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7 cuidados que você deve ter antes de engravidar
Fazer exames e atualizar a carteira de vacinação são apenas algumas das medidas importantes para uma gravidez segura

Dra. Ana Paula Beck
5min • 18 de set. de 2025

Se você está pensando em aumentar a família, já deve saber que a decisão de engravidar envolve bastante organização e planejamento familiar, que são importantes para que a gestação aconteça de maneira mais tranquila e segura. Mas afinal, por onde começar?
A ginecologista e obstetra Ana Paula Beck aponta alguns dos principais cuidados antes de engravidar — incluindo para mulheres com condições de saúde preexistentes, como síndrome dos ovários policísticos (SOP) e endometriose.
Quais os principais cuidados antes de engravidar?
A organização antes da gravidez contribui para que tanto o bebê quanto a mãe tenham mais conforto e segurança no processo, sendo possível reduzir o risco de condições como diabetes, pressão alta ou anemia — além de garantir melhores condições ao bebê e até aumentar as chances de engravidar.
“O controle rigoroso dessas condições antes da gestação reduz significativamente o risco de complicações maternas e fetais, incluindo pré-eclâmpsia, restrição de crescimento intrauterino, malformações congênitas e óbito fetal”, explica Ana Paula.
Os cuidados antes de engravidar vão além de suspender métodos contraceptivos: consultas médicas, hábitos saudáveis e acompanhamento psicológico são apenas algumas das medidas importantes para se preparar para a chegada do próximo membro da família. Confira, a seguir.
Marque uma consulta com o seu ginecologista
O primeiro passo antes de engravidar é marcar uma consulta com o ginecologista. Nela, o médico avalia sua saúde, o histórico da família e orienta sobre os cuidados necessários.
Durante a consulta, podem ser discutidos:
- Histórico de gestações anteriores;
- Doenças crônicas (como pressão alta e diabetes);
- Uso de medicamentos contínuos;
- Condições ginecológicas como endometriose ou ovário policístico;
- Saúde mental e bem-estar emocional.
A conversa é o momento ideal para tirar dúvidas, falar sobre expectativas e entender quais mudanças podem ser necessárias antes da concepção.
Realize exames recomendados antes da gravidez
Além de conversar sobre o histórico de saúde e fazer um exame físico, Ana Paula explica que é recomendado realizar alguns exames laboratoriais, como:
- Hemograma completo, que identifica anemia e possíveis alterações no sangue;
- Sorologias para infecções, como HIV, hepatite B e C, sífilis, rubéola e varicela;
- Tipagem sanguínea e fator Rh, importante para prevenir complicações como a doença hemolítica do recém-nascido;
- Glicemia de jejum, que avalia risco de diabetes;
- Função tireoidiana (TSH), detecta alterações que podem afetar a fertilidade e a gestação;
- Rastreamento de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes;
- Avaliação do histórico ginecológico e obstétrico, investiga ciclos menstruais, uso de contraceptivos, gestações anteriores e possíveis dificuldades;
- Triagem para doenças genéticas, conforme histórico familiar ou origem étnica;
- Rastreamento de ISTs, fundamental para prevenir transmissão ao bebê;
- Revisão dos medicamentos em uso, pois alguns remédios precisam ser trocados antes da gravidez;
- Suplementação nutricional, como ácido fólico, ferro e vitaminas, quando indicado pelo médico.
Mantenha uma alimentação equilibrada
Uma alimentação saudável é um dos principais cuidados antes de engravidar, pois ajuda a preparar o corpo para as mudanças intensas do período. Ela impacta diretamente na qualidade dos óvulos, no equilíbrio hormonal e, futuramente, no desenvolvimento do bebê.
Nesse sentido, é recomendado investir em alimentos ricos em nutrientes, de preferência in natura, como:
- Frutas e vegetais frescos: como laranja, morango, brócolis, cenoura e espinafre, que fornecem vitaminas, minerais e antioxidantes que fortalecem o sistema imunológico e ajudam a prevenir deficiências nutricionais;
- Proteínas magras: frango sem pele, peixe, ovos e leguminosas como feijão e lentilha são fundamentais para a formação dos tecidos e músculos;
- Laticínios ricos em cálcio: leite, iogurte natural e queijos magros ajudam na saúde óssea da mãe e do bebê;
- Cereais integrais e fibras: arroz integral, aveia e pão integral contribuem para o funcionamento do intestino e na saciedade;
- Fontes de ferro: carne vermelha magra, feijão-preto e lentilha reduzem o risco de anemia, muito comum na gestação;
- Ômega-3: encontrado em peixes como salmão e sardinha, importante para o desenvolvimento cerebral do bebê.
