DOENÇAS & CONDIÇÕES
Pé diabético: o que é, sintomas e como tratar
O pé diabético pode se manifestar de várias formas, dependendo do grau de comprometimento dos nervos e vasos

Dr. Marcelo Bellini Dalio
5min • 26 de nov. de 2025

Vale apontar que pé diabético não se manifesta de um dia para o outro, sendo resultado de anos de glicemia alta, maus hábitos e falta de acompanhamento médico adequado | Foto: Freepik
Pessoas que convivem com o diabetes sabem da necessidade de manter alguns cuidados diários. O controle inadequado da glicose no sangue ao longo dos anos pode causar complicações em diferentes partes do corpo — especialmente nos membros inferiores.
Uma das consequências mais conhecidas é o pé diabético, uma condição que deforma, altera a circulação e também a sensibilidade do pé. Isso favorece infecções e aumenta o risco de amputação, de acordo com o cirurgião vascular Marcelo Dalio. Vamos entender mais a fundo, a seguir!
O que é pé diabético?
O pé diabético é uma complicação que pode acontecer quando os níveis elevados de glicose no sangue afetam os nervos e os vasos sanguíneos dos pés, comprometendo a sensibilidade e a circulação. Com o tempo, pequenos machucados que passariam despercebidos em uma pessoa sem diabetes podem evoluir para feridas graves e até infecções.
A condição é considerada uma das principais causas de amputação não traumática no mundo. Para se ter uma ideia, o Ministério da Saúde aponta que aproximadamente um quarto dos pacientes com diabetes desenvolvem úlceras nos pés e 85% das amputações de membros inferiores ocorrem em pacientes com diabetes.
Vale apontar que pé diabético não se manifesta de um dia para o outro, sendo resultado de anos de glicemia alta, maus hábitos e falta de acompanhamento médico adequado. Isso reforça a importância do controle rigoroso do diabetes, o cuidado diário com os pés e o acompanhamento médico regular para prevenir complicações.
Quais são as causas do pé diabético?
O pé diabético é causado pela combinação de dois fatores principais, sendo eles:
Neuropatia periférica
A neuropatia periférica é o nome dado ao dano nos nervos que ligam o cérebro e a medula espinhal ao resto do corpo. Eles são responsáveis por controlar a sensibilidade, os movimentos e as funções automáticas, como a circulação e a digestão.
No diabetes, o excesso de glicose no sangue agride os nervos com o tempo, principalmente os dos pés e das pernas — o que causa sintomas como formigamento, dormência, queimação, dor em pontadas e perda de sensibilidade.
Quando a pessoa deixa de sentir dor nos pés, pequenos ferimentos passam despercebidos e podem evoluir para feridas graves e infecções.
Má circulação (doença arterial obstrutiva)
O diabetes favorece o acúmulo de gordura e inflamação nas paredes das artérias, formando placas que podem estreitar ou bloquear os vasos sanguíneos. Quando isso acontece, o sangue circula com dificuldade, especialmente nas pernas, no coração e no cérebro.
Nos pés, a má circulação causa dor, feridas que demoram a cicatrizar e, em casos mais graves, pode levar à perda do membro — risco que aumenta ainda mais se houver infecção.
Outros fatores
O risco também pode ser maior devido a fatores como:
- Uso de calçados inadequados, que causam atrito e pressionam áreas sensíveis dos pés;
- Cortes malfeitos nas unhas, que podem gerar pequenas lesões e infecções;
- Ressecamento da pele, que favorece rachaduras e feridas;
- Tabagismo, que compromete a circulação e dificulta a cicatrização.
Quais são os sintomas do pé diabético?
Os sintomas de pé diabético variam conforme a gravidade, mas normalmente se desenvolvem de forma lenta e silenciosa. De acordo com Marcelo Dalio, o primeiro sintoma é a sensação de formigamento, que diminui conforme a pessoa perde a sensibilidade dos dedos dos pés — o que aumenta o risco de calos, deformidades e feridas.
