DOENÇAS & CONDIÇÕES
Quando a dor nas costas pode ser preocupante? Entenda os sinais de alerta
A dor normalmente está ligada a tensão muscular e maus hábitos do dia a dia, como ficar muito tempo sentado e dormir em posição errada
Dra. Ana Gandolfi
5min • 8 de set. de 2025

Se você nunca sentiu dor nas costas, pode ser apenas uma questão de tempo: 8 em cada 10 pessoas vão enfrentar ao menos um episódio significativo de dor lombar ao longo da vida, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Na maioria das vezes, o incômodo está ligado ao estilo de vida e pode ser aliviado a partir de mudanças simples de hábitos. No entanto, quando a dor surge de forma repentina, é muito intensa, não melhora com repouso ou vem acompanhada de outros sintomas, pode indicar alguma condição de saúde mais séria.
Mas afinal, quando procurar atendimento médico? A neurocirugiã Ana Camila Gandolfi, do Hospital São Paulo, esclarece quando a dor nas costas é preocupante.
Afinal, o que causa dor nas costas?
A região das costas é formada por uma estrutura complexa — ossos, músculos, articulações, discos intervertebrais, nervos e ligamentos. Por isso, qualquer desequilíbrio, seja por má postura, esforço físico exagerado ou até estresse emocional, pode resultar em dor e atrapalhar a realização de atividades diárias.
Normalmente, o desconforto costuma estar relacionado a situações do dia a dia, como:
- Passar muitas horas sentado diante do computador;
- Carregar peso de forma errada;
- Acúmulo de estresse e tensão emocional;
- Falta de atividade física;
- Lesões leves após esforço intenso.
Nesses casos, a dor tende a melhorar em poucos dias com medidas simples, como repouso, aplicação de calor na região, alongamentos leves e, se necessário, uso de analgésicos comuns. Quando isso não acontece e ela surge acompanhada de outros sintomas, pode ser momento de procurar atendimento médico.
Quando a dor nas costas pode ser preocupante?
Segundo a neurocirurgiã Ana Camila Gandolfi, observar as características da dor nas costas é muito importante para identificar se ela pode indicar algo mais grave. A especialista destaca alguns sinais que exigem atenção imediata:
- Dificuldade motora: perda de força em mãos, pés ou pernas associadas à dor;
- Dor que acorda à noite: diferente da dor que já impede o sono, é aquela que desperta a pessoa durante a noite;
- Febre acompanhando a dor: pode indicar a presença de uma infecção;
- Dificuldade respiratória: quando surge junto da dor nas costas;
- Alterações neurológicas: como perda de sensibilidade ou quando um simples toque é interpretado pelo corpo como dor.
Nesses casos, a recomendação é não adiar a consulta médica. Apenas uma avaliação profissional com exames específicos pode identificar a causa e indicar o tratamento adequado.
Quais problemas estão associados à dor nas costas?
Uma dor nas costas que persiste por mais de quatro semanas e está acompanhada de outros sintomas, pode indicar condições mais sérias, como:
1. Doenças respiratórias
Infecções como pneumonia e pleurisia (inflamação da membrana que envolve os pulmões) podem provocar dor na região torácica das costas. Isso acontece porque os pulmões inflamados aumentam o esforço da musculatura durante a respiração — causando desconforto e dor que pode piorar ao tossir ou inspirar fundo.
2. Infecção renal
Os rins ficam localizados na parte inferior das costas, e quando há uma infecção (chamada pielonefrite), é comum que a dor lombar apareça de forma persistente e intensa, muitas vezes em apenas um dos lados.
O quadro costuma vir acompanhado de febre alta, calafrios, mal-estar, enjoo e alterações na urina, como cheiro forte, ardência ao urinar ou até presença de sangue. Se não tratada, a infecção pode se espalhar para a corrente sanguínea, causando complicações sérias.
3. Pedra nos rins
As pedras nos rins, ou cálculos renais, são uma das causas mais comuns de dor lombar súbita e muito forte, chamada cólica renal. A dor costuma surgir de forma inesperada, em ondas, e pode irradiar para a virilha, abdômen inferior e até órgãos genitais. Além disso, podem aparecer sintomas como náusea, vômito, suor excessivo, vontade frequente de urinar e presença de sangue na urina.
