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SINAIS & SINTOMAS

Dor no ombro esquerdo pode ser infarto? Saiba como identificar

A dor no ombro pode estar relacionada ao coração quando surge de forma repentina, sem causa muscular aparente

Dra. Juliana Soares

Dra. Juliana Soares

5min • 30 de nov. de 2025

homem idoso com dor no ombro esquerdo está sentado em um leito hospitalar, com sintoma de infarto.

A dor no ombro esquerdo pode ter diversas causas e nem sempre está relacionada ao coração | Foto: Freepik

A dor intensa no peito, descrita como um aperto, peso ou queimação, é um dos principais sintomas para identificar um infarto. Como as vias nervosas do coração se conectam à medula espinhal nos mesmos pontos que outras áreas do corpo, a dor pode ser percebida em regiões diferentes da sua origem, como o ombro esquerdo.

Afinal, por que isso acontece? O fenômeno, conhecido como dor referida, acontece porque o cérebro, ao receber os sinais nervosos, pode confundir a origem da dor. Por isso, um problema cardíaco pode se manifestar com sintomas que lembram lesões musculares ou articulares — e ficar de olho nas diferenças ajuda a identificar o quadro.

O que pode causar dor no ombro esquerdo?

A dor no ombro esquerdo pode ter diversas causas e nem sempre está relacionada ao coração. Na verdade, o incômodo costuma ser consequência de condições musculoesqueléticas, neurológicas ou posturais, como:

  • Lesões musculares, como estiramentos, contraturas ou distensões;
  • Tendinites (inflamação nos tendões do ombro);
  • Bursites (inflamação na bursa, estrutura que reduz o atrito entre os tecidos);
  • Problemas articulares, como luxações, artrose ou instabilidade do ombro;
  • Hérnias cervicais (compressão dos nervos da coluna cervical que irradiam dor para o ombro);
  • Inflamações nos nervos periféricos, como neurites ou síndrome do desfiladeiro torácico;
  • Má postura prolongada, especialmente em ambientes de trabalho;
  • Esforço físico excessivo ou repetitivo, como levantar pesos ou movimentos repetidos;
  • Traumas diretos, como quedas, batidas ou pancadas na região;
  • Tensão emocional ou estresse, que pode gerar contraturas musculares reflexas.

Em alguns casos, a dor pode ser reflexo de uma alteração no tórax, irradiando para o ombro esquerdo — o que inclui a possibilidade de um problema cardiovascular.

Dor no ombro esquerdo é sintoma de infarto?

A dor no ombro esquerdo pode ser sintoma de infarto, especialmente quando surge de forma súbita, sem causa muscular aparente, e vem acompanhada de outros sinais como desconforto no peito, falta de ar, suor frio, mal-estar, náusea, tontura ou sensação de desmaio.

O coração e as fibras nervosas que o inervam atingem a medula espinhal na mesma região em que chegam as fibras nervosas do braço, do ombro esquerdo e da mandíbula.

Juliana explica que quando o cérebro recebe essas informações, vindas de raízes nervosas que convergem em um mesmo ponto da medula, pode ocorrer uma interpretação errada da localização da dor — levando à sensação de que uma dor originada no coração vem, na verdade, de outra estrutura corporal.

Por isso, a cardiologista aponta que é comum que o infarto se manifeste com dor no ombro, no braço esquerdo ou na mandíbula, devido à confusão das vias nervosas. O fenômeno é conhecido como dor referida, ou seja, ela é percebida em uma parte do corpo diferente de onde ela realmente se origina.

Como diferenciar dor muscular de dor cardíaca?

Existem algumas características que podem ajudar a diferenciar um desconforto muscular com o início de um infarto. Normalmente, a dor muscular está relacionada a esforço físico, má postura, traumas ou movimentos repetitivos, e costuma piorar com o movimento do corpo ou ao pressionar a região.

A dor cardíaca, por outro lado, tem características diferentes: surge de forma súbita, não melhora com repouso e pode irradiar para outras áreas, como ombro, braço esquerdo, mandíbula ou costas.

Confira as principais diferenças entre elas:

Características Dor muscular Dor cardíaca
Origem Musculatura, tendões ou articulações Coração (miocárdio)
Tipo de dor Pontual, localizada, sensação de fisgada ou tensão Pressão, aperto, queimação ou peso no peito
Localização Limitada ao músculo ou articulação Peito (normalmente no centro), com possível irradiação
Irradiação É raro acontecer Pode irradiar para o ombro, braço esquerdo ou mandíbula
Início Após esforço físico, má postura ou lesão Súbito, em repouso ou durante esforço físico
Duração Pode durar algumas horas ou dias, dependendo da causa Pode durar mais de 20 minutos e aumentar com o tempo
Sintomas associados Normalmente é uma dor isolada Falta de ar, suor frio, náusea, tontura e mal-estar
Como melhorar Costuma melhorar com analgésicos, repouso, calor ou gelo Não melhora com repouso nem analgésicos, e precisa de atendimento médico imediato

Quais outros sintomas acompanham um possível infarto?

