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DOENÇAS & CONDIÇÕES

Insuficiência cardíaca: o que é, sintomas, causas e tratamento

Os sintomas podem variar conforme o grau de comprometimento do coração, mas envolvem especialmente falta de ar e cansaço constante

Dr. Giovanni Henrique Pinto

Dr. Giovanni Henrique Pinto

5min • 9 de nov. de 2025

Idoso sentado no sofá com expressão de dor e a mão no peito, indicando falta de ar ou desconforto causado por insuficiência cardíaca.

Normalmente, a insuficiência cardíaca surge como consequência de outros problemas de saúde que danificam o músculo cardíaco ao longo do tempo | Foto: Freepik

No Brasil, cerca de dois milhões de pessoas convivem com insuficiência cardíaca — e cerca de 240 mil novos casos surgem a cada ano, segundo o Ministério da Saúde. A condição, que acontece quando o coração perde a capacidade de bombear o sangue de forma eficiente, está entre as principais causas de internações hospitalares em adultos acima de 60 anos.

Apesar de ser progressiva, com o diagnóstico precoce e um tratamento adequado, é possível controlar os sintomas, reduzir o risco de complicações e ter uma vida com qualidade. Conversamos com um especialista para te explicar os principais detalhes sobre a insuficiência cardíaca.

O que é insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca, que também pode ser chamada de insuficiência cardíaca congestiva, acontece quando o músculo cardíaco não consegue bombear sangue de maneira adequada para atender à demanda dos tecidos do corpo. Quando isso acontece, há um fluxo sanguíneo insuficiente para levar oxigênio e nutrientes a órgãos e músculos.

Para entender melhor, o coração é composto por quatro câmaras (dois átrios e dois ventrículos), que trabalham em conjunto para bombear sangue para todo o organismo. Quando existe alguma falha no mecanismo, o sangue pode se acumular nos pulmões, nas pernas e em outras partes do corpo, levando ao surgimento de sintomas como falta de ar, cansaço extremo e inchaço.

De acordo com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto, a condição pode ocorrer porque o músculo cardíaco está enfraquecido, rígido ou lesionado — o que compromete a força e o enchimento do coração a cada batimento.

Como classificar a insuficiência cardíaca?

A insuficiência cardíaca pode ser classificada de diferentes formas, de acordo com a parte do coração afetada e a gravidade da condição:

Insuficiência cardíaca esquerda: acontece quando o ventrículo esquerdo, que envia sangue para todo o corpo, perde força e não consegue manter o fluxo adequado, provocando acúmulo de líquido nos pulmões e falta de ar;

Insuficiência cardíaca direita: surge quando o ventrículo direito, responsável por bombear sangue para os pulmões, passa a funcionar com menor eficiência, levando à retenção de líquidos nas pernas, tornozelos e abdômen;

Insuficiência cardíaca sistólica: ocorre quando o coração perde a capacidade de se contrair com força suficiente, reduzindo a quantidade de sangue que é expulsa a cada batimento;

Insuficiência cardíaca diastólica: caracteriza-se pela dificuldade do músculo cardíaco em relaxar após a contração, o que impede o enchimento adequado das câmaras e compromete o volume de sangue que será bombeado.

“Na maioria das vezes, ela se desenvolve lentamente, ao longo de meses ou anos, especialmente em pessoas com pressão alta ou doenças cardíacas prévias. Porém, pode surgir de forma aguda, por exemplo, após um infarto ou infecção grave, quando o coração descompensa rapidamente”, explica Giovanni.

Causas da insuficiência cardíaca

Normalmente, a insuficiência cardíaca surge como consequência de outros problemas de saúde que danificam o músculo cardíaco ao longo do tempo, como:

Infarto do miocárdio: quando ocorre um infarto, parte do músculo cardíaco sofre necrose (morte das células) devido à falta de oxigênio. Isso reduz a força de contração do coração e pode gerar falhas permanentes;

Hipertensão arterial não controlada: a pressão alta força o coração a trabalhar com mais intensidade, o que provoca espessamento e rigidez das paredes cardíacas. Com o tempo, o músculo enfraquece e perde a capacidade de bombear sangue com eficiência;

Doenças das válvulas cardíacas: as válvulas são responsáveis por regular o fluxo de sangue dentro do coração. Quando estão danificadas, o sangue pode voltar para câmaras anteriores (refluxo) ou encontrar dificuldade para avançar (estenose);

Miocardites: são inflamações do músculo cardíaco que podem surgir após infecções virais, bacterianas ou reações autoimunes. A inflamação compromete a força de contração do coração, reduzindo sua capacidade de bombear sangue adequadamente;

Miocardiopatias genéticas ou tóxicas: incluem alterações hereditárias que afetam diretamente a estrutura e o funcionamento do músculo cardíaco, bem como danos causados por substâncias tóxicas, como o álcool e alguns medicamentos quimioterápicos.

