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DOENÇAS & CONDIÇÕES

Linfedema: o que é, sintomas, causas e tratamento

Com o tempo, o membro afetado pelo linfedema pode ficar mais pesado, endurecido e com maior risco de infecções

Dr. Marcelo Bellini Dalio

Dr. Marcelo Bellini Dalio

5min • 11 de nov. de 2025

Pessoa com inchaço na perna, sinal de linfedema, condição causada pelo acúmulo de líquido linfático nos tecidos, e enfermeira enfaixando a perna como forma de tratamento.

O linfedema é um inchaço crônico que acontece quando o sistema linfático não consegue drenar o líquido linfático de forma adequada | Foto: Freepik

Um inchaço persistente, que causa sensação de peso, rigidez e até dor leve, pode ser mais do que uma simples retenção de líquidos. Quando piora ao longo do dia, especialmente após longos períodos em pé ou sentado, pode indicar um quadro de linfedema — uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal de líquido linfático nos tecidos do corpo.

Normalmente, ela surge após algum tipo de dano ou obstrução no sistema linfático, que pode ocorrer depois de cirurgias, radioterapia, infecções ou traumas. Sendo um quadro crônico, que não tem cura, o linfedema exige cuidados contínuos mesmo após o tratamento para evitar que o líquido volte a se acumular e cause novas complicações. Vamos entender os detalhes, a seguir!

O que é linfedema?

O linfedema é um inchaço crônico que acontece quando o sistema linfático não consegue drenar o líquido linfático de forma adequada. A linfa começa a se acumular nos tecidos, principalmente em braços ou pernas, levando a aumento de volume, sensação de peso, desconforto e até alterações na pele — que pode ficar mais grossa e endurecida com o tempo.

Mas afinal, o que é linfa? De forma geral, é um líquido claro que circula pelo sistema linfático, formado principalmente por água, proteínas, gorduras, células de defesa e resíduos metabólicos. Ela funciona como um filtro interno do corpo, recolhendo substâncias que não podem voltar diretamente para o sangue e levando para os gânglios linfáticos. Lá, o líquido é filtrado, removendo impurezas e ajudando no combate a infecções, antes de retornar ao sistema circulatório.

O acúmulo pode acontecer por uma série de fatores, que impedem o fluxo normal do líquido. O corpo continua produzindo linfa, mas a via de drenagem não dá conta de transportar tudo, de modo que o excedente fica retido nos tecidos e provoca inchaço. Quanto mais tempo o líquido fica parado, maior o risco de inflamação local, endurecimento da pele e infecção.

Causas de linfedema

As causas do linfedema variam de acordo com o tipo da doença. No linfedema primário, o problema está no desenvolvimento insuficiente ou anômalo do sistema linfático. Ele pode aparecer na infância, adolescência ou na vida adulta sem causa aparente.

O linfedema secundário, por outro lado, é o mais frequente e surge quando há uma lesão ou obstrução dos vasos linfáticos, o que pode ocorrer nas seguintes situações:

  • Cirurgias oncológicas, como retirada de linfonodos na mama, pelve ou abdômen;
  • Radioterapia, que pode causar fibrose e prejudicar os canais linfáticos;
  • Infecções, especialmente erisipela e celulite, que inflamam e danificam os vasos;
  • Traumas, queimaduras ou ferimentos que comprometem a drenagem linfática;
  • Doenças venosas, como insuficiência venosa crônica, que dificultam o retorno da linfa;
  • Obesidade e sedentarismo, que aumentam a sobrecarga no sistema linfático.

Em regiões tropicais, há ainda a filariose linfática, uma infecção parasitária que pode causar linfedema grave. O Brasil foi certificado como livre da doença como problema de saúde pública em 2024, embora a transmissão ainda possa ser observada em áreas endêmicas restritas do país, como na Região Metropolitana do Recife.

Qual a diferença entre linfedema e lipedema?

