DOENÇAS & CONDIÇÕES
Diabetes: quando usar medicamentos orais e quando a insulina se torna necessária?
Saiba como funcionam os principais tratamentos, em quais situações cada um é prescrito e quais são os avanços mais recentes
Dr. André Colapietro
5min • 26 de set. de 2025

O tratamento do diabetes é um dos maiores desafios da endocrinologia moderna. A doença, que afeta milhões de pessoas, exige estratégias individualizadas para manter a glicose sob controle e reduzir o risco de complicações cardiovasculares, renais e neurológicas. Entre as principais abordagens, estão os medicamentos orais e a insulina injetável, cada um com papel específico.
Mas, afinal, qual a diferença entre insulina e medicamentos orais para diabetes? Em quais casos cada um é mais indicado? Para esclarecer essas dúvidas, conversamos com o endocrinologista André Colapietro, que detalhou os mecanismos de ação, as indicações e os avanços recentes nos dois tratamentos.
Qual a diferença entre insulina e medicamentos orais no tratamento de diabetes?
A insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e sua função é permitir que a glicose no sangue entre nas células para ser usada como energia. “Todas as pessoas sem diabetes produzem insulina”. Quando essa produção falha ou quando as células não respondem bem à insulina, como em casos de diabetes, ocorre a hiperglicemia, ou seja, o excesso de açúcar no sangue.
No tratamento do diabetes, a escolha entre insulina e medicamentos orais depende do tipo e da gravidade da doença:
- Medicamentos orais para diabetes: usados principalmente no diabetes tipo 2 inicial, quando o pâncreas ainda consegue produzir insulina. Eles atuam de formas diferentes, estimulando a produção de insulina, aumentando a sensibilidade das células ou eliminando o excesso de glicose pela urina.
- Insulina injetável: indispensável no diabetes tipo 1, já que o organismo não produz o hormônio. Também pode ser necessária no diabetes tipo 2 mais avançado, em casos de diabetes gestacional ou quando há glicotoxicidade (níveis muito altos de glicose que “inibem” temporariamente o pâncreas).
Ou seja, enquanto os medicamentos orais ajudam a aproveitar a insulina que o corpo ainda produz, a insulina aplicada substitui ou complementa essa produção quando ela é insuficiente.
Como agem os medicamentos orais para diabetes?
Os medicamentos orais usados no tratamento de diabetes são variados e atuam em diferentes mecanismos do metabolismo da glicose. Eles podem ser divididos em famílias de substâncias, cada uma agindo em uma frente distinta:
- Aumentam a secreção de insulina: como as sulfonilureias e glinidas.
- Melhoram a sensibilidade à insulina: exemplos clássicos são a metformina e a pioglitazona.
- Promovem a excreção de glicose pela urina: como os inibidores de SGLT2, que ajudam o corpo a eliminar o excesso de açúcar.
Essas classes podem ser usadas de forma isolada, mas também usadas em conjunto, segundo orientação médica. “Eles podem ser combinados em diferentes estratégias de tratamento”, reforça Colapietro.
Qual é a função da insulina aplicada no tratamento de diabetes?
A insulina injetável tem a função de substituir ou complementar a insulina que o corpo não consegue mais produzir em quantidade suficiente ou que não está sendo utilizada corretamente por resistência insulínica.
“A insulina se liga a um receptor específico na membrana das células e ‘abre’ o transportador que permite a passagem da glicose do sangue para dentro da célula (para ser utilizada como fonte energética). Na ausência de insulina, esse transporte não ocorre, o que leva ao acúmulo de glicose no sangue”, detalha o endocrinologista.
Isso significa que, enquanto os comprimidos atuam ajudando o corpo a lidar melhor com a glicose, a insulina é uma substituição direta, essencial em alguns tipos de diabetes.
Diabetes tipo 1 e tipo 2: as diferenças nos tratamentos
No diabetes tipo 1, o sistema imunológico destrói as células do pâncreas que produzem insulina. Como o corpo praticamente não consegue produzir o hormônio, a aplicação de insulina é indispensável desde o diagnóstico. Em alguns casos, medicamentos orais podem ser usados como complemento, mas a base do tratamento sempre será a insulina aplicada diariamente.
Já o diabetes tipo 2 é caracterizado pela resistência insulínica, quando as células não utilizam bem a insulina produzida pelo corpo. O tratamento inicial combina mudanças no estilo de vida, como dieta equilibrada, exercícios físicos e perda de peso. Em paralelo, usam-se medicamentos orais que ajudam a controlar a glicose por diferentes mecanismos. Com o avanço da doença, pode ser necessária a aplicação de insulina para manter o controle glicêmico adequado.
Assim, enquanto o diabetes tipo 1 exige insulina desde o início, no tipo 2 geralmente é possível começar com medidas mais conservadoras, mas há risco de evolução para a necessidade de insulina em estágios mais avançados. “Isso pode acontecer devido à progressão da doença (muitos anos de diagnóstico), por predisposição genética (algumas pessoas evoluem mais rapidamente) ou por refratariedade ao tratamento oral isolado (não ser possível atingir as metas seguras de controle glicêmico)”, explica o médico.
Existem avanços no tratamento de diabetes?
Nos últimos anos, o tratamento do diabetes evoluiu muito, tanto com relação aos medicamentos orais quanto nas formulações de insulina.
“Os grandes destaques para os medicamentos orais são os que, além de ajudarem no controle glicêmico, têm boa segurança contra hipoglicemia, auxiliam na perda de peso e, o mais importante, reduzem risco cardiovascular e de doença renal crônica significativamente (ou seja, ajudam a glicemia, o peso, o coração e os rins)”.
Já em relação à insulina, o médico explica que surgiram novas versões de ação prolongada, capazes de manter níveis mais estáveis de glicose sem grandes oscilações, além de insulinas ultrarrápidas, que atuam de forma mais precisa logo após a aplicação.
Essas melhorias tornaram o tratamento mais confortável, reduziram efeitos colaterais e facilitaram a rotina de quem convive com a doença.
De qualquer forma, o mais importante é o acompanhamento contínuo e a personalização do tratamento para garantir não apenas o controle da glicose, mas também a prevenção de complicações graves.
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Perguntas e respostas
1. Qual a principal diferença entre insulina e medicamentos orais no tratamento de diabetes?
Os comprimidos ajudam o corpo a usar melhor a insulina que ele ainda produz, enquanto a insulina aplicada substitui ou complementa a produção natural quando ela não é suficiente.
2. Em quais casos os medicamentos orais são indicados?
São usados principalmente no diabetes tipo 2 inicial, quando o pâncreas ainda produz insulina, ajudando a controlar a glicose por diferentes mecanismos.
3. Quem precisa usar insulina desde o início do tratamento?
Pessoas com diabetes tipo 1 precisam de insulina desde o diagnóstico, pois o corpo praticamente não produz mais o hormônio.
4. Pessoas com diabetes tipo 2 podem precisar de insulina?
Sim. Com a progressão da doença ou quando os comprimidos deixam de controlar a glicemia, a aplicação de insulina pode se tornar necessária.
5. Quais os avanços recentes nos tratamentos?
Os medicamentos orais mais modernos ajudam também no peso, no coração e nos rins. Já as insulinas novas são mais estáveis e rápidas, trazendo mais segurança e praticidade.
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