Logo Propor

DOENÇAS & CONDIÇÕES

Gastrite: o que é, tipos, sintomas e como aliviar o desconforto

A gastrite causa sintomas como dor na boca do estômago, queimação, enjoo e estufamento.

Dra. Eleonora Gomes

Dra. Eleonora Gomes

5min • 9 de dez. de 2025

Mulher com expressão de dor levando a mão ao peito, sugerindo desconforto abdominal ou queimação, possível sintoma de gastrite

Os tipos de gastrite são variados, porque qualquer fator capaz de causar inflamação no estômago pode gerar um quadro agudo ou crônico | Foto: Freepik

Mais comum em adultos, a gastrite é uma condição que afeta cerca de 70% da população, segundo a Federação Brasileira de Gastroenterologia (FBG). Ela está associada especialmente à circulação da bactéria Helicobacter pylori no país, ao uso frequente de anti-inflamatórios, ao consumo de álcool e ao ritmo de vida acelerado — que favorece o estresse e hábitos alimentares irregulares.

Os sintomas podem variar de pessoa para pessoa e, em muitos casos, a inflamação pode permanecer silenciosa por longos períodos, sendo identificada apenas durante uma endoscopia. Quando aparecem, os sinais costumam envolver desconforto abdominal, queimação, náuseas e sensação de estufamento após as refeições, mas nem sempre surgem de forma intensa ou contínua.

Para entender quais sinais merecem atenção e quando buscar avaliação médica, conversamos com a gastroenterologista Eleonora Gomes. Confira!

O que é gastrite?

A gastrite é uma inflamação da camada interna do estômago, chamada mucosa. Quando a região fica irritada, pode aparecer vermelhidão, inchaço e até pequenas feridas, que muitas vezes só são vistas na endoscopia.

De acordo com Eleonora, quando são feitas biópsias do estômago, é possível observar células inflamatórias, como neutrófilos e linfócitos, que confirmam a presença de inflamação na mucosa e ajudam a definir o diagnóstico de gastrite.

Quais os tipos de gastrite?

Os tipos de gastrite são variados, porque qualquer fator capaz de causar inflamação no estômago pode gerar um quadro agudo ou crônico, segundo Eleonora.

É importante notar que os termos usados para classificar a gastrite são frequentemente sobrepostos e não excludentes, pois eles descrevem diferentes aspectos da doença. A classificação pode ser feita pela duração, pela causa ou pelo aspecto visual da lesão.

Gastrite aguda

A gastrite aguda costuma aparecer de repente e vem acompanhada de sintomas mais intensos, que costumam surgir logo após o fator agressor, como:

  • Excesso de álcool;
  • Uso de anti-inflamatórios, como ibuprofeno e diclofenaco;
  • Intoxicação alimentar;
  • Infecções virais e bacterianas.

A dor pode ser forte, muitas vezes localizada na parte superior do abdômen, e pode vir junto de enjoo, vômitos, queimação e sensação de estufamento logo após as refeições. A inflamação aparece porque a mucosa fica irritada de forma rápida, perdendo parte da proteção natural contra o ácido do estômago. Quando a causa é tratada, o quadro costuma melhorar em poucos dias.

Gastrite crônica

A gastrite crônica é aquela inflamação que permanece por bastante tempo no estômago e, em alguns casos, a pessoa sequer apresenta sintomas, segundo Eleonora.

A causa mais frequente é a infecção pela bactéria Helicobacter pylori, mas também pode estar associada ao cigarro, ao consumo regular de álcool, ao uso prolongado de medicamentos ou a doenças autoimunes.

Gastrite por Helicobacter pylori

A gastrite causada pela H. pylori é uma das formas mais comuns da doença e acontece quando a bactéria se instala na mucosa do estômago, provocando uma inflamação contínua. A infecção costuma ocorrer ainda na infância e pode permanecer silenciosa por muitos anos, sem causar sintomas aparentes.

Com o tempo, porém, a presença constante da bactéria enfraquece a proteção natural da mucosa e facilita o surgimento de irritações e feridas.

Quando não tratada, a inflamação persistente pode evoluir para quadros mais sérios, como úlcera gástrica ou duodenal, já que a mucosa fica mais vulnerável ao ácido produzido pelo próprio estômago. Em uma parcela menor de pessoas, especialmente aquelas com histórico familiar de câncer gástrico ou com inflamação prolongada, a infecção pode aumentar o risco de desenvolvimento de câncer de estômago.

Gastrite autoimune

A gastrite autoimune acontece quando o sistema imunológico passa a atacar as células da mucosa gástrica, causando inflamação contínua, afinamento progressivo da camada interna e dificuldade de absorção de nutrientes, especialmente vitamina B12. Com o tempo, a deficiência pode levar à anemia, cansaço intenso e outros sintomas relacionados à baixa produção de glóbulos vermelhos.