É importante esclarecer que linfedema é diferente de lipedema. Enquanto o linfedema é causado por falha do sistema linfático que deixa de drenar o líquido de volta para o corpo, o lipedema está ligado ao acúmulo desproporcional de gordura no tecido, principalmente em coxas e pernas — e costuma provocar dor ao toque, aumento de sensibilidade e facilidade para hematomas.

De acordo com o cirurgião vascular Marcelo Dalio, a ciência ainda não definiu a origem exata do lipedema, mas a condição, quando causa sintomas no paciente, é tratada a partir de medidas como redução de peso quando há obesidade, fortalecimento, exercício regular, controle de diabetes e tireoide, e compressão graduada em casos selecionados. Em alguns casos específicos, pode ser indicada uma lipoaspiração.

Quais são os sintomas do linfedema?

O principal sintoma do linfedema é o inchaço persistente em uma parte do corpo, normalmente em um braço ou perna. Ele pode variar de leve a intenso e tende a piorar ao longo do dia, especialmente após longos períodos em pé ou sentado.

A condição também pode provocar os seguintes sinais:

  • Sensação de peso ou rigidez no membro afetado;
  • Dificuldade de movimentar a articulação próxima;
  • Pele mais espessa, endurecida ou brilhante;
  • Marcas de roupas ou meias mais visíveis na pele;
  • Maior propensão a infecções de pele, como erisipela;
  • Dor leve, formigamento ou sensação de calor local.

Um ponto importante, apontado por Marcelo Dalio, é que o edema linfático tende a endurecer porque há acúmulo de proteínas no tecido, o que faz com que ele não deixe aquela marca do dedo após compressão (característica do edema venoso).

Com o tempo, podem surgir pequenas vesículas na pele, criando um padrão de inchaço muito próprio, que não se confunde com edema provocado por outras condições, como trombose, insuficiência cardíaca, doença renal ou varizes.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico do linfedema é principalmente clínico, em que o médico avalia o padrão do inchaço, a textura da pele, o tempo de evolução e possíveis causas associadas, como cirurgias prévias ou infecções. Marcelo também aponta a verificação de sinais característicos, como o sinal de Stemmer — que é quando não se consegue pinçar a pele do dorso do dedo do pé ou da mão.

Para confirmar o diagnóstico e descartar causas venosas, podem ser realizados exames complementares, como:

  • Ultrassom venoso: avalia trombose, refluxo e insuficiência venosa, sendo útil para excluir causa venosa, mas não mostra bem o sistema linfático;
  • Linfocintilografia: é o exame funcional mais clássico do sistema linfático, em que o profissional injeta um traçador radioativo no dorso do pé e acompanha sua progressão por horas, comparando um membro com o outro;
  • Ressonância magnética com linfangiografia: disponível em centros especializados, avalia detalhamento anatômico para casos selecionados;
  • Linfografia com verde de indocianina: mapeia trajetos linfáticos superficiais, útil no planejamento pré-operatório.

De acordo com o cirurgião, a escolha dos exames depende de disponibilidade, indicação clínica e objetivo terapêutico.

Tratamento de linfedema

O tratamento do linfedema é contínuo e visa reduzir o inchaço, aliviar os sintomas e prevenir complicações. Ele deve ser individualizado, feito por uma equipe multidisciplinar, que pode incluir médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e terapeutas ocupacionais.

De acordo com Marcelo Dalio, o padrão-ouro do tratamento conservador é a Terapia Descongestiva Complexa (TDC), composta por várias etapas complementares:

  • Drenagem linfática manual: realizada por profissional especializado, estimula o fluxo da linfa e reduz o inchaço;
  • Compressão: uso de bandagens compressivas multicamadas na fase intensiva, seguidas de meias ou mangas de compressão sob medida na fase de manutenção;
  • Exercícios orientados: movimentos que ativam a bomba músculo-articular e favorecem o retorno linfático;
  • Cuidados com a pele: higiene e hidratação rigorosas para prevenir infecções e evitar portas de entrada de bactérias;
  • Bombas pneumáticas intermitentes: podem ser indicadas como terapia adjuvante em casos selecionados;
  • Controle de peso e atividade física regular: reduzem a sobrecarga linfática e auxiliam no controle do edema;
  • Educação do paciente: inclui orientação para reconhecer sinais precoces de infecção e manter adesão às medidas de manutenção.