4. Dor ciática
O nervo ciático é o maior do corpo humano e percorre da lombar até os pés. Quando ele sofre compressão, geralmente por hérnia de disco ou desgaste da coluna, pode causar uma dor que começa na lombar e irradia para glúteos, pernas e até os pés. Além da dor em queimação ou fisgada, é comum a presença de formigamento, dormência e até perda de força muscular.
5. Hérnia de disco
A hérnia de disco acontece quando o disco intervertebral, que funciona como uma espécie de “amortecedor” entre as vértebras, se desloca e acaba comprimindo os nervos da coluna. Isso causa dor intensa, normalmente na região lombar ou cervical, que pode irradiar para braços ou pernas.
Além da dor, o quadro pode causar rigidez, formigamento, dormência e perda de força muscular, dificultando até atividades simples, como se abaixar, subir escadas ou carregar objetos. Em casos mais graves, a hérnia pode limitar bastante a mobilidade e exigir tratamento especializado.
6. Artrose
Também chamada de osteoartrite da coluna, a artrose é o desgaste progressivo das articulações ao longo do tempo. É mais comum em pessoas acima dos 50 anos, mas pode aparecer antes em quem sobrecarrega a coluna por fatores como má postura, obesidade ou esforços repetitivos.
O problema provoca dor crônica, rigidez ao acordar ou após longos períodos parado, estalos e limitação de movimentos.
7. Abscesso
Os abscessos próximos à coluna ocorrem quando há acúmulo de pus causado por uma infecção bacteriana. Além da dor persistente e localizada, podem provocar febre, calafrios e mal-estar geral.
Dependendo da gravidade, a infecção pode comprometer nervos e estruturas importantes da coluna, exigindo tratamento com antibióticos e, em alguns casos, drenagem cirúrgica de urgência. Por isso, é fundamental uma avaliação médica.
8. Infarto (casos raros)
Embora mais conhecido pela dor no peito, o infarto também pode irradiar para a região das costas, especialmente entre as escápulas. Quando a dor aparece junto de falta de ar, suor frio, náusea ou pressão no peito, é preciso procurar ajuda médica imediata.
Como diferenciar dor comum de dor preocupante?
Nem sempre é fácil distinguir uma dor passageira de uma dor que exige mais atenção, mas alguns sinais podem ajudar a fazer essa diferenciação:
Dores comuns | Dores que merecem atenção |
---|---|
Melhoram com repouso, alongamentos leves e analgésicos simples. | Não aliviam com repouso ou tratamento caseiro e pioram progressivamente. |
Estão associadas ao esforço físico, má postura ou sedentarismo. | Pioram à noite ou atrapalham o sono. |
Tendem a desaparecer em poucos dias ou, no máximo, em uma a duas semanas. | Persistem por várias semanas ou se intensificam ao longo do tempo. |
Não estão associadas a sintomas sistêmicos. | Vêm acompanhadas de febre, perda de peso inexplicável, alterações neurológicas (formigamento, dormência, perda de força) ou incontinência urinária/intestinal. |
Como é feita a investigação?
Quando a dor nas costas levanta suspeita de algo mais sério, o médico começa a investigação com uma avaliação detalhada — ou seja, uma conversa para entender como a dor começou, a intensidade, duração, fatores que pioram ou aliviam e o histórico de saúde do paciente.
Também são avaliados hábitos de vida, como prática de exercícios, postura no trabalho e histórico familiar de doenças.
Em seguida, é realizado um exame físico, onde o especialista observa postura, força muscular, reflexos, sensibilidade e amplitude de movimentos. Isso ajuda a diferenciar se a dor é de origem muscular, nervosa, óssea ou até relacionada a outros órgãos.
Dependendo do quadro, podem ser solicitados exames complementares, como:
- Raio-X: útil para identificar fraturas, alterações ósseas e artrose;
- Ressonância magnética: indicada para avaliar discos intervertebrais, hérnias, nervos e tecidos moles com mais precisão;
- Tomografia computadorizada: detalha melhor estruturas ósseas e pode ser usada em casos de trauma;
- Exames laboratoriais: ajudam a investigar infecções, doenças renais, inflamatórias ou sistêmicas que possam estar ligadas à dor.
