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Insuficiência istmocervical: o que é e por que merece atenção na gravidez
Entenda como a condição aumenta o risco de parto prematuro e como a cerclagem ajuda a proteger a gestação

Dra. Juliana Soares
5min • 15 de nov. de 2025

O quadro típico de insuficiência istmocervical envolve mulheres que tiveram duas ou mais perdas gestacionais tardias, geralmente perto do 4º mês | Foto: Freepik
A insuficiência istmocervical é uma das causas mais importantes de abortos tardios e partos prematuros, principalmente no segundo trimestre da gestação. A condição acontece quando o colo do útero, que deveria permanecer firme e fechado até o final da gravidez, começa a se abrir antes do tempo, sem dor e sem contrações, o que aumenta o risco de a gestação terminar antes da hora.
Por ser uma alteração silenciosa, muitas mulheres só descobrem a insuficiência istmocervical depois de passar por perdas repetidas. Por isso, o diagnóstico precoce e o acompanhamento especializado são tão importantes para proteger a gestação e aumentar as chances de o bebê nascer saudável.
Como a insuficiência istmocervical se manifesta
O quadro típico envolve mulheres que tiveram duas ou mais perdas gestacionais tardias, geralmente perto do 4º mês. Essas perdas acontecem de forma abrupta, com poucos sintomas.
Os sinais mais comuns são:
- Abertura silenciosa do colo do útero, sem contrações;
- Expulsão rápida do bebê, geralmente vivo e sem malformações;
- Sangramento leve e pouca dor.
Essa evolução rápida e quase sem sintomas reforça a importância do acompanhamento contínuo.
Como é feito o diagnóstico
O diagnóstico pode ocorrer antes da gestação ou durante a gravidez.
Antes da gestação
O médico avalia o histórico de perdas e pode solicitar exames como:
- Teste da vela nº 8: avalia a facilidade de dilatação do colo;
- Histerografia ou histeroscopia: para analisar o canal cervical e a anatomia uterina.
Durante a gestação
O diagnóstico se baseia em:
- Conversa detalhada sobre perdas anteriores;
- Exame físico;
- Ultrassom, que pode mostrar:
- Encurtamento do colo do útero;
- Membranas se projetando para o canal cervical.
É importante lembrar que o colo curto sozinho não significa insuficiência istmocervical. O histórico obstétrico é decisivo para confirmar o diagnóstico.
Tratamento: o que é a cerclagem
O tratamento principal é a cerclagem uterina, uma cirurgia simples que coloca pontos no colo do útero para mantê-lo fechado até o final da gravidez. É como criar uma bolsa de contenção para segurar a gestação.
Destaques do procedimento:
- A técnica mais usada é a McDonald, feita pela vagina;
- Geralmente realizada entre 12 e 16 semanas, após o ultrassom morfológico;
- Pode ser feita até 25 semanas, em casos selecionados;
- Feita sob anestesia, com cuidados para evitar infecção;
- O fio é retirado por volta das 37 semanas.
Após a cerclagem, a gestante não precisa ficar em repouso absoluto, apenas seguir as orientações médicas de forma individualizada.
Quando a cerclagem não pode ser feita
A cerclagem é contraindicada quando há:
- Trabalho de parto ativo;
- Sangramento intenso;
- Malformações fetais incompatíveis com a vida;
- Rotura prematura das membranas;
- Infecção no colo do útero (cervicite purulenta);
- Corioamnionite.
Cerclagem de urgência: quando é necessária
Em situações em que as membranas já estão descendo pelo colo, o médico pode tentar uma cerclagem de urgência, desde que:
- O bebê esteja bem;
- O colo esteja dilatado menos de 4 cm;
- Não haja contraindicações importantes.
Esse procedimento pode prolongar a gestação por até 8 semanas, o que faz grande diferença para a sobrevivência e o desenvolvimento do bebê.
É uma técnica delicada, feita até aproximadamente 25 semanas, com apoio do ultrassom para reposicionar as membranas.
A importância do diagnóstico precoce
Identificar a insuficiência istmocervical antes de uma nova gestação aumenta muito as chances de sucesso. O diagnóstico precoce ajuda a:
- Evitar novas perdas;
- Reduzir o risco de parto prematuro;
- Planejar o melhor momento para realizar a cerclagem;
- Acompanhar a gestação de forma mais segura.
Mulheres com histórico de abortos tardios ou partos prematuros repetidos devem ser avaliadas por uma equipe especializada.
O que esperar após o tratamento
Mesmo com a cerclagem, o risco de prematuridade não desaparece totalmente. Contudo, com diagnóstico correto, realização da cirurgia no momento ideal, bom pré-natal, supervisão contínua do médico e cuidados pós-operatórios adequados, as chances de um desfecho positivo são altas — inclusive com bebês nascendo no tempo certo e saudáveis.
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Perguntas frequentes sobre insuficiência istmocervical
1. A insuficiência istmocervical dói?
Geralmente não. O colo se abre silenciosamente, sem contrações e sem dor.
2. Colo curto é o mesmo que insuficiência istmocervical?
Não. O diagnóstico depende do histórico de perdas e partos prematuros.
3. A cerclagem é uma cirurgia arriscada?
É um procedimento simples e seguro quando feito por profissionais experientes.
4. Posso engravidar normalmente após uma cerclagem anterior?
Sim. Em muitas gestações futuras, a cerclagem pode ser indicada novamente.
5. A insuficiência istmocervical pode ser prevenida?
Não necessariamente, mas um diagnóstico precoce evita perdas e partos prematuros.
6. Toda mulher com parto prematuro tem insuficiência istmocervical?
Não. O diagnóstico deve ser individualizado e baseado no conjunto de sinais.
7. Preciso fazer repouso absoluto após a cerclagem?
Na maioria dos casos, não. A gestante pode levar vida quase normal com orientações médicas.
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