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Diabetes gestacional: o que é, sintomas, o que causa e como evitar
Ela pode afetar mulheres de qualquer idade, mas é mais frequente em mulheres com mais de 35 anos ou histórico familiar da doença

Dra. Denise Orlandi
5min • 22 de set. de 2025

Durante a gestação, o corpo da mulher passa por mudanças importantes, incluindo na forma como utiliza a glicose. Para ajudar no crescimento do bebê, a placenta libera hormônios que podem reduzir a ação da insulina, que é o hormônio responsável por controlar o açúcar no sangue.
Como consequência, o pâncreas precisa produzir quantidades maiores de insulina para compensar essa resistência. Contudo, quando ele não consegue dar conta da demanda, a glicose começa a se acumular no sangue, resultando no diabetes gestacional, uma condição que exige atenção devido aos riscos que pode causar ao bebê e à mãe.
“Ele acontece porque o corpo da mulher passa por muitas mudanças hormonais — além do ganho de peso e da tendência genética que elas podem ter para o diabetes. A gravidez é um momento de maior resistência à insulina para a mulher, o que dificulta o controle do açúcar no sangue”, explica a endocrinologista Denise Orlandi.
Esclarecemos, a seguir, as principais dúvidas sobre o diabetes gestacional, desde os sintomas, tratamento e como prevenir. Confira!
Afinal, o que é diabetes gestacional?
O diabetes gestacional é uma condição caracterizada pelo aumento nos níveis de açúcar no sangue durante a gravidez.
Normalmente, ela é diagnosticada a partir do segundo trimestre, que é quando os os hormônios produzidos pela placenta aumentam a resistência à insulina. É uma adaptação natural para garantir que o bebê receba glicose o suficiente para se desenvolver, no entanto, em algumas pessoas, o pâncreas não consegue produzir insulina em quantidade adequada, resultando no diabetes.
A condição geralmente desaparece após o parto, mas representa um alerta importante para a saúde da mãe e do filho, já que ambos ficam mais propensos a desenvolver diabetes tipo 2 ao longo da vida.
Causas da diabetes gestacional
A causa principal do diabetes gestacional está associada à resistência insulínica provocada pelos hormônios da gravidez, mas alguns outros fatores podem contribuir para o desenvolvimento da condição, como:
- Mudanças hormonais da gravidez, uma vez que a placenta produz hormônios que dificultam a ação da insulina;
- Predisposição genética, de modo que mulheres com histórico familiar de diabetes têm mais chance de desenvolver a condição;
- Excesso de peso;
- Condições de saúde pré-existentes, como síndrome dos ovários policísticos (SOP) e resistência à insulina
Fatores de risco da diabetes gestacional
De acordo com a endocrinologista Denise Orlandi, alguns dos fatores de risco que aumentam a chance de ter diabetes gestacional incluem:
- Idade materna acima de 25 anos;
- Sobrepeso ou obesidade antes da gestação;
- Histórico familiar de diabetes (pai, mãe ou irmãos);
- Ter tido diabetes gestacional em gravidez anterior.
- Já ter tido um bebê com mais de 4 kg ao nascer;
- Síndrome dos Ovários Policísticos (SOP);
- Histórico de parto prematuro, abortos ou complicações sem causa aparente.
Quais os sintomas de diabetes gestacional?
Na maioria dos casos, o diabetes gestacional não manifesta sintomas evidentes, então muitas mulheres só descobrem a condição em exames de rotina do pré-natal. Quando os sintomas aparecem, podem incluir:
- Sede excessiva.
- Aumento da frequência urinária.
- Cansaço.
- Visão embaçada.
Uma vez que os sintomas podem ser confundidos com sinais comuns da gravidez, é fundamental manter um acompanhamento pré-natal adequado, para identificar a condição precocemente.
Como é feito o diagnóstico?
O rastreamento do diabetes gestacional faz parte do pré-natal e costuma ser realizado entre a 24ª e 28ª semanas de gestação. Os exames mais utilizados no diagnóstico incluem:
Curva glicêmica: é capaz de medir a velocidade com que o corpo absorve a glicose após a ingestão. Nele, a gestante ingere uma solução açucarada e é feita uma nova coleta de sangue (normalmente após 1 ou duas horas) após a ingestão.
