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Gravidez depois dos 35 anos é perigoso? Conheça os riscos e os cuidados necessários

A maioria das mulheres tem uma gestação tranquila quando mantém acompanhamento médico e hábitos saudáveis de vida.

Dra. Andreia Sapienza

Dra. Andreia Sapienza

5min • 9 de dez. de 2025

Gestante acariciando a barriga enquanto descansa perto da janela, mostrando tranquilidade durante a gravidez tardia.

Com a a idade, os riscos de complicações maternas aumentam, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional | Foto: Freepik

Por uma série de motivos, desde a busca por estabilidade profissional até mudanças nas expectativas culturais, muitas mulheres estão postergando a maternidade para uma faixa etária mais avançada. Desde 2006, o Brasil apresenta índices abaixo da reposição populacional — e a tendência de ter filhos mais tarde acompanha esse movimento.

Mas afinal, o que define a idade materna avançada? Segundo a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza, o marco usado atualmente é a partir dos 35 anos. Depois dessa idade, o óvulo passa por um processo natural de envelhecimento celular, o que aumenta a chance de erros durante a divisão cromossômica e, consequentemente, o risco de alterações genéticas no bebê.

Além disso, os riscos de complicações maternas também aumentam, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional. Por isso, a gravidez tardia é considerada pelo Ministério da Saúde como uma gestação de risco, e demanda de alguns cuidados para preservar a saúde e o bem-estar da mãe e do bebê.

O que acontece com o corpo após os 35 anos de idade?

A partir dos 35 anos, o corpo feminino passa por mudanças naturais que afetam a fertilidade e o modo como a gravidez se desenvolve. A qualidade dos óvulos diminui de forma progressiva, porque cada célula ovariana envelhece ao longo da vida, acumulando pequenos danos que podem interferir na divisão cromossômica.

A chance de ocorrer uma alteração genética aumenta justamente porque o óvulo precisa realizar um processo complexo de divisão para gerar um embrião saudável.

A redução do número de óvulos também se torna mais acelerada após os 35, o que faz com que o ciclo menstrual possa variar e, em alguns momentos, ocorrer um mês sem ovulação. A fertilidade não desaparece, mas exige mais do organismo para manter o mesmo padrão de antes.

O corpo, por outro lado, também apresenta maior probabilidade de conviver com condições crônicas, como hipertensão, diabetes ou alterações da tireoide, que tendem a surgir conforme o envelhecimento natural avança.

O impacto das condições na gestação é relevante porque elas podem alterar o fluxo sanguíneo para a placenta, modificar a pressão arterial ou aumentar a chance de complicações obstétricas.

A musculatura do útero e a elasticidade dos tecidos pélvicos passam por mudanças discretas ao longo do tempo, o que pode influenciar a evolução do trabalho de parto. O metabolismo também se torna um pouco mais lento, e o risco de ganho de peso involuntário aumenta, algo que interfere diretamente na saúde reprodutiva.

Vale ressaltar que isso não significa que a gestação será problemática, mas que o cuidado precisa ser mais intenso. Diversas mulheres engravidam de forma saudável depois dos 35, desde que exista acompanhamento médico adequado, controle das condições clínicas e hábitos que favoreçam o bem-estar físico e emocional.

Quais os riscos da gravidez tardia?

A gravidez depois dos 35 anos pode ser totalmente saudável, mas o corpo passa por mudanças naturais que aumentam algumas chances de complicações, como apontam estudos:

  • A qualidade do óvulo diminui ao longo do tempo, o que aumenta a probabilidade de alterações cromossômicas no bebê. A trissomia do cromossomo 21 (síndrome de Down) é um exemplo que se torna mais frequente conforme a idade materna avança;
  • Risco de aborto espontâneo aumenta, porque um óvulo mais envelhecido tem maior chance de apresentar falhas na divisão celular, impedindo o desenvolvimento adequado do embrião;
  • Pressão alta tende a surgir com mais frequência, já que a probabilidade de hipertensão crônica cresce com o passar dos anos. A pré-eclâmpsia, que é uma forma grave de hipertensão na gestação, também se torna mais comum;
  • Diabetes gestacional aparece com mais facilidade, porque o metabolismo muda e o corpo pode ter mais dificuldade para controlar os níveis de glicose durante a gravidez;
  • Placenta pode apresentar alterações, como menor eficiência na passagem de oxigênio e nutrientes, o que favorece crescimento fetal abaixo do esperado;
  • Presença de doenças prévias, como problemas da tireoide, cardiopatias ou doenças autoimunes, é mais comum com o avançar da idade, o que exige acompanhamento mais próximo.