O uso de remédios antibióticos é indicado para tratar episódios de celulite ou erisipela e, em casos de recidivas frequentes, alguns protocolos consideram profilaxia antibiótica.

Nos casos em que há fibrose e adiposidade secundária importantes, podem ser avaliadas opções cirúrgicas, sempre em centros especializados e com critérios rigorosos de seleção:

  • Anastomoses linfático-venulares (LVA): conectam vasos linfáticos a vênulas para drenar a linfa;
  • Transferência de linfonodos vascularizados (VLNT): transplante de linfonodos saudáveis para restaurar o fluxo linfático;
  • Lipoaspiração específica: indicada para remoção de tecido fibroso e gorduroso em estágios avançados, com compressão rigorosa no pós-operatório.

Os resultados variam conforme o estágio do linfedema, a localização e a adesão do paciente às medidas de manutenção contínua.

Cuidados após o tratamento

Mesmo após o controle do inchaço e melhora dos sintomas, o linfedema exige cuidados contínuos para evitar que o líquido volte a se acumular e cause novas complicações. Algumas das medidas de cuidado incluem:

Mantenha o uso da compressão elástica

O uso diário de meias, braçadeiras ou bandagens compressivas contribui para manter o fluxo linfático equilibrado. Elas ajudam a evitar o retorno do inchaço e devem ser trocadas periodicamente, conforme orientação do fisioterapeuta ou médico. Nunca utilize compressão que cause dor, dormência ou marcas profundas na pele.

Pratique exercícios físicos regularmente

Só o hábito de movimentar o corpo já estimula a drenagem natural da linfa. Os mais indicados para a rotina são exercícios leves, como caminhada, natação, pilates e alongamentos. Ah, e evite atividades de alto impacto ou levantamento de peso sem orientação, pois podem sobrecarregar o membro afetado.

Cuide da pele todos os dias

A pele com linfedema é naturalmente mais sensível, frágil e propensa a infecções como erisipela e celulite bacteriana, já que o acúmulo de linfa compromete as defesas locais. Por isso, é fundamental manter uma rotina de cuidados diários que preserve a integridade da pele.

Primeiro de tudo, a hidratação deve ser feita com cremes neutros ou hipoalergênicos, aplicados com movimentos suaves, sempre após o banho. Também é importante usar repelente para prevenir picadas de insetos, além de limpar e desinfetar imediatamente qualquer ferimento, corte ou arranhão.

Controle o peso corporal

O excesso de peso aumenta a pressão sobre os vasos linfáticos e dificulta o retorno da linfa, favorecendo o acúmulo de líquido e o agravamento do inchaço. Para evitar isso, recomenda-se uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes e proteínas magras, com baixo teor de sal e gordura.

Beber água em quantidade adequada ao longo do dia também ajuda na eliminação de toxinas e melhora o funcionamento do sistema linfático.

Evite calor excessivo

As altas temperaturas dilatam os vasos e pioram o inchaço, então é necessário evitar banhos muito quentes, saunas, exposição prolongada ao sol e o uso de bolsas térmicas quentes na região afetada.

Sempre que possível, é interessante escolher ambientes ventilados, roupas leves e tecidos naturais, que favorecem a transpiração e mantêm o corpo fresco. Em dias mais quentes, o uso de compressas frias pode trazer alívio e ajudar a reduzir o edema.

Linfedema tem cura?

O linfedema não tem cura definitiva, mas é possível viver bem com o diagnóstico e controlar o inchaço. Após a fase intensiva, Marcelo explica que há uma fase de manutenção, para manter o resultado do tratamento.

Se o cuidado for interrompido, o inchaço tende a voltar, já que o tratamento atual controla os sintomas, mas ainda não consegue restaurar totalmente o sistema linfático.

Como prevenir o linfedema?

