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DOENÇAS & CONDIÇÕES

Doenças autoimunes: 10 sinais para você ficar atento

Nas doenças autoimunes, o sistema de defesa passa a confundir ameaças com células do corpo e inicia um ataque que inflama tecidos e órgãos.

Dr. Giovanni Henrique Pinto

Dr. Giovanni Henrique Pinto

5min • 9 de dez. de 2025

Mãos de mulher com rigidez e dor nas articulações, indicando possível doença autoimune.

Existem mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, e cada uma afeta o corpo de um jeito diferente | Foto: Freepik

No Brasil, cerca de 15 milhões de pessoas convivem com doenças autoimunes, sendo a maioria mulheres. A condição pode afetar articulações, pele, glândulas, intestino, rins, pulmões, nervos e praticamente qualquer órgão, e costuma causar sintomas que variam conforme o sistema atingido.

Eles tendem a aparecer aos poucos, com fases de melhora e piora, e muitas pessoas passam muito tempo acreditando que sinais como cansaço extremo, dores no corpo e queda de cabelo são apenas situações passageiras. Na verdade, tudo isso pode indicar que o sistema imunológico está desregulado e atacando estruturas do próprio corpo.

Conversamos com o cardiologista Giovanni Henrique Pinto para entender como as doenças autoimunes se manifestam, quais as mais comuns e como é feito o diagnóstico.

O que são doenças autoimunes?

As doenças autoimunes são condições em que o sistema imunológico, que deveria proteger o corpo de vírus, bactérias e outros agentes agressivos, começa a agir de forma confusa e passa a atacar células, tecidos e órgãos saudáveis. A reação provoca uma inflamação contínua, que pode atingir articulações, pele, intestino, glândulas, rins, pulmões, nervos e praticamente qualquer parte do organismo.

A causa ainda não é totalmente conhecida, mas estudos mostram que fatores genéticos, hormonais, infecções, estresse e ambiente podem influenciar no desenvolvimento das doenças autoimunes.

“O clínico geral costuma ser o primeiro a levantar essa suspeita porque a consulta inicial geralmente acontece com ele. E como essas doenças costumam começar com sintomas vagos e variados, é o clínico quem faz a triagem dos sinais e decide se é necessário encaminhar ao reumatologista ou outro especialista”, explica Giovanni.

Quais as doenças autoimunes mais comuns?

Existem mais de 80 doenças autoimunes conhecidas, e cada uma afeta o corpo de um jeito diferente. As mais comuns incluem:

  • Artrite reumatoide, que provoca inflamação contínua nas articulações, causando dor, rigidez ao acordar e, com o tempo, limitação de movimento;
  • Lúpus, que pode atingir pele, rins, articulações, sangue e outros órgãos, causando manchas, dores, inchaços e períodos de forte inflamação;
  • Doença celíaca, que causa reação ao glúten e altera o funcionamento do intestino, levando a diarreia, dor abdominal, anemia e perda de nutrientes;
  • Tireoidite de Hashimoto, que reduz a função da tireoide e pode causar cansaço, ganho de peso, queda de cabelo e sensação de frio;
  • Psoríase, que produz placas vermelhas e descamação na pele, podendo estar associada a dor nas articulações;
  • Vitiligo, que provoca perda de pigmento em áreas da pele, formando manchas claras que podem surgir em diferentes partes do corpo;
  • Doença de Graves, que acelera o funcionamento da tireoide, causando perda de peso, ansiedade, palpitações e intolerância ao calor;
  • Esclerose múltipla, que interfere na comunicação entre cérebro e corpo, gerando sintomas como formigamentos, fraqueza e dificuldade para manter equilíbrio;
  • Síndrome de Sjögren, que reduz a produção de lágrimas e saliva, levando a olhos secos, boca seca e maior risco de cáries;
  • Doença de Crohn, que inflama o trato digestivo e pode causar dor abdominal, diarreia crônica, perda de peso e anemia;
  • Retocolite ulcerativa, que afeta o intestino grosso e provoca diarreia com sangue, urgência para evacuar e cólicas abdominais.

‘Cada uma tem manifestações específicas, mas todas compartilham a ideia de ‘auto ataque’ do sistema imune”, aponta Giovanni.