Glicemia de jejum: é um exame de sangue feito após jejum de 8 horas. Ele mostra a quantidade de glicose circulando no sangue em repouso, sendo o primeiro passo para identificar alterações no metabolismo da gestante.
Diabetes gestacional: valores de referência
Os exames feitos no pré-natal têm limites específicos para indicar se a gestante apresenta ou não diabetes gestacional. Eles variam de acordo com o tipo de teste realizado.
No teste de curva glicêmica, os valores de referência são:
- Jejum: resultado deve ser menor que 92 mg/dL;
- Após 1 hora da ingestão: deve estar abaixo de 180 mg/dL;
- Após 2 horas: precisa estar inferior a 153 mg/dL.
Se em qualquer momento os valores forem iguais ou superiores a 200 mg/dL, o quadro de diabetes gestacional já é confirmado.
Já na glicemia de jejum isolada, os valores de referência são:
- Entre 92 mg/dL e 100 mg/dL: resultado alterado, mas próximo ao limite, e exige repetição do exame;
- Acima de 100 mg/dL: é fortemente sugestivo de diabetes, devendo também ser reavaliado em nova coleta.
Tratamento de diabetes gestacional
O tratamento do diabetes gestacional tem como principal objetivo manter a glicose dentro de níveis adequados, e envolve especialmente mudanças no estilo de vida:
Dieta para diabetes gestacional
Seguir uma dieta para diabetes gestacional adequada é uma das principais maneiras de controlar os níveis de glicose no sangue. O ideal é que a gestante priorize o consumo de alimentos in natura e ricos em fibras, como:
- Frutas frescas (banana, laranja, pera, maçã, kiwi, morango);
- Laticínios (leite semi ou desnatado, iogurte natural, queijo branco);
- Oleaginosas (castanha de caju, amendoim, avelãs, nozes e amêndoas);
- Leguminosas (feijão, grão-de-bico, lentilha, ervilha);
- Carnes magras (peixes, frango, ovo);
- Vegetais (alface, tomate, rúcula, brócolis, abobrinha);
- Cereais integrais (arroz integral, pão integral, quinoa, aveia).
Também é importante reduzir o consumo de açúcares, doces, refrigerantes e ultraprocessados, além de distribuir as refeições em pequenas porções ao longo do dia. Assim, é possível evitar picos de glicemia, controlar o peso e garantir energia constante para mãe e bebê.
Exercícios físicos para diabetes gestacional
A prática de atividade física, quando orientada pelo médico, contribui para para o bem-estar emocional, reduz o estresse e favorece o preparo do corpo para o parto.
Caminhadas leves, hidroginástica e até mesmo aulas de yoga específicas para gestantes também podem ajudar a melhorar a sensibilidade à insulina e a manter o peso sob controle.
Remédios para diabetes gestacional
Na maioria dos casos, uma alimentação equilibrada e a prática de exercícios físicos são suficientes para manter a glicemia em níveis adequados. No entanto, quando isso não acontece, o médico pode prescrever o uso de insulina para baixar o açúcar no sangue.
Em alguns casos, pode ser indicado o uso de medicamentos via oral, como hipoglicemiantes, mas apenas um especialista pode definir a abordagem mais segura para a mãe e o bebê.
Monitoramento da glicemia
A gestante precisa realizar exames de sangue periódicos ou até medir a glicose em casa, com glicosímetro, conforme a orientação médica. O ideal é que o nível de açúcar no sangue seja verificado de quatro a cinco vezes por dia, de manhã em jejum e após as refeições.
Isso permite ajustes imediatos no plano alimentar ou no tratamento sempre que necessário.
O diabetes gestacional some depois do parto?
Na maioria dos casos, sim. Contudo, a endocrinologista Denise Orlandi aponta que o risco não acabou.
