SINAIS & SINTOMAS
IST ou infecção urinária? Saiba como diferenciar os sintomas
Ardor ao urinar, corrimento, dor pélvica, coceira genital e desconforto durante o sexo podem ser sinais de alerta

Dr. Luciano Teixeira e Silva
5min • 25 de nov. de 2025

Diversas infecções sexualmente transmissíveis podem atingir o trato urinário, especialmente a uretra | Foto: Freepik
As infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) são condições causadas por vírus, bactérias ou parasitas transmitidos principalmente pelo contato sexual sem proteção, seja vaginal, anal ou oral. Elas podem atingir diferentes partes do corpo, inclusive o sistema urinário – com sintomas que muitas vezes se confundem com infecções comuns das vias urinárias.
Nesses casos, o paciente pode acreditar estar apenas com uma cistite simples, mas, na verdade, pode ter adquirido uma IST, que também compromete uretra, bexiga ou próstata. Ardor ao urinar, desconforto pélvico, corrimento e vontade frequente de urinar são sinais que podem surgir tanto em uma infecção urinária quanto em uma IST, o que torna fundamental um diagnóstico preciso.
Para esclarecer de que maneira as infecções podem afetar o sistema urinário e como diferenciá-las das infecções urinárias comuns, conversamos com o urologista Luciano Teixeira. Confira!
Quais ISTs podem afetar o trato urinário (e como isso acontece)?
Diversas infecções sexualmente transmissíveis podem atingir o trato urinário, especialmente a uretra. Entre as mais frequentes que provocam sintomas urinários, é possível destacar:
- Clamídia;
- Gonorreia;
- Papilomavírus humano (HPV);
- Herpes genital.
“As infecções são causadas por bactérias ou vírus transmitidos principalmente pelo contato sexual desprotegido. Uma vez no organismo, elas se instalam na uretra — o canal por onde sai a urina — e podem provocar inflamação local, conhecida como uretrite”, explica.
Em homens, a infecção pode avançar para a próstata e o epidídimo, causando dor testicular, desconforto pélvico e risco de complicações mais profundas. Já em mulheres, pode alcançar o colo do útero e as trompas, aumentando o risco de doença inflamatória pélvica e infertilidade futura se não houver diagnóstico e tratamento adequado.
“Por isso, toda queixa de ardência ao urinar ou secreção genital deve ser avaliada por um médico. Nem sempre é uma infecção urinária simples — muitas vezes, é uma IST”, complementa Luciano.
Quais os sintomas de IST?
Os sintomas mais típicos das ISTs que acometem o trato urinário podem variar entre homens e mulheres, mesmo que eles sejam infectados pelos mesmos agentes. Em homens, os sinais costumam ser mais evidentes e incluem:
- Ardência ao urinar;
- Secreção uretral com coloração amarelada ou esbranquiçada;
- Coceira e vermelhidão na glande;
- Dor testicular ou no baixo ventre em quadros mais avançados.
Nas mulheres, o quadro pode ser mais sutil e até silencioso nas primeiras semanas, o que facilita o atraso no diagnóstico. Os sintomas mais comuns são:
- Corrimento vaginal fora do padrão habitual;
- Ardência ao urinar;
- Dor pélvica ou dor durante o sexo;
- Possibilidade de ausência de sintomas nas fases iniciais.
“Por isso, é essencial que ambos os parceiros sejam avaliados e tratados quando há suspeita de IST. O tratamento de apenas um dos dois costuma levar à reinfecção”, aponta o urologista.
Como diferenciar os sintomas de IST de infecções do trato urinário?
Tanto as infecções sexualmente transmissíveis quanto infecções urinárias podem causar sintomas como ardência ao urinar, desconforto na região íntima e urgência miccional — o que acaba confundindo muitos pacientes. No entanto, existem sinais que ajudam a separar os dois quadros.