Outros sinais de alerta também podem ocorrer, como:
- Pele seca, rachada ou com fissuras;
- Feridas que demoram a cicatrizar, uma vez que a circulação sanguínea está prejudicada;
- Inchaço e vermelhidão local;
- Alterações na forma dos dedos ou no arco do pé;
- Odor forte, secreção ou coloração escurecida na pele (sinais de infecção).
Em casos mais graves, podem surgir úlceras abertas, infecções profundas e necrose. Nesses estágios, o risco de amputação é elevado.
O pé diabético causa dor?
Muitas pessoas costumam perder a sensibilidade, mas a dor pode aparecer em estágios iniciais da neuropatia ou quando há inflamação e infecção. Ela tende a surgir em forma de queimação, pontadas ou choques elétricos, principalmente à noite.
A dor neuropática é causada por nervos lesionados e costuma ser persistente. Já a dor associada a feridas e infecções indica agravamento e exige tratamento médico urgente.
Como é feito o diagnóstico do pé diabético?
O diagnóstico é clínico e deve ser feito por um profissional de saúde, normalmente um endocrinologista, angiologista ou cirurgião vascular. O médico examina os pés em busca de feridas, calos, alterações de sensibilidade e sinais de má circulação.
Em alguns casos, a Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular (SBACV) aponta que podem ser realizados exames complementares, como:
- Exames laboratoriais: avaliam os níveis de glicemia, identificam possíveis infecções associadas e investigam doenças correlacionadas, como insuficiência renal;
- Índice tornozelo-braço (ITB): mede a gravidade da obstrução arterial, embora possa ser impreciso em pessoas com diabetes devido à calcificação (endurecimento) das paredes arteriais;
- Radiografia simples: auxilia na detecção de deformidades ósseas e sinais de osteomielite (infecção óssea);
- Tomografia computadorizada e ressonância magnética: permitem diagnóstico mais detalhado das alterações ósseas e dos tecidos moles;
- Angiotomografia computadorizada: fornece uma avaliação precisa da circulação sanguínea, sendo especialmente útil em casos de obstrução arterial.
Tratamento de pé diabetico
Nos casos em que já existem feridas, deformidades ou alterações estruturais nos pés, o tratamento de pé diabetico envolve medidas como:
- Manter as feridas sempre limpas e cobertas, com curativos trocados diariamente para evitar contaminações. As lesões nunca devem ficar expostas;
- Usar antibióticos conforme prescrição médica, em caso de infecção;
- Evitar apoiar o pé lesionado no chão, reduzindo o risco de piora e facilitando a cicatrização;
- Manter acompanhamento médico rigoroso, com equipe multidisciplinar (endocrinologista, angiologista, podólogo e enfermeiro).
Quando o tratamento clínico não é suficiente ou a ferida apresenta maior gravidade, pode ser necessária intervenção cirúrgica, apontada pela SBACV:
- Revascularização do membro, indicada quando há obstrução arterial. Pode ser realizada por meio de pontes arteriais (cirurgia aberta) ou técnicas endovasculares, como angioplastia (dilatação da artéria com balão), com ou sem colocação de stent;
- Remoção de tecido necrosado, eliminando partes mortas ou infeccionadas para permitir a recuperação dos tecidos saudáveis;
- Correção cirúrgica de deformidades ósseas, em casos sem infecção ativa, para estabilizar o pé e prevenir novas lesões;
- Amputação, indicada apenas em situações extremas, como infecção óssea grave (osteomielite) ou necrose extensa. Pode envolver desde a retirada de um único dedo até a amputação parcial do pé ou abaixo do joelho, dependendo da gravidade do quadro.
Quando procurar atendimento médico?
Pessoas com diabetes devem procurar atendimento médico ao primeiro sinal de alteração nos pés, mesmo que pareça algo simples, como bolhas ou calos que não cicatrizam. A avaliação precoce evita complicações graves e pode impedir a evolução para infecções profundas ou amputações.
Pessoas com histórico de úlceras, infecções anteriores ou má circulação também devem manter acompanhamento periódico com o médico.