Quais os principais sinais que podem indicar uma doença autoimune?

Apesar de cada doença ter características próprias, alguns sinais chamam a atenção pela combinação, persistência e padrão de aparecimento, segundo Giovanni. Alguns deles incluem:

  • Dores articulares persistentes, principalmente em mãos, punhos, joelhos ou pés;
  • Manchas ou alterações na pele, especialmente se pioram com sol;
  • Fadiga intensa, desproporcional ao esforço;
  • Sensação de fraqueza ou febre baixa recorrente;
  • Queda de cabelo acentuada, fora do padrão habitual;
  • Inchaço articular ou rigidez matinal prolongada;
  • Boca e olhos muito secos;
  • Formigamentos e dormências sem causa aparente;
  • Alterações no intestino, como diarreia crônica;
  • Aftas ou feridas que não cicatrizam facilmente.

O cardiologista ressalta que sintomas como fadiga, queda de cabelo, alterações no humor e dores articulares podem acontecer em diversas situações — desde estresse e deficiência de vitaminas até problemas hormonais.

“Por isso o diagnóstico nunca é feito apenas pelo sintoma. O médico avalia o contexto, o tempo de evolução, o padrão das queixas, fatores familiares e exames laboratoriais”, complementa.

Como as doenças autoimunes evoluem ao longo do tempo

A maioria das doenças autoimunes apresenta ciclos, porque o sistema imunológico não se mantém estável o tempo todo e reage de maneiras diferentes conforme estímulos internos e externos:

  • Fase de atividade, chamada de crise ou surto, quando os sintomas aumentam;
  • Fase de remissão, quando há melhora parcial ou total.

A variação ocorre porque o organismo alterna períodos de maior inflamação com períodos de descanso, criando um padrão que pode durar semanas ou meses. Por causa disso, muitas pessoas relatam dias muito difíceis, seguidos de fases mais tranquilas, o que às vezes dificulta o reconhecimento do problema no início.

“As oscilações podem ser influenciadas por infecções, estresse, exposição solar, alterações hormonais e até fatores emocionais. Por isso, o acompanhamento regular é fundamental”, explica Giovanni.

Como é feito o diagnóstico das doenças autoimunes?

O diagnóstico das doenças autoimunes começa com uma avaliação clínica detalhada, porque não existe um único exame capaz de confirmar todas as condições. A investigação se baseia na combinação de sintomas, histórico do paciente e sinais encontrados no exame físico.

Segundo Giovanni, o clínico costuma iniciar a suspeita quando os sintomas persistem por semanas ou meses e mostram padrão inflamatório, como rigidez matinal prolongada. A presença de vários sintomas ao mesmo tempo também é sinal de alerta, como dor articular com aftas, queda de cabelo e fadiga intensa, assim como um histórico familiar de doenças autoimunes.

Durante o exame físico, o médico observa sinais como articulações quentes, manchas na pele, mudanças nas unhas ou inchaços, que ajudam a direcionar a avaliação. Nessa fase, podem ser solicitados exames como hemograma, VHS, PCR, FAN e fatores reumatológicos, que mostram se há inflamação ativa ou alterações no sistema imunológico.

Quando necessário, o clínico encaminha para o reumatologia, endocrinologia, dermatologia ou gastroenterologia, conforme o órgão mais afetado, permitindo um diagnóstico mais preciso e um tratamento adequado.

Quando ir ao médico?

A busca por atendimento é importante quando os sintomas duram semanas ou meses e mostram padrão de inflamação contínua. Os principais sinais de alerta incluem:

  • Dor que piora ao acordar;
  • Fadiga intensa;
  • Queda de cabelo;
  • Aftas frequentes;
  • Dor nas articulações;
  • Alterações no intestino;
  • Articulações quentes ou inchadas;
  • Manchas na pele;
  • Febre baixa persistente;
  • Sensação constante de adoecimento.

A presença de vários sintomas ao mesmo tempo indica que o organismo pode estar reagindo de maneira incomum. A avaliação também é importante quando há histórico familiar de doenças autoimunes, pois o risco pode ser maior.

Doenças autoimunes têm cura?

