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Perda gestacional: causas, tipos e cuidados necessários
Entenda por que acontece, como identificar cada tipo e quando procurar ajuda médica

Dra. Juliana Soares
5min • 29 de nov. de 2025

A perda gestacional é uma experiência dolorosa física e emocionalmente. O acompanhamento médico e psicológico é fundamental | Foto: Freepik
A perda gestacional, também chamada de abortamento, é um tema sensível, mas essencial de ser discutido com informação e acolhimento. Ela ocorre quando a gestação é interrompida antes de o bebê ter condições de sobreviver fora do útero.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), considera-se aborto quando a perda ocorre antes de 22 semanas, e o feto pesa menos de 500 g ou mede menos de 16,5 cm.
Embora seja relativamente comum, muitos casos ainda são rodeados de silêncio, dúvida e culpa. No Brasil, o abortamento inseguro permanece como uma das principais causas de morte materna, reforçando a importância do acesso ao pré-natal adequado e à assistência médica segura.
Quando o abortamento pode acontecer
A perda gestacional pode ocorrer em diferentes momentos:
- Abortamento precoce: até a 12ª semana (mais comum).
- Abortamento tardio: entre a 13ª e 20ª semana, geralmente associado a causas específicas, como infecções ou alterações uterinas.
Principais causas
O abortamento pode ser classificado conforme sua causa:
Abortamento provocado
Quando a interrupção da gestação é intencional, com uso de medicamentos ou métodos externos.
Abortamento espontâneo
Acontece naturalmente. As causas mais frequentes incluem:
- Alterações genéticas do embrião (responsáveis por cerca de 60% dos casos precoces);
- Infecções maternas;
- Alterações anatômicas do útero (miomas, malformações);
- Doenças maternas não controladas (diabetes, hipertensão, doenças autoimunes);
- Trombofilias e fatores imunológicos.
Em muitos casos, a causa não é identificada e não é culpa da mulher.
Tipos de abortamento
1. Ameaça de abortamento
Pequeno sangramento e cólicas leves, sem dilatação do colo. A gestação pode seguir normalmente. Conduta: repouso relativo, evitar relações sexuais, acompanhamento.
2. Abortamento inevitável
Sangramento intenso, dor forte e colo uterino dilatado. O ultrassom mostra o saco gestacional em expulsão.
3. Abortamento incompleto
Parte do conteúdo gestacional é expulsa; restos permanecem no útero. Pode haver sangramento persistente e risco de infecção. O tratamento, neste caso, é com um medicamento específico ou AMIU (aspiração manual intrauterina), método recomendado pela OMS.
4. Abortamento completo
Todo o conteúdo gestacional é eliminado naturalmente. Sangramento diminui e o útero volta ao tamanho normal. É necessário ultrassom para confirmar.
5. Abortamento retido
O embrião falece, mas não é expulso espontaneamente. Diagnóstico por ultrassom, sem batimentos cardíacos. O tratamento é feito com medicamentos ou procedimentos de esvaziamento uterino.
6. Abortamento infectado
Complicação grave. Pode surgir após qualquer tipo, especialmente em casos inseguros. Sintomas: febre, dor intensa, corrimento com mau cheiro, mal-estar. É uma emergência médica — requer internação, antibióticos e, às vezes, cirurgia.
Tratamento
O tratamento depende do tipo de abortamento e das condições clínicas da mulher. Pode envolver:
- Uso de medicamentos;
- AMIU, curetagem uterina ou aspiração a vácuo;
- Internação em casos de infecção, hemorragia ou complicações;
- Acompanhamento emocional após a perda.
A conduta deve sempre ser definida por um profissional médico.
Sinais de alerta: quando procurar o hospital
Procure atendimento imediato se houver:
- Sangramento vaginal intenso (um absorvente cheio por hora);
- Dor abdominal forte e contínua;
- Febre, corrimento fétido ou calafrios;
- Fraqueza, tontura ou desmaio.
Esses sinais indicam risco de complicações.
Cuidado e acolhimento
A perda gestacional é uma experiência dolorosa física e emocionalmente. O acompanhamento médico e psicológico é fundamental. Também é importante conversar sobre planejamento reprodutivo, prevenção de novas perdas e cuidados futuros.
Leia também: Gravidez ectópica: saiba o que é e os sinais da gestação fora do útero
Perguntas frequentes sobre perda gestacional
1. Exercício físico pode causar abortamento?
Não. Atividades comuns e seguras não provocam aborto espontâneo.
2. Estresse pode causar perda gestacional?
O estresse isoladamente não causa abortamento espontâneo.
3. Após um abortamento, quando posso tentar engravidar novamente?
Depois da recuperação física e emocional, com orientação médica. Muitas vezes, é possível tentar após um ou dois ciclos menstruais.
4. Perda gestacional é hereditária?
Na maioria dos casos, não. Mas algumas trombofilias podem ter componente familiar.
5. Há como evitar um aborto espontâneo?
Nem sempre. Mas manter doenças controladas, acompanhar no pré-natal e evitar infecções reduz riscos.
6. Ter um aborto aumenta o risco de outros?
Depende da causa. Muitas mulheres têm apenas um episódio e depois engravidam normalmente.
7. Hemorragia sempre indica aborto?
Não. Sangramentos leves no início da gestação são relativamente comuns — mas sempre devem ser avaliados.
Veja também: Insuficiência istmocervical: o que é e por que merece atenção na gravidez

