Logo Propor

MÃES, PAIS & BEBÊS

Gravidez e coração: o que muda e quais são os riscos

Entenda por que o coração trabalha mais na gravidez, os sinais de alerta e como prevenir pressão alta e outras complicações cardiovasculares

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 5 de ago. de 2025

Gravidez e coração: o que muda e quais são os riscos

Durante a gravidez, o corpo da mulher entra em um modo de trabalho intenso. O coração bate mais rápido, os vasos se adaptam, o volume de sangue aumenta, tudo para garantir que o bebê receba oxigênio e nutrientes. Essa maratona, porém, não acontece sem esforço: o coração precisa acompanhar o ritmo, e qualquer desequilíbrio pode gerar riscos.

É por isso que é importante cuidar da saúde cardiovascular na gravidez. Venha entender o que muda durante a gestação e quais são os cuidados que você deve tomar quando estiver grávida.

O que muda no coração durante a gestação

A partir do segundo trimestre, o volume de sangue no corpo da gestante pode aumentar de 30% até 50%. Isso força o coração a bombear mais e mais rápido, por isso a saúde do coração na gravidez precisa estar em dia.

A cardiologista Juliana Aparecida Soares, que integra o corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que, durante a gestação, o coração da mulher passa a trabalhar até 50% mais do que o normal. Isso acontece porque ele precisa bombear mais sangue a cada batida e também bate mais rápido.

“Para acomodar esse aumento, a resistência dos vasos sanguíneos periféricos diminui, o que permite que a pressão arterial se mantenha relativamente estável, mesmo com mais sangue circulando pelo corpo”, descreve ela.

Quando a pressão alta se torna um risco

Em algumas mulheres, esse esforço todo pode sair do controle. A pressão sobe demais, surgem dores de cabeça, inchaços e outros sinais de alerta. A pressão alta gestacional e a pré-eclâmpsia são complicações sérias.

“O tratamento envolve monitoramento rigoroso, medicação anti-hipertensiva segura e, em algumas situações, hospitalização para proteger a mamãe e o bebê”, diz Juliana.

O que é pré-eclâmpsia e por que ela pode aumentar a pressão na gravidez

A pré-eclâmpsia é uma complicação da gravidez caracterizada por pressão arterial elevada (acima de 140/90 mmHg) após a 20ª semana de gestação, frequentemente acompanhada de proteína na urina.

De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), estima-se que a pré-eclâmpsia atinja 1,5% das gestantes no Brasil.

Entendendo a síndrome HELLP

A síndrome de HELLP é uma condição grave que pode surgir na gravidez, caracterizada por alterações no fígado e no sangue, e geralmente está ligada à pressão alta. Ela oferece riscos à mãe e ao bebê. Pode aparecer junto com a pré-eclâmpsia.

De forma simples, ela acontece quando o corpo da gestante começa a destruir suas células do sangue, o fígado passa a funcionar mal e as plaquetas, que ajudam a estancar sangramentos, ficam muito baixas. Isso tudo deixa a gestante mais vulnerável a sangramentos, dores fortes e outros riscos sérios, exigindo cuidados médicos urgentes.

Outro risco grave é o descolamento da placenta antes da hora, o que pode comprometer a oxigenação e a nutrição do bebê.

Em alguns casos, o único jeito de proteger a saúde da gestante e do bebê é antecipar o parto. E quando a pré-eclâmpsia evolui para eclâmpsia, a gestante pode ter convulsões, o que representa uma emergência médica. Por isso, o acompanhamento do pré-natal e o controle da pressão são tão importantes.

5 fatores de risco para doenças cardíacas na gravidez

Algumas coisas aumentam o risco de problemas no coração durante e depois da gravidez:

  • Primeira gravidez após os 35 anos
  • Sobrepeso ou obesidade
  • Histórico familiar de hipertensão
  • Diabetes gestacional
  • Valvopatias, que são doenças nas válvulas do coração

Mulheres que já têm doenças cardíacas antes de engravidar, como problemas nas válvulas, devem conversar com o cardiologista antes mesmo de engravidar. O risco de arritmia, insuficiência cardíaca e trombose é maior, e o acompanhamento precisa ser conjunto entre obstetra e cardiologista.

Riscos que vão além da gravidez

Os riscos cardíacos da gestação podem perdurar mesmo depois do bebê ter nascido. Quem teve pressão alta na gestação, por exemplo, precisa ficar atenta mesmo que a pressão volte ao normal após o parto. Mulheres que tiveram essa condição na gravidez têm mais chance de desenvolver pressão alta crônica, infarto e AVC no futuro.

“O período entre o final da atenção obstétrica e o início de sintomas de hipertensão crônica representa uma janela crítica de oportunidade para intervenções preventivas, e isso é frequentemente negligenciado”, alerta a médica.

Ao longo da gestação, a pressão arterial pode diminuir nos dois primeiros trimestres e voltar a subir no terceiro.

A recomendação atual é de que essas mulheres façam acompanhamento anual com cardiologista, meçam pressão, colesterol, glicemia e recebam orientações sobre alimentação, atividade física e controle do peso.

Como prevenir complicações cardiovasculares na gravidez

Para manter o coração saudável durante e após a gravidez, vale seguir essas dicas:

  • Tenha uma alimentação equilibrada;
  • Mantenha o peso adequado;
  • Faça exercícios físicos regulares, com orientação médica;
  • Controle a pressão arterial;
  • Não fume ou beba bebida alcoólica;
  • Não ignore sintomas como dores de cabeça, visão turva, falta de ar ou inchaço excessivo.

Por que a atenção continua após o parto

Muita gente acha que os cuidados terminam com o nascimento do bebê, mas não é bem assim. Estudos mostram que o número de filhos, por exemplo, pode influenciar o risco de problemas cardíacos. Ter muitos filhos (cinco ou mais) ou nenhum pode aumentar as chances de infarto e AVC.

A infertilidade também entra na conta, pois pode estar ligada a condições como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), que aumentam o risco de doenças cardíacas.

Amamentar protege o coração

Amamentar não é só bom para o bebê. O aleitamento materno prolongado ajuda a proteger o coração da mãe. Ele está associado a menor risco de hipertensão e diabetes tipo 2 no futuro.

Perguntas frequentes sobre saúde cardiovascular na gravidez

1. É normal a pressão cair nos primeiros meses da gestação?

Sim. Nos dois primeiros trimestres, a pressão tende a baixar um pouco, mas volta a normalizar no final da gravidez. Se ficar alta, porém, é preciso fazer acompanhamento médico específico para pressão alta.

2. Ter hipertensão na gravidez significa que terei pressão alta para sempre?

Nem sempre, mas a hipertensão gestacional aumenta bastante o risco. Por isso, o acompanhamento deve continuar mesmo após o parto.

3. Toda mulher com pressão alta na gravidez desenvolve pré-eclâmpsia?

Não, mas é um risco real. Por isso, o pré-natal é tão importante para monitorar e intervir quando necessário.

4. É perigoso engravidar com problema no coração?

Depende do tipo e do controle da doença. É essencial conversar com o médico antes de engravidar.

5. Posso continuar a praticar exercícios na gravidez?

Sim, mas sempre com liberação médica. Atividades leves e regulares ajudam a manter o coração saudável.

Inscreva-se em nossa newsletter

Receba semanalmente as últimas notícias da área da saúde, cuidado e bem estar.

Foto de Dra. Juliana Soares

Escrito por Dra. Juliana Soares

Especialidades/Área de atuação

Cardiologista - CRM/SP 133.846

Group Companies
Waves