É importante lembrar que o envelhecimento reprodutivo não é exclusivo das mulheres. À medida que os homens ficam mais velhos, os testículos também passam por mudanças estruturais e funcionais, o que pode afetar a qualidade do esperma.

A produção de espermatozoides ocorre continuamente ao longo da vida, mas o processo também fica mais sujeito a falhas com o passar do tempo.

Como deve ser o pré-natal da gravidez tardia?

O pré-natal deve começar assim que a mulher descobrir a gravidez. Não é preciso esperar completar semanas específicas ou ter o primeiro ultrassom para iniciar o acompanhamento.

Quanto mais cedo o pré-natal começar, maiores são as chances de identificar fatores de risco, corrigir deficiências nutricionais, ajustar medicamentos e orientar mudanças de estilo de vida que fazem diferença no desenvolvimento do bebê.

Ele segue a mesma estrutura aplicada a qualquer gestação, mas com um olhar mais cuidadoso. Os exames não mudam, mas a avaliação clínica precisa ser ainda mais detalhada, já que aumenta a chance de a mulher apresentar alguma condição associada, segundo Andreia.

Por isso, a anamnese é feita com mais atenção para identificar sinais de hipertensão, diabetes, alterações da tireoide ou outras comorbidades que podem surgir com mais frequência após os 35 anos.

Gestantes com mais de 35 anos podem ter parto normal?

A via de parto (normal ou cesárea) depende da avaliação individual de riscos e condições de saúde da mãe e do bebê. A idade materna avançada, por si só, não impede um parto vaginal. Contudo, Andreia explica que a probabilidade de cesariana tende a aumentar com a idade por dois motivos principais:

  • O bebê pode apresentar uma malformação que exige parto cirúrgico. Isso acontece quando alguma alteração estrutural impede a passagem segura pelo canal de parto ou quando há risco de sofrimento fetal durante o trabalho de parto;
  • A anatomia materna já está mais madura, o que pode dificultar o trabalho de parto. Observamos, por exemplo, maior incidência de desproporção cefalopélvica (quando a cabeça do bebê não se ajusta bem à bacia materna) e menor flexibilidade das articulações da pelve, algo que ocorre naturalmente com o passar dos anos.

Durante o pré-natal, a gestante precisa receber informações claras sobre os riscos e benefícios de cada tipo de parto. O médico vai orientar e ajudar na decisão, sempre levando em conta o que é mais seguro para a mãe e para o bebê naquele momento da gestação.

Vale ressaltar que a cesárea a pedido da paciente é permitida no Brasil, mas, por resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), só pode ser realizada a partir de 39 semanas completas de gestação, para evitar complicações respiratórias no recém-nascido.

Cuidados para ter uma gravidez saudável

Uma gravidez saudável depende de uma série de cuidados simples, que ajudam o corpo a passar por todas as mudanças da gestação com mais segurança:

  • Manter alimentação variada, fresca e equilibrada, priorizando preparações simples, porções regulares e alimentos ricos em vitaminas e minerais para apoiar o desenvolvimento do bebê e manter energia materna ao longo do dia;
  • Praticar atividade física regular liberada pelo obstetra, escolhendo exercícios seguros, como caminhada, hidroginástica ou yoga, que ajudam na circulação, no controle do peso e na redução de dores;
  • Manter a suplementação de ácido fólico conforme orientação profissional, garantindo níveis adequados do nutriente para a formação do tubo neural e para a prevenção de malformações;
  • Controlar doenças pré-existentes, como hipertensão, diabetes e alterações da tireoide, mantendo consultas frequentes e ajustes de medicação sempre que necessário;
  • Evitar cigarro e álcool, protegendo a placenta e reduzindo riscos como parto prematuro, baixo peso ao nascer e complicações respiratórias;
  • Usar medicamentos somente com orientação médica, respeitando as categorias de segurança e evitando substâncias que possam atravessar a placenta;
  • Manter sono adequado e rotina de descanso, permitindo que o corpo se recupere das alterações hormonais e físicas próprias da gestação;
  • Reduzir estresse com técnicas de relaxamento, apoio psicológico, atividades prazerosas e organização da rotina, já que o bem-estar emocional influencia diretamente o conforto materno;
  • Manter peso adequado antes e durante a gestação, acompanhando o ganho de peso ideal em cada trimestre para diminuir riscos metabólicos e obstétricos;
  • Hidratar o corpo ao longo do dia, consumindo água em quantidades suficientes para favorecer o volume sanguíneo aumentado da gestação e prevenir constipação, inchaço e tonturas.

