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BEM-ESTAR & ESTILO DE VIDA

Ozempic, Mounjaro: como evitar o efeito rebote no emagrecimento?

Com o fim do uso da caneta emagrecedora, o corpo tende a sentir mais fome e pode recuperar parte do peso perdido

Dra. Denise Orlandi

Dra. Denise Orlandi

5min • 5 de nov. de 2025

Pessoa aplicando injeção subcutânea na região abdominal, representando o uso de Ozempic ou Mounjaro e o risco de efeito rebote após o tratamento.

Os ajustes nos hábitos de vida, que devem começar com o uso das canetas emagrecedoras, precisam ser mantidos permanentemente | Foto: Freepik

A introdução de medicamentos injetáveis, como Ozempic (semaglutida) e Mounjaro (tirzepatida) causou uma mudança significativa no tratamento de obesidade. Eles oferecem resultados rápidos na perda de peso, atuando por meio da imitação de um hormônio natural do corpo, o GLP-1, responsável por regular o apetite, o esvaziamento gástrico e os níveis de glicose no sangue.

No entanto, como ocorre em praticamente todo processo de emagrecimento, os quilos perdidos podem retornar rapidamente após a interrupção do medicamento — especialmente quando não há manutenção de hábitos saudáveis que contribuem para o controle do apetite. O processo, conhecido como efeito rebote, pode causar o reganho parcial ou total do peso perdido.

Mas afinal, é possível evitar o efeito rebote depois de interromper o uso dos agonistas GLP-1? Conversamos com a endocrinologista Denise Orlandi para esclarecer os principais cuidados após o tratamento.

Como os agonistas GLP-1 atuam na perda de peso?

Os agonistas de GLP-1 (como a semaglutida, presente no Ozempic e no Wegovy, e a tirzepatida, do Mounjaro) são remédios injetáveis que atuam imitando a ação de um hormônio natural do intestino — o peptídeo semelhante ao glucagon tipo 1, que regula o apetite, o esvaziamento gástrico e o metabolismo da glicose.

Quando administrados, eles aumentam a saciedade, diminuem a fome e retardam a digestão, o que ajuda a pessoa a comer menos e se sentir satisfeita por mais tempo. Eles também melhoram a sensibilidade à insulina e ajudam a controlar os níveis de glicose no sangue, fator importante para quem tem resistência à insulina ou diabetes tipo 2.

O Mounjaro ainda tem um diferencial: ele age em outro hormônio intestinal, o GIP, o que potencializa seus efeitos sobre o metabolismo e a queima de gordura. De acordo com ensaios clínicos, ele pode provocar até 47% mais perda de peso do que outros medicamentos da mesma classe de agonistas.

No entanto, vale lembrar que o efeito não é apenas metabólico. Durante o tratamento de obesidade ou sobrepeso, a pessoa tende a mudar hábitos alimentares e ajustar a rotina — algo que precisa ser mantido mesmo após o término do medicamento.

Efeito rebote: por que pode acontecer?

Quando o uso dos agonistas GLP-1 termina, o corpo reage de forma natural: a fome aumenta e a saciedade diminui. Isso acontece porque o remédio deixa de agir nos receptores do intestino e do cérebro, que ajudavam a controlar o apetite.

O corpo humano tem uma espécie de memória metabólica, um mecanismo de defesa que tenta manter o peso anterior — como se aquele fosse o ponto de equilíbrio do organismo.

“Quando emagrecemos, seja com medicamentos ou apenas com dieta e exercício, o corpo entende que está ‘perdendo reserva’ como se fosse uma agressão, e aciona mecanismos de defesa: aumenta a fome, diminui o gasto de energia e estimula a recuperação do peso”, explica a endocrinologista Denise Orlandi.

Isso pode acontecer até mesmo com pessoas que passam por cirurgias bariátricas. A diferença é que o retorno da fome pode ser mais intenso após o fim do tratamento, o que aumenta o risco do efeito rebote.

Como evitar o efeito rebote depois de parar com Ozempic e Mounjaro?

Os ajustes nos hábitos de vida, que devem começar com o uso das canetas emagrecedoras, precisam ser mantidos permanentemente — tanto para manter o peso corporal quanto para preservar a saúde.

“As mudanças são fundamentais para o sucesso do processo de emagrecimento e para o período de manutenção. Costumo dizer que o período de tratamento com medicação é uma oportunidade para ajustar seus hábitos para a vida”, complementa Denise.

Confira algumas orientações:

Continue praticando exercícios físicos

A prática regular de atividades físicas não apenas ajuda a gastar calorias, mas também protege a massa muscular, mantém o metabolismo ativo e reduz o risco de doenças cardiovasculares. Durante o emagrecimento, parte da massa magra pode ser comprometida — e a prática de treinos de força, em especial, previne isso.

Recomendação da OMS para adultos:

  • Atividade aeróbica: 150–300 minutos/semana (moderada) ou 75–150 minutos/semana (vigorosa), ou combinação equivalente;
  • Fortalecimento muscular: 2+ dias/semana, envolvendo os principais grupos musculares.

“Exercícios de força, especialmente a musculação, são fundamentais para preservar e aumentar a massa muscular. Eles ajudam também nos quadros de resistência à insulina e pré-diabetes. Exercícios aeróbicos (caminhada, corrida, bicicleta, dança) também são importantes, principalmente para saúde cardiovascular e gasto calórico”, explica Denise.

