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SAÚDE MENTAL & EMOCIONAL

Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

Descubra os sinais da depressão adolescente, como o bullying afeta e como as séries podem ajudar. Saiba como apoiar com empatia e escuta ativa

Dra. Graccielle Asevedo

Dra. Graccielle Asevedo

5min • 25 de jul. de 2025

Depressão adolescente: sinais e como ajudar com empatia

A tristeza profunda que dura semanas, o isolamento repentino e o silêncio atrás de portas fechadas. Será que é só uma fase? A depressão na adolescência é real e está mais presente do que muitos adultos imaginam.

Com o apoio da psiquiatra Graccielle Asevedo, hoje você vai entender os sinais de alerta, o papel das séries adolescentes nessa conversa e como os adultos podem ajudar de verdade.

Por que a depressão na adolescência está aumentando?

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), a saúde mental de adolescentes preocupa. O número de jovens com sintomas depressivos tem crescido, inclusive em idades cada vez mais jovens. Um estudo feito em Recife apontou que quase 60% dos adolescentes de 14 a 16 anos apresentavam sintomas importantes de depressão.

Esse aumento pode estar ligado a fatores como:

  • Poucas horas de sono;
  • Muito tempo de exposição a telas e conteúdos violentos;
  • Falta de tempo ao ar livre ou de convivência com amigos;
  • Pressão, cobranças e traumas vividos na infância.

Ou seja: a rotina de hoje tem deixado pouco espaço para o descanso emocional dos jovens.

7 sinais de depressão em adolescentes que pais devem observar

Nem sempre o adolescente vai dizer que está sofrendo, mas o corpo e o comportamento dão pistas. Fique atento a mudanças como:

  • Isolamento social;
  • Irritabilidade constante;
  • Queda no rendimento escolar;
  • Distúrbios no sono e apetite;
  • Queixas físicas frequentes sem causa definida;
  • Automutilação;
  • Postagens com tom ambíguo sobre morte ou suicídio.

“Mesmo sinais discretos, se durarem mais de duas semanas, precisam ser levados a sério”, alerta a psiquiatra Graccielle Asevedo.

Bullying e suas marcas invisíveis

Bullying na adolescência não é só brincadeira de mau gosto. Os efeitos podem durar bastante tempo e envolver autoestima abalada, medo de socializar, ansiedade, depressão e, em casos mais graves, pensamentos suicidas.

“Muitos adolescentes evitam ambientes sociais por medo de novas agressões. E o mais grave: quando esse sofrimento não é validado, pode durar por toda a vida adulta”, afirma Graccielle.

O que as séries revelam (e escondem)

As séries adolescentes têm abordado temas como bullying, depressão e suicídio com cada vez mais intensidade. Para Graccielle, isso pode ter dois efeitos:

  • Positivo, quando ajudam a dar nome ao sofrimento e incentivam o diálogo
  • Negativo, quando dão foco apenas a casos extremos, silenciando dores mais sutis.

“As séries funcionam como espelhos. Tentam traduzir sentimentos que os próprios adolescentes muitas vezes não conseguem nomear”, explica a psiquiatra. “Quando bem construídas, as séries podem ser um canal poderoso de empatia e conscientização. Mas quando tratam o sofrimento apenas como recurso dramático, sem mostrar caminhos de apoio, podem reforçar a sensação de desamparo.”

Por que os adolescentes trancam as portas?

Bilhetes, músicas e portas trancadas são, muitas vezes, sinais silenciosos de que algo não vai bem. “Esses ‘sinais cifrados’ são tentativas reais de se fazer entender sem se expor totalmente. São como testes silenciosos: ‘Se alguém perceber, talvez valha a pena falar’”, diz Graccielle.

Trancar a porta pode significar “quero ficar sozinho”, mas também pode ser um “me veja, sem me invadir”. O papel dos adultos é escutar com presença, sem julgamento.

Como ajudar um adolescente com depressão

Nem sempre os adolescentes pedem ajuda de forma direta. Mas perceber que há alguém disponível para escutar, e não apenas corrigir, já é um grande passo.

“Olhos serão revirados. Portas serão batidas. Mas isso não significa que devam permanecer fechadas”, lembra Graccielle.

A presença emocional de um adulto confiável é um dos maiores fatores de proteção contra a depressão na adolescência. Criar espaço para conversas simples, sem pressão, pode fazer diferença.

Dica para os pais: use as séries como ponte

Assistir junto as séries adolescentes pode ser uma chance de aproximação. “O mais importante não é apenas o que está na tela, mas como o adolescente reage àquilo”, diz. “Qual personagem ele defende? Qual cena ele revê em silêncio? Tudo isso são pistas emocionais”, sugere Graccielle.

Perguntar com curiosidade sobre as reações do adolescente pode abrir portas importantes. “Trocar um ‘isso é exagero’ por ‘deve ser difícil enfrentar isso sozinho’ pode mudar tudo”, orienta a psiquiatra.

O sofrimento do adolescente é real

“A adolescência não é só uma fase de transição. É onde se constroem os alicerces da autoestima, da confiança, da sensação de pertencimento”, afirma Graccielle. Saber reconhecer os sinais é importante, mas mais ainda é ser uma presença acolhedora.