“A mulher deve continuar monitorando seus níveis de açúcar com exames periódicos, pois existe uma chance maior de desenvolver diabetes tipo 2 mais adiante”, explica.
Riscos da diabetes gestacional
Se não diagnosticada e tratada adequadamente, o diabetes gestacional pode causar complicações para a mãe e o bebê.
Entre os riscos para o bebê, Denise ressalta:
- Macrossomia (bebê muito grande);
- Maior risco de parto cesárea ou traumatismos no parto;
- Hipoglicemia logo após o nascimento;
- Prematuridade;
- Maior risco de obesidade e diabetes tipo 2 na vida adulta.
Já para a mãe, o diabetes gestacional pode aumentar o risco de:
- Maior risco de pré-eclâmpsia (pressão alta grave);
- Infecções urinárias e candidíase recorrente;
- Necessidade de parto cesárea;
- Maior chance de desenvolver diabetes tipo 2 no futuro.
“Por isso, é importante manter o acompanhamento médico mesmo depois da gestação”, complementa Denise.
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Como evitar a diabetes gestacional?
Nem sempre é possível prevenir, mas algumas atitudes no dia a dia contribuem para diminuir o risco, como:
- Manter peso saudável antes da gestação;
- Praticar atividade física regular;
- Seguir uma alimentação equilibrada, rica em vegetais, frutas, grãos integrais e proteínas magras;
- Evitar ganho de peso excessivo durante a gravidez;
- Fazer acompanhamento médico regular e seguir todas as orientações do pré-natal.
“Mulheres que tiveram diabetes gestacional têm um risco até 50% maior de desenvolver diabetes tipo 2 nos anos seguintes, especialmente se não adotarem hábitos saudáveis. Por isso, manter uma alimentação equilibrada, praticar atividades físicas e ter acompanhamento médico regular são atitudes importantes para prevenir o problema”, finaliza Denise.
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Perguntas frequentes sobre diabetes gestacional
1. O diabetes gestacional pode acontecer em qualquer gravidez?
Sim, qualquer gestante pode apresentar diabetes gestacional. Isso acontece porque, mesmo mulheres jovens, sem histórico familiar e com peso adequado, estão suscetíveis às alterações hormonais típicas da gestação que aumentam a resistência à insulina.
Por isso, todas as grávidas devem passar pelos exames de rastreamento entre a 24ª e a 28ª semana, mesmo que não tenham risco aparente.
2. Existe diferença entre diabetes gestacional e diabetes tipo 2?
Apesar de ambos envolverem resistência à insulina e níveis elevados de açúcar no sangue, eles não são a mesma doença. O diabetes gestacional aparece apenas durante a gravidez e costuma desaparecer após o parto.
Já o diabetes tipo 2 é uma condição crônica, permanente, que exige tratamento contínuo. No entanto, ter diabetes gestacional aumenta significativamente o risco de desenvolver diabetes tipo 2 ao longo da vida.
3. O diabetes gestacional pode causar parto prematuro?
Sim, pode. O excesso de glicose no sangue pode levar a complicações como polidrâmnio (aumento do líquido amniótico), que favorece a ruptura precoce da bolsa e, consequentemente, o parto prematuro.
Além disso, a necessidade de antecipar o parto pode ser indicada pelo médico em casos de macrossomia ou de risco para a saúde materna.
4. Mulheres magras também podem ter diabetes gestacional?
Sim! A obesidade e o sobrepeso aumentam o risco de desenvolver diabetes gestacional, mas gestantes magras também estão suscetíveis, já que a condição não depende apenas do peso corporal, mas também de fatores hormonais e genéticos.
Por isso, mesmo quem tem IMC considerado normal deve realizar os exames de rastreamento no pré-natal.
5. Quem já teve diabetes gestacional pode ter novamente em outra gravidez?
Sim. Mulheres que já tiveram diabetes gestacional em uma gravidez anterior têm mais chance de desenvolver o problema em outras gestações e também de apresentar diabetes tipo 2 no futuro.
Nesse sentido, é importante manter hábitos saudáveis, priorizando uma alimentação equilibrada, a prática regular de atividade física e o controle do peso.
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