Segundo Giovanni, o envelhecimento e a presença de algumas condições metabólicas, como diabetes e obesidade, também aumentam o risco de insuficiência cardíaca.

Quais os sintomas de insuficiência cardíaca?

Os sintomas da insuficiência cardíaca podem variar de acordo com o grau de comprometimento do coração e a velocidade de evolução da doença. No início, eles são discretos e facilmente confundidos com sinais de cansaço ou estresse, mas tendem a piorar com o tempo. Entre os mais comuns, é possível destacar:

Falta de ar;

Fadiga e fraqueza;

Inchaço nas pernas, tornozelos e pés;

Batimento cardíaco rápido ou irregular;

Capacidade reduzida de exercício ou atividades regulares;

Chiado no peito;

Inchaço na região da barriga;

Náuseas e falta de apetite;

Dificuldade de concentração ou diminuição do estado de alerta;

Dor no peito, se a insuficiência cardíaca for causada por um ataque cardíaco.

“A falta de ar pode surgir nos esforços e, em casos mais avançados, até em repouso ou ao deitar. O inchaço costuma aparecer no fim do dia, com sensação de peso nas pernas e sapatos apertados. O cansaço vem da menor oxigenação muscular. Também é comum o aumento de peso repentino por acúmulo de líquido e a necessidade de urinar mais à noite”, completa Giovanni.

Existem fatores de risco?

Os principais fatores de risco para insuficiência cardíaca são:

Hipertensão arterial;

Doenças coronarianas e infarto prévio;

Diabetes;

Colesterol alto e obesidade;

Sedentarismo;

Tabagismo e consumo frequente de álcool;

Apneia do sono, que provoca quedas de oxigênio durante o sono, sobrecarregando o coração;

Histórico familiar de doenças cardíacas;

Idade avançada, pois o risco aumenta após os 60 anos, pois o músculo cardíaco tende a se tornar mais rígido e menos eficiente.

Como é feito o diagnóstico de insuficiência cardíaca

O diagnóstico de insuficiência cardíaca é baseado na avaliação clínica detalhada e em exames complementares que verificam o funcionamento do coração. No exame físico, o especialista pode observar a presença de inchaço, ruídos pulmonares e frequência cardíaca.

Entre os principais exames solicitados, Giovanni aponta:

Eletrocardiograma, que avalia o ritmo e a atividade elétrica do coração;

Ecocardiograma, que permite observar o funcionamento do músculo cardíaco e das válvulas;

Exames de sangue, como o BNP e o NT-proBNP.

Em alguns casos, o médico pode solicitar exames complementares, como raio-X de tórax, teste ergométrico, angiotomografia de coronárias e ressonância magnética cardíaca.

Vale destacar que o diagnóstico precoce é fundamental para evitar complicações graves. Quanto antes a insuficiência é identificada, maiores são as chances de preservar a função cardíaca.

Quando procurar um médico?

Procure atendimento médico imediato se você sentir os seguintes sintomas:

Dor no peito;

Desmaio ou fraqueza severa;

Batimento cardíaco rápido ou irregular com falta de ar, dor no peito ou desmaio;

Falta de ar repentina e grave e tosse com muco espumoso branco ou rosa.

Tratamento para insuficiência cardíaca

O tratamento de insuficiência cardíaca envolve diversas abordagens para melhorar os sintomas, retardar a progressão da doença e reduzir o risco de complicações.

Remédios para insuficiência cardíaca

Os remédios são prescritos para melhorar o funcionamento do coração, aliviar sintomas e aumentar a qualidade e a expectativa de vida. Eles ajudam o coração a bombear o sangue de forma mais eficiente e reduzem a sobrecarga sobre o órgão.

De acordo com Giovanni, são combinadas medicações específicas, como:

Betabloqueadores;

Inibidores da ECA (como Enalapril);

Bloqueadores dos receptores de angiotensina – BRA (como Losartana);

ARNI (como Sacubitril-valsartana);

Antagonistas da aldosterona (como Espironolactona);

Inibidores de SGLT2 (como Dapagliflozina).

