MÃES, PAIS & BEBÊS
Exames no pré-natal: entenda quais são e quando fazer
O acompanhamento deve começar assim que a gravidez for confirmada, preferencialmente até a 12ª semana

Dra. Andreia Sapienza
5min • 24 de nov. de 2025

Durante o pré-natal, o médico pede e acompanha os resultados dos exames obrigatórios, faz o controle de peso, pressão arterial, altura uterina e batimentos cardíacos do bebê, além de orientar sobre vacinas e preparo para o parto | Foto: Freepik
Se tem um bebê a caminho, a futura mamãe já sabe que existe uma lista de cuidados que devem começar muito antes do parto. O pré-natal é o momento de acompanhar cada etapa da gestação, sendo importante para detectar precocemente qualquer alteração e reduzir os riscos de complicações.
Mas afinal, quais exames no pré-natal são obrigatórios e quando devem ser feitos? Conversamos com a ginecologista e obstetra Andreia Sapienza para esclarecer as principais dúvidas.
Como funciona o pré-natal?
O pré-natal funciona como um conjunto de consultas e exames realizados durante toda a gestação, com o objetivo de monitorar a saúde da mãe e o desenvolvimento do bebê.
Os exames no pré-natal que são obrigatórios são definidos pelo Ministério da Saúde e estão disponíveis gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Eles ajudam a detectar infecções, anemias, diabetes gestacional, incompatibilidades sanguíneas e outros problemas que, se tratados a tempo, evitam complicações graves.
Andreia também explica que o pré-natal avalia se a paciente já possui alguma comorbidade que pode se agravar durante a gravidez, além de condições específicas do feto ou da placenta. Se surgir alguma complicação, ela é tratada de forma imediata.
Além dos exames no pré-natal, o acompanhamento também envolve orientações sobre alimentação, atividade física, vacinas e saúde mental, garantindo uma gestação mais tranquila e segura.
Quando começar o pré-natal?
O ideal é iniciar o acompanhamento assim que a gravidez for descoberta, de preferência até a 12ª semana de gestação. Quanto mais cedo começar, maiores as chances de detectar alterações e garantir um tratamento eficaz. A ginecologista Andreia Sapienza orienta a frequência de consultas:
- Uma consulta por mês até 32 semanas;
- Depois, uma consulta a cada 15 dias até 36 semanas;
- E duas consultas por semana até o parto.
O recomendado é que a gestante realize no mínimo sete a dez consultas ao longo da gravidez, de acordo com Andreia.
Durante as visitas, o médico pede e acompanha os resultados dos exames obrigatórios, faz o controle de peso, pressão arterial, altura uterina e batimentos cardíacos do bebê, além de orientar sobre vacinas e preparo para o parto.
Quais são os exames obrigatórios do pré-natal?
Os principais exames solicitados no início do pré-natal e que são repetidos em momentos específicos da gestação incluem:
Ultrassonografia
O ultrassom obstétrico é um dos primeiros exames realizados na gestação, importante para confirmar a gravidez, a idade gestacional, o número de bebês e os batimentos cardíacos. Ele utiliza ondas sonoras para gerar imagens do útero e do bebê em tempo real, sem exposição à radiação.
Andreia esclarece a frequência e objetivo de cada ultrassom:
- 1º ultrassom (muito precoce): confirma se a gestação está localizada dentro do útero, verifica a presença do saco gestacional, batimentos cardíacos e viabilidade inicial da gravidez;
- Ultrassom morfológico do 1º trimestre (11 semanas a 13 semanas e 6 dias): avalia translucência nucal, osso nasal e ducto venoso, marcadores que auxiliam no cálculo de risco para síndromes genéticas, como a Síndrome de Down;
- Ultrassom morfológico do 2º trimestre (entre 20 e 24 semanas): analisa detalhadamente a formação de cada órgão do bebê, detectando possíveis malformações estruturais.
O ideal é que o ultrassom seja realizado pelo menos duas vezes no primeiro trimestre, podendo ser repetido com maior frequência conforme a necessidade clínica para monitorar a evolução da gestação.
Tipagem sanguínea (ABO/Rh)
A tipagem sanguínea identifica o grupo sanguíneo (A, B, AB ou O) e o fator Rh (positivo ou negativo), sendo importante para avaliar se há risco de incompatibilidade entre o sangue da mãe e do bebê. Se a gestante tem Rh negativo e o pai Rh positivo, o médico solicita o exame Coombs Indireto para verificar se o organismo da mãe está produzindo anticorpos contra o sangue do bebê.
Se ele nascer com Rh positivo, a mãe deve receber uma vacina específica (imunoglobulina anti-D) em até três dias após o parto, para evitar complicações em gestações futuras.
Hemograma completo
O hemograma completo é um dos exames mais importantes do pré-natal e avalia a quantidade e a qualidade das células sanguíneas, permitindo identificar anemia, infecções e outros distúrbios que podem surgir na gestação.
A anemia ferropriva, por exemplo, é comum durante a gravidez, uma vez que o corpo precisa de mais ferro para formar o sangue do bebê. Se não for tratada, ela pode causar cansaço extremo, baixo peso fetal e parto prematuro.