“Porque um adolescente que encontra um adulto que o escuta, mesmo no caos, aprende algo fundamental: que não precisa atravessar tudo sozinho… que pode ser imperfeito, confuso, em construção — e ainda assim ser amado”, conclui.

Tratamento para depressão adolescente

Quando um adolescente está enfrentando a depressão, é muito importante que ele receba apoio e tratamento adequado. O primeiro passo é que os pais ou responsáveis o levem para uma avaliação com um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou psiquiatra especializado em adolescentes.

Esses profissionais estão preparados para entender o que o jovem está sentindo e, se for necessário, recomendarão o tratamento mais adequado, que pode incluir psicoterapia, mudanças no estilo de vida e, em alguns casos, o uso de medicação.

Se o médico recomendar o uso de remédios, é importante que a família acompanhe com atenção e confiança, respeitando as orientações e evitando interromper o tratamento por conta própria. Tudo deve ser feito com diálogo, paciência e muito cuidado, sempre ouvindo o adolescente e incluindo-o nas decisões.

Acolher com carinho, levar a sério o que o jovem está vivendo e buscar ajuda profissional sem demora são medidas muito importantes para que ele possa se recuperar e reencontrar o equilíbrio emocional.

Prevenção do suicídio adolescente: como fortalecer os vínculos

O suicídio é hoje a quarta causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos no Brasil, segundo a SBP, e os sinais de alerta podem aparecer ainda mais cedo, entre os 10 e 14 anos. Por isso, falar sobre o tema com cuidado, mas sem tabu, é uma forma importante de proteger o adolescente.

Os principais fatores de risco para suicídio adolescente estão:

  • Depressão e ansiedade não diagnosticadas ou não tratadas;
  • Uso de álcool e drogas;
  • Histórico de abuso sexual ou violência doméstica;
  • Pais ausentes emocionalmente ou com baixa escuta ativa;
  • Bullying e exclusão social, principalmente no ambiente escolar;
  • Pressão por sucesso, aparência ou desempenho;
  • Falta de autoestima e de um projeto de vida com sentido;
  • Sensação de não pertencimento, como se não houvesse espaço para ser quem se é.

Mas há também fatores de proteção que fazem uma enorme diferença. O mais importante, segundo a SBP, é o sentimento de esperança no futuro, algo que pode ser construído a partir de relações saudáveis e significativas.

Vínculos afetivos fortes com pais, amigos e professores são uma das principais formas de proteção emocional. Quando o adolescente sente que pode contar com alguém, mesmo nos momentos difíceis, ele tende a enfrentar melhor os desafios.

Por isso:

  • Esteja presente no dia a dia com escuta verdadeira e sem julgamentos;
  • Crie oportunidades de diálogo, mesmo que seja em momentos informais, como ver um filme juntos ou conversar no carro;
  • Ajude o adolescente a visualizar caminhos futuros com pequenas metas e projetos;
  • Fortaleça o vínculo com a escola e incentive as amizades saudáveis;
  • Evite frases como “isso é frescura”, “você não tem motivo para estar assim” ou apoios vagos, como “vai ficar tudo bem”. Prefira: “eu também já passei por algo parecido e te entendo. Vamos entender juntos o que está acontecendo”.

A SBP também reforça que a prevenção começa na escuta e na convivência. Quando o adolescente tem espaço para se expressar e encontra adultos disponíveis emocionalmente, o risco de desenvolver pensamentos suicidas diminui.

E, se surgir qualquer sinal de alerta, como falas frequentes sobre morte, tristeza persistente, isolamento ou mudanças bruscas de comportamento, busque apoio profissional imediatamente. Falar sobre isso pode salvar vidas.

Falar é importante: o CVV está pronto para ouvir, sempre

Quando a tristeza parece não passar ou as emoções ficam difíceis de entender, conversar com alguém pode fazer toda a diferença. E isso vale tanto para adolescentes quanto para quem cuida deles.

O CVV (Centro de Valorização da Vida) é um canal gratuito, sigiloso e que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana. Lá, voluntários preparados estão prontos para ouvir e dar orientações, sem julgamentos. Basta ligar 188 ou acessar o site cvv.org.br.

E atenção: os pais também podem ligar, caso estejam preocupados com o filho e não saibam como agir. O CVV acolhe qualquer pessoa que precise conversar, seja para aliviar o sofrimento, seja para entender melhor como ajudar alguém que está passando por um momento difícil.

Perguntas frequentes sobre depressão na adolescência

1. É normal adolescentes se isolarem?

Sim, até certo ponto. Mas o isolamento constante, quando vem acompanhado de tristeza, agressividade ou queda de rendimento, pode indicar depressão.

2. Séries sobre saúde mental ajudam ou atrapalham?

Depende. Algumas séries trazem reflexões importantes, outras exageram ou romantizam a dor. Assistir junto e conversar é a melhor forma de mediação.

3. Como abordar o assunto depressão com meu filho sem parecer invasivo?

Comece com perguntas abertas, sem julgamento. Mostrar disponibilidade sincera para escutar é mais importante do que acertar as palavras certas.

4. Como saber se um adolescente está com depressão?

Isolamento, queda no rendimento escolar, alterações no sono, irritabilidade e automutilação podem ser sinais. Busque ajuda médica se durarem mais de duas semanas.

 

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Foto de Dra. Graccielle Asevedo

Escrito por Dra. Graccielle Asevedo

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