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PREVENÇÃO & LONGEVIDADE

Marcapasso: para que serve, como funciona e como é colocado

Depois da recuperação do implante de marcapasso, a pessoa pode levar uma vida praticamente normal

Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

5min • 17 de out. de 2025

idosa sendo examinada por um profissional de saúde que utiliza um estetoscópio para ouvir os batimentos do coração, em consulta de avaliação cardíaca para colocação de marcapasso.

Implantado sob a pele do tórax, o marcapasso corrige falhas no ritmo cardíaco

Indicado para pessoas com batimentos cardíacos lentos, irregulares ou que chegam a pausar por alguns segundos, o marcapasso é um pequeno dispositivo eletrônico implantado sob a pele do tórax. Ele monitora continuamente a atividade elétrica do coração e, quando detecta uma falha no ritmo, emite impulsos elétricos para estimular a contração cardíaca.

Dependendo da causa do problema, o marcapasso pode ser temporário ou permanente. Por exemplo, quando a alteração no ritmo é passageira (como após uma cirurgia ou uso de certos medicamentos) o dispositivo é utilizado por um período limitado, apenas até que o coração recupere sua função normal.

Em situações em que há falhas permanentes na condução elétrica, por outro lado, o marcapasso é implantado de forma definitiva para garantir que o coração mantenha batimentos regulares ao longo da vida. A indicação, em todos os casos, deve ser feita pelo cardiologista considerando as necessidades do paciente.

Para esclarecer as dúvidas sobre como o marcapasso funciona na prática, como é feita a cirurgia e quais cuidados o paciente deve ter após o implante, conversamos com o cardiologista e arritmologista Rodrigo Caligaris Cagi. Confira, a seguir!

Para que serve o marcapasso?

O marcapasso serve para regular o ritmo dos batimentos cardíacos, emitindo impulsos elétricos sempre que o coração bate devagar demais ou falha em gerar seus próprios estímulos. De maneira geral, ele substitui ou complementa o sistema elétrico natural do coração.

O objetivo é restabelecer o ritmo cardíaco normal, garantindo que o sangue circule adequadamente e que o corpo receba oxigênio suficiente. Em alguns casos, o marcapasso também ajuda a sincronizar as contrações das diferentes câmaras do coração — algo fundamental em pacientes com insuficiência cardíaca e batimentos descoordenados.

Alguns tipos de marcapassos modernos também conseguem detectar o esforço físico e ajustar o ritmo automaticamente. Isso significa que, se você subir uma escada, por exemplo, o marcapasso acelera um pouco o coração, como faria naturalmente.

Quando é indicado?

A indicação depende da causa da arritmia e da gravidade dos sintomas. De acordo com o protocolo do Ministério da Saúde, recomenda-se o marcapasso definitivo quando:

  • A frequência cardíaca cai abaixo de 40 batimentos por minuto e há sintomas como tontura, fadiga ou desmaios;
  • Há bloqueio atrioventricular de segundo grau tipo II ou de terceiro grau, mesmo sem sintomas, pelo risco de morte súbita;
  • O paciente apresenta desmaios (síncope) recorrentes associados a distúrbios do nó sinusal ou bloqueios de condução;
  • Após infarto, quando o bloqueio de condução é persistente e causa risco de parada cardíaca.

Tipos de marcapasso

Os marcapassos podem variar de acordo com a função, complexidade e o número de câmaras cardíacas estimuladas. Segundo Rodrigo, o termo é amplo e pode se referir a três grupos principais:

Marcapasso convencional

É o modelo mais utilizado e indicado para pacientes com disfunção do sistema de condução, com frequência cardíaca mais baixa (bradicardias importantes, bloqueios no coração) e que não podem ser tratados com remédios.

Ele possui um pequeno gerador (bateria e circuito eletrônico) e um ou mais eletrodos que conduzem os impulsos elétricos até o coração.

No geral, existem dois tipos principais:

  • Unicameral: estimula apenas uma câmara do coração — o átrio ou o ventrículo. É usado quando o problema está restrito a uma parte do sistema de condução;
  • Bicameral: estimula e monitora tanto o átrio quanto o ventrículo, coordenando o batimento entre eles e imitando mais de perto a fisiologia natural do coração.

Os marcapassos modernos podem ter modulação de frequência, ajustando automaticamente o ritmo dos impulsos conforme o esforço físico do paciente.

Ressincronizadores cardíacos

O marcapasso ressincronizador (terapia de ressincronização cardíaca – TRC) é indicado para pacientes com insuficiência cardíaca que apresentam batimentos descoordenados entre os ventrículos. Ele emite estímulos simultâneos nas duas câmaras inferiores, promovendo sincronia e melhorando a eficiência do bombeamento de sangue, com melhora de falta de ar, cansaço e menor risco de internações.

Cardiodesfibriladores implantáveis (CDI)

Os cardiodesfibriladores implantáveis (CDI) são dispositivos semelhantes ao marcapasso, porém com função adicional de tratar arritmias graves (taquicardias ventriculares e fibrilação ventricular) por meio de choques elétricos quando necessário.

