DOENÇAS & CONDIÇÕES
Espondilite anquilosante: o que é, sintomas, tratamentos e se é grave
O sintoma inicial mais frequente é a dor lombar de característica inflamatória, que costuma surgir de forma persistente
Dra. Flávia Alexandra Guerrero
5min • 21 de dez. de 2025

A espondilite anquilosante é uma doença inflamatória crônica que afeta principalmente a coluna vertebral e as articulações próximas, como as do quadril e da pelve | Foto: Freepik
Você já ouviu falar em espondilite anquilosante? A doença, caracterizada por uma inflamação crônica nas articulações da coluna e da pelve, pode causar sintomas que impactam diretamente a qualidade de vida.
Apesar de ser mais frequente em homens jovens, entre 20 e 40 anos, ela também pode acometer mulheres e pessoas de outras faixas etárias, com sintomas que variam de acordo com cada organismo, podendo ser leves e intermitentes ou causar dor constante e rigidez intensa. Entenda mais detalhes sobre a doença, a seguir.
O que é espondilite anquilosante?
A espondilite anquilosante é uma doença inflamatória crônica que afeta principalmente a coluna vertebral e as articulações próximas, como as do quadril e da pelve. Sendo autoimune, ela acontece quando o sistema imunológico ataca, por engano, as próprias articulações e tecidos saudáveis.
A inflamação costuma começar nas articulações da pelve e progredir para outras regiões da coluna. Com o tempo, o processo inflamatório pode levar à formação de pontes ósseas entre as vértebras, tornando a coluna menos flexível — um processo conhecido como anquilose.
Apesar da coluna ser a área mais afetada, a doença também pode atingir outras articulações, como ombros, quadris, joelhos e tornozelos.
Causas da espondilite anquilosante
A presença do gene HLA-B27 está fortemente associada à doença, sendo encontrada em grande parte dos pacientes diagnosticados. No entanto, sua presença isolada não é suficiente para causar o problema, já que muitas pessoas com o gene nunca desenvolvem sintomas.
A doença também depende da influência de fatores ambientais, que podem atuar como gatilhos em pessoas geneticamente predispostas. Alguns exemplos incluem infecções intestinais ou urinárias prévias, além de alterações na microbiota intestinal, que podem estimular o sistema imunológico e desencadear o processo inflamatório característico da doença.
Quais os sintomas da espondilite anquilosante?
Os sintomas da espondilite anquilosante costumam se desenvolver de forma lenta e progressiva, sendo eles:
- Dor lombar crônica, normalmente na parte inferior das costas e nas nádegas, que surge após períodos de imobilidade (como ao acordar);
- Sensação de travamento da coluna ao acordar, que pode durar mais de 30 minutos;
- Dores nas articulações, especialmente quadris, ombros e joelhos;
- Fadiga constante, devido ao processo inflamatório crônico;
- Redução da mobilidade da coluna devido a fusão das vértebras que pode acontecer com o tempo, levando à rigidez permanente;
- Em alguns casos, pode haver dor nos calcanhares, inflamação nos olhos (uveíte) ou dor torácica devido ao comprometimento das articulações entre costelas e coluna.
“Na espondilite, dizemos que o paciente tem uma dor inflamatória, em que a dor predomina no período da manhã, com rigidez prolongada, e melhora ao longo do dia conforme o indivíduo se movimenta”, explica a reumatologista Flávia Alexandra Guerrero.
Como é feito o diagnóstico de espondilite anquilosante?
O diagnóstico da espondilite anquilosante é feito por um médico reumatologista, com base nos sintomas, exame físico e exames complementares. O especialista começa observando sinais como dor nas costas que piora em repouso, melhora com o movimento e vem acompanhada de rigidez matinal prolongada.
Durante a consulta, o médico avalia a mobilidade da coluna e verifica se há dor ao pressionar determinadas articulações, como as sacroilíacas, localizadas na região inferior das costas. Os sinais ajudam a identificar se há alguma inflamação.
À partir de uma suspeita clínica, Flávia aponta que o médico pode solicitar exames como radiografia, tomografia ou ressonância magnética, que mostram inflamações e possíveis alterações na coluna e nas articulações.
Também são realizados exames de sangue para verificar a presença do gene HLA-B27, que está presente em grande parte dos casos, e medir substâncias que indicam inflamação no corpo, como PCR e VHS. O histórico familiar é considerado importante, já que a doença pode ter origem genética.
Tratamentos de espondilite anquilosante
O tratamento de espondilite anquilosante é feito com o objetivo de controlar a inflamação, aliviar a dor e preservar a mobilidade da coluna e das articulações. Como se trata de uma doença crônica e sem cura, o tratamento deve ser contínuo e acompanhado por um reumatologista.
Durante muitos anos, o tratamento era baseado apenas no uso de medicamentos anti-inflamatórios e em exercícios físicos para garantir a manutenção da mobilidade de coluna, de acordo com Flávia Alexandra. Mas com o avanço da medicina, surgiram novas opções que mudaram o tratamento da doença e melhoraram muito a qualidade de vida dos pacientes.