Somente um médico pode indicar o uso desses medicamentos. A automedicação é perigosa e pode agravar o quadro cardíaco, por isso, antes de iniciar qualquer tratamento, consulte um especialista.

Mudanças no estilo de vida

Como a insuficiência cardíaca muitas vezes está relacionada a fatores como pressão alta, diabetes e sedentarismo, adotar hábitos saudáveis no dia a dia é necessário para reduzir o risco de agravamento do quadro e controlar a doença, como:

Reduzir o consumo de sal nas refeições;

Manter uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras e grãos integrais;

Praticar atividade física, com orientação médica;

Evitar o cigarro e o consumo de bebidas alcoólicas;

Controlar o peso corporal e o índice de massa corporal (IMC);

Monitorar a pressão arterial e o nível de glicose com regularidade;

Dormir bem e respeitar os horários de descanso;

Tomar corretamente os medicamentos prescritos;

Fazer acompanhamento médico periódico.

Cirurgias e outros procedimentos

Em alguns casos, o tratamento da insuficiência cardíaca pode incluir cirurgias ou dispositivos que ajudam o coração a funcionar melhor — e as opções são indicadas pelo cardiologista de acordo com a causa e a gravidade da doença.

Cirurgia de revascularização do miocárdio (ponte de safena): indicada quando há artérias coronárias bloqueadas. O procedimento cria um novo caminho para o sangue fluir até o coração, melhorando o aporte de oxigênio ao músculo cardíaco;

Reparo ou substituição de válvula cardíaca: recomendada quando uma válvula danificada está prejudicando o fluxo de sangue. Pode ser feita por cirurgia aberta ou técnica minimamente invasiva;

Cardiodesfibrilador implantável (CDI): dispositivo colocado sob a pele que monitora os batimentos e aplica choques elétricos quando o coração entra em ritmo perigoso, prevenindo paradas cardíacas;

Terapia de ressincronização cardíaca (TRC): é usado um aparelho que envia impulsos elétricos para sincronizar as contrações das câmaras inferiores do coração, melhorando o bombeamento do sangue;

Dispositivo de assistência ventricular (DAV): consiste em um equipamento mecânico que ajuda o coração a bombear o sangue, usado enquanto o paciente aguarda um transplante ou como tratamento definitivo em casos graves;

Transplante cardíaco: indicado quando o coração está muito enfraquecido e não responde mais a medicamentos ou outros tratamentos. O procedimento substitui o órgão por um coração saudável de doador.

Os procedimentos são indicados apenas após uma avaliação criteriosa, e a escolha depende do estado clínico e das necessidades de cada paciente.

Insuficiência cardíaca tem cura?

A insuficiência cardíaca, na maioria das vezes, é uma condição crônica e não tem uma cura definitiva, mas é possível controlar o quadro e levar uma vida com qualidade.

“Quando o paciente segue o tratamento e mantém acompanhamento regular com o cardiologista, é possível ter boa qualidade de vida e controle dos sintomas. Hoje, com as novas terapias e dispositivos (como ressincronizadores e desfibriladores), muitos pacientes vivem por muitos anos de forma estável”, esclarece Giovanni.

Como prevenir a insuficiência cardíaca?

A prevenção está diretamente relacionada à adoção de um estilo de vida saudável e ao controle das doenças que prejudicam o coração. Algumas medidas importantes incluem:

Controlar a pressão arterial;

Manter níveis adequados de colesterol e glicose;

Evitar o tabagismo e reduzir o consumo de álcool;

Adotar uma alimentação equilibrada, rica em frutas, legumes, verduras, grãos integrais e proteínas magras;

Praticar atividade física regularmente;

Controlar o peso corporal;

Realizar consultas médicas periódicas;

Evitar automedicação.

“Em quem já tem o diagnóstico, essas medidas — somadas ao uso correto dos remédios — são essenciais para evitar descompensações e hospitalizações”, finaliza Giovanni.

Veja mais: Síndrome do coração partido: o que é, sintomas, riscos e como diferenciar do infarto

Perguntas frequentes

A insuficiência cardíaca é a mesma coisa que ataque cardíaco?

Não! O ataque cardíaco, também conhecido como infarto do miocárdio, acontece quando o fluxo de sangue que chega a uma parte do músculo cardíaco é interrompido, geralmente por um coágulo que obstrui uma artéria coronária. Quando isso ocorre, as células cardíacas daquela região começam a morrer por falta de oxigênio.

