DOENÇAS & CONDIÇÕES
Microplásticos e doenças do coração: entenda os riscos
Estudos mostram que microplásticos podem afetar o coração e aumentar o risco de infarto. Veja o que dizem os médicos e como se proteger

Dra. Juliana Soares
5min • 5 de ago. de 2025

Você sabia que pode estar ingerindo plástico todos os dias, mesmo sem perceber? Os microplásticos estão em embalagens, cosméticos, alimentos e até na poeira da sua casa, e esse plástico microscópico está se acumulando nas suas artérias e pode aumentar em 4,5 vezes o risco de infarto.
Neste artigo, explicamos como esses microplásticos afetam a saúde do coração e o que você pode fazer para se proteger.
O que são microplásticos e como entram no corpo
Microplásticos são fragmentos de plástico com menos de 5 milímetros de diâmetro. Eles surgem da degradação de plásticos maiores ou são produzidos propositalmente em tamanho reduzido para uso em cosméticos, produtos de higiene e outros itens.
Por serem tão pequenos, podem ser facilmente inalados ou ingeridos. Estão na água, nos alimentos, no ar e até mesmo em ambientes internos, como dentro de casa. Isso torna praticamente inevitável a exposição constante a essas partículas. Estudos estimam que ingerimos entre 74 mil e 121 mil partículas de microplástico por ano.
O que a ciência já descobriu sobre microplásticos no corpo humano
Estudos recentes já encontraram microplásticos no corpo, inclusive em diversas partes, como sangue, pulmões, placenta e, mais recentemente, nas artérias.
Um artigo publicado na revista New England Journal of Medicine identificou a presença dessas partículas em placas de gordura das artérias carótidas de pacientes que foram submetidos à cirurgia.
Esses pacientes apresentaram um risco 4,5 vezes maior de ter infarto, AVC ou morrer em três anos, comparado àqueles que não tinham microplásticos nas artérias. Ou seja, os especialistas concluíram que os microplásticos afetam a saúde do coração.
“O nosso estilo de vida moderno, repleto de conveniências como embalagens plásticas e roupas sintéticas, está liberando uma quantidade alarmante de microplásticos no ambiente que podem contribuir para o desenvolvimento de doenças do coração. É mais um fator de risco, como pressão alta, diabetes, cigarro, mostrando como o estilo de vida pode ter consequências muito mais profundas do que imaginamos”, explica a cardiologista Juliana Soares, do Hospital Israelita Albert Einstein.
Microplásticos e riscos cardiovasculares
Os cientistas sugerem que, nas artérias, esses microplásticos afetam a saúde do coração e podem provocar diversos problemas. Veja abaixo.
Inflamação crônica
As partículas de microplástico podem causar uma inflamação crônica no corpo. Isso pode facilitar a formação de placas de gordura nas artérias e aumenta o risco de essas placas se romperem, o que pode levar a problemas como infarto ou AVC.
Estresse oxidativo
Quando os microplásticos se acumulam no organismo, eles podem estimular a produção de radicais livres em excesso. Essas substâncias atacam as células saudáveis e enfraquecem a parede dos vasos sanguíneos e podem contribuir para o entupimento das artérias.
Disfunção endotelial
O endotélio é a camada que reveste o interior dos vasos sanguíneos. A presença de microplásticos pode comprometer esse revestimento, e isso dificulta a dilatação deles e pode aumentar o risco de desenvolver pressão alta e outras doenças do coração.
“Nas artérias, onde já podem existir placas de gordura (aterosclerose), a presença dos microplásticos pode desencadear uma resposta inflamatória, crônica e silenciosa. O corpo tenta ‘combater’ as partículas de plástico, e essa batalha pode piorar as placas no organismo, aumentando o risco de infarto e AVC”, detalha a cardiologista.
Tipos de plástico mais encontrados no organismo
Entre os tipos de plástico mais encontrados nas artérias e em outras partes do corpo, estão:
- Polietileno: usado em sacolas e embalagens;
- Policloreto de vinila (PVC): presente em encanamentos e revestimentos;
- Poliestireno: presente em copos e talheres descartáveis;
- Polietileno tereftalato (PET): presente em garrafas de água, refrigerante, óleo, entre outros itens.
Hoje, esses produtos de poluição plástica são ingeridos ou inalados através de água, poeira, alimentos embalados e produtos comuns de higiene.
Como reduzir a exposição a microplásticos
Ainda que seja impossível evitar totalmente os microplásticos, algumas atitudes podem reduzir a exposição:
- Evitar o uso de plásticos descartáveis
- Usar filtros de água com capacidade de reter microplásticos
- Optar por alimentos frescos e não embalados
- Arejar bem os ambientes internos
“O estilo de vida moderno nos expõe a muitas fontes de microplásticos, desde as embalagens de alimentos até as roupas que vestimos. Pequenas mudanças nos hábitos diários podem reduzir o risco à saúde, como por exemplo reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, utilizar recipientes de vidro e filtrar a água”, explica a médica.
A ciência ainda está investigando os efeitos dos microplásticos no organismo, mas os primeiros resultados já apontam para riscos cardiovasculares reais. Evitar o consumo excessivo de plástico e adotar hábitos saudáveis é, por enquanto, a melhor forma de prevenção.
Perguntas frequentes sobre microplásticos e saúde do coração
1. Microplásticos aumentam o risco de infarto?
Sim, estudos mostram que microplásticos podem aumentar em 4,5 vezes o risco de infarto e AVC.
2. Como os microplásticos entram no corpo?
Podem ser ingeridos por meio de água, alimentos, poeira ou inalados no ar. Também estão em cosméticos e produtos de uso diário.
3. Existe como eliminar microplásticos do organismo?
Ainda não existe um método eficaz para eliminar essas partículas. A prevenção é a melhor estratégia.
4. Todo mundo tem microplásticos no corpo?
A maioria das pessoas está exposta em algum grau. A presença já foi detectada em sangue, órgãos e artérias.
5. Filtros de água comuns ajudam?
Alguns filtros podem reter parte dos microplásticos, mas é importante verificar se são certificados para isso.