DOENÇAS & CONDIÇÕES
Veja por que você pode pegar dengue até quatro vezes
Com quatro versões diferentes do vírus circulando, é possível ser infectado por dengue várias vezes; cada nova infecção pode aumentar o risco de complicações

Dra. Juliana Soares
5min • 4 de nov. de 2025

No Brasil, os quatro tipos do vírus já foram detectados em circulação. Isso significa que uma pessoa pode ter dengue até quatro vezes na vida, uma para cada tipo | Foto: Freepik
No Brasil, os quatro tipos do vírus já foram detectados em circulação. Isso significa que uma pessoa pode ter dengue até quatro vezes na vida, uma para cada tipo. E há um agravante: a reinfecção por um sorotipo diferente aumenta o risco de formas graves, como a dengue hemorrágica ou o choque da dengue. Entender isso ajuda a explicar por que a prevenção e a vacinação são tão importantes.
Você já ouviu alguém dizer que pegou dengue e agora está imune? Esse é um dos mitos mais comuns sobre a doença. A dengue não é causada por um único vírus, mas por quatro sorotipos diferentes — DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Cada um deles é capaz de causar infecção completa e, infelizmente, ter tido um não protege contra os outros.
O que são os sorotipos da dengue?
“Sorotipo” se refere a variações do mesmo vírus. Eles compartilham semelhanças genéticas, mas pequenas diferenças fazem o sistema imunológico reagir de forma distinta a cada um.
- DENV-1: um dos mais antigos em circulação no Brasil.
- DENV-2: frequentemente associado a surtos com casos graves.
- DENV-3: tem alta capacidade de causar epidemias quando retorna após longos períodos.
- DENV-4: raramente circula sozinho; quando reaparece, tende a provocar novas ondas.
Por que já ter tido dengue não protege contra todas as formas
O sistema imunológico aprende com aquilo em que já teve contato. Se você teve dengue por DENV-2, o corpo cria defesa eficiente contra esse tipo. Mas, ao se infectar depois por um outro sorotipo (ex.: DENV-3), os anticorpos anteriores podem reconhecer parcialmente o vírus sem neutralizá-lo com a mesma eficácia.
Nesse cenário pode ocorrer a amplificação dependente de anticorpos (ADE): os anticorpos da primeira infecção acabam facilitando a entrada do novo vírus nas células de defesa, levando a uma resposta inflamatória exagerada e elevando o risco de dengue grave (hemorrágica). Por isso alguém pode ter até quatro episódios, com reações distintas do organismo em cada um.
Qual é a relação entre os sorotipos e os casos mais graves
As segundas infecções costumam ser as mais perigosas. Com anticorpos de um sorotipo prévio em circulação, a resposta ao novo sorotipo pode ser descontrolada, aumentando a inflamação e o risco de:
- Vazamento de plasma, com desidratação e queda de pressão;
- Hemorragias (de leves a graves);
- Comprometimento de órgãos como fígado e coração.
Quando um sorotipo pouco comum volta a circular em uma região onde a população já teve contato com outro tipo, cresce o risco de surtos e epidemias. O Brasil já viveu períodos com predominância de DENV-1 e DENV-2 (anos 1990), grandes epidemias com DENV-3 (anos 2000) e, mais recentemente, preocupação com o DENV-4.
Leia também: Dengue no Brasil: por que a doença volta todo ano
Os quatro sorotipos no Brasil
Desde 2024, há circulação simultânea dos quatro tipos do vírus no país. Essa situação rara aumenta o risco de reinfecções e formas graves e explica por que a dengue pode atingir a mesma pessoa várias vezes, mesmo com intervalos longos.
Além disso, fatores ambientais como calor, chuva e água parada favorecem a reprodução do Aedes aegypti, o mosquito transmissor. Onde há mosquito, há risco de dengue — independentemente do sorotipo.
Vacina contra a dengue: o que muda com os quatro sorotipos
Com todos os tipos em circulação, a vacinação ganhou ainda mais relevância. O Brasil conta com duas vacinas licenciadas:
- Qdenga® (Takeda): disponível na rede pública em várias cidades; protege contra os quatro sorotipos e pode ser aplicada em quem já teve ou nunca teve dengue.
- Dengvaxia® (Sanofi Pasteur): indicada apenas para pessoas com infecção prévia confirmada.
A Qdenga passou a ser oferecida pelo SUS em 2024 para faixas etárias específicas. Vacina não substitui prevenção: é essencial eliminar criadouros semanalmente e evitar picadas (roupas compridas, repelente). Quem está com dengue deve usar repelente para evitar que mosquitos se infectem e transmitam a outras pessoas.
Veja também: Dengue hemorrágica: quando os sintomas indicam alerta máximo
Perguntas frequentes sobre sorotipos da dengue
1. Posso pegar dengue mais de uma vez?
Sim. Como existem quatro sorotipos diferentes, é possível contrair dengue até quatro vezes na vida.
2. Ter tido dengue uma vez protege contra as outras?
Não completamente. A imunidade é permanente apenas contra o sorotipo original e parcial contra os demais.
3. Por que a segunda dengue costuma ser mais grave?
Pelo fenômeno de ADE, no qual anticorpos anteriores podem facilitar a entrada do novo vírus nas células, amplificando a resposta inflamatória e o risco de sangramentos.
4. Qual sorotipo é mais perigoso?
Todos podem causar formas graves. Em alguns contextos, o DENV-3 é frequentemente associado a surtos com casos mais severos, mas a gravidade depende de múltiplos fatores.
5. O que significa amplificação dependente de anticorpos (ADE)?
É quando anticorpos de uma infecção anterior, em vez de neutralizar, facilitam a entrada de um novo sorotipo nas células de defesa, agravando o quadro.
6. Se todos os tipos circulam, como posso me proteger?
Prevenção diária: elimine água parada, use repelente, instale telas nas janelas e mantenha caixas d’água bem fechadas. A vacinação, quando indicada, complementa essas medidas.
7. A vacina resolve o problema dos quatro tipos?
Ajuda muito, pois oferece proteção contra os quatro sorotipos, mas não substitui o controle do mosquito nem as ações de prevenção ambiental.
8. E quem já teve dengue deve tomar a vacina?
Depende da vacina. A Qdenga pode ser aplicada em quem já teve ou não; a Dengvaxia é indicada apenas para quem tiver comprovação laboratorial de dengue prévia.
9. O que fazer se surgirem sintomas de dengue?
Procure atendimento médico imediato, principalmente se você já teve dengue antes. Febre alta, dor abdominal, vômitos e sangramentos são sinais de alerta.
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