“A principal diferença em relação à infecção urinária comum está justamente no corrimento uretral, que é raro nas infecções simples da bexiga. Além disso, nas ISTs, a dor ao urinar aparece mesmo com pouca urina na bexiga — já nas infecções urinárias clássicas, o desconforto surge mais ao final da micção e vem acompanhado de vontade frequente de urinar pequenas quantidades”, explica Luciano.
O urologista alerta que ISTs costumam surgir após sexo sem preservativo, e o parceiro pode ter sintomas parecidos. Na dúvida, o recomendado é procurar um especialista e não se automedicar. O médico pode solicitar exames que identificam o agente causador para confirmar se o quadro é uma infecção urinária simples ou uma IST.
Diagnóstico de infecções sexualmente transmissíveis (IST)
O diagnóstico das ISTs é feito por meio de avaliação clínica e exames laboratoriais específicos. O médico investiga sintomas como corrimento, feridas, coceira, dor ao urinar ou verrugas genitais e solicita exames conforme a suspeita, como:
- Exame de urina tipo I e urocultura, para diferenciar infecções urinárias simples de ISTs;
- Exames de sangue, para rastrear sífilis, HIV e hepatites;
- Peniscopia, biópsia e captura híbrida, que auxiliam no diagnóstico do HPV;
- Análise de secreção uretral ou vaginal, observada ao microscópio ou por técnicas moleculares, como PCR, que identifica agentes como gonorreia e clamídia com alta precisão;
- Exames ginecológicos específicos, como o Papanicolau, são fundamentais para detectar lesões precoces causadas pelo HPV e prevenir o câncer de colo do útero.
Os testes são simples e úteis para identificar cada agente e evitar tratamentos errados. O ideal é que sejam sempre solicitados e interpretados por um médico, que avaliará os resultados dentro do contexto clínico de cada paciente.
Quais as complicações das ISTs?
Quando as infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) não são diagnosticadas e tratadas de forma adequada, podem causar complicações graves e, em muitos casos, permanentes à saúde, de acordo com Luciano.
Em homens, as complicações incluem:
- Disseminação da infecção para a próstata, epidídimo e testículos, causando inflamação, dor e febre;
- Infertilidade, devido à obstrução dos canais que transportam os espermatozoides após infecções repetidas;
- Estenose uretral, estreitamento da uretra que provoca dificuldade para urinar e, em alguns casos, exige cirurgia.
Já em mulheres, a falta de tratamento adequado pode causar:
- Progressão da infecção para o útero e trompas, resultando em doença inflamatória pélvica (DIP), condição dolorosa que pode levar à infertilidade;
- Infecções por HPV, que em algumas cepas têm potencial oncogênico e estão diretamente associadas ao câncer de colo do útero.
“Em ambos os sexos, infecções não tratadas também aumentam o risco de transmissão de outras ISTs, incluindo o HIV. Por isso, a abordagem deve ser sempre completa: diagnóstico precoce, tratamento adequado e acompanhamento médico regular. A prevenção e a responsabilidade sexual continuam sendo os pilares para evitar complicações graves”, complementa Luciano.
Como prevenir as infecções sexualmente transmissíveis (IST)?
O preservativo é a principal forma de prevenção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) e deve ser utilizado em todas as relações sexuais, inclusive no sexo oral e anal. Ele reduz de forma significativa o risco de transmissão de vírus e bactérias como HIV, gonorreia, clamídia, sífilis e tricomoníase.
Contudo, vale apontar que nenhum método oferece proteção total. No caso do HPV e do herpes genital, por exemplo, Luciano explica que o vírus pode estar presente em áreas da pele não cobertas pelo preservativo, permitindo a transmissão mesmo com o uso correto.