A melhor fórmula é combinar os dois e escolher atividades prazerosas — isso aumenta a chance de manter a prática a longo prazo.

Invista em proteína e fibra

A fome tende a aumentar com o fim do tratamento, e isso aumenta a chance de efeito rebote. Priorizar alimentos in natura ou minimamente processados, ricos em proteínas e fibras, ajuda a manter a saciedade e o controle do apetite.

A proteína estimula hormônios intestinais (como PYY e GLP-1) que sinalizam saciedade, além de ter digestão mais lenta. Inclua ovos, frango, peixe, carnes magras, leguminosas e iogurtes sem lactose nas principais refeições.

As fibras (frutas, vegetais, leguminosas, integrais) aumentam o volume do alimento e retardam o esvaziamento gástrico, prolongando a saciedade.

Fracione as refeições

Após interromper a caneta, o organismo ainda se ajusta à nova fome. Evite longos períodos sem comer. Mantenha intervalos regulares com lanches ricos em proteína/fibra (ex.: fruta com aveia, iogurte com chia, torrada integral com homus). Isso estabiliza a glicemia e reduz episódios de compulsão.

Durma bem e reduza o estresse

Privação de sono e estresse crônico elevam o cortisol, estimulando fome (especialmente por carboidratos) e acúmulo de gordura, com isso, o efeito rebote. Adultos devem dormir 7–9 horas por noite, com higiene do sono: horários regulares, menos telas e ambiente escuro/silencioso.

Continue o acompanhamento médico e nutricional

O tratamento não termina com o fim do medicamento. Consultas regulares permitem:

  • Ajustar alimentação e atividade física;
  • Identificar precocemente sinais de reganho;
  • Reforçar estratégias de motivação;
  • Avaliar necessidade de suporte medicamentoso novamente.

“Sozinho, o paciente muitas vezes não percebe pequenos deslizes que se acumulam com o tempo”, diz Denise.

É possível manter o uso do GLP-1 por mais tempo?

Em alguns casos, pode ser necessário manter o uso prolongado (contínuo ou em fases de manutenção). A decisão é individualizada, baseada na resposta clínica e no risco de reganho. Evite interromper por conta própria. O ideal é desmame gradual, sob supervisão médica.

O que NÃO fazer após o fim do tratamento com agonista GLP-1

  • “Resolver e relaxar” nos hábitos: obesidade é crônica; hábitos saudáveis devem permanecer.
  • Parar abruptamente a medicação: aumenta fome e compulsão; faça desmame assistido.
  • Voltar à alimentação ultraprocessada: reativa apetite exagerado e dificulta controle.
  • Abandonar atividade física: reduz gasto energético e acelera reganho.
  • Negligenciar sono e estresse: cortisol alto estimula apetite e estocagem de gordura.
  • Não manter acompanhamento: revisões detectam cedo mudanças e corrigem a rota.

“O que mantém os resultados é o estilo de vida: comer de forma equilibrada, movimentar o corpo, cuidar do sono e da saúde mental. O segredo está na consistência, não na perfeição”, reforça Denise.

Sinais de alerta que o peso está retornando

  • Roupas mais apertadas;
  • Ganho de 2–3 kg em poucas semanas;
  • Fome fora de hora (especialmente à noite);
  • Volta do “beliscar” por ansiedade/tédio;
  • Porções aumentando sem perceber;
  • Rotina de exercícios irregular.

“Costumo estabelecer um peso de alerta. Se chegar nele (ex.: +3–4 kg), já conversamos e ajustamos. Quanto mais cedo agir, mais fácil retomar o controle”, finaliza Denise.

Leia também: Wegovy e Ozempic: como funcionam para perda de peso

Perguntas frequentes sobre efeito rebote

Quem pode usar medicamentos como Ozempic e Mounjaro?

Podem ser prescritos para diabetes tipo 2, obesidade ou sobrepeso com comorbidades. O uso deve ser indicado e acompanhado por médico (ex.: endocrinologista) após avaliação individual.

É seguro usar canetas emagrecedoras apenas para fins estéticos?

Não. Foram desenvolvidas para doenças crônicas (diabetes tipo 2, obesidade). Uso sem indicação e sem acompanhamento aumenta risco de efeitos adversos e de reganho após suspensão.

Quanto peso é possível perder com os agonistas de GLP-1?

Varia por pessoa. Em estudos, semaglutida levou a perda média de 13,7% do peso; tirzepatida, cerca de 20,2%. O remédio facilita o processo, mas alimentação e atividade física são fundamentais.

O que significa “efeito rebote” após o uso de Ozempic ou Mounjaro?

É o reganho de peso após interromper abruptamente o GLP-1. A queda rápida dos hormônios de saciedade e o aumento da fome elevam a ingestão calórica e o peso volta a subir.

O que fazer se o peso parar de cair durante o tratamento?

O platô é comum: o corpo se adapta ao déficit calórico. Reavalie hábitos: ajuste proteína, varie exercícios (inclua força), revise sono/estresse e converse com o médico sobre possíveis ajustes de dose.

Leia também: Ozempic e similares podem reduzir risco de câncer ligado à obesidade?

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Escrito por Dra. Denise Orlandi

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