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Criptorquidia: o que é, causas, fatores de risco e cirurgia
A criptorquidia costuma ser diagnosticada na maternidade e tem maior incidência em em prematuros, já que a descida dos testículos ocorre no fim da gestação

Dra. Veridiana Andrioli
5min • 9 de out. de 2025

Comum em bebês, especialmente os que nascem prematuros, a criptorquidia é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal. Ela pode se resolver espontaneamente, ocorrendo a decida testicular até o 6º mês após o nascimento. Se a partir dessa data não se confirmar a decida testicular, há a indicação de tratamento cirúrgico.
“É uma das mais comuns alterações da genitália masculinas identificadas, acometendo cerca de 1 a 4% dos meninos nascidos de gestação a termo e até 40% dos meninos nascidos prematuros”, explica a urologista pediátrica Veridiana Andrioli.
Esclarecemos, a seguir, as principais dúvidas sobre a condição, como ela é identificada e as medidas de tratamento.
O que é criptorquidia?
A criptorquidia, também chamada de criptorquidismo, é uma condição em que um ou ambos os testículos não descem para a bolsa escrotal (saco onde deveriam estar) durante o desenvolvimento do bebê.
Normalmente, os testículos se formam dentro do abdômen e descem para a bolsa escrotal ainda na gestação. Quando isso não acontece, o menino nasce com o testículo “fora do lugar”, que pode estar na virilha, no abdômen ou em outra posição anormal.
É um problema relativamente comum em recém-nascidos — especialmente em prematuros, e precisa ser acompanhado de perto por um médico, pois pode afetar a fertilidade no futuro e aumentar o risco de câncer de testículo se não for tratado.
A criptorquidia pode afetar os dois testículos?
Sim, a criptorquidia pode afetar os dois testículos. O tipo mais comum é o unilateral, em que apenas um testículo não desce para a bolsa escrotal — e representa de 75% a 90% dos casos. Já a bilateral, quando os dois testículos ficam fora da bolsa, é menos frequente, mas pode acontecer em até 25% dos meninos diagnosticados.
Quais são as causas da criptorquidia?
Não existe uma única causa para a descida dos testículos, que pode ser influenciada por fatores hormonais, anatômicos e genéticos. A Sociedade Brasileira de Pediatria aponta alguns fatores:
- Alterações anatômicas: como ausência de musculatura abdominal ou defeitos no canal inguinal;
- Deficiência hormonal: falhas na produção ou resposta a hormônios que estimulam a descida do testículo;
- Fatores genéticos: mutações ou síndromes específicas que afetam o desenvolvimento reprodutivo.
A criança pode desenvolver criptorquidia depois de nascer?
Sim, a condição também pode surgir após o nascimento. Nesse caso, é chamado de testículo ascendente, em que o testículo estava normalmente na bolsa escrotal, mas “sobe” com o crescimento da criança.
Ela acontece porque o cordão espermático não cresce na mesma proporção do corpo, puxando o testículo para cima ou mesmo por ficar limitado por uma cicatriz, como por exemplo uma hérnia corrigida precocemente.
Quais são os fatores de risco para a criptorquidia?
Algumas condições aumentam as chances de um bebê nascer com criptorquidia, como:
- Histórico familiar de criptorquidismo;
- Idade materna avançada;
- Exposição a substâncias químicas na gravidez (como pesticidas, por exemplo);
- Diabetes ou obesidade materna;
- Apresentação pélvica no parto;
- Síndromes genéticas e alterações cromossômicas;
- Prematuridade ou baixo peso ao nascer;
- Doenças hormonais;
- Paralisia cerebral.
Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico de criptorquidia é clínico, feito durante o exame físico, em que o pediatra ou urologista verifica a presença dos testículos na bolsa escrotal. Quando apenas um testículo não é palpável, pode ser sinal de que ele não desceu ou de que se atrofiou.
“Se a partir do 6º mês de vida após o nascimento (idade que deve ser corrigida para quem nasceu prematuro) o testículo não estiver localizado na bolsa, já está indicada a cirurgia”, conta a médica.
“No caso de testículos não palpáveis, realiza-se a cirurgia por videolaparoscopia, buscando uma localização inguinal alta ou mesmo intra abdominal desse testículo. Por vezes, há a identificação de um cordão testicular pouco desenvolvido, o que pode corresponder a um testículo que atrofiou ou não se formou durante a gestação”, diz.
Se nenhum dos dois testículos for palpável, a avaliação deve ser feita logo após o nascimento, para descartar alterações no desenvolvimento sexual. Se não houver problema hormonal ou genético, a laparoscopia também ajuda a localizar os testículos no abdômen e permite a correção cirúrgica.
De acordo com Veridiana, não há indicação de exames de imagem como ultrassonografia ou ressonância, já que eles não conseguem confirmar a posição do testículo nem mudam a conduta médica.
Quais são as opções de tratamento da criptorquidia?