Hoje, o tratamento combina diferentes abordagens, como:
- Medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINEs): reduzem a dor e a inflamação, sendo geralmente a primeira escolha no início da doença;
- Drogas imunobiológicas: como os inibidores do fator de necrose tumoral (TNF) e das interleucinas (IL-17), que atuam diretamente no sistema imunológico, diminuindo a atividade inflamatória e retardando a progressão da doença;
- Fisioterapia: fundamental para manter a postura correta, melhorar a flexibilidade e preservar a amplitude dos movimentos da coluna e das articulações;
- Atividade física regular: exercícios como alongamento, natação e pilates ajudam a reduzir a rigidez e fortalecer a musculatura de apoio da coluna;
- Analgésicos e infiltrações: usados em fases de dor intensa ou crises inflamatórias localizadas;
- Acompanhamento médico periódico: permite ajustar as medicações, avaliar a resposta ao tratamento e prevenir possíveis efeitos colaterais.
Com o acompanhamento constante, a maioria dos pacientes consegue controlar bem os sintomas, realizar todas as atividades diárias e levar uma vida ativa.
Espondilite anquilosante tem cura?
A espondilite anquilosante não tem cura, mas o tratamento contribui para aliviar os sintomas, controlar a inflamação, retardar a progressão da doença e manter a melhor qualidade de vida e função possível.
“Nos últimos 20-25 anos, novas medicações permitiram um tratamento mais adequado da doença, permitindo um controle das manifestações clínicas da doença e impedindo/retardando a sua progressão. Este novo cenário tem permitido que os pacientes com esta patologia tenham uma boa qualidade de vida e menor número de sequelas no futuro”, complementa Flávia.
É possível prevenir a espondilite anquilosante?
A espondilite anquilosante não pode ser prevenida, pois está relacionada a fatores genéticos e ao funcionamento do sistema imunológico, que acabam fugindo do controle da pessoa.
No entanto, é possível reduzir o impacto da doença e evitar complicações com o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, além de medidas como:
- Manter acompanhamento médico regular com reumatologista;
- Praticar atividade física com orientação profissional;
- Cuidar da postura no dia a dia e durante o sono;
- Evitar o tabagismo, que piora a inflamação e a rigidez;
- Seguir corretamente o tratamento indicado pelo médico;
- Adotar alimentação equilibrada e manter o peso adequado.
Quando procurar atendimento médico?
É importante procurar atendimento médico ao perceber dor ou rigidez persistente nas costas que dura mais de três meses e melhora com o movimento, mas piora com o repouso. Os sinais podem indicar inflamação e precisam ser avaliados por um reumatologista.
Também é fundamental buscar ajuda quando houver:
- Dor intensa ou contínua, mesmo com o uso de medicamentos;
- Rigidez prolongada ao acordar, que demora a passar;
- Dificuldade para se mover ou curvar a coluna;
- Cansaço constante e sem causa aparente.
Como saber se a doença está piorando?
Os principais sinais de progressão da doença são a persistência da dor e da rigidez, mesmo com o tratamento adequado. “Isso deve ser sinal de atenção e ser compartilhado com o médico que acompanha o paciente, uma vez que deve ser checado se não há outros motivos para a manutenção da dor além da própria doença”, finaliza Flávia Alexandra.
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Perguntas frequentes
Quem pode ter espondilite anquilosante?
A doença costuma se manifestar entre os 20 e 40 anos de idade, sendo mais frequente em homens. Porém, mulheres também podem desenvolvê-la, muitas vezes de forma mais leve e com sintomas menos típicos, o que pode atrasar o diagnóstico.
Existe um forte componente genético, e pessoas que têm familiares com o mesmo problema apresentam maior risco de desenvolver a doença.
A dor causada pela espondilite é diferente das dores comuns nas costas?
A dor causada pela espondilite anquilosante é chamada de dor inflamatória e é diferente da dor mecânica, que surge por esforço físico ou má postura. A dor inflamatória piora com o repouso, especialmente durante a noite, e melhora com o movimento. Ela também costuma vir acompanhada de rigidez matinal e pode irradiar para glúteos e coxas. Já a dor mecânica aumenta com o movimento e tende a aliviar com o descanso.
A alimentação influencia na espondilite anquilosante?
Não há uma dieta específica para tratar a espondilite anquilosante, mas uma alimentação equilibrada auxilia no controle da inflamação. O consumo regular de alimentos ricos em ômega-3 (como peixes e sementes), além de frutas, legumes e grãos integrais, tem efeito anti-inflamatório natural.
Por outro lado, o excesso de açúcares, ultraprocessados e bebidas alcoólicas pode piorar o quadro inflamatório. Manter o peso corporal adequado também é importante para reduzir a sobrecarga nas articulações.
Quem tem espondilite anquilosante pode trabalhar normalmente?
Na maioria das vezes, sim. Com o tratamento adequado, o paciente pode continuar suas atividades profissionais, mas funções que exigem esforço físico intenso ou longos períodos em pé ou sentado podem precisar de ajustes. Pausas para alongamento, uso de cadeiras ergonômicas e atenção à postura ajudam a prevenir dor e rigidez.
A espondilite anquilosante pode causar deformidade na coluna?
Quando a inflamação não é controlada, pode ocorrer a fusão gradual das vértebras, deixando a coluna mais rígida e inclinada para a frente — quadro conhecido como cifose ou postura encurvada.
A complicação tende a surgir em pessoas que não fazem tratamento ou interrompem o uso das medicações. Com acompanhamento médico e fisioterapia, é possível prevenir ou reduzir significativamente o risco.
Quem tem espondilite pode engravidar?
A espondilite anquilosante não impede a gravidez, mas o planejamento deve ser feito com orientação médica, pois alguns medicamentos usados no tratamento precisam ser suspensos antes da gestação. O acompanhamento conjunto de reumatologista e obstetra é importante para garantir a segurança da mãe e do bebê.
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