Além da dor torácica em forma de aperto, pressão ou queimação, que pode irradiar para o braço esquerdo, mandíbula, pescoço, costas ou estômago, o infarto costuma vir acompanhado de outros sintomas sistêmicos, como:

  • Falta de ar (dispneia), mesmo em repouso ou durante esforço leve;
  • Suor frio e abundante, sem causa aparente;
  • Náusea e vômito, que podem ser confundidos com mal-estar gastrointestinal;
  • Tontura, sensação de desmaio ou desfalecimento;
  • Palidez súbita e pele úmida;
  • Ansiedade intensa, sensação de morte iminente ou angústia;
  • Fraqueza geral, especialmente em membros superiores.

Algumas pessoas apresentam sinais atípicos, o que pode atrasar o diagnóstico — e isso é mais comum em mulheres, idosos e pessoas com diabetes, que podem relatar apenas cansaço extremo, dor nas costas, mal-estar difuso ou desconforto abdominal. Nesses casos, a ausência de dor torácica não exclui a possibilidade de um evento cardíaco.

Em todos os casos, Juliana orienta que se a dor no ombro vier acompanhada de sintomas como aperto no peito, sudorese, falta de ar ou tontura, é preciso chamar ajuda imediatamente, ligando para o SAMU (192) ou para os bombeiros (193). Não é recomendado dirigir ou tentar chegar sozinho ao hospital. A pessoa deve permanecer em repouso até a chegada do socorro.

Se o paciente já tiver diagnóstico de problema cardíaco e uso prescrito de ácido acetilsalicílico (AAS), ele pode tomá-lo enquanto aguarda o atendimento — desde que tenha orientação médica prévia.

Quais exames ajudam a identificar um infarto?

O diagnóstico do infarto agudo do miocárdio depende da análise clínica associada a exames que avaliam o funcionamento do coração e a presença de lesões no músculo cardíaco, como eletrocardiograma (ECG), ecocardiograma e exames de sangue (marcadores de lesão cardíaca).

Em alguns casos, podem ser solicitados outros exames de imagem, como tomografia e ressonância magnética.

A escolha dos exames depende do que a pessoa está sentindo, há quanto tempo os sintomas começaram e dos recursos do local onde ela está sendo atendida. Quanto mais cedo o diagnóstico é feito, maiores são as chances de tratar o problema com sucesso e evitar danos ao coração.

Veja também: Infarto ou angina? Saiba quais são os principais sinais e fique atento

Perguntas frequentes sobre dor no ombro esquerdo

A dor no ombro esquerdo pode ser o único sintoma do infarto?

É mais raro, mas o infarto pode se manifestar de forma silenciosa ou com sintomas atípicos, principalmente em mulheres, pessoas com diabetes e idosos. Em alguns casos, a dor no ombro esquerdo pode ser o único sinal perceptível, especialmente se vier acompanhada de mal-estar leve ou cansaço inexplicável.

Por isso, mesmo na ausência de dor torácica clássica, é importante ficar atento a qualquer desconforto incomum, especialmente em quem apresenta fatores de risco. A avaliação médica precoce pode evitar complicações graves.

O que fazer diante de uma dor suspeita no ombro?

O ideal é observar o contexto em que a dor apareceu, sua intensidade e os sintomas associados. Se a dor for leve, surgir após esforço físico ou movimento repetitivo e melhorar com repouso, gelo ou analgésicos comuns, provavelmente tem origem muscular.

Por outro lado, se a dor surgir de forma repentina, for intensa, não melhorar com repouso e vier acompanhada de pressão no peito, suor frio, falta de ar ou tontura, é recomendável procurar atendimento de urgência. Em qualquer caso de dúvida, a melhor conduta é buscar avaliação médica.

Quem tem mais risco de infarto?

O risco é maior em pessoas com histórico familiar de doença cardíaca, hipertensão, diabetes, colesterol alto, obesidade, sedentarismo ou tabagismo. Além disso, pode ocorrer em homens a partir dos 45 anos e mulheres após a menopausa, e em pessoas com estresse crônico ou que possuem uma má alimentação.

Em pessoas com os fatores de risco, uma dor no ombro de início súbito, especialmente quando acompanhada de outros sintomas cardiovasculares, deve ser investigada com atenção.

Quanto tempo dura a dor de um infarto?

A dor do infarto geralmente dura mais de 15–20 minutos e não melhora com repouso ou uso de analgésicos. Ela pode começar de forma leve e piorar progressivamente, e também pode ser intermitente, com períodos de melhora e piora, o que confunde o paciente. Assim, qualquer dor torácica persistente deve ser avaliada com urgência.

Como saber se a dor é do coração ou da ansiedade?

A dor causada pela ansiedade costuma ser pontual, em forma de fisgada, e tende a aparecer em momentos de estresse emocional. Muitas vezes, ela vem acompanhada de hiperventilação, sensação de aperto na garganta e formigamento nas mãos.

Já a dor cardíaca costuma ser mais difusa, contínua e vem com sinais físicos como suor frio, palidez e cansaço. Em caso de dúvida, é melhor procurar atendimento médico.

Veja também: Suspeita de infarto: conheça os erros que colocam vidas em risco e saiba como agir

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Escrito por Dra. Juliana Soares

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