O processo inflamatório prolongado também altera o ambiente do estômago, reduzindo a produção de ácido e deixando a mucosa mais vulnerável a mudanças estruturais. Quando não tratada, a gastrite autoimune aumenta o risco de alterações mais graves, como atrofia gástrica e até lesões pré-malignas, o que torna importante o acompanhamento médico.

Gastrite erosiva

A gastrite erosiva caracteriza-se pela presença de pequenas feridas ou erosões na mucosa do estômago, que deixam a superfície mais sensível e vulnerável. Pode ser causada por álcool, uso frequente de anti-inflamatórios, estresse físico intenso (como grandes cirurgias, queimaduras e traumas) ou por doenças graves que comprometem o fluxo sanguíneo para o estômago.

Os sintomas costumam incluir dor, sensação de queimação e, em alguns casos, sangramento digestivo, que pode se manifestar como vômitos escuros ou fezes muito escuras. A evolução pode ser aguda, quando ocorre de forma súbita, ou crônica, quando as erosões persistem por mais tempo e surgem de maneira repetida.

Gastrite enantematosa

A gastrite enantematosa é uma inflamação da mucosa do estômago que aparece como uma vermelhidão e um leve inchaço, visíveis durante a endoscopia. O termo “enantematosa” descreve justamente essa cor mais avermelhada da mucosa. A inflamação pode estar em apenas uma região do estômago ou se espalhar por toda a superfície interna.

Ela pode ter várias causas, como uso de medicamentos que irritam o estômago, consumo de álcool, refluxo biliar, infecção pela H. pylori ou até quadros de estresse prolongado, que deixam o estômago mais sensível. Em muitos casos, provoca sintomas como desconforto na parte superior do abdômen, queimação e sensação de estufamento após as refeições.

Quais os sintomas da gastrite?

Os sintomas de gastrite podem variar bastante de pessoa para pessoa, indo de desconforto leve até dor intensa:

  • Dor na parte superior do abdômen;
  • Enjoo após as refeições ou ao acordar;
  • Sensação de estufamento;
  • Queimação no estômago;
  • Arroto frequente;
  • Perda de apetite;
  • Vômito em casos mais intensos;
  • Mal-estar após refeições maiores.

Se a dor na região do estômago irradiar para outras partes do abdômen, é bom investigar outras causas, pois o padrão da gastrite normalmente é mais localizado, segundo Eleonora.

Em alguns tipos de gastrite, como a erosiva, pode ocorrer sangramento, que aparece como fezes muito escuras ou vômito com coloração semelhante a borra de café.

Por fim, Eleonora lembra que algumas pessoas, especialmente em quadros crônicos, podem não apresentar sintomas — o que torna importante uma avaliação individualizada.

Como é feito o diagnóstico de gastrite?

O diagnóstico de gastrite é feito a partir dos sintomas relatados pela pessoa, como dor ou desconforto na parte superior do abdômen, náusea, sensação de estufamento e queimação. Na maioria dos casos, o médico consegue suspeitar do quadro apenas pela conversa e pelo exame físico, sem necessidade de exames adicionais.

Segundo Eleonora, em pacientes jovens, quando já se suspeita fortemente de uma causa para os sintomas, como consumo elevado de álcool ou uso de anti-inflamatório, muitas vezes basta suspender o agente agressor e usar uma medicação para reduzir a acidez.

Mas, quando há dúvida, o paciente é mais velho, os sintomas não melhoram com o tratamento inicial ou quando existe algum sinal de alerta, o médico pode solicitar uma endoscopia digestiva alta.

O exame permite observar diretamente a mucosa do estômago, identificar inflamações, erosões, úlceras e, se necessário, coletar biópsias para confirmar a causa da gastrite, como infecção por Helicobacter pylori ou alterações autoimunes.

Tratamento de gastrite

O tratamento de gastrite pode variar de acordo com a causa da inflamação, mas, em todos os cenários, é fundamental interromper o fator agressor, como consumo excessivo de bebidas alcoólicas ou anti-inflamatórios. Também é necessário controlar o tabagismo, uma vez que o cigarro irrita a mucosa do estômago, dificulta a cicatrização e aumenta o desconforto após as refeições.

Mudanças no estilo de vida também fazem parte do tratamento, o que inclui uma alimentação leve, controle do estresse, intervalos regulares entre as refeições e escolha de porções menores ajudam a diminuir a irritação e prevenir crises de dor.

Remédios para gastrite

Quando há infecção por H. pylori, o médico costuma indicar uma combinação de antibióticos junto de um medicamento que reduz a acidez, permitindo que a mucosa se recupere, segundo Eleonora.

Em muitos casos, remédios como omeprazol e pantoprazol são usados por algumas semanas para diminuir a produção de ácido e acelerar a cicatrização. Após o período indicado, o remédio é suspenso para que o estômago volte a funcionar normalmente. O uso prolongado sem orientação médica não é indicado.

Quais alimentos devem ser evitados na gastrite?