Ainda assim, o preservativo continua sendo a medida mais eficaz para reduzir a disseminação das ISTs, associado a medidas como:
- Vacinação contra HPV e hepatite B, indicada para homens e mulheres, preferencialmente antes do início da vida sexual, mas também benéfica em adultos;
- Evitar múltiplos parceiros e relações desprotegidas, já que o risco aumenta com a exposição;
- Realizar exames periódicos, mesmo sem sintomas, pois muitas ISTs são silenciosas;
- Procurar atendimento médico ao primeiro sinal de ardência, corrimento, dor ou lesões genitais, evitando a automedicação.
“O urologista deve sempre reforçar [para o paciente] que cuidar da saúde sexual não é apenas prevenir doenças, mas também preservar fertilidade, qualidade de vida e relações saudáveis baseadas em responsabilidade e confiança”, finaliza Luciano.
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Perguntas frequentes
H3 – 1. Quais são os sintomas mais comuns quando uma IST atinge o trato urinário?
Os sintomas variam de acordo com o tipo de infecção, mas os sinais clássicos incluem ardência ao urinar, dor pélvica, corrimento anormal, vontade frequente de urinar, odor forte e urina turva.
Em homens, pode haver dor nos testículos e saída de secreção pela uretra. Em mulheres, o corrimento pode vir acompanhado de coceira e sangramento leve fora do período menstrual. Nos casos de herpes, há ainda pequenas bolhas e feridas doloridas na região genital.
É importante ressaltar que muitas ISTs podem ser assintomáticas, especialmente a clamídia e a gonorreia, o que aumenta o risco de complicações.
H3 – 2. Como as ISTs chegam ao trato urinário?
O ponto de entrada é normalmente a uretra, o canal por onde a urina sai do corpo. Durante o contato sexual sem proteção, vírus e bactérias presentes nas secreções podem entrar nesse canal e causar inflamação. Se não forem tratadas, essas infecções podem subir e atingir a bexiga, os ureteres e até os rins, tornando o quadro mais grave.
Nas mulheres, a proximidade entre uretra e vagina facilita a infecção. Nos homens, o avanço da bactéria pode levar à prostatite ou epididimite, atingindo a próstata e o epidídimo.
H3 – 3. Herpes genital pode causar dor ao urinar?
Sim! O herpes genital, causado pelo vírus Herpes simplex tipo 1 ou 2, forma pequenas bolhas e feridas doloridas na região genital. Quando as lesões estão próximas à saída da uretra, urinar pode causar dor intensa e ardência. Além disso, o vírus pode inflamar a uretra mesmo sem feridas aparentes, resultando em uretrite herpética.
O herpes não tem cura, mas o tratamento com antivirais controla a infecção, diminui a frequência e a gravidade dos surtos, e alivia os sintomas.
H3 – 4. Como ocorre a transmissão de IST?
A transmissão das ISTs acontece pelo contato direto com secreções ou mucosas infectadas durante o ato sexual. Também pode ocorrer por compartilhamento de seringas, transfusão de sangue contaminado (hoje rara) e de mãe para filho durante a gestação, parto ou amamentação.
H3 – 5. O que é PEP e PrEP?
A PEP (profilaxia pós-exposição) é um tratamento de emergência que deve ser iniciado até 72 horas após uma exposição de risco ao HIV. Já a PrEP (profilaxia pré-exposição) é o uso contínuo de medicamentos que previnem a infecção antes do contato com o vírus. Ambos estão disponíveis no SUS.
H3 – 6. O uso de anticoncepcional dispensa o uso de camisinha?
O uso de anticoncepcionais não dispensa o uso da camisinha! Pílulas, injeções, implantes, DIU e outros métodos hormonais previnem apenas a gravidez, mas não oferecem proteção contra infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
A camisinha é o único método que impede o contato direto com secreções e mucosas, reduzindo de forma significativa o risco de transmissão de vírus e bactérias, como HIV, sífilis, gonorreia e clamídia.
Por isso, mesmo que o casal utilize outro método contraceptivo, o preservativo deve continuar sendo usado em todas as relações, inclusive no sexo oral e anal.

