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Imunoterapia: a estratégia que transforma o corpo em arma contra o câncer
Tratamento já mudou a vida de pacientes em todo o mundo e mostra que o sistema imunológico pode ser poderoso no combate aos tumores

Dr. Thiago Chadid
5min • 8 de set. de 2025

Nos últimos anos, a imunoterapia deixou de ser apenas uma promessa de laboratório para se tornar uma das maiores revoluções no tratamento do câncer. Essa terapia abriu caminho para resultados melhores em tumores até então de difícil controle, como o melanoma e o câncer de pulmão, e trouxe novas perspectivas a médicos e pacientes em todo o mundo.
Em paralelo, também despertou debates sobre custos, acesso e sobre como selecionar os pacientes que realmente vão se beneficiar dessa estratégia. Mas afinal, o que diferencia a imunoterapia dos tratamentos tradicionais, como a quimioterapia e a radioterapia? Quais são seus limites e até onde ela pode avançar nos próximos anos?
O oncologista Thiago Chadid explica em detalhes como a imunoterapia funciona e o que já se sabe sobre sua eficácia.
O que é imunoterapia e como ela se diferencia da quimioterapia
A imunoterapia é uma modalidade de tratamento, uma linha de terapias. Para entender a diferença para a quimioterapia, é preciso olhar para os métodos tradicionais.
“A quimioterapia age diretamente nas células do câncer. Em alguns casos, faz com que elas morram. Em outros, impede que continuem se multiplicando”, explica o oncologista.
Além da quimioterapia, existem os chamados medicamentos alvo, que bloqueiam sinais internos usados pelas células para crescer, e os biológicos, que funcionam como uma espécie de trava nos receptores das células, explica o médico.
Já a imunoterapia age de um jeito diferente, porque não vai direto nas células do câncer, ela age no sistema de defesa do próprio corpo. Para entender melhor, o câncer muitas vezes consegue enganar essas células de defesa e se esconder delas.
“É como se o tumor colocasse uma capa de invisibilidade, usando proteínas que confundem o sistema imunológico”, explica o médico. Os principais “truques” usados pelo câncer são duas proteínas chamadas CTLA-4 e PD-L1, que funcionam como botões de liga e desliga para as defesas do organismo.
A imunoterapia age justamente bloqueando essas proteínas, ou seja, tira a “capa” que esconde o câncer. Assim, as células de defesa do próprio corpo conseguem voltar a reconhecer os tumores como inimigos e passam a atacá-los.
Em quais tipos de câncer a imunoterapia funciona melhor
Os resultados da imunoterapia não foram iguais em todos os tumores. “Em tumores como melanoma e câncer de pulmão, a resposta foi impressionante. Já em pâncreas ou vias biliares, não funcionou bem”, conta o médico.
Isso acontece porque a eficácia depende da diferença entre a célula tumoral e a normal.
“Quanto mais diferente, mais fácil do sistema imunológico reconhecer e atacar. Em alguns casos, como no câncer de mama, o tumor se parece demais com a célula normal, e aí a imunoterapia não funciona”.
Outro desafio é o ambiente tumoral. “Há tumores que secretam substâncias no tecido ao redor deles que ‘paralisam’ as células de defesa, como se fosse um gás paralisante”, explica.
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Imunoterapia isolada ou em combinação com a quimioterapia?
A resposta depende do tipo de tumor. “Em alguns tumores, como melanoma e certos tipos de câncer de pulmão ou de rim, só a imunoterapia já é suficiente para o tratamento”, explica Chadid.
Mas há casos em que a combinação com quimioterapia é essencial. “A quimioterapia destrói células tumorais e libera proteínas que ajudam o sistema imunológico a reconhecer melhor o que é câncer. Então, às vezes, só tirar o ‘disfarce’ do tumor não basta, é preciso também dar pistas ao sistema imunológico”.
Hoje, essa associação é bastante usada em tumores ginecológicos (endométrio, colo de útero e ovário), além de câncer de bexiga e alguns casos de câncer de rim.
Efeitos colaterais da imunoterapia
Os efeitos colaterais são bem diferentes da quimioterapia.
“Como a imunoterapia tira o freio do sistema imunológico, os efeitos adversos são reações autoimunes. O sistema de defesa do corpo pode atacar células saudáveis por engano”, diz o médico.
Entre eles estão:
- Pneumonite (inflamação do pulmão);
- Nefrite (inflamação nos rins);
- Tireoidite (inflamação na tireoide);
- Colite (inflamação no intestino grosso);
- Diabetes.
“A frequência varia, mas em geral é baixa: pneumonite aparece em 2% a 5% dos casos, tireoidite em menos de 1%. Ou seja, são raros, mas quando acontecem precisam ser tratados”, alerta.
O tratamento, nesses casos, envolve a suspensão temporária da imunoterapia e uso de corticoides. “Em casos muito graves, ela precisa ser suspensa definitivamente”.
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Perguntas frequentes sobre imunoterapia contra o câncer
1. O que é imunoterapia?
É uma forma de tratamento que estimula o sistema imunológico a reconhecer e atacar células cancerígenas.
2. Em quais tipos de câncer a imunoterapia é mais eficaz?
Segundo o oncologista Thiago Chadid, funciona melhor em melanoma e câncer de pulmão, enquanto tem baixa eficácia em tumores como pâncreas ou vias biliares.
3. A imunoterapia pode ser usada sozinha?
Sim, em alguns tumores, como melanoma e alguns tipos de câncer de pulmão. Em outros, é combinada com quimioterapia ou, se for o caso, não se usa.
4. Quais são os efeitos colaterais da imunoterapia?
Podem ocorrer reações autoimunes, como inflamação no pulmão, intestino, tireoide e rins.
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