DOENÇAS & CONDIÇÕES
Pancreatite aguda: quando o pâncreas inflama e exige atenção imediata
Dor abdominal intensa que não passa pode ser sinal de inflamação no pâncreas. Entenda o que é a pancreatite aguda, as causas mais comuns e o tratamento indicado

Dra. Juliana Soares
5min • 20 de out. de 2025

A pancreatite aguda exige sempre atenção médica, pois pode ser grave
A dor começa de repente, geralmente forte, na parte superior do abdome. Muitas vezes, irradia para as costas e vem acompanhada de enjoo e vômitos. Esses podem ser os primeiros sinais de uma pancreatite aguda, uma inflamação no pâncreas que exige atendimento médico imediato.
Apesar de parecer um problema raro, a doença é mais comum do que se imagina e pode ter causas simples, como o consumo de álcool em excesso ou pedras na vesícula. Quando identificada logo no início, costuma ter boa recuperação. Mas se o diagnóstico demora, pode evoluir para quadros graves e até colocar a vida em risco.
O que é pancreatite aguda
A pancreatite aguda é uma inflamação repentina do pâncreas, uma glândula que fica atrás do estômago e tem duas funções essenciais: produzir enzimas que ajudam na digestão e hormônios como a insulina, que controlam o açúcar no sangue.
Quando o pâncreas inflama, ele pode afetar outros órgãos e causar sintomas intensos. A doença pode surgir de forma leve e se resolver em poucos dias com repouso e tratamento, mas pode evoluir para quadros graves, que exigem internação em UTI e, em alguns casos, cirurgia.
Causas mais comuns da pancreatite aguda
A inflamação pode ter várias origens, mas as causas mais frequentes são:
- Pedras na vesícula: quando pequenos cálculos saem da vesícula e bloqueiam o canal por onde passam as enzimas do pâncreas;
- Consumo excessivo de álcool: muito comum em homens jovens, o álcool pode agredir as células pancreáticas;
- Triglicérides muito altos: quando os níveis passam de 1.000 mg/dL, aumentam o risco de inflamação;
- Certos medicamentos: alguns remédios podem causar irritação no pâncreas como efeito colateral;
- Cálcio elevado no sangue: em casos raros, o excesso de cálcio pode causar depósitos no pâncreas;
- Infecções virais ou bacterianas;
- Exames endoscópicos (como a CPRE): usados para examinar a bile e o pâncreas, podem causar pancreatite em até 7% dos casos;
- Tumores, especialmente em pessoas com mais de 40 anos;
- Doenças autoimunes: quando o sistema de defesa do corpo ataca as células do pâncreas.
Como acontece a inflamação
Em condições normais, o pâncreas produz enzimas digestivas que só são ativadas quando chegam ao intestino. Na pancreatite, essas enzimas se ativam dentro do próprio pâncreas, o que faz com que o órgão comece a se “auto-digerir”.
Essa agressão provoca dor e inflamação local e, em casos mais graves, as substâncias inflamatórias podem se espalhar pelo corpo e atingir outros órgãos como pulmões, rins e coração, o que torna o quadro mais perigoso.
Sintomas da pancreatite aguda
Os sintomas costumam aparecer de forma repentina e podem variar em intensidade:
- Dor forte na parte superior do abdome, que pode irradiar para as costas;
- Náuseas e vômitos;
- Abdome inchado e sensível;
- Febre e fraqueza;
- Em casos graves: queda de pressão, falta de ar, confusão mental e pele amarelada (icterícia).
A dor costuma melhorar um pouco quando a pessoa se inclina para frente. Mesmo assim, é um sinal de alerta que precisa de avaliação médica imediata.
Como é feito o diagnóstico
O médico faz uma avaliação completa que inclui:
- Histórico clínico e exame físico, em que o especialista observa o abdome e outros sinais no corpo;
- Exames de sangue, como amilase e lipase, que ficam muito elevadas na pancreatite;
- Exames de imagem, como ultrassonografia ou tomografia, que ajudam a confirmar a inflamação e identificar a causa;
- Outros exames específicos, quando é necessário descobrir o que provocou a doença.
Pancreatite leve ou grave: qual a diferença?
- Forma leve: representa cerca de 85% dos casos. Melhora com repouso, hidratação e analgésicos em até 7 dias. O risco de morte é baixo (em torno de 3%).
- Forma grave: é mais rara, mas pode causar complicações como insuficiência pulmonar, falência dos rins, necrose do pâncreas ou infecções graves. Esses casos precisam de internação e acompanhamento intensivo.
Tratamento da pancreatite aguda
O tratamento depende da gravidade do quadro e deve ser feito sempre em ambiente hospitalar.
As medidas mais comuns incluem:
- Repouso e observação médica, com internação em enfermaria ou UTI, conforme a necessidade;
- Hidratação intensa na veia, principalmente nas primeiras horas;
- Controle da dor, com analgésicos potentes;
- Jejum temporário, para “descansar” o pâncreas até a melhora;
- Antibióticos, apenas se houver infecção confirmada.
Além disso, o tratamento precisa corrigir a causa do problema, que pode incluir:
- Retirada da vesícula, quando há pedras;
- Parar o consumo de álcool;
- Controlar triglicérides e colesterol;
- Ajustar medicamentos que possam estar relacionados.
Em alguns casos, podem ser necessários procedimentos endoscópicos ou cirúrgicos para retirar cálculos, drenar líquidos ou tratar complicações.
Quando procurar ajuda médica
Qualquer dor abdominal forte e persistente deve ser avaliada o quanto antes. Procurar atendimento rápido aumenta muito as chances de recuperação completa e evita complicações graves.
Leia também: Dor abdominal: o que pode estar por trás desse sintoma tão comum?
Perguntas frequentes sobre pancreatite aguda
1. A pancreatite aguda tem cura?
Sim. Na maioria dos casos, com diagnóstico rápido e tratamento adequado, a recuperação é total.
2. Beber álcool uma vez ou outra pode causar pancreatite?
O risco é maior em quem consome bebidas alcoólicas com frequência e em grande quantidade, mas até pequenas doses podem causar crises em pessoas predispostas.
3. Pedras na vesícula sempre causam pancreatite?
Não. Mas quando uma pedra bloqueia o canal do pâncreas, pode sim desencadear a inflamação. Por isso, muitas vezes é recomendada a retirada da vesícula.
4. A pancreatite pode voltar?
Sim. Quando a causa (como o álcool ou as pedras) não é tratada, a doença pode recidivar, ou seja, reaparecer.
5. O que comer depois de uma crise de pancreatite?
Depois da melhora, a alimentação deve ser leve e com pouca gordura. Evite bebidas alcoólicas e frituras, e siga sempre a orientação do médico ou nutricionista.
6. Quem tem pancreatite aguda pode morrer?
Nos casos leves, o risco é muito baixo. Mas nas formas graves, especialmente com infecções ou falência de órgãos, a doença pode ser fatal — daí a importância do tratamento imediato.
7. Pancreatite e câncer de pâncreas são a mesma coisa?
Não. A pancreatite é uma inflamação, enquanto o câncer é um tumor. Porém, em pessoas acima de 40 anos, a pancreatite sem causa aparente pode ser um sinal precoce de tumor e deve ser investigada.
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