Convivendo com o pé diabético
Além do acompanhamento médico, existem alguns cuidados diários que ajudam a proteger os pés e evitar complicações, como:
- Realizar avaliações periódicas dos pés, observando a presença de feridas, rachaduras, calos, mudanças de cor ou temperatura;
- Utilizar sapatos adequados, confortáveis e sem costuras internas, que protejam o pé contra atritos e machucados;
- Adotar uma alimentação equilibrada, rica em fibras, vegetais e proteínas magras, ajudando no controle da glicemia e do peso corporal;
- Praticar atividade física regular, sempre com liberação médica, para melhorar a circulação e reduzir a resistência à insulina;
- Controlar a pressão arterial e o colesterol, fatores que influenciam diretamente a saúde vascular;
- Evitar o tabagismo e o consumo excessivo de álcool, que prejudicam a circulação e retardam a cicatrização.
Marcelo ainda ressalta que quem já apresenta complicações, perda de sensibilidade, calos ou feridas precisa de acompanhamento mais próximo, preferencialmente com profissional especializado em pé diabético ou cirurgião vascular.
Atualmente, nesses casos, existem palmilhas e calçados adaptados que redistribuem a pressão e ajudam a reduzir o atrito, prevenindo novas lesões. Alguns cuidados diários de higiene também fazem diferença, como secar muito bem os espaços entre os dedos após o banho, evitar micoses e inspecionar os pés regularmente para identificar qualquer alteração de pele, calo ou início de ferida antes que evolua.
Vale lembrar que pessoas com diabetes precisam ser orientadas sobre como cuidar dos pés diariamente, identificar feridas ou alterações logo no início e reconhecer sinais de alerta que exigem avaliação médica. A educação em saúde é a principal aliada na prevenção de complicações do diabetes.
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Perguntas frequentes
O pé diabético tem cura?
O pé diabético não tem cura definitiva, mas pode ser controlado e tratado. Com o controle rigoroso da glicemia, cuidados diários com os pés e acompanhamento médico multidisciplinar, é possível evitar novas feridas e impedir a progressão da doença.
O tratamento adequado permite viver com segurança e conforto, reduzindo significativamente o risco de infecções e amputações.
Por que pessoas com diabetes perdem a sensibilidade nos pés?
A perda de sensibilidade ocorre por causa da neuropatia periférica diabética, resultado de danos aos nervos causados pelo excesso de glicose no sangue. Com o tempo, os nervos deixam de transmitir corretamente os estímulos de dor, calor e pressão.
Assim, o paciente pode se machucar sem perceber — por exemplo, com um sapato apertado ou um corte ao aparar as unhas, e o ferimento evoluir para uma infecção grave.
Tenho diabetes e surgiu uma ferida no pé, o que devo fazer?
Qualquer ferida, por menor que pareça, deve ser tratada imediatamente por um profissional de saúde. É necessário manter a lesão limpa, coberta e trocada diariamente, além de evitar apoiar o pé machucado no chão. O uso de pomadas ou curativos caseiros sem orientação médica pode piorar o quadro, então não se automedique!
Qual é o melhor sapato para quem tem pé diabético?
O calçado ideal deve ser macio, sem costuras internas, com solado firme e bico arredondado. O objetivo é proteger o pé de traumas e evitar pontos de pressão.
Sapatos ortopédicos sob medida, palmilhas anatômicas e meias de algodão sem costura também ajudam. Vale evitar o uso de saltos altos, sandálias abertas e chinelos, pois eles aumentam o risco de lesões.
Quando é necessária a amputação no pé diabético?
A amputação é indicada apenas em casos graves, quando há necrose extensa, infecção óssea irreversível (osteomielite) ou obstrução arterial severa sem possibilidade de revascularização, a fim de evitar que a infecção se espalhe para outras partes do corpo.
Apesar de ser uma medida extrema, muitas amputações poderiam ser evitadas com diagnóstico precoce, tratamento adequado e controle do diabetes.
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