A maioria das doenças autoimunes não tem cura definitiva, mas pode ser controlada com tratamento médico, que contribui para reduzir a inflamação, aliviar sintomas e impedir danos aos órgãos ao longo do tempo. A evolução varia muito entre pacientes, e algumas condições apresentam longos períodos de remissão, nos quais os sintomas diminuem bastante.

A combinação de acompanhamento médico, uso correto das medicações, ajustes no estilo de vida e vigilância para evitar gatilhos ajuda a manter qualidade de vida da pessoa.

Confira: Boca seca, olho seco: entenda mais sobre a síndrome de Sjögren

Perguntas frequentes

Por que as doenças autoimunes aparecem?

A origem das doenças autoimunes envolve vários fatores que se somam ao longo da vida, como genética, hormônios, infecções, estresse e ambiente. Tudo isso pode modificar a forma como o sistema imunológico reconhece as células do próprio corpo.

Ter familiares com a condição aumenta o risco, e algumas infecções virais podem funcionar como gatilho para os primeiros sintomas.

Os hormônios também têm um papel importante, porque momentos como gravidez, pós-parto e menopausa podem mudar o equilíbrio do sistema imunológico e facilitar o aparecimento da doença.

Como os sintomas começam?

Os primeiros sintomas costumam aparecer de forma discreta e gradual, o que faz muitas pessoas demorarem para perceber que algo está errado. A pessoa pode sentir cansaço profundo que não melhora com descanso, dor nas articulações que vai e volta, mudanças no intestino sem motivo claro, queda de cabelo, sensibilidade maior ao frio ou febre baixa repetida.

Em vários casos, também surgem aftas frequentes, dores musculares leves ou uma sensação constante de mal-estar difícil de explicar.

O padrão pode causar a impressão de que a situação está normalizando quando, na verdade, existe um processo inflamatório se instalando aos poucos. A irregularidade dos sintomas acaba confundindo a pessoa e atrasando a busca por atendimento, permitindo que a inflamação avance de maneira silenciosa.

Como saber se os sintomas são sinais de doença autoimune?

A persistência é o principal sinal de alerta: quando o corpo apresenta dor prolongada, fadiga intensa, mudanças digestivas, perda de peso involuntária, inchaço persistente ou manchas na pele que não desaparecem, é importante procurar um médico.

A presença de vários sintomas ao mesmo tempo indica que o sistema imunológico pode estar reagindo de maneira inadequada.

Como funciona o tratamento de doenças autoimunes?

O tratamento das doenças autoimunes varia de acordo com o órgão afetado, mas normalmente inclui medicamentos que reduzem inflamação, protegem tecidos e equilibram o sistema imunológico.

A rotina também envolve ajustes de sono, alimentação, atividade física e controle do estresse, já que pequenos hábitos do dia a dia influenciam diretamente a intensidade dos sintomas.

Vale apontar que é importante ter a orientação de um médico, que permite adaptar doses, escolher terapias mais seguras e acompanhar a resposta do organismo ao longo do tempo, evitando que a inflamação cause danos permanentes e garantindo uma vida mais estável.

Pessoas com doença autoimune podem fazer exercícios físicos?

A atividade física orientada melhora a função muscular, controla a inflamação, aumenta a disposição e reduz dores. O tipo de exercício deve ser escolhido conforme a condição individual, respeitando limites e o grau de inflamação. A regularidade é importante, mas o corpo precisa de descanso nos dias em que a crise está ativa.

A doença autoimune aumenta o risco de outras condições?

A inflamação contínua deixa o organismo mais vulnerável a alterações hormonais, problemas cardiovasculares, anemia, alterações na tireoide e distúrbios intestinais, já que o corpo passa longos períodos tentando lidar com um sistema imunológico desregulado.

A presença de inflamação prolongada também pode afetar humor, energia, qualidade do sono e capacidade de manter uma rotina estável.

Com o acompanhamento médico regular, é possível detectar mudanças rapidamente e iniciar tratamento adequado, evitando complicações e preservando a saúde dos órgãos ao longo do tempo.

Leia também: Artrite reumatoide: o que é, sintomas, diagnóstico e tratamento

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Foto de Dr. Giovanni Henrique Pinto

Escrito por Dr. Giovanni Henrique Pinto

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