DOENÇAS & CONDIÇÕES
Vai operar? Veja os cuidados para quem tem pressão alta ou já infartou
A pressão descontrolada antes da cirurgia pode aumentar o risco de complicações cardíacas silenciosas

Dra. Edilza Câmara Nóbrega
5min • 3 de set. de 2025

Quando surge a necessidade de uma cirurgia, seja ela simples ou complexa, uma das principais preocupações dos médicos é avaliar como está o coração do paciente. Isso acontece porque o sistema cardiovascular é diretamente impactado pelo estresse da anestesia, pelo tempo de internação e pelo processo de recuperação.
No caso de pessoas com pressão alta ou que já passaram por um infarto, a avaliação é ainda mais importante para prevenir complicações durante e após o procedimento. Para entender melhor quais são os principais cuidados e como reduzir riscos, reunimos algumas orientações práticas a seguir!
Por que o coração precisa de avaliação antes da cirurgia?
Durante um procedimento cirúrgico, o organismo é afetado por algumas alterações importantes: há liberação de hormônios de estresse, variação da pressão arterial, maior demanda de oxigênio e risco de sangramentos.
Em pacientes saudáveis e sem histórico cardíaco, isso tende a ser bem tolerado. No entanto, para quem tem hipertensão ou já passou por infarto, a situação é mais delicada, uma vez que podem desencadear complicações durante e após a cirurgia, como:
- Picos de pressão durante o procedimento, que podem sobrecarregar o coração e os vasos sanguíneos;
- Sangramento ou dificuldade de controle da pressão arterial;
- Acidente vascular cerebral (AVC);
- Infarto.
“O estresse do procedimento cirúrgico e da anestesia pode sobrecarregar o coração, especialmente se a pessoa já tem uma condição prévia. Em um coração já fragilizado, esse aumento de demanda pode ser insuportável, levando a um desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio, o que pode causar um infarto ou outras complicações”, explica Edilza Câmara Nóbrega, cardiologista formada pelo InCor-HCFMUSP.
Já tive um infarto, posso operar?
Ter um histórico de problemas cardíacos, como infarto, não impede a realização de uma cirurgia. No entanto, segundo Edilza, exige um planejamento mais cuidadoso e uma avaliação rigorosa.
“Esses pacientes precisam de um acompanhamento cardiológico mais detalhado no pré-operatório. A avaliação é muito importante para entender a condição atual do coração, a gravidade do infarto anterior e o risco de um novo evento”, explica a cardiologista.
Quem precisa obrigatoriamente passar pelo cardiologista?
A avaliação cardiológica pré-cirúrgica é importante para todas as pessoas, independentemente do tipo de cirurgia, mas existem situações em que a consulta é ainda mais recomendada:
- Pessoas com pressão alta diagnosticada;
- Pacientes que já tiveram infarto ou sofreram angina;
- Quem possui insuficiência cardíaca ou já colocou stent;
- Portadores de arritmias ou marcapasso;
- Pessoas com colesterol alto, diabetes ou histórico familiar forte de doenças cardíacas;
- Pacientes com mais de 65 anos, mesmo sem diagnóstico prévio, dependendo do tipo de cirurgia.
Sinais de alerta para ficar de olho
Mesmo que o paciente não tenha diagnóstico confirmado, existem sintomas que servem como alerta para investigar o coração antes da cirurgia. Entre eles:
- Dor ou aperto no peito;
- Falta de ar em atividades leves;
- Palpitações frequentes;
- Inchaço nas pernas e tornozelos;
- Cansaço extremo sem causa aparente;
- Desmaios ou tonturas recorrentes.
Se algum desses sinais estiver presente, a recomendação é clara: não marcar cirurgia sem antes passar pelo cardiologista.
O que fazer se a pressão estiver descontrolada no pré-operatório?
Se, nos dias que antecedem a cirurgia, a pressão arterial estiver muito alta, o primeiro passo é entrar em contato imediatamente com o médico. A pressão elevada aumenta de forma significativa o risco de complicações durante o procedimento, como sangramentos, arritmias, AVC ou até um novo infarto.
Na prática, o que pode acontecer é o seguinte: se a alteração for leve, o médico pode apenas ajustar a medicação ou recomendar medidas rápidas de controle, como repouso, redução de sal na dieta e monitoramento mais frequente da pressão.
Porém, quando os valores estão muito altos e persistem mesmo com os remédios, a recomendação pode ser adiar a cirurgia até que a pressão esteja estabilizada.
Como controlar a pressão arterial antes da cirurgia?
Nos dias que antecedem a operação, Edilza ressalta que é fundamental seguir rigorosamente as orientações médicas, como:
- Não interromper o remédio de pressão alta sem orientação médica;
- Monitorar a pressão diariamente em casa ou em farmácias;
- Seguir uma dieta equilibrada, com pouco sal e alimentos leves;
- Evitar álcool e cigarro;
- Reduzir o estresse e garantir boas noites de sono.
Se houver qualquer alteração significativa, como picos de pressão acima do habitual, o médico deve ser avisado imediatamente.
Perguntas frequentes sobre cuidados antes da cirurgia
1. Quanto tempo depois de um infarto é seguro fazer uma cirurgia eletiva?
Não existe um prazo único e fixo para todos os pacientes. O tempo de espera para uma cirurgia eletiva após um infarto depende de uma avaliação médica detalhada, levando em conta diversos fatores, como condição geral do paciente e gravidade do infarto.
2. Quais exames de coração são feitos antes da cirurgia?
Os mais comuns são o eletrocardiograma (ECG), que registra a atividade elétrica do coração, o ecocardiograma, que mostra imagens do bombeamento do sangue e da função das válvulas cardíacas, e, em alguns casos, o teste ergométrico, que avalia como o coração responde ao esforço físico.
Além desses, exames laboratoriais de rotina (como colesterol, glicemia e coagulação) ajudam a identificar fatores de risco que podem impactar a cirurgia. Em pacientes com histórico de infarto ou hipertensão descontrolada, o médico pode solicitar exames complementares.
3. O que pode acontecer se a pressão estiver alta no dia da cirurgia?
Se a pressão estiver muito elevada, o procedimento pode ser adiado. Isso acontece porque a pressão muito alta durante a cirurgia pode causar problemas sérios, como derrame ou infarto. Por isso, só o anestesista e o cardiologista podem decidir se é seguro seguir ou adiar o procedimento.
4. O estresse emocional pode atrapalhar o coração antes da cirurgia?
Sim, pois o estresse faz com que o corpo libere adrenalina e cortisol, hormônios que aumentam a frequência cardíaca e elevam a pressão arterial. Para quem já tem histórico de hipertensão ou infarto, isso pode ser perigoso. A ansiedade excessiva também pode provocar insônia, dificultar o controle da glicemia em diabéticos e até interferir na recuperação pós-cirúrgica.
5. O álcool deve ser suspenso antes da cirurgia?
Sim, especialmente em excesso. O álcool desregula a pressão arterial e interfere no funcionamento do fígado, responsável por metabolizar os anestésicos.