A gestante deve manter todas as consultas com o médico ao longo do pré-natal, porque é durante essas visitas que o profissional acompanha o crescimento do bebê, avalia a pressão arterial, monitora exames de sangue e urina e identifica precocemente qualquer alteração que possa exigir cuidados adicionais.

Confira: ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

Perguntas frequentes

Grávida pode fazer atividade física?

A prática de exercícios é recomendada para a maioria das gestantes, desde que liberada pelo obstetra. A atividade regular melhora a circulação, reduz dores lombares, auxilia no controle do peso, diminui riscos de diabetes gestacional e contribui para o bem-estar emocional.

A orientação é dar preferência a caminhadas, hidroginástica, alongamentos e yoga, sempre com intensidade moderada. A única condição é respeitar limites do corpo e interromper a prática caso apareçam sinais como tontura, falta de ar importante ou dor abdominal.

Quando a suplementação de ácido fólico deve começar?

A suplementação deve ser iniciada assim que a mulher apresenta desejo de engravidar, porque o nutriente atua nos primeiros dias da gestação, antes mesmo do atraso menstrual. A formação do tubo neural ocorre muito cedo e depende de níveis adequados de ácido fólico para reduzir riscos de malformações.

O ideal é manter o suplemento por pelo menos três meses antes da concepção e continuar durante o início da gravidez, sempre com supervisão médica.

Gravidez tardia é sempre de alto risco?

A idade acima de 35 anos é considerada fator que aumenta riscos obstétricos, mas não significa automaticamente que a gestação será complicada.

A maior parte das mulheres tem uma gravidez saudável desde que mantenha acompanhamento adequado, bons hábitos de vida e controle de condições pré-existentes. A diferença é a necessidade de um cuidado maior, já que cresce a probabilidade de hipertensão e diabetes gestacional.

Gestantes com doenças pré-existentes podem continuar usando medicamentos?

A decisão depende do tipo de doença e da segurança de cada medicação, e o ideal é priorizar substâncias com estudos que comprovam segurança durante a gestação.

A troca de classes de medicamentos é comum, como ocorre no tratamento da hipertensão, quando substâncias tradicionais são substituídas por opções compatíveis com a gestação. O controle adequado da doença costuma trazer mais benefícios do que o risco de manter a condição descontrolada.

O que é aneuploidia e por que ocorre com mais frequência com a idade?

A aneuploidia é uma alteração no número de cromossomos, resultado de falhas na divisão celular que formam óvulo ou espermatozoide. O fenômeno se torna mais comum conforme os gametas envelhecem, já que estruturas responsáveis por separar cromossomos podem não funcionar de maneira uniforme. A consequência pode ser síndrome de Down, síndrome de Turner e outras alterações cromossômicas.

O pai mais velho também influencia em riscos genéticos?

A idade masculina também pode influenciar na gravidez, embora o impacto seja menor que a idade feminina. A produção contínua de espermatozoides ao longo dos anos permite maior margem para erros durante a replicação genética. A consequência pode ser aumento de mutações espontâneas e riscos ligeiramente maiores de alterações no desenvolvimento.

Quando procurar atendimento médico com urgência?

Quadros como sangramento vaginal, dor abdominal intensa, febre, dor de cabeça persistente, visão turva, inchaço súbito e redução dos movimentos fetais exigem avaliação médica imediata.

A recomendação é nunca esperar que sintomas intensos desapareçam sozinhos, já que intervenções rápidas evitam complicações tanto para mãe quanto para o bebê.

É normal sentir mais cansaço na gravidez após os 35 anos?

A sensação de cansaço pode ser mais intensa devido à combinação entre fatores hormonais e desgaste natural da idade. O corpo precisa se adaptar à gestação ao mesmo tempo em que lida com demandas profissionais, familiares e metabólicas.

Uma dica é manter o cuidado com o sono, a alimentação e o descanso ao longo do dia, o que faz diferença no bem-estar geral.

Leia também: Exames no pré-natal: entenda quais são e quando fazer

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Escrito por Dra. Andreia Sapienza

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