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Energético faz mal à saúde? Cardiologista explica 

O consumo exagerado de energéticos pode causar insônia, palpitações, ansiedade, dor de cabeça e aumento da pressão arterial

Dr. Giovanni Henrique Pinto

Dr. Giovanni Henrique Pinto

5min • 10 de out. de 2025

Duas pessoas brindando com latas brancas de energéticos em ambiente ao ar livre e se questionando se energético faz mal

Coloridas e com embalagens chamativas, as bebidas energéticas prometem energia instantânea e disposição para enfrentar um dia puxado no trabalho, nas aulas ou até para prolongar a diversão em uma noite de festas.

O efeito vem da combinação de altas doses de cafeína com outras substâncias estimulantes, como taurina, guaraná e ainda grandes quantidades de açúcar. Isso levanta um alerta importante: será que o consumo de energético faz mal à saúde?

A resposta é sim! Quando consumidos em excesso ou com frequência, as bebidas podem trazer sérias consequências para a saúde, que vão desde arritmias cardíacas até alterações no humor, como aumento da ansiedade e, em alguns casos, quadros de depressão.

Para entender melhor os impactos no coração e na saúde mental, conversamos com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto. Confira!

Afinal, do que é feito o energético?

As bebidas energéticas são formuladas para estimular o sistema nervoso central, aumentando o estado de alerta e diminuindo a sensação de cansaço. Os ingredientes variam de marca para marca, mas em geral incluem:

  • Cafeína: principal estimulante, responsável pelo aumento da atenção e da energia;
  • Taurina: aminoácido que pode potencializar os efeitos da cafeína;
  • Glucuronolactona: substância que auxilia no metabolismo energético;
  • Extratos vegetais: como guaraná e ginseng, também estimulantes;
  • Açúcares ou adoçantes: para conferir sabor e energia extra;
  • Vitaminas do complexo B: envolvidas em processos metabólicos.

De acordo com Giovanni, a cafeína é o componente com maior impacto cardiovascular. No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) limita a concentração a 35 mg por 100 mL. Ou seja, uma lata de 250 mL pode conter quase 90 mg de cafeína, e algumas versões maiores ultrapassam os 200 mg.

Energético faz mal à saúde? Veja os riscos

O efeito imediato do energético até pode parecer positivo, afinal você consegue mais disposição, melhora na concentração e até um estímulo físico temporário. No entanto, a curto prazo, as bebidas podem acarretar uma série de consequências para a saúde. Giovanni aponta algumas delas:

  • Aumento da pressão arterial;
  • Frequência cardíaca acelerada;
  • Palpitações;
  • Ansiedade e tremores;
  • Insônia;
  • Alterações elétricas no coração, como o intervalo QT prolongado.

Se o consumo for frequente ou em excesso, há um risco de arritmias graves, vasoespasmo (contração súbita e intensa da parede de um vaso sanguíneo) e até infarto em pessoas predispostas. Estudos mostram que, mesmo em indivíduos saudáveis, grandes doses podem causar sintomas desconfortáveis e até perigosos.

Quem deve evitar o consumo de energéticos?

O energético não é recomendado para os seguintes grupos:

  • Pessoas com doenças cardíacas, especialmente arritmias, QT longo, cardiomiopatias e doença coronariana instável;
  • Pessoas com hipertensão descontrolada, pois a cafeína pode elevar ainda mais a pressão;
  • Gestantes e lactantes;
  • Usuários de certos medicamentos, como descongestionantes, pré-treinos e substâncias estimulantes (pseudoefedrina, por exemplo).

Crianças podem tomar energéticos?

Crianças e adolescentes menores de 18 anos não devem tomar energéticos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Por ter menor peso corporal e metabolismo diferente, eles atingem rapidamente os limites seguros de cafeína por quilo.

Segundo Giovanni, até pequenas doses podem causar sintomas incômodos, como insônia, agitação e palpitações.

Inclusive, com a popularização dos energéticos para o público mais jovem, diversos países vêm adotando medidas restritivas. Em setembro de 2025, por exemplo, o governo do Reino Unido proibiu a venda de bebidas energéticas com mais de 150 mg de cafeína por litro para menores de 16 anos na Inglaterra.

Segundo Giovanni, a proposta se apoia nas evidências de que as bebidas podem prejudicar o sono, o desempenho escolar, a saúde mental e até o coração dos jovens — além do marketing agressivo dirigido a esse público.

“Em termos de saúde pública, é uma intervenção proporcional e coerente”, complementa o cardiologista.

Pode misturar energético com álcool?

Apesar de ser uma combinação comum em festas e baladas, o energético não deve ser misturado com álcool.

Segundo Giovanni, o energético mascara a sensação de embriaguez, fazendo com que a pessoa beba mais sem perceber os efeitos do álcool. Isso aumenta a chance de intoxicação alcoólica, acidentes e comportamento de risco.