Importante destacar que os exames vão depender muito da hipótese diagnóstica: pode ser um exame de imagem, um exame de sangue, uma radiografia do pulmão, do rim ou da coluna. Isso varia conforme a avaliação médica, de acordo com Ana Camila Gandolfi.
Como prevenir dores nas costas?
Nem sempre é possível evitar completamente o surgimento de dores nas costas, especialmente quando associadas a predisposição genética e doenças crônicas. No entanto, adotar certos hábitos no dia a dia pode reduzir bastante o risco e até aliviar crises quando elas surgem. Alguns deles incluem:
- Manter boa postura: sentar-se com a coluna ereta, os pés apoiados no chão e os ombros relaxados; evite ficar curvado por longos períodos;
- Fortalecer a musculatura: praticar atividades físicas regularmente, principalmente exercícios que fortaleçam abdômen, costas e glúteos;
- Alongar com frequência: incluir alongamentos leves na rotina, especialmente após longos períodos sentado ou em pé;
- Cuidar do peso corporal: manter alimentação equilibrada e exercícios para reduzir a sobrecarga na coluna;
- Evitar carregar peso de forma incorreta: para levantar objetos pesados, dobre os joelhos e mantenha a carga próxima ao corpo.
Por fim, é fundamental estar atento aos sinais que o corpo dá. Se a dor nas costas aparecer com frequência, não melhorar em alguns dias ou vier acompanhada de outros sintomas (formigamento, febre, perda de força, alterações urinárias), é hora de procurar um médico.
Perguntas frequentes sobre dor nas costas
1. Dor nas costas pode ser causada por estresse?
Sim. O estresse emocional provoca tensão muscular, especialmente na região do pescoço e da lombar. Quando ela é constante, a contração pode causar dor, rigidez e até dor de cabeça. Muitas vezes, o incômodo diminui com técnicas de relaxamento, prática de atividade física, sono adequado e acompanhamento psicológico, se necessário.
2. Dor nas costas pode estar ligada ao coração?
Sim, em casos raros. O infarto, por exemplo, pode irradiar dor para a região das costas, principalmente entre as escápulas. Ela geralmente vem acompanhada de pressão no peito, falta de ar, suor frio, náusea e mal-estar. Nesses casos, é uma emergência médica e exige atendimento imediato.
3. Grávidas sentem mais dor nas costas?
Sim, pois a gestação altera o centro de gravidade do corpo, aumenta o peso e relaxa ligamentos por conta das mudanças hormonais — o que sobrecarrega a coluna. O resultado é dor lombar frequente, especialmente no final da gravidez. Alongamentos, fisioterapia e exercícios leves podem ajudar, sempre com orientação médica.
4. O colchão influencia na dor nas costas?
Sim. O ideal é escolher um colchão que mantenha o alinhamento natural da coluna, nem muito mole nem excessivamente duro. O recomendado é, se possível, trocar o colchão a cada 8 a 10 anos. O travesseiro também deve ser adequado à posição em que você dorme.
5. Exercício físico ajuda ou piora a dor nas costas?
Durante crises de dor intensa, o esforço físico exagerado pode piorar o quadro. No entanto, a prática regular de atividade física é uma das principais formas de prevenção, pois fortalece os músculos que dão suporte à coluna e melhora a flexibilidade.
Atividades como pilates, yoga, caminhada, natação e musculação com orientação profissional podem ser incluídas na rotina.
6. Caminhar ajuda na dor lombar?
Caminhadas leves e regulares estimulam a circulação sanguínea, aliviam a rigidez muscular e fortalecem a região lombar e abdominal. É uma atividade segura e acessível para a maioria das pessoas, mas deve ser feita sem sobrecarga e em ritmo confortável.
7. Como aliviar a dor nas costas?
O alívio depende da causa, mas em casos simples, medidas como compressa morna, alongamento leve, hidratação, pausas para se movimentar e repouso relativo já ajudam. Em situações mais persistentes, podem ser necessários remédios, fisioterapia ou até procedimentos médicos.
8. Como diferenciar dor nas costas de dor no pulmão?
A dor nas costas geralmente piora com movimentos ou esforço físico e pode ser muscular ou nervosa. Já a dor causada por problemas pulmonares (como pneumonia ou pleurisia) costuma estar associada a falta de ar, tosse, febre e piora ao respirar fundo. Nesses casos, é essencial procurar atendimento médico.