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BEM-ESTAR & ESTILO DE VIDA

Fazer nada também é autocuidado: veja por que você deve apostar nisso 

Em um mundo que valoriza a produtividade constante, desacelerar é um ato de resistência

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 25 de dez. de 2025

Homem jovem de olhos fechados relaxando sentado no sofá sem fazer nada

Fazer nada é um gesto de autocuidado e descanso mental em meio ao ritmo acelerado da vida contemporânea | Foto: Freepik

Vivemos em uma sociedade que não para. A todo momento há notificações, tarefas, metas e compromissos que competem pela nossa atenção. Mesmo nos intervalos de descanso, seguimos conectados a telas, consumindo conteúdo e respondendo a mensagens. O resultado é uma sensação contínua de exaustão, disfarçada sob o rótulo de eficiência.

Fazer nada, nesse contexto, tornou-se quase um tabu. Mas essa pausa é mais importante do que parece. Longe de ser preguiça, o ato de simplesmente existir sem agenda, sem produtividade e sem estímulos é uma forma poderosa de autocuidado.

A sociedade que não para e o esgotamento invisível

Nos últimos anos, a ideia de estar sempre ocupado se transformou em símbolo de sucesso. Ter uma rotina cheia passou a ser motivo de orgulho, enquanto o descanso virou sinônimo de perda de tempo. Esse padrão, porém, tem custos altos. O excesso de estímulos e informações cria uma sobrecarga cognitiva que impede o cérebro de se recuperar.

Estudos mostram que a mente humana precisa de períodos de ócio para processar emoções, consolidar memórias e estimular a criatividade. O problema é que, ao tentar descansar, muitos recorrem a pausas passivas, como rolar o feed, assistir a vídeos ou acompanhar notícias. O corpo está parado, mas o cérebro continua em alerta, recebendo estímulos rápidos e intermitentes.

Em vez de descanso, o que ocorre é apenas uma mudança de tipo de esforço. O fazer nada genuíno exige outro tipo de disposição: a de tolerar o silêncio, a lentidão e a ausência de controle sobre o tempo.

O que significa realmente fazer nada

Fazer nada não é o mesmo que se distrair. É permitir que o corpo e a mente simplesmente existam, sem propósito imediato. É ficar sentado observando o movimento das árvores, deitar no sofá sem celular por perto ou deixar os pensamentos fluírem sem tentar controlá-los.

A neurociência mostra que, nesses momentos, entra em ação o chamado modo padrão do cérebro, uma rede neural responsável por conectar lembranças, emoções e ideias. É quando surgem insights, soluções criativas e a sensação de clareza mental.

  • Fazer nada reduz a atividade das áreas cerebrais associadas ao estresse e aumenta o fluxo de ondas alfa, ligadas à calma e à introspecção
  • O ócio consciente ajuda a equilibrar o sistema nervoso, reduzindo os efeitos da sobrecarga emocional e da ansiedade

O desafio está em aceitar que não é possível desligar completamente. Mesmo durante o repouso, a mente continua ativa, mas de forma mais livre e menos controlada, o que a torna mais saudável.

O ócio consciente como ferramenta de autocuidado

O ócio consciente é o fazer nada com presença. Diferente da distração digital, ele propõe um descanso que envolve atenção e entrega ao momento presente. Pode ser olhar pela janela, ouvir o som do vento, sentir o cheiro do café sendo passado ou apenas observar a respiração.

Em um mundo que glorifica o desempenho, o ócio consciente recupera o valor de simplesmente ser. Ele não é improdutivo: é restaurador. Diversos estudos em psicologia apontam que períodos curtos de não fazer nada melhoram o humor, reduzem o estresse e aumentam a criatividade.

Essa pausa voluntária é também um lembrete de humanidade. Ao desacelerar, reconhecemos nossos limites e resgatamos o equilíbrio entre fazer e sentir. É nesse espaço que nasce o verdadeiro autocuidado, aquele que não depende de produtos ou rotinas complexas, mas de tempo e permissão.

Por que é tão difícil fazer nada

Grande parte das pessoas sente culpa ao tentar parar. Isso acontece porque associamos valor pessoal à produtividade. A lógica do “tempo é dinheiro” está tão enraizada que até o descanso precisa parecer útil.

Além disso, o cérebro se acostuma à estimulação constante. As redes sociais, os alertas e os vídeos curtos criam um ciclo de dopamina que dificulta o silêncio. Quando esse fluxo cessa, surge uma sensação de vazio.

Mas esse desconforto inicial é passageiro. Com o tempo, o cérebro reaprende a se acalmar. E é nesse intervalo que encontramos o descanso mental verdadeiro, aquele que não exige tela, tarefa ou justificativa. Fazer nada, portanto, é uma habilidade que se treina. Requer consciência, paciência e prática.

Como aprender a fazer nada na prática

Não há fórmula, mas pequenas mudanças ajudam a recuperar o prazer das pausas reais. Reserve alguns minutos do dia para não fazer nada de propósito. Sente-se em silêncio, respire e apenas observe o ambiente. Não tente transformar esse tempo em produtividade ou meditação formal. Apenas esteja.

Outra forma é reduzir os estímulos durante o descanso. Evite levar o celular para a cama ou assistir algo enquanto come. Dê a si mesmo alguns instantes de tédio. É nele que a mente descansa e se reorganiza.

  • Praticar o ócio consciente melhora o sono e o humor, fortalece a criatividade e ajuda a perceber emoções reprimidas
  • Fazer nada com regularidade treina o cérebro a responder melhor ao estresse e aumenta a sensação de bem-estar

Com o tempo, o ato de fazer nada deixa de ser estranho e passa a ser uma necessidade natural, uma pausa que alimenta a clareza e a leveza de viver.

O poder de simplesmente estar

Em meio à cultura da pressa, fazer nada é um lembrete de que somos mais do que o que produzimos. Ao desacelerar, criamos espaço para sentir, pensar e recuperar o que nos torna humanos.

Não se trata de abandonar responsabilidades, mas de entender que o descanso é parte essencial da vida. O silêncio e a pausa não são vazios, são terrenos férteis para o equilíbrio e para o bem-estar. Afinal, fazer nada é, paradoxalmente, fazer o mais importante: cuidar de si.

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Perguntas e respostas

1. O que significa realmente “fazer nada”?

É permitir que o corpo e a mente existam sem propósito imediato, sem buscar distrações ou produtividade, apenas observando e sentindo o momento presente.

2. Por que o cérebro precisa de momentos de ócio?

Essas pausas ajudam a processar emoções, consolidar memórias, estimular a criatividade e reduzir a atividade das áreas cerebrais ligadas ao estresse.

3. O que é o ócio consciente?

É o ato de fazer nada com presença e atenção, diferente da distração digital. Ele propõe um descanso restaurador que reduz o estresse e melhora o humor.

4. Por que é tão difícil parar e fazer nada?

Porque associamos valor pessoal à produtividade e o cérebro se acostuma ao excesso de estímulos. O silêncio causa desconforto no início, mas depois traz calma.

5. Como colocar o fazer nada em prática?

Reserve alguns minutos do dia para ficar em silêncio, respirar e observar o ambiente sem recorrer a telas. Pequenas pausas assim treinam o cérebro a relaxar.

6. Quais benefícios o ócio consciente traz para a saúde mental?

Melhora o sono e o humor, reduz o estresse, aumenta a criatividade e fortalece a sensação de bem-estar.

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Foto de Dra. Juliana Soares

Escrito por Dra. Juliana Soares

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