Também como parte dos cuidados antes de engravidar deve-se evitar o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos recheados, refrigerantes e fast-food — além de queijos e laticínios não pasteurizados e cafeína em excesso, que podem prejudicar a gestação.
O controle de peso também é um fator necessário, segundo Ana Paula, pois tanto o baixo quanto o alto IMC estão associados a complicações gestacionais, como pré-eclâmpsia e diabetes gestacional.
Faça suplementação de ácido fólico
O ácido fólico é a vitamina mais importante no período pré-concepcional, e age diretamente na formação do tubo neural do bebê, estrutura que dá origem ao cérebro e à medula espinhal. É importante que isso faça parte dos cuidados antes de engravidar.
“A suplementação de ácido fólico (400–800 μg/dia) é fortemente recomendada para todas as mulheres em idade reprodutiva, iniciando pelo menos 1 mês antes da concepção, para reduzir o risco de defeitos do tubo neural”, esclarece a ginecologista Ana Paula.
A especialista ainda complementa que o uso da forma ativa de ácido fólico (L-metilfolato) só é indicado em casos raros de deficiência genética na metabolização do folato. Para a maioria das mulheres, o ácido fólico convencional é suficiente.
Atualize as vacinas
A vacinação é faz parte dos cuidados antes de engravidar e é uma forma de proteção tanto para o bebê quanto para a mãe, pois evita complicações que poderiam comprometer o desenvolvimento da gravidez. Ana Paula aponta a necessidade de revisar e atualizar as vacinas, especialmente contra:
- Rubéola e varicela: precisam ser aplicadas até pelo menos 1 mês antes da gestação. Caso a gestante contraia essas doenças grávida, o bebê pode sofrer malformações;
- Hepatite B: previne infecção crônica no fígado e transmissão para o bebê no parto;
- Tétano, difteria e coqueluche (Tdap): protege contra doenças graves que podem ser transmitidas ao recém-nascido;
- Influenza (gripe): reduz complicações respiratórias, muito perigosas durante a gravidez.
Em áreas com risco de Zika vírus, é fundamental ter orientação médica específica, como o uso de repelentes de inseto. Algumas vacinas, como as de vírus vivos (sarampo, caxumba, rubéola), também não devem ser aplicadas durante a gravidez, por isso precisam ser feitas antes da concepção.
Adote um estilo de vida saudável
Um estilo de vida saudável pode ajudar a prevenir problemas futuros. Além dos defeitos do tubo neural, hábitos saudáveis reduzem o risco de parto prematuro e baixo peso ao nascer:
- Sono regular: dormir entre 7 e 9 horas ajuda na regulação hormonal;
- Controle do estresse: técnicas como meditação, yoga e até hobbies relaxantes contribuem para o equilíbrio emocional;
- Atividade física: exercícios moderados e orientados por um especialista, como caminhada, pilates e natação, melhoram a circulação e o bem-estar;
- Abandono de vícios: fumar, beber álcool ou usar drogas aumenta risco de abortos espontâneos, parto prematuro e baixo peso do bebê.
Revise o uso de medicamentos
Revisar os remédios que usa faz parte dos cuidados antes de engravidar. Diversos medicamentos comuns podem ser prejudiciais durante a gestação, então é preciso revisar todos os remédios usados, sejam eles de prescrição, fitoterápicos ou até suplementos:
- Analgésicos como o ibuprofeno não são recomendados;
- Alguns antidepressivos precisam ser ajustados;
- Fitoterápicos aparentemente inofensivos podem causar contrações uterinas. Sempre avise o médico na consulta pré-gestacional.
Nunca interrompa um tratamento sem orientação médica. O ideal é conversar com o ginecologista ou clínico responsável para avaliar os riscos e, se necessário, substituir a medicação por alternativas seguras durante a gravidez.
Mulheres com SOP e endometriose precisam de cuidados antes de engravidar adicionais?
Mulheres que têm síndrome dos ovários policísticos (SOP) ou endometriose precisam de uma preparação ainda mais cuidadosa antes de engravidar. Essas condições não impedem a gestação, mas precisam de alguns cuidados individualizados para que o processo seja seguro.
No caso do SOP, é preciso ter atenção ao controle de peso, glicemia, pressão e colesterol — além da suplementação com ácido fólico, em doses que podem ser ajustadas de acordo com o IMC e as necessidades individuais.
Já na endometriose, é recomendado avaliar a reserva ovariana, identificar o grau da doença, tratar sintomas e, se necessário, recorrer a técnicas como a fertilização in vitro. Mulheres com endometriose precisam de acompanhamento obstétrico mais próximo, devido ao risco maior de complicações na gravidez.