Enquanto o paciente está com sintomas, é importante evitar alimentos e bebidas que irritam o estômago e aumentam o desconforto. Os principais são:

  • Frituras e preparações ricas em gordura;
  • Bebidas alcoólicas;
  • Bebidas com gás, como refrigerantes e água com gás;
  • Alimentos muito temperados, com pimenta ou temperos fortes;
  • Alimentos ácidos, como alguns frutos cítricos e molhos mais ácidos.

Eleonora ressalta que é importante mastigar bem os alimentos para facilitar a digestão, ingerir porções menores e fazer refeições mais frequentes, evitando encher demais o estômago.

Gastrite tem cura?

Depende da causa. Quando o fator desencadeante é identificado e tratado, como a infecção por H. pylori, o uso de anti-inflamatórios ou o consumo de álcool, a inflamação costuma regredir.

Nos casos em que não é possível definir exatamente o motivo, a orientação é adotar um estilo de vida mais saudável, com alimentação equilibrada, redução do consumo de álcool, abandono do tabagismo e controle adequado do estresse.

Leia também: Gastrite nervosa: o que é, sintomas e como aliviar

Perguntas frequentes

Quem tem gastrite pode comer cuscuz?

A maioria das pessoas com gastrite pode comer cuscuz sem problemas, porque o alimento é leve, tem boa digestibilidade e não costuma irritar a mucosa do estômago. O cuscuz de milho, em especial, é uma opção interessante para quem está com sensibilidade gástrica, já que não contém gordura e pode ser preparado apenas no vapor.

Os cuidados devem ser com os acompanhamentos, como manteiga em excesso, queijo muito gorduroso ou carne pesada podem causar desconforto. Preparar o cuscuz com pouco óleo, evitar temperos fortes e consumir em pequenas porções ajuda a tornar a refeição mais segura.

Em fases de dor intensa, vale observar a reação individual e ajustar a dieta conforme orientação médica ou nutricional.

Quem tem gastrite pode tomar leite?

O leite pode aliviar temporariamente a queimação porque neutraliza parte da acidez do estômago, mas o efeito é passageiro. Logo depois, ele estimula nova produção de ácido, o que pode piorar os sintomas em algumas pessoas.

Por isso, quem tem gastrite deve ter cautela: pequenas quantidades podem ser toleradas, mas há casos em que o leite provoca dor, estufamento ou enjoo. Os derivados gordurosos, como queijos amarelos e creme de leite, são mais irritantes para o estômago.

O ideal é observar a resposta individual e, quando necessário, optar por versões com menor teor de gordura. Em gastrites mais graves ou durante crises, muitos médicos recomendam limitar o consumo de leite até que os sintomas melhorem.

Como aliviar a gastrite imediatamente?

O alívio imediato pode ocorrer com medidas simples, como:

  • Comer uma pequena porção de alimento leve, como arroz, batata ou uma fruta menos ácida, reduz o contato do ácido com a mucosa irritada;
  • Sentar com o tronco mais ereto e evitar deitar logo após comer também diminui a queimação;
  • Tomar água em goles suaves ajuda a diluir a acidez;
  • Algumas pessoas sentem conforto com chás mornos de camomila ou erva-doce.

Já os antiácidos são úteis para crises pontuais, mas não resolvem a causa da gastrite. Caso a dor seja muito forte, persista por horas ou venha acompanhada de vômito com sangue, fezes escuras ou perda de peso, é fundamental buscar atendimento médico rapidamente.

Quem tem gastrite pode beber café?

O café é um dos itens mais relacionados ao aumento de desconforto gástrico. A bebida estimula a produção de ácido e pode piorar a queimação, especialmente quando consumida em jejum ou em grande quantidade.

Os cafés muito fortes, coados lentamente ou feitos com grãos mais escuros têm maior potencial de irritação. Algumas pessoas conseguem tolerar pequenas quantidades após as refeições, enquanto outras sentem dor mesmo com poucos goles. Em períodos de crise, o ideal é reduzir ou suspender temporariamente, substituindo por chás suaves.

Água com gás piora a gastrite?

Sim, porque o gás distende o estômago, aumentando a pressão interna e agravando a sensação de dor e queimação. Em muitos casos, a bebida também provoca arrotos repetidos, o que reforça a irritação. Durante crises, o ideal é evitar qualquer bebida gaseificada e optar por água natural.

A gastrite pode causar dor no peito?

Sim, embora não seja o sintoma mais típico. A dor no estômago pode subir para a região torácica e gerar sensação de aperto ou queimação, confundindo-se com problemas cardíacos. Sempre que houver dor no peito intensa, persistente ou associada a falta de ar, sudorese ou mal-estar, é fundamental descartar problemas cardiovasculares antes de atribuir o sintoma à gastrite.

Veja também: Dor de cabeça: quando é normal e quando é sinal de alerta 

Inscreva-se em nossa newsletter

Receba semanalmente as últimas notícias da área da saúde, cuidado e bem estar.

Foto de Dra. Eleonora Gomes

Escrito por Dra. Eleonora Gomes

Especialidades/Área de atuação

Gastroenterologia - CRM: 21697/PR

Group Companies
Waves