O tratamento da criptorquidia geralmente é feito com uma cirurgia chamada orquidopexia, que reposiciona o testículo dentro da bolsa escrotal. O ideal é que ela seja realizada ainda no primeiro ano de vida, a partir do 6º mês de vida depois do nascimento para aumentar as chances de preservação da fertilidade e reduzir riscos futuros, como câncer de testículo.
Quando o testículo não é palpável, o médico pode usar a laparoscopia, uma técnica minimamente invasiva que ajuda a localizar e corrigir o problema.
O uso de hormônios (como hCG ou análogos de LHRH) foi uma prática do passado, mas a urologista pediátrica Veridiana Andrioli aponta que não é recomendado, pois apresenta baixa eficácia e não há comprovação de benefícios futuros para a fertilidade.
Com qual idade a cirurgia deve ser feita?
A cirurgia geralmente é indicada a partir do sexto mês, preferencialmente ainda no primeiro ano de vida, e não deve ser postergada além dos 18 meses. Quanto mais cedo for feita, maiores as chances de preservar a fertilidade e reduzir riscos futuros para a criança.
Quando procurar um urologista pediátrico?
Os pais devem procurar um urologista pediátrico sempre que houver dúvidas no exame físico, se o testículo não puder ser sentido ou se houver alterações no saco escrotal. Quando o bebê nasce sem o testículo na bolsa, a recomendação é marcar a consulta por volta dos 6 meses de idade para definir o tratamento.
Criptorquidia pode se resolver sozinha?
Sim! De acordo com Veridiana, em muitos casos, o testículo pode descer sozinho até o sexto mês de vida, considerando a idade corrigida em bebês prematuros. Se após esse período o testículo ainda não estiver na bolsa escrotal, a criança já tem indicação para avaliação cirúrgica.
Quais os riscos da criptorquidia se não for tratada?
- Infertilidade futura, devido ao comprometimento da função testicular;
- Aumento do risco de câncer de testículo (mesmo após a cirurgia, o risco continua maior do que na população em geral);
- Maior chance de torção ou trauma testicular;
- Associação com hérnia inguinal;
- Impactos psicológicos e de imagem corporal na adolescência.
Confira: Fimose em crianças: quando é normal e quando a cirurgia é necessária
Perguntas frequentes sobre criptorquidia
1. A criptorquidia pode voltar depois do tratamento?
Em alguns casos, pode acontecer de o testículo “subir” novamente após a cirurgia ou mesmo após ter descido sozinho nos primeiros meses de vida — e isso é chamado de testículo ascendente.
Quando isso ocorre, a criança deve ser reavaliada pelo especialista, pois pode haver necessidade de uma nova cirurgia. Por isso, o acompanhamento médico ao longo da infância é tão importante, mesmo depois de a cirurgia já ter sido feita.
2. Após a cirurgia, é preciso acompanhamento a longo prazo?
Sim, o acompanhamento deve continuar mesmo após a correção. Durante a infância, o pediatra deve examinar regularmente os testículos e orientar os pais sobre sinais de alerta.
Na adolescência, o jovem deve aprender a fazer o autoexame testicular para perceber nódulos ou mudanças cedo. Também é importante manter as consultas de rotina com o médico, pois quem teve criptorquidia tem mais risco de problemas no futuro.
3. Crianças que tiveram criptorquidia têm mais risco de câncer de testículo?
Sim, mesmo após a correção cirúrgica, homens que tiveram criptorquidia apresentam um risco maior de desenvolver câncer de testículo em comparação à população geral.
No entanto, a cirurgia precoce reduz o risco e facilita a detecção de qualquer alteração, já que o testículo passa a estar em uma posição acessível para o autoexame. Por isso, o acompanhamento ao longo da vida é tão importante.
4. Qual a diferença entre criptorquidia e anorquia?
A criptorquidia é quando o testículo existe, mas não desceu para a bolsa escrotal. Já a anorquia é a ausência completa do testículo, ou seja, ele não chegou a se formar.
O diagnóstico é importante porque, no caso da anorquia, não há como reposicionar o testículo por cirurgia. Em algumas situações, pode ser necessária a colocação de uma prótese testicular para fins estéticos e psicológicos na adolescência ou vida adulta.
5. A criptorquidia pode causar dor?
Na maior parte do tempo, a criptorquidia não causa dor e o bebê não sente desconforto por ter o testículo fora da bolsa.
No entanto, a condição aumenta o risco de problemas dolorosos, como a torção testicular, quando o testículo se enrola no cordão espermático e causa dor forte, o que exige uma cirurgia imediata.
6. Quais médicos tratam a criptorquidia?
O diagnóstico inicial geralmente é feito pelo pediatra, que examina o bebê logo após o nascimento e durante as consultas de rotina. Caso haja suspeita de criptorquidia, a criança deve ser encaminhada ao urologista pediátrico ou ao cirurgião pediátrico, profissionais especializados no tratamento dessa condição.
Em alguns casos, também pode ser necessária a avaliação de um endocrinologista pediátrico, especialmente se houver suspeita de alterações hormonais associadas.
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