Confira: Janela imunológica: como prevenir alergia alimentar em bebês
A importância de acompanhamento psicológico
A decisão de engravidar pode vir acompanhada de sentimentos de ansiedade, insegurança e até conflitos dentro do relacionamento. Muitas mulheres, inclusive, acabam se cobrando demais ou sentindo pressão da família, o que pode gerar um peso emocional difícil de carregar sozinha.
Nesses momentos, conversar com um psicólogo pode ajudar a organizar os pensamentos, aliviar medos e tornar a experiência mais leve. Ter ao lado uma rede de apoio, formada por familiares, amigos próximos ou até grupos de gestantes, também faz toda a diferença, e traz acolhimento e segurança para a futura mamãe.
Vale ressaltar que a consulta médica pré-concepcional não se limita apenas à saúde física: ela também considera o bem-estar emocional e social da mulher, incluindo a identificação de situações de violência doméstica. É fundamental que a gestação seja planejada em um ambiente saudável, onde a gestante se sinta acolhida e respeitada.
Quando parar de usar o anticoncepcional?
De acordo com a ginecologista e obstetra Ana Paula Beck, não há necessidade de aguardar um período específico depois de parar o anticoncepcional para tentar engravidar.
“A fertilidade geralmente retorna rapidamente, e não há evidências de aumento de risco de malformações ou complicações obstétricas associadas à concepção imediata após a suspensão. Pode-se considerar aguardar um ciclo menstrual espontâneo para melhor datação gestacional, mas não é obrigatório”, finaliza a especialista.
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Perguntas frequentes sobre cuidados antes de engravidar
1. Por que o ácido fólico é tão importante antes e durante a gravidez?
O ácido fólico é uma vitamina importante para a formação do tubo neural do bebê, que dá origem ao cérebro e à medula espinhal. A suplementação adequada ajuda a prevenir malformações, como a espinha bífida e a anencefalia.
O recomendado é começar a tomar pelo menos um mês antes da concepção (idealmente três meses), garantindo que o corpo já esteja preparado no início da gestação.
2. Preciso suspender algum medicamento antes de engravidar?
Sim, alguns remédios podem afetar a fertilidade ou prejudicar o desenvolvimento fetal. É importante revisar todos os medicamentos em uso com o médico, que pode avaliar se é necessário suspender, ajustar a dose ou substituir por opções mais seguras.
3. O consumo de álcool e cigarro pode atrapalhar a gravidez?
Com certeza! O cigarro prejudica a fertilidade, aumenta o risco de aborto e pode causar complicações na placenta. Já o álcool pode levar à Síndrome Alcoólica Fetal, que afeta o crescimento e o desenvolvimento do bebê.
O ideal é suspender ambos ainda na fase de planejamento da gravidez, para proteger a saúde da mãe e a do futuro bebê.
4. Posso praticar exercícios físicos durante a gravidez?
Sim, a prática regular é recomendada, desde que com orientação médica. A gestante pode optar por atividades leves a moderadas, como caminhada, alongamento e pilates, que ajudam a controlar o peso, melhorar a circulação e favorecer o bem-estar emocional.
Contudo, atividades de alto impacto ou com risco de queda devem ser evitadas.
5. O que é o pré-natal e quando deve começar?
O pré-natal é o acompanhamento médico da gestante ao longo de toda a gravidez. Ele serve para monitorar a saúde da mãe, o desenvolvimento do bebê e identificar precocemente qualquer risco ou complicação.
O acompanhamento deve começar logo após a confirmação da gestação — de preferência ainda no primeiro trimestre, e seguir com consultas periódicas até o parto.
6. Quais sinais indicam que posso estar grávida?
O sintoma mais comum de gravidez é o atraso menstrual, mas não é o único. Muitas mulheres percebem também enjoos matinais, sensibilidade ou dor nos seios, cansaço, sono excessivo, aumento da vontade de urinar e até alterações no humor.
Como eles podem variar bastante, a única forma de ter certeza é fazendo um teste de gravidez e confirmando com exames de sangue ou ultrassom solicitados pelo médico.
7. Quando é o momento certo de procurar o ginecologista antes de engravidar?
O ideal é marcar uma consulta de planejamento reprodutivo pelo menos três meses antes de começar a tentar. Nela, o médico revisa seu histórico de saúde, pede exames de rotina, verifica vacinas, orienta sobre alimentação e suplementos, além de avaliar possíveis riscos para a mãe e o bebê.
8. É seguro ter relações sexuais durante a gestação?
Na maioria dos casos, sim. Se a gravidez for saudável, o sexo não prejudica o bebê, já que ele está protegido pelo útero, pelo líquido amniótico e pela placenta.
No entanto, em situações específicas, como risco de aborto, placenta baixa ou sangramentos, o médico pode orientar restrição. O mais importante é ouvir as recomendações do profissional e respeitar o conforto da mãe.
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