárias imagens mais detalhadas;
- Holter ou monitor cardíaco: útil se houver palpitações ou suspeita de arritmias.
O diagnóstico combina achados clínicos e de imagem, que permitem avaliar a gravidade e a função da válvula mitral.
Complicações possíveis: quando o benigno pode se tornar grave
“Na maioria dos casos, o prolapso da válvula mitral é benigno. Mas, em alguns pacientes, pode levar à insuficiência mitral importante, arritmias e, raramente, endocardite (infecção da válvula)”, ressalta Giovanni.
Em certas situações, o prolapso pode evoluir para:
- Regurgitação mitral: refluxo intenso de sangue para o átrio esquerdo, aumentando a sobrecarga cardíaca;
- Arritmias ventriculares ou atriais: que podem causar palpitações intensas ou desmaios;
- Endocardite infecciosa: risco aumentado em casos de refluxo importante;
- Insuficiência cardíaca: quando o coração perde eficiência no bombeamento.
Essas complicações são mais prováveis em pacientes com comprometimento significativo da válvula ou refluxo importante, o que torna o acompanhamento regular fundamental.
Tratamento de prolapso da válvula mitral: quando precisa de cirurgia?
O tratamento depende da gravidade dos sintomas e do grau de comprometimento da válvula. Segundo Giovanni, o tratamento medicamentoso é indicado em casos com palpitações ou arritmias leves.
“A cirurgia é recomendada apenas quando há insuficiência mitral significativa, com refluxo importante e risco para o coração”, explica o especialista.
- Medicamentos: betabloqueadores e, às vezes, antiarrítmicos para aliviar sintomas;
- Cirurgia ou reparo valvar: indicada em refluxo grave ou disfunção ventricular.
O objetivo é aliviar sintomas e prevenir complicações, ajustando o tratamento conforme a gravidade. Em muitos casos, o acompanhamento periódico é suficiente, mas se houver progressão da insuficiência mitral, a cirurgia pode ser necessária para preservar a função cardíaca.
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Vida normal é possível? Prognóstico e acompanhamento
Sim. A maioria das pessoas com prolapso da válvula mitral leva uma vida normal, podendo praticar exercícios, trabalhar e viajar — desde que mantenha acompanhamento médico regular.
Alguns pacientes precisam de monitoramento mais próximo, especialmente se:
- Tiverem regurgitação moderada ou grave;
- Apresentarem arritmias confirmadas em exames;
- Tiverem histórico familiar de degeneração valvar.
“O prolapso pode evoluir e aumentar o refluxo de sangue, exigindo tratamento. Por isso, mesmo em pacientes assintomáticos, o acompanhamento com ecocardiograma é essencial”, conclui Giovanni.
Perguntas e respostas sobre prolapso da válvula mitral
1. O que é o prolapso da válvula mitral?
É uma alteração em que a válvula mitral, responsável por controlar o fluxo de sangue entre o ventrículo e o átrio esquerdo, não se fecha adequadamente, permitindo o refluxo sanguíneo.
2. O diagnóstico mudou nos últimos anos?
Sim. Antes, critérios menos específicos geravam diagnósticos em excesso. Hoje, com ecocardiogramas modernos e parâmetros mais rigorosos, apenas 2 a 3% da população é diagnosticada com prolapso significativo.
3. Quais são os sintomas mais comuns?
A maioria é assintomática. Quando presentes, os sintomas incluem palpitações, dor no peito, ansiedade, falta de ar e fadiga. Casos avançados podem causar inchaço nas pernas por insuficiência cardíaca.
4. Como é feito o diagnóstico?
O médico pode ouvir um sopro ou “click” característico. O exame confirmatório é o ecocardiograma, que avalia a movimentação da válvula e o grau de refluxo. O Holter pode ser usado para investigar arritmias.
5. O prolapso da válvula mitral sempre é benigno?
Na maioria dos casos, sim. Contudo, pode evoluir para complicações como regurgitação mitral grave, arritmias ou, raramente, endocardite. O acompanhamento médico é fundamental.
6. Quando é necessário tratar?
Em sintomas leves, o tratamento pode envolver betabloqueadores. A cirurgia é indicada apenas em casos de insuficiência mitral significativa, quando há risco para o coração.
7. Quem tem prolapso da válvula mitral pode levar vida normal?
Sim. A maioria dos pacientes leva vida plena, podendo praticar exercícios e atividades cotidianas, desde que realize consultas regulares e ecocardiogramas de controle.
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