Existem versões combinadas, como o ressincronizador com desfibrilador (TRC-D), indicadas para insuficiência cardíaca com dessincronia e alto risco de arritmias fatais. O CDI funciona como um “backup”: detecta a arritmia e aplica o choque para manter o coração batendo até o atendimento médico, mas não trata a causa de base.

Como se preparar para a cirurgia de implantação?

Antes da cirurgia, o paciente passa por avaliação cardiológica (eletrocardiograma, ecocardiograma, exames de sangue). Entre as recomendações, estão:

  • Jejum de 4 a 6 horas antes da cirurgia;
  • Informar todos os medicamentos, vitaminas e suplementos em uso (principalmente anticoagulantes e antitrombóticos);
  • Informar alergias e outras condições de saúde;
  • Retirar acessórios metálicos e objetos pessoais;
  • Evitar fumar ou consumir álcool antes do procedimento;
  • Levar documentos, exames e um acompanhante.

O cardiologista também explica o funcionamento do aparelho, riscos e cuidados pós-operatórios.

Como é feita a cirurgia do marcapasso?

A implantação é simples e segura, geralmente levando 1 a 2 horas:

  • Pequena incisão abaixo da clavícula;
  • Introdução dos eletrodos por uma veia até o coração, guiada por imagem;
  • Conexão dos eletrodos ao gerador, que fica alojado sob a pele no tórax;
  • Teste e programação do sistema;
  • Fechamento da incisão com pontos e curativo.

Após o posicionamento dos cabos, o gerador (bateria e circuito) é inserido sob a pele, logo abaixo do músculo peitoral. O corte é fechado com pontos e coberto com curativo.

Recuperação da cirurgia

Em geral, alta no dia seguinte. Nos primeiros 30 dias, evitar esforços com o braço do lado do implante e manter repouso relativo. Consultas de acompanhamento verificam o funcionamento do dispositivo. Em geral, o paciente não sente o marcapasso funcionando; pode haver apenas leve desconforto local nos primeiros dias.

Coloquei um marcapasso, quais cuidados devo ter?

Nos primeiros 30 dias:

  • Evite levantar o braço do lado do implante acima da cabeça;
  • Mantenha o curativo limpo e seco (o médico dirá quando pode molhar);
  • Não dirija nas primeiras semanas;
  • Evite exercícios intensos ou carregar peso até liberação médica.

Depois, retome atividades normais, inclusive esportes leves. O acompanhamento costuma ser semestral, com leitura por telemetria para checar bateria e eletrodos.

Duração da bateria e troca do marcapasso

A bateria dura, em média, de 8 a 10 anos (alguns modelos chegam a 12–13 anos). Quando a bateria está no fim, o aparelho sinaliza nas consultas. A troca é simples: reabre-se a incisão, remove-se o gerador antigo e coloca-se um novo. Em alguns casos, os eletrodos também são trocados.

O que uma pessoa com marcapasso não pode fazer?

Quem tem marcapasso pode levar vida normal, mas com alguns cuidados:

  • Evite campos eletromagnéticos fortes (portais de segurança, detectores de metal);
  • Mantenha celulares e fones com ímã a pelo menos 15 cm do implante;
  • Ressonância magnética: somente se o dispositivo for compatível (MRI-safe) e em aparelhos até 1,5 Tesla;
  • Compatibilidade: preferir gerador e cabos da mesma marca para garantir funcionamento e possibilidades de exames futuros.

Quais as complicações?

Complicações são pouco frequentes, mais comuns logo após a cirurgia:

  • Infecção no local do implante;
  • Sangramento ou hematoma;
  • Deslocamento do eletrodo;
  • Reação alérgica ao material;
  • Irritação da pele;
  • Raros choques inadvertidos em CDI.

A maioria tem manejo simples, especialmente com seguimento adequado.

Leia mais: Holter 24h: como o exame ajuda a flagrar arritmias ocultas

Perguntas frequentes

1. O marcapasso exige acompanhamento para o resto da vida?

Sim. Consultas regulares (geralmente semestrais) verificam cabos, gerador, bateria e permitem ajustes pelo médico via telemetria, sem necessidade de cirurgia.

2. O marcapasso é visível sob a pele?

Depende do biotipo. Em pessoas magras, pode ficar levemente saliente sob a clavícula; em outras, é quase imperceptível. Com o tempo, os tecidos se adaptam.

3. Quem usa marcapasso pode infartar?

Sim. O marcapasso corrige o ritmo, mas o infarto é causado por obstrução das artérias coronárias — são problemas distintos.

4. Posso viajar de avião com marcapasso?

Sim, sem restrições. Leve o cartão de identificação do dispositivo e apresente-o nos controles de segurança para evitar detectores de metal convencionais.

5. Quais atividades são permitidas após o implante?

Após a recuperação, quase todas: correr, nadar, pedalar, viajar e praticar esportes leves. Respeite os limites do corpo e mantenha seguimento com o cardiologista.

6. O que acontece se o marcapasso parar de funcionar?

É raro falhar de forma súbita. As revisões identificam fim de bateria com antecedência. Se houver tontura, palpitações, desmaios ou fadiga súbita, procure seu médico ou pronto-socorro.

Confira: Arritmia cardíaca: quando os batimentos fora de ritmo merecem atenção

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Escrito por Dr. Rodrigo Caligaris Cagi

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Médico cardiologista e arritmologista.

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