Urina tipo 1 e urocultura
Durante a gravidez, as infecções urinárias são mais frequentes devido às alterações hormonais e à pressão do útero sobre a bexiga. O exame de urina tipo 1 e a urocultura são capazes de detectar bactérias e inflamações — e podem ser repetidos no primeiro e no terceiro trimestre da gestação.
Exames sorológicos
As sorologias são solicitadas para identificar HIV, sífilis, hepatites B e C, citomegalovírus (CMV), toxoplasmose e rubéola. As infecções, quando não diagnosticadas e tratadas a tempo, podem causar aborto espontâneo, malformações fetais, parto prematuro ou infecção congênita.
O ideal é que os exames sejam feitos logo no início da gestação e repetidos conforme a recomendação médica.
Glicemia em jejum
A glicemia de jejum mede a quantidade de açúcar no sangue e ajuda a identificar diabetes gestacional — uma condição que ocorre em aproximadamente 4% das gestações e pode causar complicações como parto prematuro, excesso de líquido amniótico e bebês grandes demais para a idade gestacional.
Para fazer o exame, a gestante precisa ficar de 8 a 12 horas em jejum, tomando apenas água. Em alguns casos, o médico também pode pedir a curva glicêmica, que mede como o açúcar no sangue se comporta após a ingestão de uma solução com glicose.
Parasitológico de fezes
O exame parasitológico de fezes é feito para detectar a presença de parasitas intestinais que podem afetar diretamente a saúde da gestante e do bebê. Infecções como giardíase, amebíase e verminoses, por exemplo, podem causar anemia, perda de peso, desnutrição e má absorção de nutrientes — condições perigosas durante a gestação, pois comprometem o desenvolvimento fetal.
Função da tireoide (TSH e T4 livre)
A função da tireoide no pré-natal é avaliada para garantir que a gestante produza hormônios em níveis adequados para o próprio metabolismo e para o desenvolvimento neurológico do bebê. A presença de alterações, como hipotireoidismo ou hipertireoidismo, pode causar aborto, parto prematuro, pré-eclâmpsia e comprometimento cognitivo fetal, mesmo antes de apresentarem sintomas evidentes.
Teste de malária
De acordo com orientações do Ministério da Saúde, o teste de malária é obrigatório para gestantes que vivem ou viajam para áreas de risco, especialmente na Região Amazônica. A doença pode ser grave durante a gravidez e causar aborto, parto prematuro e baixo peso ao nascer. A testagem deve ser feita mesmo sem sintomas.
Exames indicados para o pai no pré-natal
A saúde paterna também influencia no desenvolvimento do bebê, então é importante que o pai ou parceiro (adulto, jovem e adolescente) seja incentivado a participar do pré-natal e realizar exames de rotina, como:
- Hemograma;
- Tipagem sanguínea e fator Rh;
- Testes rápidos para sífilis, HIV e hepatites B e C;
- Eletroforese de hemoglobina;
- Glicemia e lipidograma.
Além de aproximar o pai do cuidado com o bebê, os exames ajudam a identificar infecções transmissíveis e evitam complicações na gestação.
Exames complementares importantes
Além da bateria de exames obrigatória, Andreia aponta alguns exames complementares importantes, como:
- TOTG (teste oral de tolerância à glicose): feito no 2º trimestre, capaz de detectar o diabetes gestacional;
- Streptococcus do grupo B: bactéria do canal vaginal que pode infectar o bebê no parto. Se detectada, é feita profilaxia com antibiótico no trabalho de parto;
- Cardiotocografia e perfil biofísico fetal: usados para monitorar o bem-estar do bebê a partir da 28ª semana (mais útil depois da 34ª).
Vacinas no pré-natal: quais são obrigatórias?
Durante a gravidez, o sistema imunológico da mulher passa por uma série de alterações, o que a torna mais vulnerável a infecções. As vacinas recomendadas ajudam a proteger mãe e bebê de doenças graves, sendo elas:
- Vacina contra tétano, difteria e coqueluche (dTPa): se a gestante nunca foi vacinada, deve iniciar o esquema o quanto antes. O foco principal é coqueluche, que causa surtos graves em bebês com menos de 1 ano;
- Vacina contra hepatite B: indicada para gestantes não vacinadas anteriormente. São aplicadas três doses, garantindo proteção para mãe e bebê;
- Vacina contra gripe (influenza): é recomendada para todas as gestantes, principalmente durante a campanha nacional de vacinação. A gripe pode causar complicações respiratórias mais graves na gravidez, e a imunização é segura em qualquer trimestre;
- Covid-19: reduz o risco de formas graves da doença na gestante, que tem mais chance de complicações. Os anticorpos passam pela placenta e ajudam a proteger o bebê após o nascimento.
Vírus sincicial respiratório: protege o bebê de bronquiolite e pneumonia nos primeiros meses de vida, causadas pelo VSR — um dos vírus que mais interna crianças pequenas. A recomendação atual é a vacinação entre 28 e 36 semanas de gestação, uma dose única a cada gravidez.