Nem sempre é possível prevenir o linfedema, especialmente quando ele é resultado de uma cirurgia ou tratamento de radioterapia. No entanto, algumas medidas podem reduzir o risco e evitar o agravamento do problema, como:

  • Evitar traumas, cortes e picadas na área afetada;
  • Não usar roupas ou acessórios apertados;
  • Manter a pele limpa e hidratada;
  • Evitar exposição prolongada ao calor;
  • Controlar o peso corporal;
  • Fazer exercícios regulares com orientação profissional;
  • Procurar atendimento médico diante de qualquer sinal de infecção ou aumento do inchaço.

Mulheres que passaram por cirurgias de câncer de mama, por exemplo, devem receber orientações específicas sobre cuidados com o braço operado para evitar o desenvolvimento do linfedema.

Quando procurar atendimento médico?

Qualquer inchaço que persista por mais de alguns dias ou aumente progressivamente deve ser avaliado por um médico. O linfedema é uma condição crônica e, quanto antes for diagnosticado, melhor será o controle dos sintomas.

Assim, procure atendimento quando apresentar:

  • Inchaço em um membro que não melhora com o repouso;
  • Sensação de peso, formigamento ou rigidez;
  • Alterações na pele, como vermelhidão, calor ou feridas;
  • Febre ou dor súbita no local afetado.

O acompanhamento com um cirurgião vascular ou fisioterapeuta especializado em linfoterapia é necessário para definir o tratamento mais adequado e evitar complicações.

Confira: Trombose do viajante: o que é, sintomas, causas e como evitar

Perguntas frequentes sobre linfedema

1. Qual é a diferença entre linfedema e inchaço comum?

O inchaço comum (edema) costuma ser temporário e melhora com o repouso, a elevação dos membros ou a eliminação da causa, como o calor ou o uso de medicamentos.

Já o linfedema é persistente e tende a progredir. Com o tempo, o tecido se torna mais endurecido, o inchaço não regride completamente e aparecem alterações na pele. Ainda, o linfedema normalmente começa de forma localizada (como no dorso do pé ou da mão) e pode evoluir para toda a extremidade.

2. O que é o “sinal de Stemmer” e como ele ajuda no diagnóstico de linfedema?

O sinal de Stemmer é um teste clínico simples usado para ajudar no diagnóstico do linfedema e consiste em tentar pinçar a pele na base do segundo dedo do pé ou da mão. Se for difícil ou impossível levantar uma prega de pele, o teste é considerado positivo, indicando comprometimento linfático.

O sinal costuma estar presente em casos moderados ou avançados de linfedema e ajuda a diferenciá-lo de outros tipos de edema.

3. O linfedema pode afetar apenas um lado do corpo?

O linfedema normalmente é unilateral, afetando apenas um braço ou uma perna, dependendo da área onde houve obstrução linfática. No entanto, pode ocorrer de forma bilateral, principalmente nos casos de linfedema primário, quando há anormalidade genética generalizada do sistema linfático. Mesmo nesses casos, a gravidade costuma ser assimétrica.

4. O uso de meias de compressão ajuda a aliviar o inchaço do linfedema?

O uso de meias elásticas ou bandagens compressivas é fundamental no tratamento e manutenção do linfedema. A compressão ajuda a impedir que a linfa volte a se acumular, melhora a circulação e mantém o volume reduzido após a drenagem. As meias devem ser ajustadas sob medida, com orientação de um profissional, e usadas diariamente, principalmente durante o dia.

5. Existem alimentos que ajudam a controlar o linfedema?

Não há uma dieta específica para o linfedema, mas o ideal é manter o peso corporal adequado, evitar o consumo excessivo de sal, que retém líquidos, e incluir alimentos como frutas, legumes, verduras e peixes ricos em ômega-3.

A ingestão adequada de água também é importante para manter o equilíbrio do organismo e facilitar o trabalho do sistema linfático.

Veja mais: Sente pernas pesadas no fim do dia? Confira dicas para aliviar

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Escrito por Dr. Marcelo Bellini Dalio

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Cirurgia Vascular - 104721/SP - RQE 26563

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