Além disso, a soma dos efeitos pode resultar em:

  • Arritmias;
  • Crises hipertensivas;
  • Desmaios;
  • Eventos cardíacos graves, incluindo relatos fatais.

Existe uma quantidade segura de consumo do energético?

Para adultos saudáveis, diretrizes sugerem que até 400 mg de cafeína por dia (de todas as fontes, incluindo café, chá e refrigerante) podem ser tolerados. Uma dose única de até 200 mg também costuma ser considerada segura.

No entanto, é preciso atenção:

  • Uma lata de energético pode variar de 80 mg a mais de 200 mg de cafeína;
  • Embalagens grandes podem conter duas ou mais porções, e muitas pessoas consomem tudo de uma vez.

No caso de gestantes e lactantes, não há uma quantidade segura de energético, e o consumo não é recomendado, pois a cafeína e outras substâncias estimulantes presentes nessas bebidas podem ser prejudiciais ao bebê e à saúde materna.

Sinais de alerta de que o energético está fazendo mal

É importante reconhecer quando o organismo não está tolerando bem os energéticos. Por isso, fique atento aos seguintes sinais:

  • Palpitações ou “coração disparado”;
  • Dor no peito;
  • Falta de ar;
  • Tontura ou desmaio;
  • Ansiedade intensa;
  • Tremores;
  • Pressão muito alta;
  • Insônia persistente.

Se houver dor torácica, batimentos irregulares ou perda de consciência, procure atendimento médico imediatamente.

Confira: Doença coronariana: o que é, como identificar os sintomas e quais os tratamentos indicados

Perguntas frequentes sobre se energético faz mal

1. O que acontece no corpo logo após beber um energético?

Quando você consome um energético, a cafeína é rapidamente absorvida no estômago e no intestino, atingindo a corrente sanguínea em cerca de 15 a 45 minutos.

Nesse período, já é possível sentir o aumento da atenção, da disposição e da energia. A pressão arterial pode subir, o coração pode bater mais rápido e os níveis de adrenalina também aumentam.

É por isso que muitas pessoas sentem uma “explosão de energia” quase imediata. No entanto, o efeito é temporário e, depois de algumas horas, pode surgir uma espécie de efeito rebote — quando o corpo fica cansado, irritado e até mais sonolento do que antes.

2. Quanto tempo dura o efeito de um energético no organismo?

O efeito estimulante da cafeína pode durar entre 4 e 6 horas, dependendo do metabolismo de cada pessoa. Já a meia-vida da cafeína (isto é, tempo que o corpo leva para eliminar metade da substância) varia de 3 a 7 horas em adultos saudáveis. Isso significa que, se você tomar um energético no fim da tarde, ainda pode ter dificuldade para dormir à noite.

Em pessoas mais sensíveis ou em gestantes, esse tempo de eliminação é ainda maior, podendo ultrapassar 10 horas.

3. Beber energético todos os dias é perigoso?

O consumo diário de energético aumenta o risco de sobrecarga no sistema cardiovascular e de efeitos adversos cumulativos. De acordo com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto, quem bebe energéticos frequentemente pode desenvolver palpitações, arritmias e pressão alta.

Além disso, o organismo pode criar tolerância, exigindo doses cada vez maiores para sentir os mesmos efeitos, o que potencializa os riscos.

4. Qual é a diferença entre energético e isotônico?

O isotônico é feito para repor sais minerais e líquidos perdidos durante a prática de exercícios, ajudando na hidratação. Já o energético contém substâncias estimulantes, como cafeína, taurina e guaraná, que têm como objetivo aumentar o estado de alerta e reduzir o cansaço. Ou seja, o isotônico hidrata, enquanto o energético estimula o organismo.

5. Energético engorda?

Muitos energéticos contêm altas quantidades de açúcar — algumas latas chegam a ultrapassar 30 gramas, o equivalente a 6 colheres de chá. Isso representa calorias extras que, se consumidas com frequência, podem contribuir para o ganho de peso.

6. Existe energético sem cafeína?

Algumas marcas lançaram versões “sem cafeína”, mas ainda assim contêm outras substâncias estimulantes, como taurina e guaraná. Portanto, não são totalmente livres de riscos.

7. Existe limite seguro de latas por dia?

Depende da concentração de cafeína em cada produto. Em geral, o recomendado é não ultrapassar 400 mg de cafeína por dia em adultos saudáveis. Isso significa, na prática, no máximo duas latas médias, lembrando que café, chá e chocolate também somam na conta.

Leia também: Síndrome do coração partido: o que é, sintomas, riscos e como diferenciar do infarto

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Escrito por Dr. Giovanni Henrique Pinto

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