Já a insuficiência cardíaca é o resultado da incapacidade do coração de bombear sangue de maneira eficiente para o resto do corpo. Em alguns casos, um infarto pode causar danos permanentes ao músculo cardíaco e evoluir para um quadro de insuficiência, mas são eventos diferentes.

Enquanto o infarto é um episódio agudo, a insuficiência é uma condição crônica que precisa de acompanhamento prolongado.

Quais os primeiros sinais de insuficiência cardíaca que devem gerar preocupação?

Os sintomas iniciais de insuficiência cardíaca costumam ser discretos e passam despercebidos por muito tempo. O sintoma mais comum é a falta de ar, principalmente ao subir escadas ou realizar pequenas atividades — além de inchaço nos pés e tornozelos, resultado da retenção de líquidos.

Também é importante observar cansaço excessivo, ganho de peso rápido (devido à retenção de líquidos), dificuldade para dormir deitado e batimentos acelerados. Quando esses sintomas aparecem juntos e persistem, é necessário procurar um cardiologista o quanto antes.

O estresse pode causar insuficiência cardíaca?

O estresse, por si só, não costuma causar insuficiência cardíaca, mas é um fator que contribui para o surgimento de doenças cardíacas. Em situações de tensão prolongada, o corpo libera hormônios como a adrenalina e o cortisol, que aumentam a pressão arterial e aceleram o ritmo cardíaco.

Quando o estresse se torna crônico, ele prejudica a saúde do coração, favorecendo hipertensão, inflamações e até o estreitamento das artérias. Além disso, pessoas estressadas tendem a adotar hábitos que fazem mal à saúde, como fumar, ingerir álcool ou exagerar em alimentos ultraprocessados — fatores que, combinados, aumentam o risco de insuficiência cardíaca.

Pessoas com insuficiência cardíaca podem engravidar?

A gravidez em mulheres com insuficiência cardíaca exige avaliação médica rigorosa. Durante a gestação, o corpo precisa de mais sangue e oxigênio para nutrir o bebê, o que aumenta o esforço do coração.

Nos casos leves e bem controlados, é possível ter uma gestação segura com acompanhamento conjunto de cardiologista e obstetra especializado em gravidez de alto risco. Quando a insuficiência cardíaca é mais grave, a gestação pode representar riscos significativos para a mãe e para o bebê, por isso é importante avaliar cuidadosamente cada situação.

O planejamento familiar, feito com orientação médica e acolhimento, ajuda o casal a tomar decisões com segurança.

Existe alguma dieta recomendada para quem tem insuficiência cardíaca?

Sim! A dieta de pessoas com insuficiência cardíaca deve ser rica em frutas, verduras, legumes, grãos integrais, peixes e carnes magras, priorizando alimentos frescos e naturais. O consumo de sal também deve ser reduzido ao mínimo possível.

Por fim, é importante limitar alimentos ultraprocessados, enlatados, refrigerantes e doces, que favorecem a retenção de líquidos e aumento de peso. A ingestão de líquidos pode precisar ser controlada, dependendo do grau da insuficiência — sempre sob orientação médica e nutricional.

Quem tem insuficiência cardíaca pode beber álcool?

O consumo de álcool deve ser evitado por pessoas que têm insuficiência cardíaca, pois o álcool sobrecarrega o músculo cardíaco, interfere na ação dos medicamentos e favorece a retenção de líquidos. Além disso, ele pode provocar arritmias e aumentar a pressão arterial, o que agrava o quadro.

Quem tem insuficiência pode trabalhar?

Sim, é possível trabalhar tendo insuficiência cardíaca, mas isso varia conforme o estágio da doença e o tipo de atividade exercida. Quando o quadro está controlado e os sintomas são leves, o trabalho pode ser mantido, desde que haja acompanhamento médico regular e, se necessário, pequenas adaptações na rotina.

Porém, em casos em que a limitação física é maior e o esforço causa fadiga, falta de ar ou inchaço, pode ser indicado o afastamento temporário. Se a condição evoluir e impedir definitivamente o desempenho das funções, o trabalhador pode ter direito a benefícios previdenciários, como auxílio-doença ou aposentadoria por invalidez concedida pelo INSS.

Veja mais: 7 erros comuns que atrapalham a saúde do coração

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Escrito por Dr. Giovanni Henrique Pinto

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