De acordo com Andreia, o esquema vacinal depende do histórico da paciente, então o ideal é sempre seguir a orientação do médico obstetra.
Pré-natal de alto risco: o que muda?
Quando a mulher apresenta condições que aumentam o risco de complicações, como hipertensão, diabetes, doenças cardíacas, obesidade, idade materna avançada ou gravidez de gêmeos, o acompanhamento precisa ser ainda mais cuidadoso.
Nesses casos, o pré-natal de alto risco inclui consultas mais frequentes, exames especializados e, quando necessário, o suporte de profissionais de diferentes áreas — como cardiologista, endocrinologista, nutricionista e obstetra especializado em medicina fetal.
Segundo Andreia, também podem ser solicitados os seguintes exames:
- Exames cardíacos e renais (para gestantes com hipertensão);
- Ajuste de insulina e controle de glicemia (em caso de diabetes);
- Anticoagulação (em caso de lúpus ou risco elevado de trombose);
- Cerclagem (ponto cirúrgico no colo do útero, para prevenir o parto prematuro ou abortamento tardio em gestantes com incompetência istmocervical).
O objetivo é monitorar de perto tanto a saúde da mãe quanto o desenvolvimento do bebê, prevenindo situações que possam colocar a gestação em perigo. Com acompanhamento adequado, é possível reduzir complicações e garantir uma gravidez segura até o nascimento do pequeno.
Veja mais: 7 cuidados que você deve ter antes de engravidar
Perguntas frequentes
1. Quando devo começar o pré-natal?
O ideal é iniciar o pré-natal assim que a gravidez for descoberta, de preferência até a 12ª semana de gestação. Quanto antes começar, melhor será o acompanhamento da saúde da mãe e do bebê. O início precoce permite detectar possíveis problemas logo no começo e ajustar hábitos de alimentação, suplementação e estilo de vida conforme as necessidades da gestação.
Mesmo quem descobre a gravidez mais tarde deve procurar o médico imediatamente para iniciar o acompanhamento.
2. É normal sentir enjoo, tontura e cansaço nas primeiras semanas de gravidez?
Sim, os sintomas são comuns no início da gestação. Eles acontecem por causa das mudanças hormonais e do aumento da progesterona, que afeta o sistema digestivo e o equilíbrio do corpo. Apesar de desconfortáveis, eles tendem a melhorar a partir do segundo trimestre.
Para aliviar os sintomas, o médico pode indicar ajustes na alimentação, fracionamento das refeições e hidratação adequada. Se os enjoos forem intensos e acompanhados de perda de peso, é importante avisar o especialista.
3. Posso praticar atividade física durante a gravidez?
Sim! A prática de exercícios leves e regulares é indicada na maioria das gestações saudáveis, como caminhadas, hidroginástica, yoga e alongamentos. Elas ajudam na circulação, reduzem dores nas costas e melhoram o bem-estar emocional.
No entanto, procure conversar com o médico antes de iniciar qualquer atividade. O acompanhamento profissional garante segurança e evita sobrecarga física.
4. É seguro fazer ultrassom com frequência?
Sim, o ultrassom é um exame seguro de ser realizado com frequência, pois ele utiliza apenas ondas sonoras, sem radiação. Ele permite acompanhar o crescimento fetal, o desenvolvimento dos órgãos e a posição dentro do útero.
A quantidade necessária deve ser determinada pelo médico, de acordo com as particularidades de cada gravide
5. O que é considerado uma gravidez de alto risco?
Uma gravidez é classificada como alto risco quando existem fatores que aumentam a probabilidade de complicações para a mãe ou para o bebê. Isso inclui doenças pré-existentes (como hipertensão, diabetes, lúpus ou problemas cardíacos), gestações múltiplas, histórico de partos prematuros, idade acima de 35 anos ou abaixo de 17, entre outros.
Nessas situações, o acompanhamento deve ser mais frequente, com exames especializados e suporte de diferentes profissionais.
6. Quais são os sintomas da pré-eclâmpsia?
A pré-eclâmpsia é uma complicação grave caracterizada por pressão alta e presença de proteínas na urina após a 20ª semana de gestação. Os principais sintomas incluem:
- Inchaço repentino nas mãos, rosto e pernas;
- Forte dor de cabeça;
- Visão turva ou embaçada;
- Náuseas e tontura.
A condição exige acompanhamento médico imediato, pois pode evoluir para eclâmpsia, que causa convulsões e risco de vida para a mãe e o bebê. O controle da pressão, repouso e medicamentos ajudam a evitar complicações e garantir a segurança até o parto.
7. Como saber se estou com infecção urinária durante a gravidez?
Os sintomas mais comuns de infecção urinária na gravidez são ardência ao urinar, vontade frequente de ir ao banheiro, urina turva ou com odor forte e, em casos mais graves, dor abdominal e febre.
Durante o pré-natal, o exame de urina tipo 1 e a urocultura ajudam a detectar infecções mesmo sem sintomas. O tratamento é feito com antibióticos seguros para a gestação, que devem ser receitados por um médico.
Veja mais: ‘Bebês Ozempic’: como os análogos do GLP-1 impactam a fertilidade?

